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“I took off on a wave, went down the side, popped out the other end, and went, shit, I’m still alive!”
— Greg Noll (ao surfar em Waimea, Havai, pela primeira vez)
Três décadas depois, percebi que o parágrafo final do meu último livro exigia uma explicação. Mesmo correndo o risco de estragar uma boa piada, me sinto obrigado a isso. (Nota do Tradutor: A frase a que ele se refere dizia: “Onde a Ciência usa a atenção para fixar-se em uma percepção particular do universo, a Magia usa a espada apenas quando quer quebrar a continuidade.”) O ponto relevante do desentendimento entre Magia e Física é que a ciência de hoje assume uma realidade física enquanto que a Magia apenas assume a ilusão da física enquanto realidade.
Isso não significa que a Magia subestime o mundo material como algumas religiões parecem fazer. A palavra “ilusão” não tem, necessariamente, uma conotação negativa. No final das contas tudo é ilusório. Os monoteistas queimaram os deuses antigos. Ateus deceparam a cabeça do último Deus. Mas e se a espada usada também for uma ilusão? Ao dizer “Matéria é Maya” ou “uma ilusão criada por Hermes, o trapaceiro” estamos apenas convidando a matéria para “juntar-se ao clube”. O hall da fama dos antigos deuses. É um elogio na verdade.
Houveram várias tentativas de revelar esta ilusão material no último milênio e eu aposto que a visão do modelo de Johnstone proposta em 1970, de que o mundo é uma espécie de realidade virtual vai se tornar popular antes do fim do milênio. (NT: Profecia realizada em 1999 com a estréia do filme Matrix):
O Modelo
Enquanto o surfista pega onda em um mar de água, o magista surfa em um mar de ilusões. A idéia básica por trás do ocultismo é que os universo tendem a evoluir de ‘sopas de informação’ e internamente se estruturar em sistemas de informação da mesma maneira que as formas de vida inteligente nasceram da “sopa química” primordial. Assim como é com as formas de vida complexas a estrutura intrincada oferece certas vantagens na sobrevivencia. Assim, uma estrutura de informação que modela um universo interior com leis físicas consistentes e suas próprias formas de vida irá competir melhor para o poder de processamento da sopa informações.
Mas quando mudamos de uma apreciação externa de um mundo virtual para uma apreciação interna do mesmo, surge um problema…. Vamos tomar o programa ‘Mandlebrot’ do meu computador. ( NT: Um programa de Mac para criação de gráficos fractais):
Ele ‘contem’ um mundo bidimensional de tamanho infinito e uma complexidade infinita de detalhes. Porque ele representa um universo definido por uma equação contínua, ele se torna infinitamente maior do que o programa que o contêm; mas só nasce destas equações pelas mudanças da tela conforme uma inteligencia externa o evoca. Embora seja infinitamente rico possui apenas duas dimensões espaciais e nenhuma dimensão temporal – portanto não pode incluir seus próprios modelos de vida inteligente como nosso universo faz, e depende desta inteligencia externa para se manifestar.
Nosso universo tem algumas dimensões espaciais a mais e possui uma dimensão do tempo, e assim pode evoluir para conter seus próprios processadores internos de informação. Alguns destes cérebros cresceram em complexidade – assim como o próprio universo – a ponto de criar seus próprios universos interiores. Isso pode ser um desastre para nosso universo ‘macrocosmico’ pois pode levar a um ‘looping’ no programa no qual os universos ‘microcosmicos’ modelam o próprio macrocosmo que os contêm.
O macrocosmo sobreviveu, entretanto, ao desenvolver um mecanismo de defesa contra estas erupções cancerígenas, isolando os microcoscosmos suficientemente complexos por meio de uma ilusão de ‘separação’. Talvez essa separação seja criada por uma inteligencia exterior, mas talvez apenas tenha criado este mecanismo por acaso e tenha se mantido integro por mera sorte. Seja como for, cada microcosmo é tolerado porque vive seguro em separação do macrocosmo.
O senso se separação é o responsável pelo que experimentamos como ‘consciência’. E este ponto de auto-percepção de um universo é simbolizado de várias maneiras pela nossa história sempre como um sinal de dualidade ou de múltiplos de dois. Por exemplo:
1) George Spencer Brown em ‘The Laws Of Form’ descreve a divisão primal da qual um sistema complexo evolui – ou colocado em quarentena. Infelizmente não consigo achar o livro aqui para dar a citação exata. Isso quer dizer que eu devo ter emprestado para alguém e esquecido disso por alguns anos não tendo nenhuma chance de recuperá-lo.
2) O I Ching descreve como toda manifestação surge de uma simples divisão inicial do Tao em dois princípios Yin e Yang e então em múltiplos de oito ou sessenta e quatro, e assim por diante…
3) Aqueles que enxergam o universo como uma ilusão demoníaca simbolizam isso dando um par de chifres ao Senhor da Dualidade.
4) IHVH no sistema cabalistico é uma fórmula quadripartida para a manifestação da consciência que pode ser traduzida como “Eu sou o que sou.” (Ainda estou puto por ter perdido o livro.. O cara pode ser seu melhor amigo por anos e em poucas décadas não se tem nem mais vestígios dele. Vida bandida.)
Assim nós descrevemos três níveis de experiência. Primeiro o macrocosmo processador de informação. Segundo, um universo interior que se manifesta gradualmente por meio de contínuas equações matemáticas. Este universo interior por sua vez também só é experimenciado por microcosmos conscientes, e também apenas como informação binária.
É exatamente assim que eu experimento meu progama Mandlebrot no meu Mac quando eu invoco as imagens nos pixels do meu monitor – apenas na nossa realidade há consciência dentro do universo percebido.
Assim, o físico que quer determinar por qual buraco um photon enviado passa só poderá fazer isso destruindo a continuidade ondulatória da luz. (NT: referência a famosa Experiência da Dupla Fenda proposta por Thomas Young.) Devo explicar ainda que este modelo tenta evitar o argumento de Penrose em ‘Sombras da mente”, porque coloca a consciência não dentro de um programa algorítmico, mas na relação deste programa microcósmico com macrocosmo que contém.
Magia, então, é ‘surfar’ na contínuo inconsciente da existência até que um estado desejado seja alcançado e, só então, liberar a atenção consciênte para cristalizar um resultado pretendido. Assim como a Ciência usa a atenção consciente para permanecer dentro de uma percepção de um mundo de partículas, a Magia usa a atenção quando quer quebrar o contínuo do chamado mundo real.
Um Exemplo
Você esta em um taxi voltando para casa depois da balada. Você dá uma olhada no taxímetro que acabou de acumular dez reais e você percebe que está sem um centavo no bolso.
Horror! Você está sem dinheiro para pagar o taxi. Diante d acrise você executa uma ação mágica. Por exemplo:
1) Você assume a crença de que o Universo é bom é cuidará de você. Então interna e externamente você pede: “Socorro, Eu não tenho dinheiro!”
2) Você tenta uma técnica de sigilização, mudra, visualização, magia talismânica, ou que for.
3) Você assume uma entidade pode lhe ajudar – Mammon, Jesus, Júpiter, Ganesh – e oferece uma ação devocional em troca de ajuda.
Seja com o for, você se ajeita no banco de trás e ao colocar as mãos no encosto do banco percebe que alguém perdeu cinquenta reais lá. Você agora pode pagar o motorista!
Um magista corajoso aceitaria os fatos de que sua Magia funcionou. Ele poderia considerar que estava em águas paradas e mergulhou em um oceano turbulento de possibilidades, escolheu onde que os agradou e só parou de surfar no ponto em que a nota seria encontrada. Há, entretanto, entre os magos, a tradição de que uma operação deve ser encerrada com algum tipo de banimento.
Antigamente o banimento reforçava uma crença segura, como a de que os demônios não tem poderes sobre você. Hoje um banimento típico seria, por exemplo, pensar… “Que coincidência – encontrei essa nota bem na hora em que precisava dela.” ou “Essa nota devia estar no meu bolso e caiu quando entrei no carro. Eu não seria tão estúpido a ponto de não separar o dinheiro antes.” ou você pode apenas dar uma boa gargalhada diante dos fatos.
A prática do banimento é saudável a partir do momento em que ‘limpa’ o mago desta ou daquela crença específica. Ela só se torna perigosa se você começar a acreditar tanto nela que se aprisiona nela ou se começar a se parabenizar demais por, agora sim, ter visto a verdade. Nunca se sabe quando você vai ficar sem dinheiro para o taxi de novo. Por isso, na Magia Ocidental os quatro verbos são encorajados para cultivar quatro ‘poderes’: saber, querer, ousar… e calar.
Excerto de SSOTBME, Ramsey Dukes
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