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Peter J. Carroll
Um cientista, cujo nome me escapa, uma vez descreveu artistas como pessoas interessantes com ideias chatas e cientistas como pessoas chatas com ideias interessantes; seu comentário sobre os esportistas não cabe ser recordado aqui. Magos por sua vez vão ao extremo fazendo de si mesmo pessoas interessantes com idéias interessantes mas geralmente com resultados contra-producentes e suas ideias tendem a variar do pueril ao maravilhamento dependendo da qualidade da ciência especulativa em que se basearem. Não implicando aqui qualquer conotação depreciativa para o uso do termo ‘ciência especulativa’. A ciências especulativas existem tanto na forma boa (útil) como na má (inútil).
A ciência instituída se expande gradualmente como uma irregular massa de concreto um campo de conhecimento após o outro substituindo as regras práticas e a intuição por regras formais e precisão matemática. Muitas pessoas então tendem a considerar o território dominado como algo entediante ou morto, normalmente porque elas carecem da paciência para compreender os intrincados detalhes e princípios envolvidos. A boa (útil) ciência especulativa ainda existe em forma de teorias experimentais além dos limites do concreto da ciência “comprovada”. Imagine-a como as barras de armação continuando fora do concreto existente: algumas delas eventualmente terão concreto despejado nelas, outras partes serão eventualmente serradas e descartadas. A má (inútil) ciência especulativa consiste nas partes já serradas e jogadas fora mas resgatadas e carregadas por aí como amuletos. A astrologia e os supostos poderes curativos dos ímãs e cristais são exemplos disto.
As ciências leves ou ‘pseudo-ciências’, como psicologia e sociologia, imitam, mas falham em emular as ciências exatas. Nós podemos imaginá-las a estruturas de geleia reforçadas com espaguete, e assuntos de rápida putrefação.
Uma vez que precisamos de conhecimento das ciências estabelecidas para criar ou apreciar boas ciências especulativas, muitas poucas pessoas percebem quão vastos os assuntos podem se tornar. Três áreas de particular interesse dos magos mostraram um crescimento espetacular das últimas décadas: cosmologia, a física do universo inteiro; física das partículas, o estudo dos blocos de construção de tudo; e neurofisiologia, o estudo do que nos faz pensar e sermos conscientes de nosso pensamento.
Todas as três ciências dizem as mesmas coisas básicas ao mago. Na sua forma fundamentada elas implicam que todos os símbolos mágicos convencionais permanecem míopes pequenos e paroquiais. Os elementos, a Kabbala, as Runas, etc; quão simplista e regionais parecem agora. Na sua forma especulativa, os três campos oferecem um enorme escopo para uma atualização da metafísica mágica: teorias de como a magia realmente funciona (ou deixa de funcionar). Magicka pode por definição, apenas desenvolver estas teorias das ciências especulativas, pois uma vez que uma ideia entra no campo do provado ou não-provado, ela se torna ou ciência ou bobagem e deixa de ser magicka. Assim a teoria magica deve continuar a seguir junto ou na frente da ciência especulativa se quiser manter seu vigor e credibilidade.
Religião já desistiu desta empreitada e a filosofia deve seguir logo atrás, é por isso que ninguém atribui muita credibilidade a estas atividades hoje em dia.
Todas as nossas ideias se originam do que nós podemos observar sobre nós e nosso meio e das teorias que construímos para explicar ou estender estas observações. Ciência consiste em não mais do que um edifício de justa auto-consistência de uma teoria que nos permite melhorar sofisticadas observações. Assim, ‘Senso Comum Organizado’ nos leva a insights incomuns. Então, nós simplesmente olhamos pela janela e vemos terra, ar, fogo e água, como fizeram os Gregos Antigos, e passamos por cima das evidências contrárias para montar um universo moral baseado apenas nesses elementos, ou será melhor olharmos para os últimos dados dos Aceleradores de Partículas do CERN?
Lembre-se que a cultura helênica permaneceu praticamente sem mudanças por um milênio inteiro, e a primitiva teoria dos ‘elementos’ sobreviveu a sua pequena utilidade efetiva até o século dezoito e, incrivelmente, continua a influenciar a metafísica oculta. Devemos descansar contentes com o pressuposto neo-platônico de que porque podemos perceber uma imagem mental de algum fenômeno então todos os fenômenos devem ter nele uma contra-parte,e continuar trabalhando dentro de um improdutivo paralelismo metafísico ou deveríamos olhar para os novos conhecimentos de como o cérebro realmente percebe a informação e cria consciência?
Então queremos viver em um universo de astrologia neo-babilônica ou vamos nos atualizar e incluir outros corpos aos nossos usuais sete planetas? Deuses, o telescópio Hubble já nos mostrou trilhões de vezes mais longe em um universo bizarro demais para imaginarmos. Quando examinamos a carreira dos grande magos do passado, Dee, Paracelso, Newton, Agrippa, Bruno. Crowley e Spare e até Barrett, nós vemos mentes renascentistas se sentindo em casa com o conhecimento científico de próprias culturas. Tudo bem que hoje temos muito mais conhecimento em nossa cultura, mas isso não é desculpa para perder o desafio. Nada é mais patético do que alguém que alega ter conhecimentos superiores mas não sabe a diferença entre um neurônio e um nêutron.
Talvez devêssemos apresentar o gostinho de alguns dos tópicos mais quentes e disputados dos campos de ponta nos campos de interesse. Poucos escritores de ficção científica exploraram a escala absurda que se revelou sobre nosso universo com os instrumentos modernos. Nos parece que poucas pessoas se deram conta de que habitamos uma galáxia que contem pelo menos uma estrela para cada pessoa na terra, e que muitas delas provavelmente possuem planetas. poucas pessoas colocaram na cabeça que além desta galáxia nós podemos enxergar pelo menos mais uma galáxia inteira para cada pessoa também. Nós não podemos pensar em nenhuma mitologia religiosa que não pareça insignificantemente pueril comparada a isso. Debates furiosos rodeiam estas questões sobre como o universo se expande e como veio a existir e se o tempo existe independentemente ou veio a existir com o universo. Teóricos avançam hipóteses fanáticas envolvendo formas alternativas de tempo e matéria para explicar a estranheza que acontece na imensidão ao nosso redor. Magos podem encontrar aqui muitas coisas que os ajudariam a apoiar seus paradigmas.
Descendo até a outra ponta no domínio da escala quântica subatômico nós podemos agora observar eventos para os quais não temos ainda nem analogias visuais ou verbais convincentes, no qual causa e efeito e tempo, tal como entendemos no mundo humano aparentemente não se aplicam. Novamente, é exatamente o que o paradigma mágico intenta em oferecer no momento temos teorias de comunicação instantâneas, outras dimensões, anti-particulas voltando no tempo, causualidade reversa, criação ex nihilo e tunelamento quântico que remete ao tele-transporte.
Com a neurociência começando a se libertar das alquímicas superstições da ‘psicologia’, alguns poucos questionadores tem começado a fazer as perguntas certas, par as quais nós podemos ter respostas consideráveis, tais como qual a origem da consciência, como produzimos as respostas emocionais, criativas, involuntárias ou mesmo para-psicológicas. Ainda que as respostas não estejam ao nosso alcance no momento, o fato de que hoje podemos considerar estas perguntas como válidas e merecedoras de respostas claras indica uma vontade geral de transcender aqueles velhos patéticos substitutos para o real entendimento: a espiritualidade e a psicobobagem.
Resumindo:
As teorias especulativas nas bordas da ciência oferecem ao mago uma rica loja merecedora de pilhagens de paradigmas. Aqueles que persistem em seu modus operandi com psicobobagem, sem ciência ou espiritualidade das teorias da mente, passam a integrar o time B.
Este ensaio foi publicado pela primeira vez na revista Caos Internacional no.21
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