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Considere o mundo da magia. Uma diversidade de ordens ocultas que, quando não tentam refutar a procedência da outra, ou ficam criogenicamente suspensas na sua raiz ritual, seu jogo de Aiwaz diz, ou então parecem perdidas em alguma expansão canalizada por spam do Dungeons & Dragons, fora do mapa, em algum novo universo injustificável e completamente sem valor, até que eles demonstrem que é como um adesivo preto de unhas colado sobre o antigo. Autoconscientes de estranhas transmissões vindas de entidades com síndrome de Touret, martelando um glossário de horrores. Paralisados olhando bolas de cristal que de alguma forma, recebem trailers do canal Sci-Fi. Muito longe dos chefes secretos, e, no mesmo contexto, muito longe também dos índios secretos.
Além disso, os que passam pelos portões rangentes das sociedades ilustres, são os cinquentões babacas que começam com planos de ingressar no palácio celestial, mas inevitavelmente acabam no Bates Motel, e fora disso estão as massas. Os videntes. Um eco incoerente do nosso superlotado circulo hermético, os Akashicos, Anoraks, os autoproclamados Wiccans e o templo dos quarentões- qualquer- coisa, convencendo pré-adolescentes, para mais tarde vender a eles uma franquia do reino das fadas, o famigerado reino de Potersville.
Exatamente como isso confirmaria um aeon de Hórus, esse aeon de nada exceto mais aparências, consumismo, status de gangster, a pedra filosofal do materialismo¿ Como pode uma aquiescência instintiva a ideias conservadoras ser um sinal de Thelema¿ Cthulhu esta voltando á qualquer momento, há maldições bárbaras das trevas que alguns iluministas tentam encontrar com suas lanternas¿ O ocultismo ocidental contemporâneo não possui nenhum talento em mensurar resultados além de truques de salão¿ A magia tem algum uso definido para a raça humana, fora oferecer a oportunidade de se vestir bem¿
Iguarias tântricas e sacerdotes em noites temáticas thelemicas. Pentagramas em seus olhos. “Esta noite Matthew, eu sou o logos do Aeon”. A magia tem demonstrado um proposito, justificando sua existência da mesma forma que a arte, ou a ciência, ou a agricultura se justificam¿ Resumindo, alguém tem alguma pista do que estamos fazendo, ou precisamente pra que estamos fazendo isso¿.
Certamente, a magia nem sempre foi tão aparentemente separada de toda a função humana básica. Suas origens xamânicas no Paleolítico certamente representaram, naquele momento, os únicos meios humanos de mediação com um universo em grande parte hostil sobre o qual ainda havia muito pouca compreensão ou controle. Dentro de tais circunstâncias, é fácil de conceber a magia como representando originalmente uma realidade, um ponto de apoio, uma visão de mundo em que todas as outras vertentes da nossa existência… a caça, a procriação, elementos com os quais lidam as pinturas nas paredes das cavernas… eram fundidos. A ciência do todo, a sua relevância para as preocupações dos mamíferos comuns eram tanto óbvias, como inegáveis.
Este papel, de uma “filosofia natural” incluída no todo, obtido ao longo do surgimento da civilização clássica podia ainda ser ainda ser vista, de forma mais furtiva, até o final do século 16, quando as ciências ocultas e mundanas não eram tão distinguíveis como são hoje. Seria surpreendente, por exemplo, que John Dee não permitisse que seu conhecimento da astrologia desse contribuições inestimáveis para a arte da navegação, ou vice-versa. Não até a Idade da Razão, que gradualmente limitou a nossa crença e, assim, entrar em contato com os deuses que tinham sustentado nossos antepassados, fariam nosso senso incipiente de racionalidade identificar o sobrenatural como um mero órgão vestigial no corpo humano, obsoleto e, possivelmente, falecido, melhor então que fosse retirado rapidamente.
A Ciência cresceu fora da magia, embora fosse descendente dela, a sua aplicação era mais prática e, portanto, materialmente rentável, muito em breve decidiu-se que o ritual e toda a matéria simbólica da sua cultura-mãe, a alquimia era redundante, um estorvo e um atraso. Orgulhosa em seu novo jaleco branco, usando canetas como medalhas no peito, a ciência veio a ter vergonha de seus companheiros (história, geografia, P.E) não queria se pega fazendo compras com a mamãe, resmungando e cantando. Seu terceiro mamilo. Melhor então que ela fosse escondida em algum local seguro, um asilo para de paradigmas idosos e decadentes.
O abismo que isso causou na família humana das ideias parecia intransponivell, com duas partes do que tinha sido um único organismo, substituído pelo reducionismo, uma “ciência do todo” inclusive ao tornarem-se dois pontos de vista, cada um, aparentemente, em amarga e feroz oposição ao outro. A Ciência, no processo deste divórcio amargo, pode, eventualmente, ter perdido o contato com a sua componente ética, com a base moral necessária para evitar a reprodução de monstros. A Magia, por outro lado, perdeu toda sua utilidade e finalidade comprovada, como acontece com muitos pais quando o bebe cresceu e deixou o ninho. Como preencher o vazio? A resposta é, se estamos falando de magia e do mundo deprimido de mães e pais com ninhos vazios, é, com toda a probabilidade, “com o ritual e nostalgia”.
O ressurgimento da magia no século XIX, com a sua natureza retrospectiva e essencialmente romântica, parece ter sido abençoada com esses dois fatores em abundância. Enquanto é difícil exagerar as contribuições feitas á magia como um campo por, digamos, Eliphas Levi ou os vários magistas da Golden Dawn, é tão difícil argumentar que essas contribuições não foram esmagadoramente sintéticas, na medida em que aspiravam criar uma síntese do conhecimento já existente, para formalizar as sabedorias variadas dos antigos.
Não podemos menosprezar esta realização considerável se observarmos que a magia, durante essas décadas, beirava uma proposital corrida pela caracterização pioneira, como por exemplo, nos trabalhos de Dee e de Kelly. Em seu desenvolvimento do sistema Enochiano, a magia renascentista apareceria com uma urgência criativa e experimental, voltada para o futuro. Em compensação, os ocultistas do século XIX também parecem quase ter-se deslocado no tempo para reverenciar a magia do passado, fazendo uma exposição de museu, criando um acervo, um arquivo, onde cada qual era um curador individual.
Todos os robes e as insígnias, com o seu ar da reencenação histórica para multidões, as sociedades ultra secretas, apenas uma engrenagem fracionada para os menos imbecis verem. O consenso preocupante sobre os valores de direita e o número de vítimas confusas tropeçando umas nas outras do outro lado, provavelmente teria sido idêntica. Os ritos das ordens mágicas, também são semelhantes às bandas de cromwell exaltando homicidas bêbados, a alegria da gravidez se opondo ao sombrio rodízio, implacável frente á realidade industrial. Varinhas lindamente pintadas, obsessivamente levantam piquetes autênticos, contra o avanço sombrio das chaminés. Quanto disto pode ser descrito com mais precisão como fantasias compensatórias para a era das máquinas? role-playing games que só servem para sublinhar o fato brutal que essas atividades não têm relevância humana contemporânea. Uma recriação melancólica de momentos eróticos pela mente de um impotente.
Outra distinção clara entre os magistas do século XVI e os do século XIX encontra-se em sua relação com a ficção de sua época. Os irmãos do inicio da Golden Dawn parecem ser inspirados mais pelo puro romance da magia do que por qualquer outro aspecto, com S.L McGregor Mathers atraído para a arte pelo seu desejo de viver a fantasia de Bulwer-Lytton Zanoni. Incentivando Moina para se referir a ele como “Zan”, alegadamente. Woodford e Westcott, por outro lado, ansiosos para estar dentro de uma ordem que tinha ainda mais parafernália do que Rosacruz e a Maçonaria, e de alguma forma adquirir um contato nas (literalmente) lendárias fileiras de the Geltische Dammerung, o que significa algo como “a sagrada hora do chá”. Eles esperam para receber seus diplomas vindos de Nárnia, em fila atrás do armário. Como Alex Crowley, irritantemente tentando persuadir seus colegas de escola a se referir a ele como Alastor de Shelley, como alguns que se acham os góticos de Nottingham, um cara chamado Dave insistindo que seu nome vampiro é Armand. Ou, um pouco mais tarde, todos os antigos cultos de bruxas, todos os clãs de linha de sangue brotando como pétalas de dentes do dragão, onde quer que escritos de Gerald Gardner estivessem disponíveis. Os ocultistas do século XIX e início do século XX pareciam todos quererem ser o gênio de Aladdin, de alguma pantomima interminável. Para viver o sonho.
John Dee, por outro lado, era talvez mais consciente do que qualquer outra pessoa de sua época. Mais focado no propósito. Ele não precisou procurar por antecedentes nas ficções e mitologias disponíveis, porque John Dee não estava em nenhum sentido fingindo, não estava jogando jogos. Ele inspirou, ao invés de ser inspirado pelas grandes ficções mágicas de seu tempo. Prospero de Shakespeare. Fausto de Marlow. Ben Johnson foram todos molhados com o mijo do Alquimista. A magia de Dee era uma força inteiramente viva e progressiva de seu tempo, ao contrario de algumas que eram exemplares empalhados de coisas extintas, já não existiam salvo em histórias ou contos de fadas. A sua era, um capítulo novo, escrito inteiramente no tempo presente, uma aventura mágica em curso. Em comparação, aos ocultistas que se seguiram cerca de três séculos abaixo na linha do tempo, onde mostram apenas um apêndice elaborado, ou talvez uma bibliografia, após o fato. A liga da preservação, dublando rituais de mortos. versões cover. Magos de karaoke . A Magia, tendo desistido ou usurpado a sua função social, tendo perdido a razão de ser, por sua vez, tentando arrastar multidões, encontrou apenas o teatro vazio, as cortinas misteriosas e empoeiradas, cabides de vestidos esquecidos, adereços insondáveis de dramas cancelados. Na falta de um papel definido, cresceu incerta de suas motivações, a magia parece não ter economizado nenhum recurso para furar obstinadamente o roteiro estabelecido, consagrando cada última tosse e gesto, tendo um desempenho oco e liofilizado, devidamente embalado; artisticamente enlatada para o Património Inglês.
Como foi infeliz este momento na história da magia, com o conteúdo e função perdidos sob um verniz ritual muito detalhado, calças boca-de sino, sobre as quais as ordens posteriores escolheram se a cristalizar. Sem um objetivo ou missão facilmente perceptível, que não fosse produzir uma mercadoria comercializável, o ocultista do século XIX parece derramar uma quantidade excessiva de sua atenção sobre o papel de embrulho, a fantasia. Possivelmente incapaz de conceber qualquer grupo não estruturado na forma hierárquica das lojas que estavam acostumados, Mathers e Westcott obedientemente importado todas as antigas heranças maçônicas quando vieram a fornecer sua ordem incipiente. Apenas roupas, qualificações e implementos. A mentalidade de uma sociedade secreta de elite. Crowley, naturalmente, pegou toda esta bagagem cara e pesada, e levou com ele quando pulou fora do barco para criar a sua OTO, e todas as ordens, desde então, até os empreendimentos supostamente iconoclastas, como, digamos, a IOT, parecem finalmente ter adotado o mesmo modelo da alta sociedade vitoriana. Armadilhas do drama, teorias complicadas o suficiente para chamar a atenção, e esconder o que a faltava em caridade, e como podem perceber, a falta de qualquer resultado prático, qualquer efeito sobre a condição humana.
O número XIV (e talvez final?) Da estimável revista KAOS de Joel Biroco contou com a reprodução de uma pintura, uma obra surpreendente e assombrosamente bela, o retrato de Marjorie Cameron, ruiva assustadora, Dennis Hopper e seu companheiro de casa Dean Stockwell, retratavam a suposta Mulher Escarlate, Pilar Thelêmico. Quase tão intrigante quanto o trabalho em si, no entanto, é o título: Fóssil de anjo, com suas conjuras contraditórias de algo maravilhoso, inefável e transitório, combinado com aquilo que é, por definição, morto, inerte e petrificado. Existe uma metáfora para nós nisso, tanto decepcionante quanto instrutiva? Não é possível, que todas as ordens mágicas, com suas doutrinas e seus dogmas, interpretaram erroneamente como restos calcificados e inertes de algo que uma vez foi imaterial e cheio de graça, vivo e mutável? Como energias, como inspirações e ideias que dançavam de mente para mente, evoluindo até que, finalmente o gotejamento de calcário do ritual e da repetição congelou-os em seus caminhos, obstruindo-os, deixando-os para sempre no meio do caminho, o final inalcançável, um gesto incompleto? Iluminações, tribulações. Anjos fósseis.
Algo imperfeito e etéreo uma vez desceu rapidamente, quicando como uma pedra na superfície da nossa cultura, deixando a sua fraca impressão tênue no barro humano, uma pegada que nós deixamos endurecer no concreto e, aparentemente, permanecemos ajoelhados perante ela durante décadas, séculos, milênios. Recitar os encantamentos, como canções de ninar familiares e calmantes palavra por palavra, em seguida, resgatando cuidadosamente os velhos e amados dramas, talvez faça algo acontecer, como fez antes. Colocando bobinas de papel alumínio e palitos de algodão doce em que a caixa de papelão, para que se pareça vagamente com um rádio e então talvez John Frum venha, trazendo os helicópteros de volta? A ordem oculta, inundada de fetiches, um concurso para alguns, há meio século, sentan-se como Miss Haversham e se perguntam se os besouros do bolo de casamento de alguma forma confirmam Liber Al vel Legis.
Mais uma vez, nada disso tem a intenção de negar a contribuição que as várias ordens e suas obras fizeram a magia como um campo, mas apenas observar que essa contribuição reconhecidamente considerável é, em grande parte, uma privação de liberdade em sua natural preservação do folclore passado e ritual, ou então que a sua elegante síntese de ensinamentos diferentes é a sua principal ( e talvez única) conquista. Além dessas realizações, no entanto, o legado duradouro da cultura ocultista do século XIX parece principalmente, a antítese da saudável e continuada evolução, a proliferação contínua viável da magia, que, como uma tecnologia, certamente superou á muito tempo essa ornamentação do final da era vitoriana e tem extrema necessidade de mudança. Toda a mobília maçônica importada por Westcott e Mathers, basicamente, por incapacidade de imaginar qualquer outra estrutura válida, é hoje, pelas características da atualidade, uma limitação e impedimento para a promoção da magia. Gerando engodos jamais vistos, linhas cerimoniais demasiado restritas que condicionam todo o crescimento, restringem todo o pensamento, ao limitar as maneiras em que nós concebemos ou podemos conceber a magia. Imitar-se as construções do passado, pensando em termos de hoje, não é necessariamente aplicável – talvez nunca realmente fosse – o que parece ter tornado o ocultismo moderno totalmente incapaz de enxergar diferentes métodos pelos quais possa organizar-se; incapaz de imaginar qualquer progresso, qualquer evolução, qualquer futuro, o que provavelmente é uma forma perfeita de garantir que ele não tenha um.
Se a Golden Dawn é muitas vezes apontada como um modelo, um exemplar radiante da ordem perfeita e bem sucedida, isto acontece quase certamente porque suas fileiras incluíam muitos escritores conhecidos de capacidade comprovada, cuja adesão emprestava a sociedade mais credibilidade, que ela nunca teria como pagar a eles. O brilhante John Coulthart sugeriu que a Golden Dawn pode ser caridosamente considerada uma sociedade literária, onde escribas renomados procuravam uma magia que poderiam ter encontrado demonstrável e evidente, já viva e funcionando em seus próprios trabalhos, eles não eram cegados pelo brilho de toda aquela cerimônia, pelo kit fantástico. Um autor que claramente contribuiu com algo que era de valor real mágico para o mundo através de sua própria ficção, muito mais do que através de quaisquer operações na loja foi Arthur Machen. Embora admitindo ter grande prazer em todo o mistério e maravilha das cerimônias secretas da ordem, Machen se sentiu compelido a adicionar ao escrever sobre a Golden Dawn em sua autobiografia, Coisas do tipo “como qualquer coisa vital na ordem secreta, por qualquer coisa não tinha mais importância que dois pedaços de palha para qualquer ser razoável, não havia nada nela, e às vezes menos do que nada”… a sociedade como uma sociedade era pura loucura preocupada com o impotente e imbecil abracadabra. Eles não sabiam nada sobre qualquer coisa e ocultavam o fato debaixo de um ritual impressionante e uma fraseologia sonora. Astutamente, Machen observa a relação aparentemente inversa entre o conteúdo genuíno e inventado, dos elaborados formulário que caracterizavam as ordens desta natureza, uma crítica tão relevante hoje, como era em 1923.
O território de magia, em grande parte abandonada como demasiado perigosos desde o período de Dee e Kelly, foi demarcado e recuperado (quando isso se tornou seguro) por entusiastas do ocultismo do século XIX, por suburbanos de classe média que transformaram a relva ressecada e negligenciada em uma série de requintados jardins ornamentais. Inventando elementos decorativos, estátuas e adereços de grande complexidade, a imitação de um passado imaginado por sacerdotes hiperativos. Deuses terminais entre as camas arrumadas com azaleias.
O problema é que os jardineiros, por vezes brigavam. Disputas de fronteira. Vinganças e despejos de inquilinos lunáticos. Propriedades invejáveis estão fechadas, são muitas vezes ocupadas por novas famílias problemáticas, novos clas. Apegando-se a antiga placa de identificação, mantendo o mesmo endereço, e permitindo que seus fundamentos caíssem em estado de abandono. Lesmas nojentas e ervas-daninhas espalhando-se entre as rosas de vinte e duas pétalas. Nos anos noventa, a paisagem cansada do jardim da magia se tornou uma expansão mal conservada de loteamentos baratos, com infiltrações e pintura descascada, as casas de veraneio agora se tornam meros galpões onde paranoicos vigilantes se sentaram acordados a noite toda, com suas espingardas esperando vândalos adolescentes. Não há nenhum produto que vale a pena mencionar. As flores perderam o perfume e não mais conseguem encantar. Sabe, eram todos lamens extravagantes e xadrez Enoquiano por aqui , e agora ao olhar para ele, as sebes de topiaria Gótica estão ressecadas como estopa, a podridão toma conta desse gazebo Rosacruz, as madeiras estão secas. Este lugar agora só serve para receber o seguro quando pegar fogo.
Não, é sério. Terra queimada. É tudo o que dá para recomendar. Pense como ficaria quando todos os mantos e estandartes fossem capturados. Pode até mesmo ser que toda mente, corpo e Espírito monstruoso do vento vá na direção certa. Perda de vidas e meios de subsistência seria, evidentemente, inevitável, alguns danos colaterais no setor empresarial, mas com certeza seria muito bonito. As vigas do templo desmoronando em meio às faíscas. “Esqueça-me! Salve os manuscritos cifrados!” Entre as inúmeras missas gnósticas, juramentos, conjuras e banimentos, o que os levou a esquecer de seu péssimo treinamento contra incêndios? Ninguém está completamente certo sobre como eles devem evacuar o circulo interno, nem sei quantos ainda podem estar lá. “Finalmente, surgirão historias de cortar o coração sobre a bravura individual.” E-Ele voltou para resgatar o desenho LAM, e nós não pudemos impedi-lo. “Após um momento de lágrimas, para aconselhamento”. Enterrar os mortos, nomear sucessores. Abrir o selo do Himeneu Gamma. Lançar um olhar triste as nossas terras enegrecidas. Viver um dia de cada vez, Santo Deus. Assoar nossos narizes, nos recompor. De alguma forma, nós vamos superar.
E então? Terra queimada, é claro, é rica em nitratos e fornece uma base para a agricultura de corte e queima. Em terra carbonizada, aparecem os pontos verdes da recuperação. A vida revolve-se indiscriminadamente, agitando a terra preta. Poderíamos sacrificar esses gramados outrora imponentes e terraços á sua volta para o deserto. Por que não? Pense nisso como o ambientalismo astral, a recuperação de um cinturão verde psíquico debaixo da pavimentação, oculto pelas lajes vitorianas rachadas, como um incentivo para o aumento da biodiversidade metafísica. Considerado como um princípio organizador para o trabalho de mágica, a estrutura fractal complexa e autogerada de uma selva parece tão viável como toda a ordem do tabuleiro de xadrez imposta e espúria de um piso preto e branco; parece, de fato, consideravelmente mais natural e vital. Afinal de contas, o tráfego de ideias é que é a essência e a alma de magia é mais naturalmente transacionado nos dias de hoje pelo trafego de informações de um tipo ou outro, em vez de segredos como rituais solenemente alcançados após longos anos de cursinhos em Hogwarts. Não tem sido este jeitão de floresta tropical, de fato, a configuração padrão do ocultismo ocidental prático há algum tempo? Por que não sair e admitir isso, destruir todos estes clubinhos que não são tem mais qualquer utilidade nem beleza, e abraçar a lógica de lianas? Dinamitar as barragens, enfrentar a inundação, permitir a nova vida florescer nos habitats onde anteriormente estava moribunda e ameaçada de extinção.
Em termos de cultura oculta, nova vida equivale a novas ideias. Frescas e se contorcendo nas sombras, possivelmente girinos conceituais venenosos, essas pragas de cores vivas devem ser estimuladas em nosso novo ecossistema imaterial, para que ele floresça e permaneça em saúde. Vamos atrair as pequenas e frágeis ideias que brilham como néon, e as mais resistentes e grandes ideias muito mais fortes, que se alimentam delas. Se tivermos sorte, o frenesi alimentar pode chamar a atenção dos grandes paradigmas-raptor, que atropelarão tudo e agitarão a terra. Lutas ferozes, da mais minúscula bactéria ao incrivelmente grande e feio monstro, todos travando uma luta gloriosa e sangrenta, sem supervisão, pela sobrevivência, uma bagunça darwiniana espetacular.
Doutrinas esfarrapadas encontram-se incapazes de superar o argumento assassino, elegante e cheio de dentes. Dogmas Mastodontes e velhos vão escorregando para baixo na cadeia alimentar, e entrando em colapso sob seu próprio peso servindo de refeição para os carniceiros, virando historia, e em algum lugar há o zum-zum-zum do bate-papo na sala das moscas que colocam seus ovos. Trufas miméticas crescidas a partir da decomposição dos Aeons. Revelações vivas surgiram como um foguete em Londres, do seu meio natural, a expansão bombástica e desordenada. Pânico em Arcádia, cheia de abelhas assassinas. Seleção sobrenatural. Os mais fortes teoremas, os melhores adaptados estão autorizados a prosperar e se propagar, os fracos são sushi. Certamente esta é Thelema hardcore em ação, além de representar uma old-school produtiva e autêntica, o caos que deve aquecer o coração de qualquer um. De tal aplicação vigorosa do processo evolutivo, é difícil ver como a magia que é um campo de conhecimento poderia colher benefícios ao fazer o contrário.
Por outro lado, ao aceitar um meio menos cultivado, menos refinado onde a concorrência pode ser feroz e barulhenta, magia estaria fazendo não mais do que expor-se às mesmas condições que dizem respeito aos seus parentes mais socialmente aceitos, a ciência e a arte. Apresentar uma nova teoria para explicar a massa faltante do universo, ao apresentar alguma instalação conceitual difícil para o Prêmio Turner, é preciso aceitar sem dúvida que a sua ideia vai ser submetida ao escrutínio intenso, em grande parte hostil e proveniente de algum campo rival. Cada partícula de pensamento que desempenhar um papel na construção de sua teoria será desmembrada e examinada. Apenas se nenhuma falha for encontrada o seu trabalho será recebido no cânone cultural. Em toda a probabilidade, mais cedo ou mais tarde o seu projeto de estimação, a sua teoria de estimação vai acabar obsoleta e só servira para decorar as paredes manchadas dessas velhas, arenas públicas impiedosas. Assim é como deve ser. Suas ideias são transformadas e atropeladas, mas o próprio campo é reforçado e melhorado por este teste incessante. Ele avança e sofre mutações. Se o nosso objetivo é verdadeiramente o avanço da visão de mundo mágica (em vez de avanço de nós mesmos como seus instrutores), como alguém poderia opor-se a tal processo?
A menos, claro, que o avanço desta natureza não seja realmente o nosso objetivo, o que nos traz de volta às nossas perguntas de abertura: o que exatamente estamos fazendo e por que estamos fazendo isso? Sem dúvida, alguns de nós estão envolvidos na busca legítima de entendimento, mas isso levanta a questão de como fazemos isso. Temos a intenção de usar essa informação de alguma maneira, ou apenas de acumular conhecimento exclusivamente para seu próprio bem, para nossa satisfação particular? Será que desejamos, talvez, ser vistos como sábios, ou melhorar nossas personalidades sem brilho com notas de conhecimento secreto? Buscamos algum status que pode ser alcançado mais facilmente por uma perseguição do ocultismo, onde convenientemente, não existem padrões mensuráveis para que possamos ser julgados? Ou será que nós nos alinhamos com a definição de Crowley das artes mágicas como trazer mudanças de acordo com a sua vontade, o que quer dizer alcançar alguma medida de poder sobre a realidade?
Esta última, suponho que seria o motivo atualmente mais popular. O crescimento da Magia do Caos na década de 1980 centrado em uma série de promessas que o promoveram, como o mais notável, entre elas a entrega de um sistema de magia baseado em resultados que era prático e fácil de usar. O desenvolvimento único e altamente pessoal de Austin Spare da magia com sigilos, foi-nos dito, poderia ser adaptado para aplicação quase universal, iria fornecer um simples, infalível meio pelo qual o desejo do coração de alguém poderia ser tanto fácil e como imediatamente cumprido. Pondo de lado a questão “Isso é verdade?” (E a resposta gritante “Se for, então por que todos os seus defensores Ainda mantem seus dias de trabalho, em um mundo globalizado, certamente cada vez mais longe dos desejos do coração a cada semana que passa?”), talvez devêssemos perguntar se a prossecução desta atitude pragmática, causal com trabalho oculto é realmente um uso digno de magia.
Se formos honestos, a maior parte da feitiçaria causal como é praticado provavelmente é feita na esperança de realizar alguma mudança desejada em nossas duras circunstâncias materiais. Em termos reais, isso provavelmente envolve pedidos de dinheiro (mesmo Dee e Kelly não estavam acima chamando os anjos por um centavo de vez em quando), os pedidos de alguma forma de gratificação emocional ou sexual, ou talvez em algumas ocasiões um pedido para que aqueles que sentimos ter nos menosprezado ou ofendido sejam punidos. Nesses casos, mesmo em um cenário menos cínico, onde o propósito da magia é, digamos, ajudar um amigo em sua recuperação de uma doença, podemos alcançar nossos objetivos muito mais, certa e honestamente, bastando cuidar dessas coisas em um plano material não divino?
Se, por exemplo, é o dinheiro que exigem, por que não imitar o verdadeiro exemplo dado por Austin Spare (quase o único entre os magos que aparentemente viu o uso da magia para atrair mera riqueza como uma anátema) em relação a tais preocupações? Se quisermos dinheiro, então por que não podemos magicamente levantar nossas bundas gordas, e executar magicamente algum trabalho pela primeira vez em nossas vidas mágicas sedentárias, e ver se as moedas solicitadas não são magicamente algum tempo depois somadas as nossas contas bancárias? Se for o afeto de algum objeto de amor não correspondido que estamos buscando, a solução é mais simples ainda: sorrateiramente esperá-la em alguma esquina, e então estuprá-la. Afinal, a miséria moral de que você fez não será pior, e pelo menos você não vai ter arrastado o transcendental j, pedindo que os espíritos a segurem para você. Ou se há alguém a quem você realmente vê como merecedor de alguma retribuição terrível, ao invés de colocar seu nome embaixo de uma clavícula de Salomão porque não avançar direto sobre ele, como um cão pegando um osso, cortando-o com uma navalha do Frankie ou do Big Stan. O capanga contratado representa a decisão ética de escolha quando comparado com o uso de anjos caídos para com o trabalho sujo (isto é assumindo que o que vai volta para casa do cara que mandou, e talvez mesmo, você sabe, ficando com ele e seguindo em frente, não são opções viáveis). Mesmo o exemplo do amigo doente citado anteriormente: basta ir lá e visitá-lo. Apoiá-lo com o seu tempo, o seu amor, o seu dinheiro ou a sua conversa. Cristo! Enviar-lhe um cartão com um coelho de aparência triste dos desenhos animados na parte dianteira só fara você se sentir melhor, não ele. Magia intencional e causal poderia muitas vezes parecer ser sobre a realização de um fim bastante comum sem fazer o trabalho normal associado a ele. Podemos muito bem fazer melhor ao afirmar, como Crowley, que as nossas melhores e mais puras ações são aquelas realizadas “sem ânsia de resultado”.
Talvez sua máxima famosa, onde ele defende que nós devemos procurar “o objetivo da religião” utilizando “o método da ciência”, por mais bem intencionada que pareça, poderia ter levado a comunidade mágica (como é) a esses erros fundamentais. Afinal, o objetivo da religião, se examinarmos as origens latinas da palavra em religare (a raiz compartilhada com outras palavras como “ligamento” e “ligadura”), parece implicar que é melhor que todo mundo esteja “preso em uma crença”. Este impulso à evangelização e conversão deve, em qualquer aplicação no mundo real, chegar a um ponto onde aqueles vinculados por uma ligação virem para cima e contra aqueles ligados a outro conceito. Neste ponto, inevitavelmente, e historicamente, ambas as facções irão prosseguir a sua vontade programando-se para vincular e engolir a outra em sua única e verdadeira crença. Então nós vamos massacrar os taigs, os aguilhões, os goys, os Yids, os kuffirs e os ragheads. E quando isso historicamente e, inevitavelmente, não funciona, nós sentamos e pensamos sobre as coisas por um ou dois séculos, nós deixamos um intervalo decente, e então nós fazemos tudo de novo, o mesmo que antes. O objetivo da religião, enquanto claramente benigno, parece errar o alvo por uma ou duas milhas, lançada pelo recuo. O alvo, a coisa que eles estavam querendo acertar, fica lá ilesa, e as únicas coisas atingidas são Omagh ou Cabul, Hebron, Gaza, Manhattan, Bagdá, Kashmir, Deansgate, e assim por diante, e assim por diante, e assim por diante, para sempre.
A noção de unir está na raiz etimológica da religião é também, de forma reveladora, encontrada no ícone simbólico de varas amarradas, na aparência, o que gera o fascismo á longo prazo. O fascismo, com base em conceitos místicos como sangue e ‘volk’, é mais apropriadamente visto como religião do que como uma postura política, política supostamente baseada em alguma forma de razão, no entanto equivocada e brutal. A ideia compartilhada de presos a uma fé, uma crença; que na unidade (assim, inevitavelmente, na uniformidade) existem linhas de força, parece antitético à magia, que de alguma forma, é certamente pessoal, subjetiva e pertencente ao indivíduo, à responsabilidade de cada criatura sensível por chegar ao seu próprio entendimento, e assim, fazer a sua própria paz com Deus, o universo e tudo mais. Então, se a religião pode ser usada para encontrar um equivalente político próximo no fascismo, pode ser dito que a magia tem como equivalente politico mais natural à anarquia, o oposto do fascismo (decorrente de archon ou “nenhum líder”)? Que, naturalmente, nos leva de volta aos templos queimados e postos a baixo, despossuídos e sem espaço para os cabeças de ordem, a terra queimada e a abordagem anárquica e desértica natural à magia, como sugerido anteriormente.
A outra metade da máxima de Crowley, em que ele promove a metodologia da ciência também parece ter suas falhas, mais uma vez, por mais bem intencionada. Baseando-se nos resultados materiais, a ciência é talvez o modelo que levou as artes mágicas a sua causal decadência, como descrito acima. Além disto, se aceitarmos os caminhos da ciência como um ideal processual a que nossos trabalhos de magia podem aspirar, não caímos no perigo de também adotar uma mentalidade materialista e científica no que diz respeito às inúmeras e diferentes forças que preocupam o ocultista? Um cientista que trabalha com eletricidade, por exemplo, irá justamente considerar a energia como um valor neutro, um poder irracional que pode ser facilmente usado para executar os trabalhos de um hospital, ou acender um lava-lamp, ou para fritar um negro com mentalidade de nove anos de idade, no Texas. Magia, por outro lado, na experiência pessoal, não parece ser neutra em sua natureza moral, nem parece sem sentido. Pelo contrário, ao que parece, é um modo de estar ciente e ativamente inteligente, viva, em vez de viver em cima do muro. Ao contrário da eletricidade, há a sugestão de uma personalidade complexa, com características quase humanas, tais como, por exemplo, um aparente senso de humor. Ainda bem, quando se considera o desfile de truques pomposos de entretenimento que tem sido realizados e tolerados ao longo dos séculos. Magia, em suma, não parece estar lá apenas para ativar sigilos, que são versões astrais do gadget economizando o trabalho ou o aparelho. Ao contrário da eletricidade, pode se pensar que tem a sua própria agenda.
Texto de Alan Moore. Tradução Giuliana Ricomini
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Uma resposta em “Anjos Fósseis”
Um verdadeiro petardo e uma porrada na nossa Alma, no nosso Ego, é este texto aqui do Alan Moore. Mais do que ninguém, ele assumiu para si a importante característica de dizer as verdades que muito poucos na atualidade não querem dizer. Processando e dissecando tudo, ele abordou os pontos positivos e negativos de toda a massa de Magos, Magas, Magistas, Iniciados, Sacerdotisas, Sacerdotes e afins que vendem seu peixe pela Internet no mundo inteiro. Será que eles conhecem este texto? Será que eles já pararam para refletir acerca disto:
“O que exatamente estamos fazendo e por que estamos fazendo isso?”
Eu, como alguém que toca apenas na superfície e fica do lado de fora do Templo, ando diariamente me indagando acerca disso cada vez mais. Você que ler este meu comentário faz isso também ou é de cegamente aceitar tudo que está sendo veiculado hoje em dia pela Internet como se fosse O Maravilhoso Mundo Mágicko Do Século Vinte E Um?
Quem quiser debater sobre isto, por favor, responda ao meu comentário. Ou me ignore.