Categorias
Magia Sexual Thelema

O Porque e o Como do Êxtase

Este texto foi lambido por 268 almas esse mês

“Há uma terra de puro prazer, Onde reinam santos imortais.”

Assim alguns de nós costumávamos cantar em nossa infância. E costumávamos pensar nessa terra tão longínqua, mais distante até que a morte, que naqueles dias parecia muito remota.

Mas eu sei agora: tal terra não está tão longe quanto minha carne de meus ossos! Está mesmo Aqui e Agora.

Se há uma nuvem neste tranquilo azul celeste, é este pensamento: que existem seres conscientes que são infinitamente felizes, mestres do êxtase.

Então, para remover essa nuvem, eu dediquei satisfeito tudo o que eu tenho e tudo o que eu sou.

Eu não sou alguém que nega a si mesmo as boas coisas deste mundo. Há vários místicos por aí que são como a raposa que perdeu a cauda. Eles não podem aproveitar a vida, então fazem de conta que têm algo melhor.

Mas eu janto no Cafe Royal, em vez de mascar nozes e “cenouras mignon”. Eu faço expedições às grandes montanhas dos Himalayas e caço tigres e búfalos nas selvas do Terai; eu amo a beleza na pintura e na escultura; eu amo poesia e música; e eu amo carne e sangue.

Não há nada que você aproveite que eu não goste tanto quanto você; eu eu sou testemunha de que nada se compara ao êxtase.

Qual é o caminho para essa terra imortal?

Para o oriental, cuja mente é, por assim dizer, estática, a meditação oferece o melhor caminho, o qual nos parece (e de fato é) intolerável, cansativo e tedioso.

Para o ocidental, cuja mente é ativa e dinâmica, não há caminho melhor que o cerimonial.

O êxtase é causado pela combinação de duas idéias, como o hidrogênio e o oxigênio se unem explosivamente. Um exemplo similar, num reino mais elevado, ocorrerá a todos.

Mas este êxtase religioso toma lugar nos mais elevados centros do organismo humano; é a própria alma que se une ao seu Deus; e por tal razão, o êxtase é mais poderoso, o prazer mais duradouro, e a energia resultante mais pura e esplêndida do que em algo terrestre.

No ritual, portanto, nós buscamos continuamente unir a mente a alguma pura idéia através de um ato de vontade. Isto fazemos sempre, mais e mais apaixonadamente, com mais e mais determinação, até que, no fim, a mente aceite a dominação da Vontade, e mova-se por si própria até o objeto desejado. Tal submissão da mente ao seu Senhor dá o completo êxtase que buscamos. Fala-se disto em todas as religiões, usualmente sob a figura da noiva indo ao encontro de seu esposo. É a consecução disto que cria o santo e o artista.

Agora, em nossas cerimônias nós nos esforçamos para ajudar todos os presentes a experienciar isto. Nós colocamos a mente do espectador em sintonia com a pura idéia de austeridade e melancolia que chamamos de Saturno, ou com a idéia de força e fogo que chamamos de Marte, ou com a idéia de natureza e amor que chamamos Vênus, e assim por diante. Se ele se identifica com esta idéia, a união é de felicidade extasiante, e a única imperfeição é devida ao fato de que a idéia em questão, qualquer que seja ela, é apenas parcial.

O êxtase, portanto, é progressivo. Gradualmente, o adepto une-se a idéias mais santas e altas, até que ele se torna um com o próprio universo, e mesmo Aquilo que está além do universo. Para ele, não há mais Morte; tempo e espaço são aniquilados; nada é, salvo o intenso êxtase que não conhece mudança para sempre.

E quanto ao corpo? O corpo de alguém assim continua sujeito às leis de seu próprio plano. Porém, seus amigos acham-no mais calmo, mais feliz, com mais saúde; seus olhos brilham e sua pele é jovem, mesmo quando ele é velho. Mas ele tem aquilo que eles não têm, o poder de passar instantaneamente para fora da consciência mutante, adentrando a Eterna, e a permanente, supremamente única e completa, banhado em inexprimível felicidade, um com o Todo. E ele sabe que esse corpo, sujeito à doença e à morte, não é ele mesmo, mas apenas como que um instrumento de seu prazer, um tipo de yate que ele comprou para o verão.

A presente série de cerimônias é feita para iniciantes, para aqueles que não têm qualquer experiência. Apenas as fórmulas mais simples serão usadas, de modo que apenas aqueles que são totalmente desconhecedores dos métodos e objetivos do ritual possam obter o resultado e compreender o método. Porém, eles serão profundos e perfeitos, de modo que até aqueles que säo habilidosos possam obter maior sucesso.

Deixem-nos adicionar uma curta análise da presente série de ritos; eles podem ser tomados como ilustradores da humanidade, seu destino bom e mau.

O homem, incapaz de resolver o Enigma da Existência, toma conselho de Saturno, de extrema antiguidade. A resposta que obtém é a palavra “Desespero”.

Há mais esperança na dignidade e sabedoria de Júpiter? Näo, pois o nobre senhor carece do vigor de Marte, o guerreiro. Conselho é vão, sem a determinação de levá-lo em frente.

Marte, invocado, é realmente capaz de vitória: mas ele já perdeu a controlada sabedoria da idade; no momento da conquista, ele perde seu fruto nos braços da luxúria.

É por essa fraqueza que o homem perfeito, o Sol, é de natureza dual, e seu gêmeo, mau, o mata em sua glória. Então, o triunfante Senhor do Céu, o Amado de Apolo e das Musas, é trazido de volta das cinzas, e quem chorará por ele senäo sua Mãe Natureza, Vênus, a dama de amor e Tristeza? Seria bom se ela carregasse consigo o Segredo da Ressurreição.

Mas mesmo Vênus deve seu encanto ao veloz mensageiro dos deuses, Mercúrio, o alegre e ambíguo garoto, cujos truques primeiro escandalizam e depois alegram o Olimpo.

Porém Mercúrio também deixa a desejar. Nele sozinho não se encontra a cura para toda a ferida da raça humana. Rápido como sempre, ele passa, e dá lugar à mais jovem dentre os deuses, a Lua Virginal.

Olhem-na, tal qual Madonna, entronada e coroada, velada, silente, aguardando a promessa do Futuro. Ela é Isis e Maria, Ishtar e Bhavani, Artemis e Diana.

Entretanto, Artemis também é destituída de esperança até que o espírito do Infinito Todo, grande Pan, dilacere o véu e exponha a esperança da Humanidade, a Criança Coroada do Futuro. Tudo isso é simbolizado nos ritos sagrados que nós recuperamos das trevas da história, e agora, na plenitude do tempo, descobre-se que o mundo pode ser redimido.

Pois o corrupto tornar-se-á incorruptível; o mortal tornar-se-á imortal; meus adeptos caminharäo coroados nos Jardins do Mundo, aproveitando a brisa e a luz do sol, colhendo as rosas e enchendo suas bocas com suculentas uvas. Eles dançaräo sob o luar diante de Dionysus, e deliciar-se-äo sob as estrelas com Afrodite; eles ainda habitaräo além de todas essas coisas no imutável Céu – Aqui e neste instante.

-Tradução (c) Dom Marcelo Santos –

por Aleister Crowley


Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.

Deixe um comentário


Apoie. Faça parte do Problema.