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Magia do Caos

O que é Magia Caótica?

Leia em 44 minutos.

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Este ensaio não se situa ao nível particular de naiveté: “Quando você diz “é”, você imediatamente diz que algo “não é””. Pelo contrário, este artigo procura oferecer uma perspectiva sobre a prática da Teoria da Magia Caótica (Chaos Magick Theory = CMT) como é delineada no Liber Kaos de Peter J. Carrol. Em minhas experiências, a diferença substancial entre Magia Caótica e outras formas de magia hoje existentes, situam-se em duas categorias distintas – do paradigma e da prática.

 

Praticamente falando, a Teoria da Magia Caótica enfatiza a performance atual de atos mágicos sobre o seu comportamento e o de outras pessoas. A Teoria tem uma parada secundária. Neste ponto não há um corpo de justificações dogmáticas ou religiosas subjacentes. O praticante individual descobre quais os grupos de limitações que melhor concordam com suas circunstâncias. A CMT consiste primariamente de técnicas que funcionam, mas ela não procura definir para o magista por que estas técnicas funcionam. O participante individual encontrará sua(s) razão(ões). Os magistas caóticos PRATICAM magia. Algumas vezes os magistas caóticos podem envolver-se em uma pequena teoria, como este artigo por exemplo, mas o focus primário permanece sendo a obtenção de resultados.

Paradigmamente falando, a CMT nunca foi nem será uma “trad”, como eu tenho visto ela ser definida por muitos ocultistas na net (internet). Eu acredito que “trad” (tradição) é apenas um sinônimo para “paradigma”. A CMT funciona como um meta-paradigma, uma concha (ou jogo de conchas) no qual vários “weltshanung” podem ser intercambiados. Definir alguém como um “magista caótico” denota um certo nível de ignorância da parte do interlocutor. Um magista caótico nunca existe estritamente como um “magista caótico”. Uma pessoa não vive em um meta-paradigma. Um magista caótico pode ser um Satanista, Pagão ou um Telemita. Pois ele/ela diferem de outros procedimentos que o mesmo título suporta na certeza de que o magista caótico mudará de paradigma após a sua prática momentânea tiver expirada a sua eficácia. O “magista caótico” estará utilizando também a CMT quando a magia funcionar naquele paradigma. A diferença posterior, o uso da CMT, afasta mais o praticante distante dos outros, fixando-o dentro do mesmo paradigma do que o torna mais propenso à mover-se de um paradigma à outro. (Como magistas não-caóticos também mudam de paradigma em uma base regular, buscando por “iluminação”, ou “verdade”, ou “deusa”, ou algum outro termo que denota o suicídio de sua curiosidade.)

Magia do Caos e por que eu a pratico.

Para aqueles que gostam de história, eu apresento aqui o pano de fundo para este artigo:

Spare surge com os “sigilos”;

Carrol dá um enfoque maior sobre a magia como uma arte divorciada da teologia.

Muito aconteceu entre estes dois pontos (e depois), mas outras pessoas escreveram muitas coisas sobre isso e eu estou tentando economizar algumas linhas.

A magia do caos consiste de REALIZAÇÃO. Não importa em que estágio da prática você atualmente se encontra – se você adotou as técnicas da Teoria da Magia Caótica, você fará magia. A qualidade da performance e os resultados dependem de uma coisa: Você trabalhou bem? A Teoria da Magia Caótica constitui um meta-paradigma, uma série de técnicas sem crenças subjacentes. Como tal, um magista caótico nunca poderá ser definido como um “magista caótico”. Um amigo meu, por exemplo, é um “Setita niilista”. Esta distinção denota que ele acredita na existência de uma entidade, conhecida como “Set” que é responsável pela consciência humana e habilidade mágica. Se ele acreditar em Set e performar bem as técnicas da CMT, ele obterá um resultado com sua magia.

Ser um Setita é apenas um exemplo de paradigma. A pessoa pode ter qualquer grupo de crenças e performar as técnicas da CMT. “Seria possível existir em um paradigma estritamente Caótico?” Uma pessoa poderia, mas ele ou ela estariam terrivelmente sozinhos. Eu descobri que muitos “magistas caóticos assim chamados cometem o erro de tentar existir sem um paradigma definido (sem um modelo de explanação da realidade). Em outras palavras, eles pegam o Liber Null & Psychonaut e decidem praticar a magia caótica. No momento errado, eles desistem de praticar o paradigma no qual eles correntemente estão, quer seja ele Cristão, Judeu, Wicca ou qualquer outro. Minha opinião é de que estas pessoas normalmente serão “levadas pelo vento” para outras coisas no máximo em um par anos; a CMT não possui qualquer crença palpável, nenhuma explicação sobre o surgimento da “vida, o universo e todas as outras coisas”.

Se você optar por praticar a CMT, e se isso inclui sua primeira tentativa de deixar o único paradigma que você conheceu até agora, recomendo a adoção de um paradigma paralelo à sua alegria de uma nova-descoberta na prática da arte mágicka. Recomendo também, que você nunca cesse de utilizar os métodos encontrados nos trabalhos de Carrol, U.D. e outros. Recomendo adicionalmente, entretanto, que você modifique de paradigma de vez em quando.

A realidade inicial que separa os “magistas caóticos” do resto da sociedade mágica parece ser o desejo de obter resultados que modifiquem a vida dos praticantes. A segunda coisa constitui a mudança de paradigma. Isto envolve a adoção de um novo grupo de crenças para explicar o universo, o desconhecido e o seu lugar no esquema das coisas.

Se permanece nebuloso para o leitor o ponto apenas sobre o que é um paradigma, eu coloquei abaixo um dos paradigmas mais bem conhecidos para atuar como um exemplo.

Paradigma Cristão:

De onde surgiu o universo? – Deus o criou.

O que faz com que coisas boas e más aconteçam? – É a vontade de Deus.

Qual é o meu lugar no universo? (Em que eu acredito?) – Você acredita que Deus criou o universo e que Ele enviou Seu único filho primogênito, Jesus, à terra para sofrer e morrer por nossos pecados (transgressões contra as leis de Deus). Você acredita que Ele ressuscitou após ser crucificado e retornará no final dos tempos para julgar os vivos e os mortos.

Qual é a sua opinião sobre a magia? – Magia é a manifestação dos poderes do mal (liderados pelo arquiinimigo de Deus: Satã). Satã procura seduzir os imprudentes com promessas de falso poder em troca de seu afastamento de Deus. Não importa quais sejam os resultados da magia (bom ou mau, para curar ou matar), toda magia vem do demônio e levará à eterna danação (queimar na grande fornalha no centro do planeta).

Qual é a sua opinião sobre alienígenas? – Alienígenas são demônios disfarçados para enganar os imprudentes e conseguir afastá-los da única igreja verdadeira (seja ela qual for). Se você acredita em alienígenas, você caiu nas mentiras de Satã e irá para o inferno. (Ver “Grande Fornalha” acima.)

Estou certo de você ter entendido. Se você deseja praticar a CMT, deixe-me sugerir que você fique longe de paradigmas que ou a: não acredita em Magia; ou b: acredita que o uso da magia constitui em ser “mau”. Nestes paradigmas, pode haver um ímpeto para praticar magia em um sentido de que você está violando um tabu por agir desta forma. Entretanto, parece uma dor maior para o ignorante ter que rastejar e pedir perdão toda vez que criar um sigilo ou ler as cartas de tarot ou ter pensamentos sobre magia. Já disse o bastante sobre o “por que”. Agora vamos à porção de “o quê” do nosso programa.

Fundamentos

Como futebol, é? Aí existe um grupo de regras/linhas guias que os magistas caóticos aderem. Estas regras situam-se na verdade, mais ao longo das linhas de teoria científica do que como um grupo de “leis” mágicas.

Você começa com uma premissa.

Você executa uma série de experimentações.

Você chega à uma conclusão que envolve o por que as coisas aconteceram como elas ocorreram. Aí existe um grupo de fórmulas que tentarei explicar.

Estas fórmulas podem ser encontradas em dois livros de Peter J. Carrol: “Liber Kaos” e “Psybermagick”.

M = G L (1-A)(1-R)

Eu realmente acredito que você pode dar-se perfeitamente bem como um magista caótico e nunca lidar com qualquer fórmula além desta primeira. “M” está para “Magia” e representa o poder de impacto do encantamento, divinação, invocação, evocação ou iluminação que você performar. Este “impacto” particular ocorrerá ao longo de uma escala de zero (sem efeito) à um (nada conseguirá pará-lo). Muitos rituais normalmente cairão entre esses valores, não importa quão bem ou mal sejam eles performados.

“G” está para “Gnose”. Neste caso, gnose é definida como um estado de extrema consciência no qual o magista atinge um total estado de focus mental. Este focus pode ser criado através da auto-excitação à um ponto febril e então ultrapassar este estado, ou a pessoa pode acalmar a mente à um silêncio supremo através de intensa meditação.

“L” está para Link (vínculo ou elo). Nesta fórmula, isto representa a consciência do magista ou adesão ao objetivo desejado ou alvo. Uma foto ajuda bastante, embora uma lembrança recente ajude mais ainda. Algumas vezes tais coisas como pedaços de unha, cabelo, calçados ou roupas usados, serão o suficiente. Você estará sempre tentando fortalecer estes dois aspectos (gnose e link), elevando-os tão próximo ao valor “um” (1) quanto possível.

“A” está para a mente consciente. A técnica da magia caótica envolve o desligamento de seu “esforço por resultado” que basicamente diz: “Se eu desejo ter (alvo) como amante e não estou perseguindo-a ativamente, a minha mente cumprirá o meu desejo inventando fantasias na quais eu e ela estaremos felizes romântica e sexualmente.” (Naturalmente todos nós experimentamos isto em sonhos que eram como o desejo realizado.) Se você fantasiar sobre o objetivo enquanto realiza o ritual, sua mente reconhecerá o ritual como sendo um substituto legítimo para realizar algo na verdade. Você terá reagido o seu desejo e assim não necessitará cumpri-lo pela utilização de seus poderes mágicos.

“R” está par resistência subconsciente. Isto é aquela pequena voz que fica repetindo que “Eu nunca fui muito bom em magia, logo este trabalho não funcionará.” A única forma de contornar esta auto-sabotagem é reafirmar constantemente a sua própria crença em sua habilidade. Tais pensamentos positivos passarão ao subconsciente e reduzirão o fator “R” no ritual.

Devo observar, que os magistas caóticos contornam o fator “A” pela utilização de sigilos e mantras. Estes são reorganizações pictoriais e verbais do objetivo do ritual em uma forma que a mente consciente não reconheça, mas que ativa os poderes do subconsciente.

Fórmula dois (uma delas você pode ignorar):

Pm = P + (1-P) M^1/P

“Pm” está para a probabilidade de alcançar o resultado desejado utilizando a magia. “M” vem a partir da equação prévia. “P” por si mesmo, representa a probabilidade do resultado desejado ocorrer naturalmente. Como sempre – todas os valores situam-se entre “0” (nada ocorre) e “1” (ocorre exatamente o quê você queria).

O fator “P”, acredito eu, explica a proliferação de religiões, sistemas holísticos de medicina e sistemas mágico-religiosos. Às vezes você consegue o que você quer mesmo quando não faz nada para tê-lo. Se isto fosse acontecer, mas você tiver rezado para Deus(a), queimado uma vela, tido relações sexuais com sua mulher escarlate, você atribuirá o resultado aleatório à “divina intervenção”, ou ao poder da mulher em fase menstrual ou à alguma outra fonte de poder.

O exemplo acima não implica que a oração, o tantra ou outras formas de encantamentos não trabalhem, na verdade eles funcionam sim. Entretanto, nenhum deles possui um mecanismo para análise crítica da metodologia envolvida. Ao invés, aí existe um grupo de desculpas: “Não era a vontade de Deus.”, ou “A mulher do balcão vendeu-me uma vela falsa.”, ou “As estrelas não estavam alinhadas.”, ou “Nós não falamos as linhas 17-23 da 13ª chave enochiana corretamente.”, ou “Não deve ter sido da minha Verdadeira Vontade que isso tivesse ocorrido.”, etc…

Na CMT, a responsabilidade pela falha cai sobre o magista. “Será que eu não atingi a Gnose?” – “Havia um Link mágico suficientemente forte?” – “Será que eu não suprimi a minha mente consciente?” – “Será que eu não acreditei completamente em minha habilidade para realizar magia?” A CMT não é estruturada dentro das limitações do ciclo lunar ou cartas astrológicas, vontades de seres divinos ou agendas ocultas de nosso alter-ego. Neste ponto há apenas uma pessoa responsável pelo sucesso ou falha: O Magista.

A outra questão que o praticante da CMT realiza à si mesmo, é a que não está incluída em qualquer fórmula mágica, e pode ser feita assim, “Executei o que era necessário de uma maneira mundana para alcançar o que desejei?”. A CMT requer formas de manifestação nas quais trabalhar. Um magista caótico não queima um sigilo por um “A” em uma prova na faculdade ou colégio e então evita estudar.

Resultados excelentes não chegam ao magista como um doce colocado na boca de um pirralho gritando pelo pai com os nervos em frangalhos; eles se manifestam como o fruto de um trabalho laborioso. A CMT não atrai muitos ocultistas porque ela envolve trabalho ativo e auto-análise crítica (se praticada corretamente). Para muitos “magistas”, a arte da “magia” consiste de evitar trabalho e responsabilidade. Eles querem poder, dinheiro e sexo, mas sem querer exercer qualquer esforço. Eles também desejam uma litania de desculpas quando torna-se dolorosamente óbvio que suas vidas estão se despedaçando à despeito do fato de que eles tornaram-se mais “mágicos” ou “espirituais” à cada dia.

O magista que mede seu progresso enquanto utiliza a CMT será capaz de saber se terá ou não resultados. Assim determinará qualquer não-magista com que ele associar-se. Os sinais são aqueles do sucesso: em sua profissão, organização mágica, relacionamentos (sexuais ou qualquer outro) e a qualidade de suas posses. O praticante afortunado da CMT também tende à ser um otimista, contente com o que ele conseguiu e cheio de orgulho por saber que mereceu o que possui.

O “magista caótico” noviço quererá, ao menos, ter uma direção que seus companheiros mágicos necessitam. A CMT possui uma dificuldade que testa os limites do desejo e do vigor dos praticantes; ela existe para criar excelência. A natureza desafiante da CMT está na aplicação de padrões rigorosos e pressões para este grau de excelência. Ela não está na obscuridade de palavras e símbolos bizarros, na descoberta de verdades ocultas ou no desvendar de simbolismos distorcidos. Tudo que isto têm lugar para manter o aspirante longe do alcance de qualquer coisa (enquanto esvaziam suas carteiras).

A sinopse acima não define “O que é Magia Caótica”. Suas definições podem ser adquiridas pelos registros escritos pelos membros daqueles que praticam a CMT. Mesmos estes dados teóricos servem como divagações.

Uma Introdução à Magia do Caos

Caos: a ausência de forma e ordem. Acima de qualquer outra palavra, o caos assombra o homem ocidental. Enche sua mente com visões de marés encontrando-se com rios, homens dando a luz a rãs, peixes voando através de grossas nuvens. É o cerne inominado de todas as histórias de terror: o inesperado, o imprevisível, o incontrolável, o anárquico Caos.

O homem ocidental, desde os primórdios de sua história, tem procurado derrotar um dos mais implacáveis de seus inimigos: o Caos. Procurou por gestos e palavras, domar os desejos caóticos e arbitrários de seus primeiros Deuses. Criou a imagem de uma divindade toda poderosa, que não apenas trouxe ordem do nada, mas que é a essência da lei. Escolheu inumeráveis tiranos, preferindo a perda de sua própria alma à visão de cães correndo desenfreadamente em suas ruas. Examinou o mundo à sua volta, desejando encontrar leis inflexíveis. Quase destruiu as condições originais de seu planeta – os mesmos processos que tornam sua vida possível – de modo a controlar cada faceta de sua existência, freqüentemente sacrificando seus mais profundos instintos no altar de sua necessidade, em busca de estabilidade. E, onde não podia encontrar ou impor ordem, delineou mitos, dogmas, especulações filosóficas difíceis de serem entendidas , fórmulas ocultas e teorias científicas estéreis, assassinando qualquer um que ousasse questionar tais fantasias: tudo para negar o terror que sente quando confrontado com o que não pode entender.

Do passado mais sombrio até hoje, a imagem do sábio, para aqueles homens, tem sido a de alguém que sabe a lei secreta escondida por debaixo do aparente mundo arbitrário à sua volta. Sua visão do magista tem sido a de alguém que poderia explorar aquela lei para subjugar à sua vontade o mutável evento da vida.

Do final dos anos 60 até o presente, contudo, vozes partindo da Inglaterra, o menos caótico dos países, lar de jardins bem tratados, chá das quatro, e de um sistema de classes que fixa o lugar de cada pessoa desde seu primeiro suspiro, proclamaram o Caos como a única realidade, a verdadeira fonte de toda Magick. Irados, às vezes de forma estridente, esbravejam ameaças aos que proclamam a busca pela ordem divina. Eles veneram aquele mais antigo de seus inimigos: o Caos.

Para entender esta rebelião devemos, primeiramente, explorar as tradições que a originaram. Já que nesta obra não podemos examinar a totalidade do pensamento ocultista, teremos que nos limitar às fontes mais relevantes à Magick do Caos.

Comecemos pela Europa Medieval. Foi durante este período que três ramos do ocultismo desenvolveram aquilo que ainda influencia o pensamento mágico ocidental: a Wicca, o Satanismo e a Magick Cerimonial.

Dos três o Satanismo é o mais fácil de examinar e descartar. Face ao contínuo interesse da Igreja sobre o assunto, o Satanismo é o mais cuidadosamente registrado e melhor pesquisado dos três ramos. Seus conceitos básicos são, também, os mais simples: inversão completa das crenças cristãs. O Satanista realiza a Missa Latina às avessas, zombando dela. Exalta a ganância ao invés da caridade, a revolta ao invés do perdão. Da mesma forma que o cristão vê o Cristo como um salvador pessoal, que o recompensará com uma eternidade de bem-aventurança depois da morte, uma vida de despojamento servil, o Satanista vê o Diabo que, a propósito, o cristão identifica como sendo o inimigo da ordem divina, o Caos encarnado, como um salvador pessoal que o recompensará com o poder material e riquezas para deflorar a mulher de seu vizinho. Em ambos os casos, o objeto de veneração é visto como um mestre externo cuja vontade deve ser obedecida. Ao contrário da Wicca e da Magick Cerimonial, o Satanismo parece ter mudado pouco desde o dia de seu nascimento. Do início até o presente, sua corrente mais forte tem sido um clamor contra a moralidade sexual antinatural defendida pela cristandade. Na Idade Média, deve ter sido uma extrema e, certamente, perigosa forma de terapia para problemas sexuais. Nos séculos seguintes, parece mais uma desculpa para reuniões e, talvez, um modo de os menos atraentes fìsicamente conseguirem um número maior de parceiras sexuais. Assim que a Igreja parou de queimar seus defensores, o Satanismo assumiu uma postura de chocar aquilo mais convencional socialmente. Isto é especialmente verdadeiro hoje, quando o Satanismo é o slogan de inúmeras bandas de Rock, um emblema para ofender os pais de adolescentes, agitar os seus já super-ativos hormônios, e acrescentar ilusão de realidade a gritos estridentes e barulho infernal.

Ao contrário do Satanismo, até recentemente, a Magick Cerimonial não se tem apresentado como uma rebelião contra o cristianismo. Os Cerimonialistas tem sido, de fato, cuidadosos em evitar qualquer coisa que a Igreja pudesse considerar herético. Freqüentemente, eram homens devotados que sentiam que estavam explorando os mistérios mais profundos da fé cristã. Em seus rituais, invocavam a proteção do Deus dos Judeus e dos Cristãos e a ajuda dos arcanjos e anjos do panteão judaico-cristão. Se tivessem que evocar demônios, faziam-no em nome do Senhor e somente chamavam aqueles diabos que Deus tinha ligado ao serviço da humanidade. Nunca foram perseguidos pela Igreja. Havia e há um forte preconceito sexual e de classe na Magick Cerimonial: seus praticantes têm sido tradicionalmente homens aristocratas. Esta tendência permeou todos os setores. Seus rituais eram destinados a entidades masculinas; eram longos, viáveis somente para os que tinham tempo disponível; eram, na maioria das vezes, em Grego e Latim e envolviam conhecimento de Geometria e Matemática, marcas da classe erudita, requeriam túnicas garbosas e instrumentos que somente o rico podia sustentar. O mais sugestivo de sua tendência de classe era sua curiosa orientação científica. Como os cientistas, os Cerimonialistas acreditavam que o efeito desejado só poderia ser atingido pelo uso dos instrumentos apropriados, no procedimento apropriado: qualquer desvio trazia o fracasso. Como os cientistas e, diga-se de passagem, freqüentemente eram cientistas, os Cerimonialistas procuravam conhecimento. Tendo pouca necessidade material, sempre procuravam os segredos do Universo visível e do invisível, puramente pelo conhecimento. Apesar do Cerimonialista na maioria das vezes trabalhar sozinho, freqüentemente aprendia sua arte em uma Loja, ascendendo através de graus, guardando os ensinamentos secretos de seu respectivo grau, enquanto obedecia cegamente a seus superiores na esperança de eventual promoção. A estrutura hierárquica da Loja mantinha uma semelhança com a percepção do Universo do Cerimonialista, cada grau representando um plano claramente definido que teria de ser completamente examinado e dominado.

Apesar de ter conservado muito de sua tendência em relação às Lojas, tal como equipamento caro e visão hierárquica do Universo, ao contrário do Satanismo a Magick Cerimonial evoluiu e modificou-se. Os agentes dessa mudança foram a Ordem Hermética da Aurora Dourada (Hermetic Order of the Golden Dawn) e seu mais conhecido membro Aleister Crowley. A primeira mudança veio em relação às entidades às quais se dirigiam. Enquanto mantinha as hostes judaico-cristãs, a Golden Dawn também se dirigia a deuses do panteão egípcio e greco-romano, sempre trajando túnicas e adornos sugestivos das deidades invocadas. Depois que Crowley seguiu por conta própria, continuou a dirigir-se aos antigos deuses. Mais adiante, ele negou a existência de um poderoso Ente Supremo no topo da hierarquia universal. Proclamou que o objetivo do Magista era “alcançar o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião”, a satisfação de sua “verdadeira vontade” e a realização da sua própria divindade. Apesar de alguns magistas terem sido influenciados pela própria obra de Carl Jung, que considerava todos os deuses como imagens arquetípicas projetados por um inconsciente coletivo, e por filosofia orientais, as quais mencionaremos mais adiante, outros teriam começado a adotar uma abordagem mais psicológica em seus trabalhos. Existe pouca dúvida de que Crowley acreditasse que o Sagrado Anjo Guardião fosse uma entidade externa à própria pessoa, uma das inúmeras inteligências operando a partir de outras dimensões da existência. Para Crowley, a realização da divindade do magista não significava sua absorção no absoluto, mas a realização de sua linha de evolução individual. Incansavelmente, Crowley trabalhou, escrevendo novos rituais em Inglês, fundando a Astrum Argentum e reestruturando a Ordo Templi Orientalis (O.T.O.), adaptando conceitos orientais, sintetizando as várias tradições mágicas, Grega, Egípcia, Hermética, Cabalística e Maçônica, num novo sistema, o qual publicou em infindáveis livros. À parte de trazer a Magick de volta aos olhos do público, a maior contribuição de Crowley foi sua franca admissão da verdadeira fonte do poder mágico: a energia sexual. Tendo proclamado abertamente o segredo, ficou famoso pela rebeldia pessoal, revelando fazer uso de drogas e indulgências orgiásticas para facilitar a entrada em estados alterados de consciência; desposando Thelema, uma filosofia de absoluta liberdade pessoal (ou de abuso de liberdade, como seus críticos o acusaram) e auto-intitulando-se a “Besta 666”, Crowley empenhou-se em chocar as pessoas. Ao fazê-lo, ficou exposto a numerosos e desnecessários mal-entendidos e, em muitas esferas, foi estigmatizado como um praticante de Magia Negra. A despeito de sua diabólica reputação, e não obstante a existência de idéias norteadas por uma tradição judaico-cristã , notavelmente aquelas de Dion Fortune e Israel Regardie, ambos cabalistas, Crowley é amplamente reconhecido como a fonte da qual flui toda Magick Cerimonial Moderna.

A Wicca, o terceiro ramo, é talvez a mais difícil de se descrever. Sem proporcionar desmedidos créditos a seus perseguidores medievais que a associavam com o Satanismo, os trabalhos de Margaret Murray, que a considerava a religião do homem pré-histórico, e as geralmente auto-louvadas “tradições” de seus adeptos modernos, quase nada pode ser dito sobre seu passado. Entretanto, algumas coisas parecem, de relance, notórias e a mais importante é que, sob todos os aspectos, a adepta da Wicca manteve-se em contraste com o Magista Cerimonialista. Primeiro, e principalmente, a adepta da Wicca praticava uma religião oposta à cristandade, sem dúvida uma continuação das antigas crenças regionais, apesar de ser difícil dizer com certeza o que estas crenças eram. Por causa de sua rejeição do Cristo, as Wiccans eram assassinadas pela Igreja. Numa era em que a Igreja e o Estado eram um, a tolerância religiosa era considerada o portão para a anarquia. Onde o Cerimonialista medieval era um homem aristocrático da cidade, o adepto da Wicca era sempre um camponês e, geralmente, uma mulher; onde o Cerimonialista praticava sozinho, realizando complicados rituais em Latim e Grego, convocando Anjos e Demônios para ensinar-lhe os mistérios do Universo, as adeptas da Wicca comumente celebravam os fenômenos das mudanças das estações, entoando rimas simples de modo a assegurar melhor colheita ou um companheiro. O Cerimonialista praticava a mística “Arte”, a adepta da Wicca praticava “o Ofício”. Muitas destas diferenças continuam até os nossos dias. A moderna adepta da Wicca ainda trabalha numa convenção e, embora possa viver num apartamento urbano e não tenha conhecimento de agricultura, ela ainda celebra a precessão das estações, entoando em verso para qualquer coisa que possa precisar. É difícil dizer onde a moderna Wicca difere de suas raízes medievais: bruxas hereditárias, descendentes das Wiccans que sobreviveram aos “tempos das queimadas”, são incrivelmente reservadas sobre as crenças e práticas herdadas de seus ancestrais. Mesmo se elas não o fossem, seria impossível dizer a quantidade de idéias originais que foram distorcidas, acrescentadas e subtraídas, pois foram transmitidas de geração em geração. Portanto, é também impossível dizer o quanto Gerald Gardner, o pai da Wicca moderna, preservou do passado e quanto, apesar de afirmar o contrário, ele realmente criou. Qualquer que seja o caso, da mesma forma que a maioria da moderna Magick Cerimonial flui de Crowley, a Wicca “moderna” origina-se de Gardner. Ainda que os rituais de Gardner estejam repletos de simbolismo agrícola e, por extensão, os praticados pelas modernas adeptas da Wicca, a maioria deles se assemelha tanto a versões rimadas e simplificadas dos ritos Cerimonialistas, que existem rumores que atribuem a sua verdadeira autoria ao bom amigo de Gardner, Aleister Crowley (Gardner chegou ao III° da O.T.O. de Crowley). Ao contrário do Cerimonialista, contudo, o que distingue a Wicca moderna é o seu inexorável feminismo. As adeptas da Wicca veneram um Ente Supremo dual, um Deus muitas vezes identificado com o Sol, Marte, Pã ou Hórus, e uma Deusa, muitas vezes identificada com a Lua, a Terra, Vênus ou Ísis. Sob todos os aspectos, a Deusa é considerada dominante. Dá a luz ao Deus, que é seu filho e consorte. É considerada eterna, enquanto o Deus sofre contínuas mortes e nascimentos, simbolizados pela marcha das estações. As fases da Deusa Lunar, crescente, cheia e minguante, são identificadas com as três fases do ciclo de vida da mulher: virgem, mãe, idosa. As idéias básicas são elaboradas numa grande variedade de aspectos. As mulheres são sempre consideradas mais sábias, mais fisicamente poderosas, e mais espiritualmente desenvolvidas que os homens e, apesar dos rituais das Wiccans serem realizados por um sacerdote e uma sacerdotisa, a sacerdotisa sempre detém a autoridade absoluta: o sacerdote é sempre seu servo. Um observador versado em psicologia pode detectar nos rituais das Wicca uma sutil forma de sadismo feminino e masoquismo masculino. Muitas das Wiccans advogam o Matriarcado, um sistema no qual a mulher detém, em última instância, o poder político. Ao contrário dos Cerimonialistas, que tendem a regular seus rituais de acordo com intrincados cálculos astrológicos, as Wiccans realizam sua Magick segundo as fases da Lua: trabalhos de expansão são iniciados durante a Lua Nova, e culminam durante a Lua Cheia; trabalhos de contrição são feitos ao inverso. Identificando a Terra com a Deusa e procurando manter-se perto de suas raízes agrícolas, a Wicca moderna é muito interessada pela Ecologia. A Wicca hoje é altamente consciente de sua imagem, sempre rejeitando sua popular associação com maldições e orgias. Muitos trabalhos são feitos para o fortalecimento psíquico. Seu feminismo e preocupação com a opinião pública lhe dá uma atitude única perante o sexo; por outro lado, sua pretensa descendência dos antigos cultos de fertilidade e seu foco feminista sobre a sexualidade feminina forçam-na a reconhecer o sexo como uma fonte de poder mágico. Além disso, sua atenção por aparências fazem-nas as campeãs da monogamia. A convenção perfeita de bruxas é composta de pares dedicados e profundamente comprometidos. Nenhuma orgia crowleyana, por favor. Quanto ao Deus e à Deusa, a maioria das Wiccans não são claras em relação a se eles devem ser considerados como aspectos masculino e feminino de uma única deidade, ou como duas entidades distintas. Apesar de a Wicca ter uma linha afirmando que a Deusa deve ser encontrada dentro de cada um, muitas Wiccans a tratam como um ser externo. Começando com Alex Sanders, muitas se afastaram do Gardnerianismo, formando infindáveis ramificações, quase todas mantendo a ênfase feminina. A Wicca moderna poderia ser chamada de “a religião do movimento de liberação das mulheres”.

As três correntes do ocultismo ocidental descritas acima podem ser consideradas ortodoxas e delas a Magia do Caos (Chaos Magick) se origina e contra elas se rebela. Antes de poder explorar a Magia do Caos inteiramente, devemos parar brevemente para examinar quatro outras tendências que a influenciaram profundamente: as teorias de Carl Gustav Jung, a Parapsicologia, a Física, e a Filosofia Oriental.

Do trabalho de Carl Jung precisamos dizer pouco, exceto que sua teoria dos arquétipos, imagens universais que simbolizam as experiências e aspectos da mente humana, determinou definitivamente a visão de todos os deuses da Magia do Caos. Apesar de a maioria dos praticantes do Caos talvez considerar a ciência como apenas um outro sistema, não podem evitar serem influenciados pelas pesquisas parapsicológicas, as quais sugerem que a habilidade psíquica pode ser uma função da mente humana, tornando possível a idéia de um poder mágico sem assistência desencarnada. A Física Quântica, com suas partículas indeterminadas e, muitas vezes, teóricas, deve encontrar um lugar confortável em seus corações. Contudo, a filosofia oriental é a sua maior fonte, e não podemos entender sua definição especial do Caos, a pedra angular de suas idéias, e como ela difere da tradicional visão ocidental, sem entendermos o pensamento asiático.

Quaisquer que sejam suas diferenças superficiais em terminologia e sua semelhança prática, as três grandes correntes da filosofia oriental, Hinduísmo, Budismo e Taoísmo, estão unidas ao proclamar que o Universo é um imenso todo mutável, muito além de todos os conceitos, categorias e definições. O Hindú o chama Brahman, e seus deuses, da mesma forma que as teóricas partículas da física quântica, são meramente símbolos de seu aspecto cósmico. Para o Budista, ele é o Vazio, aquilo além de toda designação e descrição e seu panteão de Budas e Bodhisattvas são, como os arquétipos junguianos, símbolos de estados psicológicos. O Taoísta simplesmente o chama Tao, o Caminho. Além disso, eles concordam que a natureza íntima do homem, que o hindú chama de “Atma”, o Budista de “Nenhuma Alma”, e o Taoísta de “Sem Ego” é idêntica à do Universo. Em todas as três religiões, conhecer existencialmente estas duas coisas é considerado como Iluminação, liberação das visões e opiniões, as quais somente podem ser falsidade, servidão e ilusão.

Aqui reside a diferença entre as definições dos praticantes tradicionais e as dos praticantes do Caos sobre aquela temível palavra: Caos. Para os praticantes do Caos, não é a ausência de ordem, mas, para parafrasear Henry Miller, uma ordem além da compreensão. É análogo ao Brahman Hindú, ao Vazio Budista, ao Tao do Taoísta, e ao Wyrd dos antigos anglo-saxões. Está em constante mutação, pode ser experimentado, mas está além de categorização intelectual. A ordem é, na melhor das hipóteses, o aspecto indescritível da realidade que nosso equipamento sensorial nos permite perceber: a abelha vê a flor de modo diferente dos seres humanos. Na pior das hipóteses, a Ordem é simplesmente um padrão ilusório projetado pelos nossos preconceitos. Para a afirmação de Albert Einstein de que Deus não joga dados com o Universo, o praticante do Caos pode responder que o Universo é deus, se alguém tiver que usar uma palavra tão emocionalmente carregada, e Ele é a única coisa com que Ele pode sempre jogar. Uma vez que o praticante do Caos acredita que a realidade é basicamente indescritível, ele renuncia a todos os dogmas, tomando idéias práticas de todos os lugares, combinando-as conforme a situação, abandonando-as quando não mais se ajustam. Num Universo incognoscível nenhuma crença é válida, contudo, toda crença é válida conquanto o adepto a reconheça como uma ferramenta, uma ilusão necessária, e enquanto ela continue a trabalhar para ele.

O modelo integral da Magia do Caos pode ser facilmente observado com um rápido vislumbre dos pensamentos de um homem que seus praticantes consideram o pai da Magia do Caos: Austin Osman Spare. Outrora membro da Golden Dawn e associado a Crowley, até que uma desavença rompeu a relação deles, Spare incessantemente denunciou a religião, a ciência e Magia Cerimonial. Seus ataques a todos os três eram baseados na mesma premissa: num Universo que desafia descrição, todos os sistemas de crenças somente podem ser falsos. Desde que o homem é parte do Universo e, portanto, Deus, tudo que a religião pode oferecer-lhe são falsos ídolos que o impedem de perceber sua verdadeira divindade. Desde o início, Spare viu que a ciência é uma forma de religião, uma tentativa de designar o inominável, um sistema de categorias que rejeita tudo que não pode incluir. A Magia Cerimonial, ele considerou como uma perda de tempo demasiadamente complicada, perpetrada sobre o ingênuo por charlatães gananciosos e que impede o homem de descobrir sua verdadeira fonte de poder, que está dentro dele mesmo. Spare pregou a necessidade absoluta de simplicidade em todos os trabalhos mágicos e, ao invés de prece e ritual, ele considerava como técnica mágica máxima a criação e meditação sobre o sigilo, um desenho pessoal de letras estilizadas expressando um desejo, ocultando-o, contudo, da mente consciente. Os Sigilos têm sido tradicionalmente o desenho de talismãs mágicos, mas Spare afirmava que seus poderes não estavam intrínsecos às linhas e figuras do desenho: seus poderes vinham de seus efeitos sobre as camadas mais profundas da mente inconsciente. Portanto, cada um deveria criar seu próprio desenho, o qual teria de ser suficientemente simples para ser facilmente visualizado e suficientemente complexo para que a mente consciente esqueça seu significado original.

Em seu trabalho sobre sigilização, nós observamos a influência Oriental nas idéias de Spare. Embora o Sigilo deva ser criado sob a influência de um ardente desejo, e deva ser visualizado e meditado enquanto a obsessão persistir, pode não ter efeito mágico até que se tenha esgotado o desejo e esquecido o significado do Sigilo, tornando-se completamente indiferente ao desejo e ao símbolo que ele representa. Para Spare, a meditação significa manter o Sigilo na imaginação até que ele gradualmente exclua todos os outros pensamentos e, então, se apague da consciência, deixando a mente vazia, o polo oposto da fixação da mente sobre um símbolo, avaliando seu significado, repelindo outras idéias, e focando toda sua vontade concentrada em sua realização. Qualquer um que tenha um conhecimento superficial do Tantra Hindú ou Budista reconhecerá isto como a prática do Tantrika, aqueles que realizam idênticas visualizações sobre os Yantras, desenhos geométricos representando forças cósmicas e psicológicas e que são os modelos básicos por trás das Mandalas, considerando a satisfação de um desejo como um passo em direção ao desapego de todos os desejos.

Como se aquilo não fosse suficiente, o conceito de Universo de Spare se parece com as idéias asiáticas reformuladas. O absoluto ele chamou de Kia, uma palavra que não tem nenhum significado em nenhuma língua ocidental e assemelha-se à palavra japonesa “Ki”, que significa o sopro vital por trás de toda a vida. É digno de nota o quão de perto as palavras de Spare ecoam naquelas de Lao Tzé. Spare: “Não há necessidade de um nome para designá-lo, e eu o chamo Kia…o Kia que pode ser expresso em idéias concebíveis não é o Kia eterno”. Lao Tzé: “o Tao que pode ser dito não é o Tao…Dele mesmo, não há um nome…por falta de palavra melhor, eu o chamo ‘o Tao’”. O Kia, que poderia tão facilmente ser chamado de Caos, está além de descrição, um todo completo, sem partes divisíveis, um zero inconcebível. Contudo, ele se manifesta em dualidades aparentes, macho e fêmea, luz e escuridão, nascimento e morte. Na fórmula de Spare, do nada vem dois. Mas os pólos de cada dualidade não são absolutos neles mesmos; cada um é como um braço, unidos por um tronco, o qual neste caso não pode ser descrito. As dualidades sempre surgem juntas. Alegria emerge com angústia, fé com dúvida. Portanto, a mente não pode evitar o conflito e a contradição. A solução de Spare não é para escolher entre impulsos opostos, mas observá-los simultaneamente, um estado mental que fixa sua consciência, por exemplo, sobre a aurora e anoitecer, horas crepusculares que não são nem dia nem noite. “Nem isto, nem aquilo” de imediato lembra o hindú “Neti -Neti”, a dialética negação de Nargajuna pela qual nada pode ser dito para existir ou não existir, a não escolha do eremita taoísta, e a percepção não- discriminante do Mestre Zen. Ele também insiste que o ego permanece num estado de auto-amor que não deve ser confundido com narcisismo, um estado onde é absorvido com felicidade na alegria de sua própria existência e não tem necessidade de exaltar-se continuamente por infindáveis conquistas e aquisições. Como dizem os Upanishads: ” Permita que o Eu (Self) encontre refúgio no Eu (Self)”.

Durante sua vida, Spare, um artista brilhante que produziu uma série de notáveis desenhos psicografados, nunca recebeu a atenção que foi dada a seu antigo companheiro, Crowley. Os pequenos comentários que faziam eram em sua maioria ruins. Os críticos de arte odiavam seu trabalho e muitos ocultistas, inclusive Crowley, o consideravam um Magista Negro. Suas idéias, que ele comunicou em pequenos livros escritos em um estilo exortativo, denunciatório e declamatório reminiscentes ao “Assim falava Zarathrusta”, de Nietsche, apenas recentemente receberam a consideração que elas mereciam.

Talvez seja o mais alto elogio para um homem que detestava doutrinas que aqueles responsáveis pela redescoberta de seu trabalho não o tomassem como uma autoridade absoluta. Enquanto que Ray Sherwin, Julian Wilde, e “O Círculo do Caos” possam louvar o trabalho de Spare, eles o consideram apenas o ponto de partida, uma influência inicial sobre suas próprias descobertas. Ao contrário dos seguidores de Crowley, eles não transformaram Spare num “Asno Dourado”. Os discípulos de Spare, como eles provavelmente odiariam ser chamados, diferem dele tanto quanto diferem de cada um deles entre si. A maior diferença é que os sucessores de Spare não descartam o ritual a priori, embora sejam críticos deste.

Antes de nós analisarmos mais detalhadamente como a Magia do Caos difere do Ocultismo Tradicional, seria útil uma breve revisão do trabalho dos praticantes que se tornaram conhecidos na América.

Do “Círculo do Caos”, nós podemos dizer muito pouco. São uma coleção eclética de diversos ocultistas que reuniram-se em meados dos anos sessenta, até certo ponto em reação ao crescente sectarismo e mercantilismo dentro do mundo do ocultismo. Criaram um conjunto de rituais tecendo diferentes elementos das tradições de vários de seus membros. Até então, tinham somente publicado um livro, The Rites of Chaos, com direitos em nome de “Paula Pagani”. É uma coletânea de rituais sazonais, celebrações rimadas dos tradicionais dias festivos da Wicca. Originalmente conhecido como ” O Círculo Wyrd”, o “Círculo do Caos” obedece bàsicamente ao estilo da Wicca, se não completamente em substância.

Em seu sentido mais verdadeiro, o mesmo não pode ser dito de Julian Wilde. Ele se considera um Wiccan Tântrico Shamanista e é exatamente tão eclético quanto esta designação subentende. Por sua própria conta estudou a Wicca, a Cabala, o Shamanismo, o Zen e o Budismo Tântrico Tibetano, usou o sexo, as drogas e o Rock n’Roll como auxiliares para alcançar o êxtase, e foi influenciado pelos apontamentos de Carlos Castañeda e Michael Moorcook. Seu “Grimoire of Chaos Magick”, um fragmento de seu Livro das Sombras (Diário Mágico) pessoal que ele tinha publicado como uma coleção de sugestões para almas da mesma opinião, é um livro delgado, ainda que extraordinário. Seu estilo é ainda mais feroz e denunciatório do que o de Spare. Suas invocações são versos livres, cheias de imagens notáveis transmitidas em uma linguagem bárbara, ainda que majestosa e entre suas linhas vislumbra-se um homem que sobreviveu a quase todo tipo de catástrofe pessoal. Como que para provar a sinceridade de compromisso ao ecletismo, seu livro contém ao mesmo tempo um áspero ataque sobre Aleister Crowley e um ritual deste. Wilde é o fundador da Igreja de Ka’atas, uma entidade que não existe no sentido literal e é somente um nome para aqueles que mais ou menos compartilham de sua visão. Ele é verdadeiramente, como se autodescreve, um Guerreiro do Caos.

Ray Sherwin é talvez o mais convencional dos praticantes do Caos. Como membro da I.O.T., uma Loja Inglesa que rompeu com a O.T.O., é um magista Cerimonialista. Ao contrário de Spare e Wilde, seus livros são escritos em um estilo calmo e analítico, sistematicamente explorando pontos de interesse prático para o magista. Um ponto que merece atenção é que a I.O.T., ao contrário de outras praticantes do Caos, considera o Caos como o fim de uma dualidade, o outro fim sendo Cosmo/Ordem. Sherwin não parece concordar plenamente com esta visão, mas não a rejeita completamente, tomando uma postura de talvez sim/talvez não.

Após uma visão geral da Magia do Caos, agora iremos examinar detalhadamente como seus praticantes diferem do ocultismo ortodoxo e um do outro. Infelizmente, teremos de limitar a maior parte desta discussão à visão de Spare, Wilde, e Sherwin, já que o “Círculo do Caos” sòmente publicou rituais sazonais.

A fonte de poder: o que o magista considera como fonte de seu poder determina o resto de sua prática. Obviamente, o Satanismo acredita que seu poder é um presente de seu mestre, o Diabo. O Cerimonialista acredita que seu poder deriva, por meio de uma série de entidades astrais, em última instância do Senhor das Hostes, o Deus mais elevado; um crowleyano diria que somente os seres astrais existem e conferem poder. Já as adeptas da Wicca colocam sua fé na Deusa, no Deus, e nos elementais. Entretanto, todos os praticantes do Caos concordam que as energias ainda não descobertas no subconsciente humano são a verdadeira fonte da Magia. Eles compartilham esta visão com a filosofia Oriental, com a parapsicologia e com modernos teóricos da Magia, como Isaac Bonewitz.

Os exercícios preparatórios: a maioria das tradições mágicas contêm um corpo de exercícios delineados para abrir o noviço às influências mágicas, as quais devem ser dominadas antes de lhe ser permitido prosseguir para o trabalho ritualístico. Sem dúvida, o Satanista moderno considera algumas orgias e umas poucas centenas de gramas da maconha mais forte que possa comprar suficientes para a tarefa. Tanto as modernas adeptas da Wicca como os Cerimonialistas concentram-se na projeção astral e na visualização, usualmente sobre os Tattwas e sobre os Arcanos Maiores do Tarot. Spare, por outro lado, coloca toda ênfase sobre a postura da morte, na qual relaxa-se totalmente o corpo e mantém-se a mente o mais vazia possível pelo maior tempo possível, uma prática vantajosa para desenvolver a condição mental de “Nem isto, Nem aquilo”. Wilde criou todo um novo conjunto de exercícios. O mais interessante deles é uma meditação, baseada no Tantra Tibetano, na qual visualiza-se o corpo fundindo-se completamente e então reconstruindo-se do nada, e outra meditação na qual visualiza-se os chakras, centros psíquicos dispostos um sobre o outro na espinha dorsal, um conceito ióguine, como salas modernas conectadas por uma escada espiral. Fiel à forma, Wilde diz que não precisa acreditar na existência literal dos chakras. O aspecto notável de todos estes exercícios é que eles tentam colocar o praticante em contato com o seu Eu (Self) mais profundo, não com entidades externas ou planos.

A adivinhação: geralmente, o próximo passo no treinamento do noviço é o aprendizado dos vários métodos de predizer acontecimentos vindouros. As adeptas da Wicca tendem a concentrar-se no Espelho Mágico, na Bola de Cristal e, ocasionalmente, na leitura de padrões das folhas de chá ou coisa semelhante. Tanto os Cerimonialistas como as Wiccans dão grande importância ao Tarot. Modernamente, o I Ching e as Runas tornaram-se populares e, ultimamente, a tábua Ouija está sendo redescoberta. Os ocultistas medievais pensavam que os métodos divinatórios eram canais pelos quais os Deuses, Semi-Anjos, e espíritos comunicavam-se com os homens. Mesmo Crowley acreditava que suas operações dependiam das inteligências astrais. Embora ainda haja aqueles que se mantêm fiéis à visão antiga, os praticantes mais modernos consideram os mecanismos de adivinhação como meios de focar a mente consciente, permitindo ao subconsciente apresentar seu conhecimento do futuro. Todo praticante do Caos concorda com a visão moderna. Wilde leva isto um pouco além, sugerindo que a quiromancia e a astrologia, as quais a maioria dos ocultistas consideram como “ciências” objetivas, também são mecanismos de focalização. Para Wilde, que desenhou sua própria versão dos Arcanos Maiores do Tarot para seu uso particular, a disposição dos planetas num horóscopo ou as linhas na palma da mão provavelmente não tem outro significado senão aquele que eles sugerem para as faculdades psíquicas do intérprete.

Iniciação: em todas as tradições ocultas, ocidental e oriental, a iniciação é considerada a morte do antigo ser e o simultâneo nascimento da Personalidade Mágica. Geralmente, é a partir daí que o poder mágico é conferido, na tradição Oriental, pelo instrutor ao iniciado durante a cerimônia. Os praticantes do Caos têm uma visão mais complexa do processo. Para Spare, a iniciação era uma farsa como quase qualquer outra cerimônia. Sherwin e Wilde concordam que uma iniciação propriamente dita não significa mais do que a aceitação dentro de um grupo particular de praticantes. Wilde acata a visão Shamanística de que a iniciação real é um produto de uma severa crise pessoal, apreendida numa situação da qual não há nenhuma via normal de fuga, a partir da qual o indivíduo convoca espontaneamente um poder desconhecido de seu subconsciente. Ao mesmo tempo concordando com a visão de Wilde, Sherwin acredita que é da responsabilidade do grupo de iniciados produzir artificialmente uma crise controlada no iniciando, uma prática empregada pelas antigas escolas de mistério do Egito, da Grécia, de Roma, e das ordens maçônicas.

Ritual e Cerimônia: os praticantes tradicionais da Magia entendiam o ritual com uma ação que agradava tanto aos Deuses que eles consentiriam com o pedido do realizador como uma forma de retransmissão de circuito cósmico em direção a um objetivo específico. Aprender cada detalhe da cerimônia sempre foi considerado de suma importância para o sucesso da operação e um erro significaria fracasso. A Wicca moderna, entretanto, reconhece que a intenção determina a eficácia do rito mais do que a perfeição de sua forma. A Magia do Caos concorda com a Wicca moderna e, outra vez, vai um pouco além. Wilde e Sherwin consideram o ritual como uma forma de teatro, desenhado para incitar na emoção do realizador um nível febril e, então, descarregá-lo para fora, uma catarse que deixa o magista drenado da obsessão e coloca sua mente no estado neutro do “Nem isto, Nem aquilo” de Spare. Eles acreditam que a Magia não pode realizar seu trabalho enquanto a consciência do magista desejar que a operação tenha resultado. A fim de realizar o seu desejo, este não deve ser mais o seu desejo. Ao contrário das várias tradições Cerimonialistas e dos praticantes da Wicca, todos os quais empregam métodos específicos de dispor um círculo, cada um deles afirmando que seu modo é o único correto, Wilde, Sherwin, e o Círculo do Caos aconselham ao praticante a dispor seu Círculo da forma que preferir. Enquanto que os Magistas tradicionais de todos os gêneros exigem que os rituais realizados para fins específicos devem ser executados com os incensos, óleos e velas coloridas apropriadas, Wilde sugere a utilização dos incensos mais alucinantes e de velas de cores mais berrantes que se possa encontrar para todos os rituais. Também sugere a visualização de vários animais como Guardiães do Círculo, ao invés dos tradicionais Senhores dos Elementos. Sherwin sugere tanto a visualização de seres do espaço, trajando as indumentárias apropriadas, ou objetos sexuais nus nas quatro atalaias. Acreditando que a fonte do poder reside no praticante, Wilde sugere que o Magista excite sua ira, ódio, loucura, mágoa e, especialmente, ardor, sugerindo que antes do ritual ou masturbe-se ou seja felado por alguém, parando antes do orgasmo, poupando a liberação sexual até o ponto mais alto do rito. Ele acredita que preces de súplicas aos deuses deveriam ser compostas espontaneamente no ponto mais alto do ritual. Sherwin, por outro lado, refuta a teoria que os rituais específicos deveriam ser realizados em períodos específicos, ponderando que nem todas as pessoas são notavelmente afetadas pelas fases da lua e que as tábuas designando certos dias e horas para certos planetas foram desenhadas antes da descoberta de Netuno, Urano e Plutão e estão, portanto, invalidadas. O melhor momento para realizar um ritual é quando a necessidade e a oportunidade se apresentam.

Os Deuses do Caos: em virtude de os praticantes do Caos considerarem seus deuses como projeções de sua própria mente, sua atitude frente a eles é eclética e os Magistas ortodoxos diriam irreverente. O Grimório de Wilde relaciona um potpourri de divindades de uma miscelânea de panteões. Ele diz que os Deuses podem ser adaptados das palavras de escritores tais como Tolkien, e mais além afirma que qualquer Deus que não proporcione um mínimo de utilidade deveria ser esquecido. De modo geral, os praticantes do Caos preferem concentrar-se em deidades recém-redescobertas ou recém-criadas. Dentre as redescobertas, algumas favoritas são Baphomet, um deus cornígero andrógino que, no século XII, os Cavaleiros Templários usaram como um símbolo Cabalístico e que foi descrito no século XIX por Elifas Lévi, e é considerado por Wilde como a síntese total de todas as forças universais e a personificação do Caos ativo. Outro favorito é Éris, Deusa da Discórdia, uma divindade grega há muito esquecida e que foi considerada (na Teogonia, de Hesíodo) como sendo a mais selvagem metade feminina de Eros, o Deus do Amor. Para os gregos antigos, Eros e Éris juntos condensavam uma Afrodite andrógena. O Círculo do Caos reverencia a Thanateros, uma divindade criada por Thessalonius Loyola que representa o princípio freudiano de Sexo e de Morte. Wilde criou K’atas, um velho sábio oriental de olhos verdes, que funciona como um guia calmo através de um temporal caótico. Levando a teoria do Caos ao extremo, pode-se dizer que um herói de revista em quadrinhos como o Super-Homem pode ser o melhor protetor de alguém que possa sentir qualquer afinidade com um deus guerreiro clássico como Marte.

Os Trabalhos Mágicos: ao contrário de Wilde, que não tinha nada de novo a acrescentar às técnicas da Magia Prática, ele sugere que se compre encantamentos tradicionais e livros de magia com velas e que se adapte seus ensinamentos à sua necessidade. As experiências de Sherwin o levaram a algumas inovações interessantes. Como se para enviar um tremor através do corpo de Spare, Sherwin sustenta que os sigilos são melhor visualizados por meio de intensos rituais. Levando ainda mais adiante o trabalho de Spare, Sherwin acredita que se poderia extrair certas sílabas das sentenças que foram sigilizadas e então entoá-las como uma espécie de mantra sem sentido enquanto se medita sobre o sigilo.

Como podemos ver, os praticante da magia do Caos são unidos e distintos uns dos outros pela sua ênfase na experimentação e experiência individual. A Magia do Caos não é um tipo novo ou diferente de Magia. É um conjunto de princípios de trabalho, alguns novos, outros antigos, os quais o praticante individual pode reintepretar criativamente para adaptá-los às suas próprias necessidades.

Que tipo de efeito tal abordagem personalizada terá sobre o ocultismo americano é difícil de dizer. Quem pode prever o Caos? Pode muito bem encantar o individualismo americano. Pode provar ser uma ponte útil entre o Ocultismo Oriental e Ocidental, uma ligação que no passado foi sabotada pela procura do entediado homem branco liberal pelo selvagem exótico, a atávica incapacidade do homem branco conservador em aceitar a sabedoria de qualquer um que não se pareça com ele ou possua sua tecnologia, e o complexo de inferioridade que leva os professores asiáticos a tratar os Ocidentais como ricos pouco evoluídos. Na pior das hipóteses, pode provar ser somente outro slogan expelido pelos mentecaptos punks com cabeça de Mohawks que, sendo tão estúpidos para ver o verdadeiro Caos na ordem do dia a dia, invocam o Caos ao quebrar garrafas de cerveja na calçada, vomitando na frente das outras pessoas. Até mesmo a possibilidade ameaçadora é tolerável; contudo, será que a Magia do Caos silenciará as declamações das ortodoxas Wiccans matriarcais, encerrando a necessidade de autenticar as tradições “antigas” que foram criadas recentemente por bruxas com mentalidade étnica, e porá fim ao incessante debate alimentado por facções ocultistas rivais sobre quantos planos a realidade tem e qual é o verdadeiro esquema de cor com que a magia deve trabalhar, todos os quais atualmente dominam o ocultismo americano? Se a Magia do Caos conseguir fazer os Cerimonialistas americanos pararem de lamber os pés de suas estátuas de Aleister Crowley…mas, talvez isto seja desejar demais.

Não importa. Qualquer coisa que possa advir, os Ingleses nos estão invadindo de novo. Agora seu estandarte diz:

O CAOS CONTROLA.

Métodos da Magia do Caos

Embora tenha sido provada sua eficácia, os seguintes métodos não esgotam o assunto.

IMPORTANTE: a qualquer momento, você pode encerrar a sessão simplesmente declarando “NÃO”! em voz alta, banindo subseqüentemente para retornar à consciência normal.

A POSTURA DA MORTE

Ajoelhe-se no chão num espaço vazio de frente para um espelho. Entrelace as mãos às costas com os braços esticados. Olhe intensamente sem piscar os olhos para sua imagem ao espelho, focalizando sua atenção num ponto um pouco acima do nariz, enquanto ouve ruídos suaves. Quando seus olhos começarem a lacrimejar, feche-os com força. Prenda a respiração até o máximo de sua capacidade e, então, deixe-se cair para o lado, projetando-se no Vazio.

(Nota: é importante que o espaço esteja livre de objetos que possam machucá-lo durante sua queda, bem como também pode ser interessante estar sobre algo macio)

RESPIRAÇÃO PROFUNDA

Prepare um espaço nos mesmos moldes da técnica anterior, sem espelho. Fique de quatro sobre um colchonete. Mantenha suas mãos próximas aos joelhos e coloque sua cabeça o mais baixo que puder junto ao corpo. Respire rápida e profundamente até sentir vertigem forte ou desmaio iminente. Deixe-se cair suavemente para o lado enquanto ainda está consciente e projete-se no Vazio.

KAREZZA

Masturbe-se, interrompendo momentos antes do orgasmo. Continue a masturbar-se, chegando novamente ao ponto do orgasmo mas não permita que este aconteça. Repita a operação até que o prazer se transforme em desconforto. Continue até todo o prazer possível ser retirado do processo e você ficar esvaziado; então, projete-se no Vazio.

N.A.: você pode usar estas técnicas com a freqüência que deseje, mas permita-se tempo para que os resultados comecem a acontecer. Lembre-se de que a mudança em sua realidade será gradual. Observe os acontecimentos e mudanças no seu interior e em seu meio-ambiente durante um período variável de tempo, não acreditando em fracasso simplesmente porque os resultados não aconteceram da noite para o dia (embora o possam).

Para atingir a Grande Obra da Magia

Nada é Verdadeiro

Tudo é Permitido


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