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Patrick Dunn
Excerto de ‘Postmodern Magic’ tradução e notas Natalia Naraani
Palavras mágicas, línguas arcanas e palavras “bárbaras” de invocação fazem parte do imaginário popular sobre magia. E, nesse caso, o imaginário popular não está tão distante da verdade. Embora a maioria dos magos realize rituais e outros atos mágicos em sua língua nativa, é comum incorporarem línguas estrangeiras, palavras inventadas e idiomas mágicos históricos.
É comum se pensar que a pronúncia de uma palavra determina sua grafia. Mas isso não é completamente verdade em nenhuma língua. Em inglês, por exemplo, não diferenciamos os sons do T em palavras como “tap” e “pat”, mas falantes de hindi percebem esses sons como distintos e claramente diferentes. Assim, uma palavra escrita é um sigilo da sua pronúncia, tão seguramente quanto qualquer pictograma. Isso é ainda mais evidente quando um conjunto de letras representa múltiplos sons, como em “cough” e “through”.
Podemos dividir o uso de “palavras mágicas” em três categorias: línguas estrangeiras, palavras bárbaras e jargões artificiais.
Línguas Estrangeiras
Línguas estrangeiras geralmente fornecem um conjunto especial de termos para qualquer sistema de magia. Um praticante de magia ritual cabalística, por exemplo, saberá que atah givur la-olam adonai significa literalmente “tu és grande para sempre, ó Senhor”, mas num ritual isso significa mais. Significa que o mago se alinha a um sistema e tradição mágica — teísta, antiga e complexa — que busca unir o indivíduo a Deus. Verbalizar frases em línguas estrangeiras nos obriga a pensar consciente e inconscientemente no significado por trás da mensagem. Ninguém domina uma língua estrangeira com a mesma profundidade de uma língua nativa. Mesmo quem se torna fluente e praticamente sem sotaque ainda guarda a língua estrangeira como algo especial e — para muitas pessoas, embora raramente falem disso — sagrado. Afinal, é necessário tempo e esforço para aprender uma língua estrangeira. Sua língua nativa vem por instinto, tão misteriosa e inexplicável quanto esse próprio instinto.
Ouso dizer que toda pessoa educada deveria aprender pelo menos duas línguas estrangeiras: uma viva e uma morta. Sei que, especialmente nos Estados Unidos, há uma resistência ao aprendizado de línguas estrangeiras. Talvez, de um ponto de vista puramente prático, isso tenha fundamento. Afinal, quase toda pessoa educada no mundo fala um pouco de inglês ou pelo menos consegue lê-lo. Podemos nos comunicar até mesmo em áreas rurais de muitos países. Ainda assim, aprender uma língua não apenas abre portas para o afeto e respeito dos outros, mas também expande nossa própria mente para novas formas de pensar. Se quiser seguir minha sugestão, escolha uma língua viva que possa ser usada em sua vida mundana. Para a língua morta, talvez valha escolher algo com história ou propósito mágico. Eu, por exemplo, sou levemente sinestésico com relação a idiomas; sinto como se cada língua tivesse sua própria personalidade. Esse tipo de sinestesia aparentemente não é incomum. Alguns amigos linguistas confessaram sentir o mesmo. Minha percepção pessoal das línguas que conheço influencia, em certa medida, as descrições que seguem. Você pode desenvolver uma percepção diferente ou ter experiências diferentes associadas a cada língua. Também incluí um exemplo de cada idioma, apenas por diversão.
Inglês Antigo
Uma língua seca e modular. O inglês antigo foi falado até cerca de 1066, data da invasão normanda. Ele difere do inglês moderno de forma fundamental e drástica. Os substantivos se flexionam (mudam de forma conforme sua função na frase), e os verbos têm duas conjugações — uma fraca, geralmente regular, que forma o passado ao acrescentar [-d] ou [-t] ao final da raiz verbal; e uma forte, por vezes irregular, que muda as vogais principais da raiz verbal conforme um padrão pré-definido. O alfabeto contém três letras extras: thorn e eth (ambas com som de “th” moderno) e aesh (com som da vogal em “ash”). Em magia, o inglês antigo pode ser útil se você se interessa por magia cristã primitiva ou tem apreço pela Grã-Bretanha. Muitos encantamentos antigos ainda existem nessa língua. Você pode combiná-lo com o gaélico (embora não tenham semelhança) para formar um sistema de magia britânica.
Exemplo: “Des ofereode, Pisses swa meg” (Isso passou, este também pode [passar]).
[Nota dos Editores:
Português Arcaico
Uma língua robusta e sonora, o português arcaico foi falado entre os séculos XII e XVI, antes da consolidação do português moderno. Sua estrutura gramatical lembra mais de perto o latim, com flexões verbais e nominais mais marcadas do que as do português atual. Os pronomes e partículas enclíticas eram amplamente utilizados, como em “dar-te-ei” ou “levá-lo-ia”, e o uso do pronome “vós” era comum como forma de tratamento respeitosa ou plural. A ortografia não era padronizada, o que conferia grande variedade aos registros escritos. No contexto mágico, o português arcaico pode ser uma escolha poderosa para quem deseja trabalhar com tradições lusitanas ou com feitiçaria ibérica de inspiração medieval. Seu som é ao mesmo tempo familiar e distante, o que pode acentuar o caráter ritualístico de uma prática. A literatura trovadoresca, os textos alquímicos e religiosos da época oferecem um vasto campo para pesquisa e inspiração.
Exemplo: “Assi como o lume arde, arda meu querer em ti.” (Assim como o fogo arde, queime meu desejo em ti.)]
Latim
A língua clássica dos educados e eruditos desde a Roma Antiga até o fim da Idade Média e além, o latim vence de longe qualquer competição de popularidade entre línguas mortas. Uma das minhas favoritas, o latim me parece um vinho forte, mas delicioso, num dia quente. É quase completamente regular; ao aprender uma declinação ou regra, você pode ter certeza de que ela se aplica, ao menos em parte, de maneira consistente. Algumas exceções e confusões podem atrapalhar iniciantes, mas são facilmente superadas. O vocabulário pode ser absorvido rapidamente. Muitas palavras vêm de raízes latinas, então é fácil, por exemplo, lembrar que ducere significa “conduzir, estender”, por causa da palavra “dúctil”. A complexidade da gramática, apesar da regularidade, pode assustar alguns. Os substantivos se flexionam em número e caso, ou seja, mudam de forma conforme seu papel na frase. “O agricultor do agricultor ama o agricultor” seria agricolae agricola agricolam amat, por exemplo. Depois de um tempo, você vai se perguntar como o inglês consegue se virar sem esses casos. Os verbos também se flexionam de acordo com tempo, modo, aspecto e pessoa. Isso cria muitas formas diferentes, mas felizmente elas tendem a ser modulares e regulares. Pode-se colocar a desinência de “futuro” num verbo, segui-lo da terminação da primeira pessoa e ter uma boa certeza de que se está dizendo “eu farei”. O latim ajuda na leitura de qualquer texto escrito na Idade Média e durante o Império Romano. Quase todos os livros acadêmicos eram escritos em latim, e muito se perdeu nas traduções. Um grande número de grimórios foi escrito nessa língua, e alguns sequer foram traduzidos adequadamente — ou traduzidos, ponto.
Exemplo em latim: “Nescio, sed fieri sentio et excrucior” (Não sei, mas sinto que está acontecendo, e isso me atormenta). [Nota do Tradutor: Esta frase é inspirada no poema “Odi et Amo” de Catulo.]
Hebraico
Tecnicamente, o hebraico não é uma língua morta. É a língua oficial de Israel e muitos textos literários são produzidos nela a cada ano. Mas o hebraico bíblico, no qual o Antigo Testamento foi escrito, difere bastante do hebraico moderno reconstruído. Para falantes do inglês, o hebraico é, de longe, a língua mais “estranha” entre as listadas aqui — o que aumenta ainda mais seu uso na magia. Cabalistas usam o hebraico não só como língua ritual, mas como um tipo de código místico. Para mim, o hebraico evoca o cheiro de cola de encadernação e papel em uma biblioteca antiga. A gramática é estranha para quem fala línguas indo-europeias. O alfabeto tem vinte e duas consoantes. As vogais são marcadas por pontos e traços em torno dessas consoantes, ou, mais comumente, não são escritas. Os substantivos se flexionam não por caso, mas por “estado” (o que raramente causa problemas). Já os verbos se conjugam por aspecto e pessoa, mas também seguem um sistema complexo de significados modificados. Assim, gatal significa “ele matou”, mas gittol pode significar “ele massacrou completamente”. Como se vê, as conjugações são afetadas por sufixos, prefixos e mudanças vocálicas internas. Usado em ritual, o hebraico transmite uma sensação de poder e mistério talvez inigualável por qualquer outra língua. Às vezes murmuro pequenos feitiços em hebraico nas mãos, como se estivesse orando. Frequentemente são surpreendentemente eficazes.
Exemplo: “breshit bara elohim et ha’aretz vet hashamayim” (No princípio, Deus criou a terra e os céus). [Nota do Tradutor: Gênesis 1:1.]
Grego
O grego guarda semelhanças consideráveis com o latim. Para mim, é como o latim, mas com gritos e danças alegres. Você encontrará muitas das mesmas declinações nas gramáticas do grego e do latim. Os verbos são um pouco diferentes, mas não muito. O alfabeto grego é diferente do nosso, mas a familiaridade cultural facilita o aprendizado. Em pouco tempo, você vai se encantar com sua flexibilidade e precisão. O vocabulário vem com relativa facilidade — muitas de nossas palavras são de origem grega, como “estratégia” — e isso ajuda a lembrar, por exemplo, que strategos significa “general de um exército”. A magia grega foi, por um tempo, o principal sistema mágico da Europa. A filosofia e a cultura gregas dominaram Roma e se espalharam com ela pelo continente, levando consigo práticas mágicas gregas. Em um ritual, o grego soa mais arcano e sonoro que o latim, e pode transmitir uma sensação de grande drama. Frequentemente começo e termino rituais com frases gregas como khaire (alegra-te) ou io (eis).
Exemplo: “menin aeide thea Peleiadeo Achileos oulomenen” (Canta, ó deusa, a ira de Aquiles, filho de Peleu). [Nota do Tradutor: Primeira linha da Ilíada de Homero.]
Palavras Bárbaras
Uma “palavra bárbara”, no contexto mágico, é qualquer palavra ou expressão cujo significado literal se perdeu. É bastante possível que muitas dessas palavras jamais tenham tido um significado literal. Textos mágicos gregos, por exemplo, frequentemente apresentam longas sequências de palavras sem sentido, corrupções de outros idiomas, vogais isoladas e assim por diante. Essas palavras existem em um texto para criar atmosfera. Às vezes, conseguimos reconstruir a origem de uma palavra bárbara. Por exemplo, Sabaoth num texto grego provavelmente vem da palavra hebraica tzava’oth (exércitos), comum como sufixo nos nomes de Deus — Elohim Tzava’oth (Deus dos Exércitos). É improvável que o grego que usava essa palavra soubesse seu significado. Mais provável é que ele a tenha extraído de uma frase hebraica e calculado que seu poder funcionaria de forma universal.
O uso de palavras bárbaras pode parecer tolo, mas elas podem aumentar o poder e a dramaticidade de um ritual. A linha entre palavras bárbaras e glossolalia (fala em línguas) é tênue. Normalmente, palavras bárbaras já foram registradas e são usadas conforme a tradição, enquanto a glossolalia ocorre de forma espontânea. É fácil imaginar alguém registrando uma expressão glossolálica para uso em rituais futuros. De fato, as longas sequências de vogais presentes em alguns textos mágicos podem representar uma tentativa de registrar gemidos e gritos de êxtase.
Faz sentido, na verdade. Se alguém emite certos sons em um estado mental específico, repetir esses sons pode ajudar a evocar aquele mesmo estado mental. Como o antigo remédio contra a insônia — praticar bocejar — os sons das palavras funcionam ao lembrar nossa mente do que queremos que ela faça. Você pode testar isso por si mesmo. Grave-se produzindo sons espontâneos num estado de consciência que deseja replicar depois, transcreva esses sons em palavras bárbaras e então use essas palavras em um ritual sempre que quiser reviver aquele estado alterado.
Jargões Artificiais
Chamo de “jargões” outras línguas mágicas porque a maioria delas não se qualifica como línguas completas de fato. Geralmente consistem em uma série de palavras sem gramática própria, encadeadas conforme as regras do inglês (a gramática subjacente é quase sempre a do inglês). O vocabulário desses jargões tende a ser pequeno, até mesmo insuficiente para muitos propósitos mágicos.
Os dois maiores jargões mágicos são o Enoquiano e o Ouraniano-Bárbaro. Dr. John Dee descobriu (ou inventou) o enoquiano no meio do século XVI. Ele trabalhou com seu parceiro, Edward Kelly, usando uma “pedra de visão” (shewstone). O enoquiano consiste em uma série de tábuas complicadas cobertas de letras, das quais se extraem nomes de anjos e demônios, e uma série de dezenove “chamados”, ou poemas rituais. Análises linguísticas mostram que o vocabulário é relativamente consistente, mas com apenas dezenove textos, é insuficiente para qualquer tarefa além daquelas para as quais os chamados foram criados. Não se pode, por exemplo, discutir os planetas em enoquiano. Mesmo tarefas mágicas básicas, como banimentos, são inviáveis pela falta de vocabulário. Outras análises mostram que o enoquiano é basicamente uma relextificação (substituição de palavras uma por uma) do inglês. A gramática é a do inglês elisabetano com letras aleatórias adicionadas a algumas palavras para simular terminações de caso, como em latim ou grego.
A Ordem Hermética da Golden Dawn usa uma versão fortemente modificada do sistema enoquiano de Dee em sua magia. Alguns magos a consideram útil. Eu nunca gostei, embora confesse que acho a versão em inglês das chaves (poemas) bastante inspiradora, ainda que incompreensível. [Nota do Tradutor: Ver exemplo adiante.] Em geral, minha formação linguística entra em conflito com o enoquiano. Eu me divido entre me preocupar com os avisos sombrios inerentes ao sistema e com a tolice sombria do sistema em si. Por exemplo, muitos livros sobre enoquiano alertam que certos nomes nunca devem ser pronunciados em voz alta, e o próprio Dee chegou a transcrever alguns nomes de trás para frente para evitar evocar demônios por engano.
Por outro lado, o Ouraniano-Bárbaro se salva de ser inútil por dois motivos. Primeiro, seu vocabulário é totalmente aberto. Qualquer pessoa pode “canalizar” novas palavras diretamente e adicioná-las ao dicionário. Segundo, ele se recusa a se levar a sério. Existem palavras que significam coisas como “a manhã não é amiga do mago”, por exemplo. Surgido dos trabalhos do caos mágico de Peter Carroll e sua ordem, a JOT, o Ouraniano-Bárbaro consiste em uma lista de palavras sem gramática. As palavras devem ser combinadas conforme a gramática que o mago preferir. Pode-se adicionar terminações de caso ou modificar palavras conforme a vontade. Os autores apenas propõem algumas regras gramaticais possíveis. Por exemplo, deve-se evitar o uso do verbo “ser”. Vi muito mais pessoas usarem Ouraniano-Bárbaro do que enoquiano, mas pessoalmente acho as palavras desajeitadas e desagradáveis. Também discordo de algumas premissas da estrutura da língua.
Criando sua Própria Língua Mágica
Idealmente, cada mago criaria sua própria língua perfeita. Isso não é uma tarefa tão assustadora quanto parece. Tudo o que se precisa é de uma gramática simples e um vocabulário de termos comuns. O vocabulário pode crescer à medida que o mago for precisando. Além disso, o sistema de escrita da língua mágica pode ser verdadeiramente pictórico, com cada palavra sendo um sigilo por si só. (Pode ser útil revisar os exercícios sobre sistemas de símbolos a partir da página 51.) Minhas tentativas de criar línguas mágicas próprias foram razoavelmente bem-sucedidas, mas as reações às línguas variam muito — algumas pessoas acham o francês lindo, por exemplo, enquanto eu o acho feio — portanto publicá-las aqui seria inútil. É mais proveitoso que você crie a sua.
Comece com uma lista de possíveis objetivos mágicos. Que tipo de coisas você quer ser capaz de dizer na sua língua? Você quer usá-la para fins rituais, defixiones [Nota do Tradutor: defixiones são maldições ou encantamentos escritos, comuns no mundo greco-romano], ou para comunicação com outros membros da sua ordem mágica? O propósito da língua irá, em grande parte, determinar sua forma. Uma língua destinada a rituais precisará, a princípio, apenas ser grande o suficiente para traduzir algumas frases. Uma língua feita para comunicação deverá começar com cerca de quatro mil palavras. Claro, você pode começar com uma língua ritual e desenvolvê-la aos poucos até que sirva para comunicação mais ampla.
Depois de ter algumas ideias sobre como pretende usar sua língua, você precisará definir a gramática básica e o vocabulário. Você pode traduzir palavras de forma direta, uma por uma, mas talvez queira algum tipo de sistema de derivação. Por exemplo, em inglês podemos adicionar [-er] aos verbos para formar os agentes da ação descrita (teach → teacher). Um sistema de derivação pode economizar muito tempo. Se você tiver, por exemplo, três derivações de verbo → substantivo, poderá criar palavras para “comer, comedor, coisa-comida, instrumento-de-comer” todas ao mesmo tempo. Isso é algo que o Ouraniano-Bárbaro não tem, exigindo palavras separadas para cada conceito. Você não precisa seguir regras gramaticais semelhantes às do inglês, mas pode fazê-lo se quiser. Pode até criar um código no qual cada palavra corresponda exatamente a uma palavra em inglês. Em uma língua real, claro, cada palavra representa um conceito que pode — ou não — corresponder a uma ou mais palavras em inglês.
Outro ponto gramatical básico que você pode considerar é como marcará o tempo (tempo verbal) em um verbo, ou se quer sequer lidar com essa questão. Muitas línguas funcionam bem sem marcar tempo verbal diretamente. Em chinês, o tempo é indicado por advérbios como “ontem” ou “amanhã”, e em indonésio, o tempo verbal é marcado por advérbios como “já” e “logo”. Se quiser uma língua prática, talvez seja melhor marcar o mínimo possível de regras gramaticais. Por outro lado, pense no que seria útil marcar em uma língua mágica. É possível indicar se uma pessoa é um mago ou não através de um sufixo especial? Ou se a ação foi desejada ou ocorreu acidentalmente?
Tendo esses conceitos em mente, elabore um pequeno texto (lembre-se: você sempre pode revisá-lo depois). Recomendo que tenha no máximo cem palavras no início. Pode ser um resumo da sua filosofia mágica atual, por exemplo, ou um trecho de um livro sagrado. Recomendo evitar poemas neste primeiro momento, simplesmente porque a estrutura gramatical da poesia nem sempre é clara.
Por fim, escreva um dicionário alfabético com as palavras do seu texto. Você precisará criar palavras — ou pelo menos raízes — para cada termo do texto que deseja traduzir. Isso pode ser feito de várias maneiras:
Entre em transe e deixe as palavras surgirem na sua mente. Ajuste seus sons até que elas lhe agradem esteticamente.
Crie um sistema de simbolismo sonoro. Em outras palavras, construa palavras de acordo com seu significado. Se L significa “prazer”, O significa “homem” e U significa “mulher”, então LOU poderia significar “sexo heterossexual” e LOO “sexo homossexual”. Mantenha-se flexível; nem todas as palavras serão fáceis de analisar.
Pegue emprestado de línguas reais. Minha língua (Agsem) pega elementos do hebraico, do latim e do enoquiano para formar um poliglota único, que me parece ao mesmo tempo estrangeiro e estranhamente familiar.
Use anagramas. Isso é parecido com pegar emprestado de línguas reais, mas neste sistema você embaralha os sons de uma palavra, adiciona vogais se quiser, e cria uma nova. Por exemplo, você pode decidir que a palavra para “poder” será opru. Ao mudar o W por um U e eliminar o E, surge uma nova palavra que ainda carrega, em seu inconsciente, uma conexão com a original. Ou você pode usar um código de substituição. Substituindo cada letra pela próxima no alfabeto, “power” vira qpxfs. Com algumas vogais e ajustes, essa palavra pode se tornar gopfsa ou paq, ou qualquer outra combinação que desejar. Cabalistas hebreus usam um sistema semelhante (chamado temurah) para encontrar significados ocultos em palavras.
Construa palavras por composição ou outro método de derivação. Em composição, você combina duas ou mais raízes para formar uma nova palavra, como em “casa de gato” (cat house) e “gato de casa” (house cat) no inglês. A ordem em que as palavras são combinadas obviamente importa, mas essa ordem não precisa ser igual à do inglês. Basta ser consistente.
Criar uma língua mágica é algo complicado, mas divertido. Embora muitas pessoas criem idiomas, poucas o fazem com um propósito além da autoexpressão. Uma língua mágica pode ser vista como um mapa rumo à iluminação. E criá-la inevitavelmente aumentará sua compreensão da realidade. Isso não precisa ser feito de uma vez só. Você pode, aos poucos, formar uma língua inteira apenas traduzindo regularmente seus desejos mais atuais. Também não é necessário aprender sua língua como se aprende uma língua estrangeira. Na verdade, eu recomendaria que você não tentasse memorizar a língua inteira, a menos que realmente queira ou deseje usá-la para comunicação entre pessoas. Você sempre poderá consultar o que precisar.
E se você não quiser criar uma língua mágica? Como mago, você não tem a obrigação de terminar uma língua completa, mas criar algumas palavras de poder é extremamente útil. Talvez você queira apenas nomes secretos e privados para os quatro elementos, seus animais de poder ou suas ferramentas mágicas. Nesse caso, você está criando palavras bárbaras — e está tudo bem com isso.
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A linguagem é uma forma de autoexpressão. E precisamos dela para nos expressarmos! A linguagem medeia até mesmo modelos de expressão não linguísticos; quando você sai de um show ou de uma apresentação de dança, provavelmente quer comentar com alguém. Imagine sair de um concerto com um amigo e voltar para casa em completo silêncio. Quando isso acontece, sentimos que algo está errado. Precisamos da linguagem. Prisioneiros memorizam ou escrevem histórias no que tiverem à disposição — paredes da cela ou papel higiênico. Isso mostra o quanto precisamos profundamente da linguagem e como ela nos ajuda a manipular o mundo de maneiras mais fundamentais do que a maioria das pessoas imagina.
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