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Servidores: A magia mais perigosa em suas mãos!

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Martin Mente Mágicka

A magia mais “perigosa” do mundo: é assim que são chamados os servidores ou hoon payon na magia tailandesa.

Você vai aprender sobre os servidores, o que são, como utilizá-los e por que são “perigosos” e eficientes. Vai ler tudo neste artigo, então pegue sua bebida ou algo mais relaxante e fique comigo até o final.

Tenha paciência e passe pela primeira explicação das formas-pensamento, pois será recompensado com conhecimento ao terminar este artigo.

servidores: formas-pensamento conscientes

Formas-pensamento são uma amálgama (conjunto) de energia e podem ter qualquer formato. Geralmente, as positivas são coloridas, poligonais e geometricamente bem feitas, enquanto as negativas são monstruosas, de cor frágil e deformadas.

Formas-Pensamento, ilustração Teosófica

Para quem tem sensibilidade, a percepção de formas-pensamento é um grande diferencial, e o contato de diversas tradições espiritualistas e esotéricas com elas criou denominações como amebas, miasmas, cascas e larvas astrais.

É comum no Oriente, no entanto, que as formas-pensamento positivas e bonitas sejam chamadas de “mandalas”. A maioria das mandalas orientais são canalizações de praticantes sensitivos da antiguidade, que percebiam as formas geométricas e harmoniosas em sua “caixa mental” ao recitar mantras ou ao entrar em contato com sons e cheiros harmônicos.

Mandala, forma-pensamento criada por vibrações harmônicas

Som, cheiro, sentimentos; tudo isso possui vibração, e a vibração desencadeia energia. Um conjunto de energias, por sua vez, cria formas-pensamento.

Já tive a maravilhosa experiência de “ver” mantras no astral; o som cria formas lindas que, ao entrar em contato com o ser humano, provocam sensações de harmonia, elevação, paz ou até mesmo de poder.

Butsugen Butsumo em ilustração de Miki Okada: as formas-pensamento que emanam desse ser são de pura beleza e carinho, evidentes na mandala de energia que o cerca.

É por isso que mantras e músicas são capazes de auxiliar grandemente na criação de formas-pensamento, sejam boas ou ruins. A música sempre foi parte dos rituais e do contato com o oculto.

É interessante perceber como a música se modifica juntamente com o astral e a energia de cada geração. Desde que se tornou um produto comercial, as mudanças na música têm sido assustadoras, especialmente quando observamos o que aconteceu no Ocidente, onde tipos mais populares de música perderam muita qualidade.

O contato com formas-pensamento externas alimenta nossas próprias vibrações internas, o que, por sua vez, influencia a criação de nosso campo energético, que, ao atingir certa intensidade, cria formas-pensamento.

Boa música ou contato com vibrações benéficas muitas vezes nos coloca em um estado vibracional, de coerência, ou em qualquer outro estado de consciência mágico, a partir do qual podemos criar formas-pensamento e projetar energia.

Já o contato com músicas de baixa vibração, cheiros e formas-pensamento negativas, faz mal, especialmente para pessoas sensíveis, que trabalham com energias e seguem ativas em seu “caminho espiritual”. Tais energias podem ser extremamente perturbadoras.

 

Talvez você não tenha percebido, mas acabei de afirmar, com ares teosofistas, que o funk e gêneros semelhantes são do umbral.

No Ocidente, especialmente influenciados pela Magia do Caos, chamamos de servidor ou “servidor” todas as formas-pensamento que ganham consciência própria. Mesmo que nem todas estejam a serviço consciente de um mago, elas adquirem uma consciência própria através de energias, emoções, rituais ou impressões energéticas intensas.

Essas impressões energéticas podem originar-se de outras pessoas e eventos que desconhecemos, podendo se formar em processos inconscientes, misturando vibrações e ectoplasma (energia vital). Isso cria formas que logo começam a realizar algum tipo de trabalho ou serviço, seja ele bom ou ruim, útil ou inútil. São os servidores.

Formas-Pensamento: conscientes (servidores) x inconscientes

É preciso entender que, em nosso mundo físico, tudo tem uma forma-pensamento correspondente, ou um “corpo vital”, como chamamos nas ordens esotéricas ocidentais, também conhecido como “duplo-etérico” por projeciólogos e espíritas, e que aprendi inicialmente como “corpo plasmático”.

Este corpo intermedia as coisas entre os mundos, ou “dá a vida”; está próximo às coisas, mas ainda assim não é totalmente físico, sendo responsável por animar as coisas físicas. Ele se dissipa com a morte da matéria.

Uma parede tem um corpo vital ou duplo etérico. Uma planta também. Um animal, por exemplo, costuma ter mais de um corpo vital, além de um corpo astral, representando uma alma em evolução.

Apenas aqueles que possuem corpo mental podem criar formas-pensamento conscientes. Por isso, um cachorro pode criar formas-pensamento, mas não cria um servidor, pois ele não possui a energia que passa pelos corpos energéticos superiores, especialmente a energia mental.

Uma forma-pensamento consciente deve fazer parte de um corpo mental e ter uma alimentação energética correspondente para desenvolver essa consciência. Por isso, apenas nós, seres humanos, criamos formas-pensamento conscientes.

Por isso seu gato neste instante não está criando servidores para te influenciar a deixar aquele seu namorado que ele não suporta.

Os animais podem criar formas-pensamento e trabalhar com elas, mas são desprovidos de consciência e ânimo próprio; ou seja, não são servidores.

Um cachorro pode criar formas-pensamento inconscientes, por exemplo, ao morrer. A “sombra” dele pode continuar a fazer o mesmo percurso que ele fazia pela casa, indo de onde deitava até o local onde comia. Acredite, esse é um relato paranormal relativamente comum.

Quando um ser humano morre sem consciência de sua morte, pode agir como uma forma-pensamento inconsciente. Um espírito que age como forma-pensamento inconsciente é um espírito sem mente ou em demência, daí a importância de “ir para a luz”, onde recupera a consciência.

A tão famosa “luz” é exatamente a luz da razão, o despertar da consciência. Muitos espíritos agem como formas-pensamento sem consciência, mas formas-pensamento sem consciência não conseguem agir como espíritos inteligentes (que possuem consciência da morte).

Os servidores são uma forma poderosa de magia, pois, apesar de serem feitos de formas-pensamento humanas, energias e vibrações, adquirem uma consciência própria, que nem sempre está presente em diversos espíritos humanos desencarnados.

Outro diferencial do servidor é que a existência dele está intrinsecamente ligada a uma função (quando feito de forma consciente), e dessa função muitas vezes depende a sua própria existência.

A consciência luta até a última força para existir, e por isso, um servidor bem feito para ser um protetor pessoal, por exemplo, pode significar proteção até as últimas consequências para todos os envolvidos.

Um servidor feito para influenciar alguém em particular cumprirá sua missão com mais fidelidade e afinco do que um espírito obsessor, pois dessa missão depende sua existência, e não apenas sua vontade ou apego.

É por isso que na Tailândia, que chamo de “terra dos servidores”, pelo volume e riqueza deste tipo de magia, se diz que Hoon Payon é a magia mais perigosa, com um detalhe:

O servidor é uma existência sem alma própria. Ele é “anexado” à alma de seu criador ou mestre, portanto, todo karma que resultar de suas ações pertence ao seu criador, e não ao servidor em si.

Um servidor bem feito é uma extensão SUA.

Os servidores na Magia do Caos

É muito interessante que culturas antigas, sem conexão direta entre si, trabalhem com o conceito de servidor, com nomes diferentes.

Na Tailândia, são chamados de hoon payon (ou extensão do próprio corpo, corpo substituto); no Tibete, de tulpa. No Vodu, magia afro-caribenha de grande fama, os servidores são conhecidos em todo o mundo. Na Europa, eles já foram chamados de homúnculos, golems, diabretes e construtos. Entre os celtas, eram chamados de “espíritos familiares” (um dos tipos), e na Inglaterra, de poppets e companions.

Poppets antigos do início do século passado, utilizados como servidores na feitiçaria irlandesa.

Meu primeiro contato com o que poderia ser chamado de servidor ocorreu aos nove anos de idade. Na época, havia uma loja de artigos esotéricos recém-inaugurada, bem próxima de casa.

Eu escapulia e passava horas ali, tentando entender os livros de magia nas estantes, totalmente proibidos em casa. Quando tinha algum dinheiro, comprava cristais, imagens com símbolos esotéricos, velas e incensos. Era algo “secreto”, pois minha família proibia esse tipo de prática, acreditando que poderia atrair “coisa ruim”.

Em uma dessas idas, eu e meu irmão mais novo fomos juntos. Tínhamos ganhado algum dinheiro de presente e, nesse dia, meu irmão gastou tudo em um único item: um boneco pequeno de um duende com roupa azul, nariz grande e chapéu vermelho bordado com o nome “Gruxo”.

Quando perguntamos a alguém na loja o que era Gruxo, a pessoa respondeu que era o nome dele. Para mim, mais velho, aquilo não fazia sentido, mas para o meu irmão, ele havia comprado um amiguinho com nome e forma, mesmo que estranhos.

O Gruxo era um instrumento mágico e poderia ter se tornado um familiar se eu, aos oito anos, ou meu irmão, de seis, soubéssemos algo sobre isso.

C.G. Jung, quando jovem, também tinha um boneco de duende com quem ele conversava, contava segredos e jurava sentir as respostas dele. Algumas vezes até alimentava o boneco.

Para Jung, essa relação era tão válida e “real” quanto qualquer outra relação que uma pessoa pudesse ter.

Esse tipo de “magia” era muito comum na Europa em todas as épocas. Na stregheria italiana, a criação de bonecos de palha e plantas e a nomeação desses eram práticas usuais.

O Vodu, tão famoso, é uma reminiscência das magias tribais africanas que construíam representações espirituais tanto para ataque quanto para proteção e obtenção de informações ocultas.

Esse tipo de magia é tão antigo quanto a humanidade. Ele também possui um caráter lúdico, pois, desde a infância, ao começar a criar diálogos mentais, temos a tendência de exteriorizá-los em bonecos e personagens imaginários. Esse ato está relacionado tanto ao desenvolvimento mágico quanto ao desenvolvimento mental e à criação de sinapses no sistema cerebral.

A Magia do Caos teve uma enorme popularidade no meio esotérico no final do século passado. Autores como Peter Carroll e Phill Hine, baseando-se em ideias de Austin Osman Spare e antigos conceitos esotéricos (de feitiçaria e cultos populares), propuseram uma magia pessoal e psicoespiritual, independente de sistemas e egregoras predefinidas em hierarquias.

Essa é a proposta polêmica da Magia do Caos: a afirmação de que “nada é verdadeiro; tudo é permitido”. Se nada é verdadeiro, então tudo pode ser verdade. O diferencial está, portanto, naquele que opera, ou seja, o “mago”.

A mistura de panteões e a utilização de nomes e imagens diferentes para um mesmo arquétipo só foram novidade para o esoterismo cristão. No Oriente, panteões, deidades, arquétipos e deuses se misturam em cada país há milhares de anos.

O budismo tailandês é uma fusão de deidades hindus, figuras chinesas e filosofia Theravada com práticas xamânicas e feitiçarias locais. E ainda hoje (apesar de isso estar se perdendo) é possível sentir cada um desses elementos nas suas práticas, o que é fascinante para quem aprecia história, psicologia, magia e espiritualidade.

A Tailândia é uma terra mágica, e você não pode morrer antes de visitá-la, mas bem acompanhado. É possível se perder em praias, drinks e atividades de todo tipo para todos os gostos (literalmente, acredite).

Na Tailândia deve-se ir focado. Homens costumam gastar todo tempo em casas de massagem e mulheres para todo gosto: baixas, altas, de pele clara, mais escura, cabelo longo, cabelo curto, magras, cheinhas, peitudas, feias, lindas, sem peito, com bunda, sem bunda, com pinto…

O taoísmo popular na China incorporou diversas deidades do budismo; o onmyodo do Japão, práticas do taoísmo; o budismo esotérico japonês tem a maior parte de suas deidades e ensinamentos advindos do budismo esotérico chinês, que é, por sua vez, uma mistura de cultos populares chineses, taoístas, hindus e tibetanos.

A sincretização, o culto a múltiplas deidades, é extremamente comum na Ásia. Uma deidade é dita como uma emanação de outra, e, ao final, tudo converge ao todo, seja chamado de Tao, Deus ou mente búdica (ou bodhicitta), ou iluminação.

Veja, por exemplo, neste artigo, como Mahakala foi adaptado no Japão após se fundir com o Kami da prosperidade. Isso é algo muito comum no Oriente. É por esse motivo que C.G. Jung, em seus estudos sobre religião e arquétipos, admirava tanto a espiritualidade oriental. Essas misturas “malucas” acontecem no Oriente de forma tradicional há milhares de anos.

Para o budismo esotérico, isso nunca foi problema, pois deidades e arquétipos são apenas meios para um fim, e não um fim em si mesmas. Nosso corpo e nossa vida presente também são. Tudo é passageiro e uma “representação”, emanação de algo maior.

Essa visão budista esotérica combina com a ideia de evolução da espiritualidade esotérica ocidental, pois, na verdade, tratam-se das mesmas ideias. Essa é praticamente a proposta que a Magia do Caos trouxe para a magia prática e ritualística.

É por isso que me identifico tanto com a Magia do Caos e recomendo as obras de Phill Hine e o site Morte Súbita como ótimas introduções às práticas “caóticas”.

Na Magia do Caos, o conceito de servidor moderno e bem explicado se desenvolve no Ocidente.

Na Magia do Caos, os servidores são classificados como pessoais, públicos ou grupais. Explicar como criar um servidor dentro da Magia do Caos demandaria um pequeno livro, então recomendo aqui algumas boas fontes.

Você pode aprender a criar servidores em cursos como os do Frater Magog, ou em livros que foram importantes para mim há muitos anos, como Magickal servidores, Walking With Magickal Entities e a série de livros de John Kreiter.

Outras informações sobre o assunto podem ser encontradas no Morte Súbita já citado e no site Caotize-se.

Meu primeiro servidor, o desastre de KuruKuru

Contudo, vou compartilhar uma história de como criei meu primeiro servidor com a Magia do Caos, há cerca de uma década. Trata-se de uma história vergonhosa e que me constrange, mas se você não possui histórias toscas e embaraçosas, você não pratica magia.

Magia é para quem pratica, e qualquer mago verdadeiro possui muitas histórias desse tipo, frescas na memória e que o deixam envergonhado ao contar.

“Puta vida!” – Fracassos retumbantes e misturas esquisitas que explodem na cara do Mago são mais da metade do caminho da Magia.

Nunca diga ser um mago sem antes possuir histórias piores do que essa. Magia não se aprende com livros, e sim com prática, e esse é também um conceito chave da Magia do Caos.

Bem, há dez anos, eu tinha uma bolsa de estudos e morava dentro de uma universidade na China, o que é comum fora do Brasil. Eu dividia o quarto com um colega que chamarei de “M” nos primeiros seis meses, depois passei a morar sozinho.

M era um rapaz atraente e chamava a atenção das garotas, mas era homossexual. De vez em quando, descíamos para o quarto andar do dormitório para tomar cerveja, um ponto de encontro de estudantes estrangeiros, onde havia uma cafeteria e um bar.

Nessa época, eu ainda não era formalmente iniciado em Kurukulla, mas já a praticava. Quando havia eventos ou reuniões de jovens, meus hormônios me lembravam de trazer o colar de Kurukulla com meu tsa tsa (pequena imagem feita de elementos sagrados no budismo Vajrayana) em um relicário.

Essa imagem em particular é uma relíquia que guardo com carinho, pois foi produzida por mestres e envolveu um processo difícil para adquiri-la.

Este é um tsa tsa, não é o que eu citei, pois do meu não se pode bater foto, uma crença típica do oriente que descende das escolas esotéricas fechadas.

Naquela noite, M e eu estávamos tomando cerveja e falando sobre como nossas vidas haviam mudado. Ambos estávamos aproveitando o momento após tantas dificuldades financeiras. A maioria dos alunos estrangeiros eram coreanos.

Na mesa ao lado, havia algumas garotas coreanas lindas, mas uma delas chamou minha atenção em particular. Ela parecia a versão em carne e osso da Sailor Marte, e, se você já passou dos trinta como eu, com certeza se lembra dela.

A Sailor Marte, paixão de infância.

Como M era muito extrovertido, ele virou-se para a mesa ao lado e repetiu uma frase em coreano que ouvimos elas dizerem, e elas riram. Dez minutos depois, uma lata de cerveja bateu em nossa mesa e duas garotas lindas nos cumprimentaram e puxaram cadeiras para se sentar, uma delas era a Sailor Marte.

Elas se sentaram na nossa mesa, e eu já acreditava que estavam ali por M, pois ele era o tipo de cara que atraía garotas (independente de sua orientação sexual). Mas, para nossa surpresa, a “Sailor Marte” disse que queria beber conosco e que gostaria de me fazer uma pergunta.

Em um mandarim um tanto ruim, mas bem fofo, ela perguntou se eu tinha namorada. Pulando o resto, o fato é que naquela noite eu voltei para o dormitório me sentindo “nas nuvens”. O que havia sido aquilo? Eu estava encantado e queria mais. Eu era jovem e bobo, e mal consegui dormir.

Isso não é comum por parte de garotas bonitas na Ásia, antes que alguém diga besteira. Geralmente, as que abordam homens de outras etnias são consideradas abaixo do padrão de beleza do próprio país. Traremos verdades no MMM.

Apesar de saber que a prática de Kurukulla (que eu fazia havia três anos) e o próprio instrumento mágico do tsa tsa haviam influenciado a noite, eu não poderia depender disso para ter mais.

Decidi que não poderia “incomodar” Kurukulla para atrair mulheres sem o trabalho de abordá-las, enfrentar rejeições e me esforçar até conseguir o que queria, já que na época meu chinês também era péssimo.

Ainda bem que eu era bobo, mas não burro; Kurukulla não suporta pessoas passivas ou preguiçosas.

Então decidi tentar algo “novo” dentro do meu arsenal místico: criar um servidor. Eu criaria um servidor que chamaria de KuruKuru (putz, Martin), já que a base era um poder típico de Kurukulla, a sedução.

Eu não queria abordar, ser rejeitado; queria que as garotas viessem até mim, pois não conseguia me comunicar bem com elas (putz, Martin).

Queria que isso acontecesse por meios mágicos. Então meu servidor teria como missão, ao ser chamado, atrair uma garota até mim e convencê-la a iniciar uma conversa, sem que eu tivesse trabalho ou constrangimento (putz, Martin).

Relembre que isso aconteceu há uma década! Se eu não tivesse isso em mente, nem escreveria sobre. De qualquer forma, mãos à obra. Assim foi o planejamento do servidor:

  • Nome: KuruKuru (putz, Martin)
  • Sigilo: mistura de letras do nome com o formato do relicário que guardava o tsa tsa de Kurukulla, com alguns detalhes para lembrar as garotas (putz, Martin)
  • Mantra ou palavra de invocação: “KuruKuru, KuruKuru” (pqp, Martin)
  • Visualização vívida do corpo do servidor: um mago hindu em tons de azul e vermelho
  • Morada do servidor: uma almofada costurada em forma de mandala, típica do budismo tibetano, abençoada com a energia de Kurukulla.
  • Alimentação (que não lembro exatamente, desculpe)
  • Ritual de ativação ou nascimento.

Munido dessas informações, o servidor estava quase pronto, então fiz uma preparação ritualística. Guardei a energia sexual por dez dias, sem qualquer desperdício; sempre que sentia desejo, transferia-o para a vontade de criar o servidor.

Após dez dias, fiz um ritual que envolvia a carta “Lust” do Tarot de Thoth, uma gota de sangue (importante, falaremos sobre o papel do sangue na magia em artigos futuros), fluidos sexuais acumulados nos dez dias, o mantra, o sigilo e a morada, além de palavras de ativação que escrevi; para completar, fiz um chamado à Sitri para ligar um familiar ao KuruKuru (que bagunça, Martin!).

Realizei o ritual enquanto M estava em aula (que, como de costume, eu havia matado) e fui tomar um banho. Após o banho, vi que alguém havia me adicionado no WeChat. Era outra garota coreana bonitinha, dessa vez da nossa sala, dizendo que ela e uma amiga queriam conhecer M e eu.

Fiquei feliz! Mas era sexta-feira, e eu iria viajar de trem naquela noite, só voltando no domingo. Dei uma desculpa a ela, e fui pegar o trem, enquanto pensava como dizer que M não gostava exatamente de garotas. M estava feliz, pois teria o quarto só para ele no fim de semana. Guardei o KuruKuru embaixo das cobertas e saí.

Eu sentia que as pessoas na estação me olhavam de forma diferente, mas poderia ser só impressão. O fato é que, quando voltei no domingo, não estava me sentindo bem. Havia algo errado; sentia ânsia de vômito, náuseas.

Quando se é sensitivo, essa sensação é pior que o medo, pois indica que algo de errado está acontecendo.

Cheguei ao quarto e a ânsia aumentou. Ao me sentar na cama, vi que as cobertas haviam sido mexidas. Abri rápido e percebi que o sigilo estava descolado da almofada.

Perguntei a M se ele havia usado minha cama ou levado alguém ao quarto, e ele respondeu que S., uma garota que gostava de mim e era extremamente pegajosa, longe de ser meu tipo, havia estado lá conversando com ele sobre mim. Ela se deitou na minha cama e encontrou o objeto embaixo dos lençóis. M gritou para ela não pegar, mas era tarde.

Eu tinha verdadeira aversão à energia de S., não só por não ser meu tipo, mas por sentir nela uma “gosma” que me repelia, mesmo ela sendo simpática e gostando de mim.

Decepcionado e irritado, joguei o sigilo na privada (putz, Martin), vomitei e desfiz a magia. A garota que havia me adicionado desistiu da ideia de me conhecer. Sitri ficou ressentido comigo, e nunca mais consegui trabalhar bem com ele.

S nunca mais foi a mesma. As pessoas diziam que ela havia enlouquecido, se tornando descontrolada e inconveniente; onde ela estava, eu evitava ir, pois só de vê-la sentia ânsia.

Essa foi a história desastrosa e imatura da criação e eliminação do meu primeiro servidor. Foi uma aventura. A partir dessa experiência frustrante, tomei atitudes pela minha vida afetiva e sexual e passei a conhecer verdadeiramente Kurukulla em minha vida.

Parei de tentar fazer espíritos abordarem garotas por mim e comecei a enfrentar rejeições, nervosismo, abordagens e sucessos memoráveis seguidos de fracassos cômicos.

Uma dessas experiências me levou a um templo secreto, um grupo underground que praticava magias tailandesas e trazia mestres magos da Tailândia para nos visitar e ensinar.

Esse grupo foi minha introdução à magia tailandesa e ao budismo local. Tudo se conecta, e uma boa magia, mesmo desastrosa, sempre nos leva ao lugar certo, mesmo que o caminho não seja o esperado.

servidores públicos

Os servidores públicos são criados por um mago (ou vários) e disponibilizados para uso coletivo, como acontece com os santos católicos, deidades budistas etc.

As pessoas podem fazer pedidos, conectar-se a eles por sua imagem e sigilos, e agradecê-los; dessa busca por devoção e gratidão alimenta-se uma egregora.

Egregora é a união de energias conscientes e inconscientes em vibrações afins. Uma egregora forte feita de servidores, por exemplo, é a dos quarenta servidores de Tommy Kelly.

Tommy Kelly é um mago que criou os quarenta servidores, suas imagens, características e sigilos, disponibilizando-os online. Foi um sucesso estrondoso, e a egregora dos quarenta servidores possui muitos praticantes e é bem conhecida no Brasil.

Três dos 40 servidores criados por Tommy Kelly e energizados mundialmente.

Outro exemplo é o livro Filthy Magick, de magia sexual, com servidores criados para o público por Jareth Tempest. O site Caotize-se, já mencionado, também conta com diversos servidores públicos para conexão direta, além de muita informação traduzida do próprio Tommy Kelly!

A ideia é ótima e funcional, mas nunca me empolguei com servidores públicos criados por outro mago, preferindo meus servidores pessoais, apesar de ser um entusiasta do trabalho de Tommy Kelly e seus quarenta servidores, e de querer experimentar trabalhar com eles.

servidores grupais

Outro tipo de servidor é o grupal, uma forma-pensamento criada conscientemente por um grupo de pessoas. Normalmente, o servidor assim criado serve apenas ao grupo e às pessoas ligadas a ele, sendo uma representação da egregora do grupo.

Claro que um servidor público também pode ser criado por um grupo, mas a maioria dos grupos que criam um servidor o faz para agir dentro de sua própria egregora.

Já tive experiência com um grupo europeu (composto por pessoas de vários países) que criou em conjunto um “exército” de servidores, ligados a pequenos cristais e inseridos dentro de imagens de bruxos.

Esse tipo de servidor é muito eficiente, mas apenas se você fizer parte da egregora ou se identificar com ela; caso contrário, o servidor não será muito útil.

Conhecido no meio espiritual como uma pessoa “transitória”, raramente fico “exclusivo” em um grupo ou egregora, o que torna o servidor grupal uma escolha menos prática para mim.

Dependendo do grupo, da coesão de forças, crença na hierarquia e fé no que se pratica, é possível criar servidores muito fortes e úteis, que conseguem até mesmo efeitos físicos impressionantes.

Os servidores na Magia Oriental

Na magia oriental, assim como em outras partes do mundo, bonecos e figuras humanas sempre foram usados em magias e rituais, sendo até mesmo companheiros pessoais.

No Museu Nacional de Nara, no Japão, é possível encontrar figuras de madeira do século VIII d.C., usadas em rituais mágicos.

Bonecos de madeira para rituais populares de magia, chamados no Japão de 木製人形代 ou Mokusei hitogatashiro.

Mas duas formas de magia com servidores são mais famosas e ainda presentes no Oriente: a tradição tailandesa dos hoon payon e a tradição tibetana dos tulpas.

Hoon Payon

A primeira menção histórica de hoon payon na Tailândia vem de um livro do século XV, que narra as aventuras do herói Kun Paen. No livro, ele cria bonecos de barro e outros materiais, dá vida a eles e forma um exército de servidores que derrota o exército inimigo.

Essa magia é comum na Tailândia. A diferença dos hoon payon é que eles não precisam de sigilo; no entanto, é essencial que sejam feitos à mão, pois os elementos usados em sua criação definem seu caráter, poderes e área de atuação.

Eles são feitos sem rosto, pois os hoon payon tomam o rosto da pessoa a quem são consagrados, reagindo em seu lugar a qualquer tipo de ataque ou problema astral. São extremamente leais, e sua existência depende totalmente de servir e proteger a pessoa à qual estão ligados.

Alguns hoon payon são colocados em case de acrílico, outros não podem ter nada os fechando. Muitos são colocados em cases por tabú de sujeira (não podem ficar sujos) ou por serem mergulhados em óleo necromântico.

Existem hoon payon feitos de fios de cobre, palha, barro, terra de cemitério, terra sagrada, palha de cemitério, plantas secas ritualizadas e outros feitos de Muarn Sarn, uma mistura secreta de um mestre mago, ou Ajarn.

Quase sempre, após serem preparados com 32 rituais de criação do corpo astral, eles são então enrolados em sai sin, o fio usado na magia tailandesa tanto em rituais budistas quanto em feitiçaria.

Sai Sin é o fio que liga os mestres um ao outro, ao ambiente nos templos tailandeses, às imagens, e ao resto das pessoas, de forma que conduza a energia de um canto para outro. Este fio é recolhido e se torna o sagrado fio Sai Sin.

Após descobrir os hoon payon, esse tipo de servidor tornou-se meu preferido. Um hoon payon começa a “despertar” à medida que conhece seu “mestre” ou “protegido”, sendo assim uma criação de, pelo menos, duas pessoas: um mestre e um praticante.

O praticante é quem desperta o hoon payon com um mantra específico, ou criando um mantra, decidindo uma forma de alimentá-lo, portando-o e conversando com ele, ou seja, estabelecendo um relacionamento.

Alguns hoon payon consomem álcool, outros não podem beber. Alguns tomam sangue, enquanto outros evitam. Alguns se beneficiam imensamente do sangue do protegido, pois é uma ligação direta com todas as informações necessárias sobre a pessoa. Alguns precisam de oferendas de arroz; outros se alimentam energeticamente com o próprio protegido.

O mais importante é entender o que cada hoon payon demanda ao ser adquirido, e principalmente, senti-lo, pois ele é algo avançado, não é totalmente criado por você, e requer certa sensibilidade para comunicação e conhecimento, sendo uma co-criação.

Dois hoon payon feitos de sai sin e roupas de retalho de mortalha. O material necromântico é uma constante na criação de hoon payon.

Inn Payon

Existe também o inn payon, um hoon payon duplo, abraçado. Esse tipo de servidor é um casal. Alguns são extremamente eficientes, e já vi, por experiência, como são fortes.

Eles podem realmente manter um casal unido, mesmo que não tenham muito em comum, e também podem separá-los. Alguns são programados para um único uso, ou seja, ajudam um casal, e quando o portador decide encerrar o relacionamento, eles “diluem”.

Outros inn payon são guardiões que acompanham o protegido pelo resto da vida, mas são mais raros e tratam exclusivamente de questões ligadas à vida afetiva e sexual.

Para usar um inn payon, deve-se colocar a foto da pessoa desejada com sua data de nascimento e nome completo, e se tiver um objeto pessoal (link), a conexão fica ainda mais forte, apesar de não ser essencial.

Essa magia é extremamente eficaz, mas, obviamente, só funciona se houver contato físico com o “alvo”. Para pessoas desconhecidas, relacionamentos de internet ou pessoas que nunca se tocaram, o vínculo pode não ser suficiente.

Tulpa

Formas-pensamento humanóides descendentes de práticas esotéricas tibetanas pré-budistas, os tulpas foram reinterpretados em antigas escolas de budismo esotérico tibetano. Nessa prática, acredita-se que a mente de um Buddha pode criar emanações, deidades próprias; por isso, a mente humana também pode criar seres humanóides.

A Teosofia foi a primeira fonte ocidental a apresentar o conceito de tulpa e de formas-pensamento no Oriente, com base nessa prática.

Os tulpas ganharam popularidade após o livro Magic and Mystery of Tibet, de Alexandra David-Neel, publicado em 1929.

Alexandra foi uma escritora francesa que conseguiu entrar no Tibete quando o território era fechado a estrangeiros. Ela recebeu treinamento em diversas escolas de budismo esotérico tibetano, escrevendo trinta (!) livros, muitos dos quais hoje estão esgotados.

Alexandra David-Néel, primeira mulher ocidental a ir ao Tibete e, provavelmente, uma das únicas na história a ser iniciada, treinada e entronada numa tradição Vajrayana.

Em seus escritos, Alexandra narra como aprendeu e criou um tulpa na forma de um monge tibetano. Esse tulpa acabou ganhando uma personalidade independente, o que a levou a eliminá-lo. Ela admite a possibilidade de ter imaginado tudo, mas cita que diversas pessoas viam seu tulpa andando por ali.

A diferença de um tulpa para outros servidores é que ele é uma criação totalmente mental, produzido com visualização, respiração e concentração tântricas, sem sigilo, “morada” ou qualquer objeto material.

Outro diferencial é que um tulpa é simplesmente um espírito de forma-pensamento criado por um tulpamante; ele não é criado para objetivos específicos.

Ainda há no Tibete quem crie tulpas, mas essa é uma magia mais abstrata e, por isso, menos comum do que os hoon payon e os servidores com representações materiais.

Infelizmente, ainda não conheci pessoalmente nenhum mestre “tulpamante”, mesmo morando próximo ao Tibete por todos esses anos, e essa prática não faz parte das tradições em que fui iniciado.

servidores Negativos: quando sua mente te ataca

Outro tipo de servidor merece menção: o criado por uma mente neurótica. Esses servidores agem como células cancerígenas, contaminando o campo energético de seu criador e amaldiçoando-o de forma radical.

Esses servidores nascem de uma mente que se considera amaldiçoada. Já conheceu alguém que sempre se sente espiritualmente assediado, amaldiçoado por alguém, enfeitiçado ou obsediado e que insiste nisso?

Eu já conheci pessoas assim. Algumas eram obsediadas por uma “ameba” consciente que assumia a forma de uma pessoa conhecida ou de várias pessoas juntas, tornando-se uma monstruosidade. Com esse tipo de entidade, não há encaminhamento, oração ou conversa.

Essas entidades são como uma auto-maldição e geralmente representam a forma mais poderosa de amaldiçoamento, seguida pela maldição do ambiente e pela maldição kármica.

É possível ser o próprio inimigo. A “consciência” de “estar enfeitiçado” desce sem filtro ou defesa energética, e nenhum ser, nem deidade, pode fazer qualquer coisa quando a pessoa se amaldiçoa.

Uma das grandes artimanhas de um feiticeiro é fazer a vítima se sentir amaldiçoada. Se uma pessoa tem força espiritual, mas uma mente frágil, ela mesma pode fazer o resto e se enfeitiçar, de forma que só ela mesma poderá terminar essa criação.

Esses servidores malignos geralmente só desaparecem quando a pessoa atinge o “fundo do poço” e, finalmente, para de alimentar a entidade.

Esse fenômeno também se manifesta em lendas urbanas (muitas pessoas vibrando em torno de um ser específico até criá-lo no astral) e até mesmo em médiuns, que criam fenômenos que os assombram.

Diversos espíritos da categoria “chorões” manifestam-se dessa forma, representando servidores de dor, agonia e uma assinatura energética intensa que ganhou forma.

Isso nos conscientiza de que o universo é constantemente influenciado por nossas emoções, vibrações e energia; que, se não nos cuidarmos com consciência, mas insistirmos em desenvolver “práticas, poderes e projeção de energia”, corremos o sério risco de nos enredarmos nas próprias criações.

Esse fenômeno é mais comum do que se imagina… no meio esotérico, espírita e até mesmo no dia a dia.

Conclusão

As formas-pensamento, conscientes ou inconscientes, são muito comuns, independem de tradição ou magia, e estão presentes no cotidiano, conscientes disso ou não.

Ter um servidor é usar esse poder criativo de forma consciente; é “comer da árvore do conhecimento” e abrir os olhos. É clamar um poder que temos, mas exercemos sem controle e consciência.

Usar formas-pensamento de maneira consciente é um passo para não sermos vítimas do ambiente.

Por isso, Heitor Durville, em seu livro de magnetismo pessoal, diz que o primeiro passo para o desenvolvimento magnético é tornar-se independente do ambiente, de forma a criar suas próprias formas-pensamento, sejam conscientes (servidores) ou não.

Pouco importa como você cria seus servidores. Se usa Magia do Caos, adquire um hoon payon, cria um tulpa ou usa poppets e bonecos de feitiçaria.

O principal é que, apenas consciente das formas-pensamento, você pode ter clareza espiritual, sem se vitimizar ou ser alvo das vibrações do ambiente.

Criar seu próprio mundo, rituais e conceitos é o passo para ser cocriador de sua vida e não apenas de seres astrais. Tudo pode começar com um simples ritual ou um “brinquedo” mágico. Pense nisso.

Meu trabalho é desenvolver a mente mágica em mim e nas pessoas que têm acesso ao que conheço ou divulgo. Também é popularizar ensinamentos do budismo esotérico e da magia oriental em uma linguagem compreensível, aplicável e prática ao esoterista ocidental.

Não faço marketing. Não divulgo (porque não sei). Não faço parte da “panelinha esotérica” famosa e ressentida até hoje com ex-mago pastor; não tenho uma assessoria que converse com assessores dos esoteristas famosos nem participo de podcasts do mainstream espiritualista da internet.

Por isso, retribua meu tempo e esforço com sua fidelidade. Pratique e divulgue o que aprende aqui! Nos siga no INSTA para posts frequentes, acesso ao meu direct (sim, sou eu, não é minha esposa, assessora ou gato que responde) e para ficar de olho nos próximos artigos como este!

Fiat Lux!!!

Fonte: servidores: A magia mais perigosa em suas mãos! – Mente Mágicka


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