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Magia do Caos

Para onde vamos daqui? (Magia Pós-Caótica)

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Peter J. Carroll

Renascimentos ocultos ocorrem quando o status quo social, econômico ou intelectual é perturbado por algo inesperado. A riqueza combinada com o colapso da religião oficial romana causou um avivamento. A redescoberta do conhecimento clássico na Renascença trouxe outro. A insatisfação com o cristianismo católico e seu fogo do inferno gerou espiritualismo, a teosofia, a Golden Dawn e Aleister Crowley. Em minha própria época, o anti-semitismo, a prosperidade americana, as drogas e as ideias orientais geraram outra explosão.

Renascimentos ocultos são estimulados pela economia e pela disponibilidade de conhecimento não pela criação de novas ideias. A cultura romana foi sujeita a um grande influxo de ideias, cultos e filosofias dos povos conquistados. O material escrito sobrevivente dessa síntese apareceu novamente como hermetismo na Renascença. Os renascimentos do final do século XIX e da década de 1960 devem muito à disponibilidade de ideias científicas e da enxurrada de filosofias orientais. É provavelmente mais útil, então, procurar mudanças eminentes na situação geral do conhecmentose quisermos adivinhar o próximo avivamento ocultista. O período entre um renascimento e o próximo está encurtando rapidamente e provavelmente teremos outro muito em breve. Eu gostaria de tentar identificar alguns dos fatores que podem ajudar a moldá-lo.

Em primeiro lugar a virada do milênio. O cristianismo, infelizmente, ainda não está completamente extinto e a humanidade terá que lidar com uma onda crescente de mania do apocalipse conforme o começa o novo milênio. Os fundamentalistas cristãos de direita na América podem até estar em uma posição política para inaugurar um verdadeiro Armagedom. Espero que toda a coragem e imaginação que existe no ocultismo seja bem utilizada para minar esse tipo de idiotice. Os ocultistas que aderirem ao movimento terão apenas o desastre ou o ridículo a sua espera.

A economia tem um efeito poderoso no clima oculto. Um aumento bastante rápido na riqueza e prosperidade freqüentemente provocará um renascimento à medida que o tempo de lazer se torna maior e algumas mentes se voltam para coisas superiores. Por outro lado, um declínio nas condições de vida faz com que as pessoas buscquem o que perderam, ou um substituto, por meios ocultos. Reavivamentos impulsionados por boom de prosperidade são geralmente muito mais divertidos do que surtos impulsionados por crises de pobreza. Nos Estados Unidos, qualquer incremento no ocultismo decorrente do desespero socioeconômico, é provável que gere alguma espécie de nacionalismo místico neonazi. Tal como acontece com a loucura milenarista a maior honra, a longo prazo, irá para os ocultistas que se opuserem a esse absurdo. No entanto, as consequências metafísicas dos anos 60 ainda podem nos levar ao renascimento do próximo boom e esses problemas ainda não estão resolvidos.

Parece improvável que a antropologia ou a arqueologia sejam capazes de disponibilizar novas ideias para serem canibalizadas pelo ocultismo no próximo avivamento.(Cada vez menos povos estão de fora do caldeirão cultural da humanidade), Bibliotecas computadorizadas, fotografia de satélites e sistemas de comunicação global deixam poucas pedras sobre pedras. Parece haver pouca chance de manuscritos antigos, tribos perdidas ou civilizações esquecidas virem à luz hoje em dia. Salvo as culturas marginalizadas é provavelmente na nossa ciência que eu acho que o ocultismo deve buscar munição.

Já existem tensões perceptíveis de misticismo espacial em alguns setores do ocultismo. Perguntas sobre a realidade ou não de supostas visitas de alienígenas não devem nos distrair de reconhecer que a própria UFO-mania é um fenômeno místico e religioso. O ufologista deseja receber pessoalmente sabedoria para toda a humanidade de algum ser sobre-humano. Buscar anjos em trajes espaciais é repetir o erro perene da humanidade: fingir olhar para fora em busca do que realmente está dentro de nós.

A física quântica vem minando silenciosamente toda a base da ciência mecanicista do tipo causa e efeito há quase sessenta anos. Já foi dito que, se você não está chocado com as implicações da física quântica, você não a entendeu. Isso pode ser perfeitamente verdadeiro para o cientista, mas para o mágico, a física quântica fornece uma confirmação elegante de muitas de suas teorias. Uma abordagem quantitativa da física quântica está além de todos exceto do melhor matemático. Muitos dos princípios estão consagrados em equações para as quais temos poucas analogias verbais ou visuais. Por causa disso, poucos leigos ou filósofos foram ainda capazes de avaliar o que está acontecendo.

Resumidamente em termos qualitativos, agora temos evidências experimentais sólidas que implicam fortemente que os processos físicos são, na raiz, acausais; eles simplesmente acontecem por si mesmos e essa consciência, ou pelo menos as decisões do observador, podem modificar ou controlar o que acontece. Em segundo lugar, parece que a informação pura pode viajar para qualquer lugar instantaneamente e talvez persistir indefinidamente, desde que haja algum tipo de afinidade, ou vínculo mágico, como o chamaríamos, entre o que emite e o que recebe. Muito pouca liberdade precisam ser tomadas com a física quântica para se encaixar em praticamente toda a parapsicologia. Resta saber se a física quântica pode ser apresentada de forma suficientemente acessível para provocar outro renascimento do oculto.

Um avivamento baseado no quantum destruiria efetivamente a hipótese do espírito. Um “espírito” teria que ser reconhecido como nada mais do que a informação que um fenômeno emitiu sobre si mesmo enquanto existiu fisicamente. Qualquer outra coisa teria que ser atribuída à criatividade do subconsciente do observador. Assim, a “árvore” de uma árvore ou a qualidade de um pensamento é apenas uma extensão do próprio objeto no plano da informação não local. Se você fala com deuses egípcios, seu subconsciente está, na melhor das hipóteses, simplesmente animando as características gerais da personalidade dos deuses projetadas por seus adoradores milênios atrás. Os espíritos não podem ser vertebrados gasosos com poderes de pensamento discursivo independente. No nível prático, a física quântica implica que o meio pelo qual a magia opera não é algum tipo de energia ou força psíquica nebulosa, é simplesmente uma transferência de informação. A cura ou ataque mágico é realizado por sugestão telepática de longo alcance, não por bandagens etericas e raios astrais. O paradigma quântico força um reexame da reencarnação. Não há razão para que ninguém seja capaz de acessar as memórias particulares de alguma pessoa histórica em especial. Por outro lado, todos podemos esperar fragmentos de todos os nossos ancestrais e que nossas ideias e personalidades se manifestem em outras pessoas no futuro.

A telecinesia e fenômenos relacionados podem ser acomodados dentro do paradigma quântico se permitirmos a intenção de expandir o pequeno grau de incerteza fundamental, ou mais propriamente indeterminação, na posição e no momento de qualquer objeto. A profecia é sempre a mais duvidosa das artes mágicas, embora a previsão ou precognição de curto prazo possam ser impressionantes. O modelo quântico permite isso desde que o operador posteriormente observe o evento pré-reconhecido. Aparentes absurdos como astrologia e homeopatia começam a fazer mais sentido em um paradigma quântico já que ele sugere que a expectativa pode ter efeitos reais e que isso está muito além dos efeitos puramente psicológicos com os quais os materialistas explicam essas coisas. Já ouvi o paradigma do ocultismo quântico sendo chamado de ‘Misticismo Big Bang’ e ‘Electro Gnosis’. Eu gosto disso, pois implica que o universo está sendo visto como um organismo mágico auto-criado e que a própria magia é uma tecnologia que podemos potencialmente dominar já que é parte da natureza da nossa realidade em comum. Claro, o que está faltando neste esquema são as pseudo certezas da crença em deuses e poderes superiores ou mesmo em uma mente cósmica benigna. Isso nos leva de volta aos nossos próprios poderes, criatividade e engenhosidade… mas não foi sempre a especialidade do ocultismo?


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