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A formação do arcabouço simbólico

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por Edu Berlim

Excerto de ARS SOPHIA: Imaginário em Perpétua Criação

Diz-se que um ser humano se torna mais completo quando ele planta uma árvore, tem um filho e escreve um livro. A parte de plantar uma árvore certamente cabe em grande número de práticas mágicas, esotéricas e religiosas, assim como ter um filho cabe na prática de ‘se tornar um ser humano completo, fechando o ciclo da vida’; mas escrever um livro há muito que é “a parte que me toca” dessa trinca.

Tentei por muito, em fases distintas da vida, escrever algo que me desse uma sensação de “serviço bem-feito” e confesso que cheguei a desistir inúmeras vezes. Nada ficava bom. Quer dizer, nada ficava bom o bastante para um crivo altíssimo que pré-determinei para mim mesmo. Ficção, filosofia, Arte… Magia. É… Foi quando chegou nesse tema da Magia que algo parecia mudar aos poucos. E foi mudando e mudando, mudando de pouco em pouco e, de repente, mudando como um turbilhão daqueles que nos lembram os últimos cinco minutos de qualquer ritual.

E eu sei perfeitamente bem quais foram (ou melhor, quem foram) os catalisadores dessa mudança. Um deles, como não poderia deixar de ser, foi este portal de ideias, este centro em perpétua ebulição mística, mágica, ocultista… esotérica… este caldeirão de loucuras chamado ‘Morte Súbita Inc’. Escrever para cá pela primeira vez, submeter meu a equipe do portal (a quem jamais canso de agradecer por isso) e vê-lo publicado, ver a resposta das pessoas, a busca por opiniões e informações que eu poderia trazer, foi um passo crucial no reestabelecer uma espécie de “autoestima literária” tão necessária para escrever uma obra.

ARS SOPHIA é a minha primeira obra. Uma obra que tenta apontar como Magia e Arte se encontram não apenas no divino, mas no material reino dos homens. É o livro “que eu gostaria de ter lido no começo”, que carrega uma síntese de como eu vejo “todo esse role”. Dividido em cinco sessões e vinte e dois capítulos, me propus a atravessar uma jornada que sai do Imaginário e chega até o que eu gosto de chamar de “Mecânica da Arte”: o caminho de como a magia sai de mero pensamento e se torna palpável em um mundo tão cheio de sólidos quanto o nosso.

Ele está disponível pela Amazon neste momento e gostaria de lhes entregar aqui o meu primeiro capítulo, pois eu sempre gostei de folhear antes de comprar – e talvez esse seja um hábito que também e pertença.

Capítulo 01 – A formação do arcabouço simbólico

Há uma necessidade não tão bem percebida no que tange a formação do arcabouço simbólico dentro do meio mágico. Pior ainda: ela é, por muitas vezes, completamente desprezada e ignorada sem que se perceba sua real importância.

Estranhamente, é bem comum se ouvir indicações sobre o estudo das mitologias e de religião comparada, das lendas e histórias dos mais variados personagens e até de autores como C. G. Jung e Joseph Campbell. Mas percebo que há uma pressa, quase uma necessidade de pular etapas, nos buscadores da senda ocultista que lhes tira o cerne do que deve ser feito. Confesso que se as vias herméticas de trabalho fossem uma espécie de “curso universitário” sob minha supervisão, os primeiros dois ou três semestres seriam daqueles que causam desistência nos inscritos, pois focariam única e exclusivamente na construção de um sólido arcabouço simbólico através dos mais variados materiais.

Perceba que em faculdades como Direito são necessárias matérias introdutórias que incluem não só as famigeradas “introduções ao Direito” como também introduções à filosofia e sociologia de natureza jurídica, história do Direito e matérias estranhas como ‘Teoria Geral do Processo’ e ‘Teoria Geral do Estado’. Não diferente, em cursos de engenharia há uma tendência a um bloco inicial comum a todos os cursos que inclui as matérias de natureza matemática, incluindo as terrificantes matérias de Cálculo. Acredito que isso possa ser encontrado, inclusive, em cursos de áreas médicas e biológicas e em tantas áreas quanto forem possíveis. Mesmo em música, uma formação de extrema prática, há a necessidade de matérias teóricas para a compreensão de como funcionam os instrumentos e da própria música ocidental em si.

Na magia essa necessidade ainda existe, apesar de ser plenamente ignorada. Pior ainda: muitos não conseguem compreender como se forma um mapa de conhecimento nas áreas necessárias, nos pré-requisitos da formação mágica, e isso acaba por criar situações constrangedoras (especialmente para os outros).

Quantos são os relatos de pessoas completamente inexperientes que tentam realizar um trabalho de evocação grimorial e falham miseravelmente em ver qualquer coisa no ritual? Ou quantos são os que alegam ser visitados por seres de luz ou de trevas das mais altas castas hierárquicas mesmo sem ter tido qualquer contato com tais sistemas? Ou mesmo aqueles que juram ter compreendido por completo um arquétipo ou deidades ancestrais há muito enterradas? Mesmo quando um ritual funciona corretamente, alguém sem um bom arcabouço formatado teria mais chances de ver a manifestação de um espírito como uma gosma ou um personagem esquecido de Street Fighter do que da maneira mais apropriada à manifestação.

No que tange à natureza dos espíritos (ou mesmo das forma-pensamento), não existe uma forma propriamente dita. Dentre as muitas explicações possíveis, podemos destacar a plasticidade da matéria espiritual, a necessidade do cérebro humano de dar forma a algo inexistente, a necessária alteração de consciência do estado profético ou mesmo ao fato de que “estados de gnose causam alucinação”. Independente da veracidade destas respostas ou de sua crença pessoal, fato notório é que não há uma real imagem em quaisquer seres que possam ser evocados; e não possuir uma forma de traduzir esta informação através de repertório fará com que o máximo alcançado seja algum tipo de visão da Virgem Maria em uma torrada ou uma alucinação criativa sem propósito. 

Pior ainda é pensar nos mais variados casos em que uma visão dessas faz com que a pessoa passe a se considerar espiritualmente especial, acreditando cegamente que Krishna, Hécate ou o Arcanjo Miguel a escolheram para algum propósito dentro do cosmos infinito – algo que só acontece com aqueles que não estudaram o suficiente e confundem a teatralidade histórica do escolhido com a história de si mesmos. É impressionante a quantidade dos que se acreditam abençoados pessoalmente por Thor ou por algum Daemon ancestral que tentam desmoralizar nomes como Tomás de Aquino e Francisco de Assis.

Tipicamente encontramos naqueles com menor bagagem as maiores arrogâncias no que tange ao conhecimento e é evidente que na matéria espiritual o efeito Dunning-Kruger se faz presente com grande maestria. Talvez até esteja tudo bem em não querer ter mais conhecimento e aprofundar-se nos temas de elevação intelectual que lhe permitem perceber as barreiras no caminho, mas nesse caso acredito que eu não esteja escrevendo para você.

A construção e sedimentação de um forte arcabouço simbólico é tarefa de suma importância e sua necessidade está diretamente atrelada à formação um bom magista, um bom mestre das artes. A própria compreensão oracular necessita de vasta bagagem cultural de todo tipo para permitir que uma boa interpretação possa ser tirada dali e isso é válido para todo e qualquer ritual dentro da senda ocultista. Perceba que nenhum ritual maçônico ou paramaçônico possui o mínimo valor sem a compreensão dos símbolos ali exprimidos e a realização dos rituais de uma ordem como a Golden Dawn não passarão de um mero teatro cósmico sem a mínima compreensão do que se está fazendo. E não estou aqui defendendo que a prática não deva ser, muitas vezes, paralela ao estudo, pois a prática ritualística é parte intransferível da compreensão real do que se realiza.

Adiantaria qualquer explicação sobre a Lacrimosa de Mozart para alguém que nunca a ouviu? Ou é possível tirar uma lição verdadeira de um livro que só se leu através dos olhos dos críticos da obra? Para quem visa tecer uma compreensão dos filmes do Tarantino é necessário ver os filmes do Tarantino e somente depois ir atrás dos comentários, críticos, estudos, inspirações e outros pormenores – mesmo que ocasionalmente o processo se inverta, usando-se um comentário sobre algo para incentivá-lo a conhecer a obra. Não há substituto para Shakespeare que não seja ler o próprio Shakespeare.

Na magia, contudo, existem algumas pequenas diferenças em relação à simples crítica de arte. Realizamos, de certa forma, atos mágicos desde que somos feitos e há um número estonteante de rituais que visam compreender, celebrar ou aludir ao parto como matéria da vinda da alma à matéria. Esta relação natural com nosso próprio nascimento aponta que já vivenciamos na maior das escalas o próprio ato da formação do ser. Campbell irá aludir em suas obras sobre a jornada necessária para toda vida humana, contida dentro do seu “monomito” – e se na arte existe uma variação considerável de jornadas, na vida em si o “monomito” me parece quase inescapável.

Apenas este ponto deveria ser suficiente para compreender que através do estudo da ‘Jornada do Herói’ de Campbell somos capazes de analisar nossas próprias etapas de modo a perceber onde nos encontramos nas inúmeras áreas de nossas vidas, como a vida amorosa, o trabalho, os estudos etc. O mesmo resultado é possível através do estudo da ‘Árvore da Vida’ em Qabbalah ou na devida instrução nos ‘Arcanos Maiores’ do Tarot – e a absoluta incompreensão destes temas torna-se fatalista para quem busca conhecer a si mesmo através destes métodos. Por mais evidente que seja a existência de outros caminhos similares, como a devida instrução no Mahabharata, o que viso frisar é a necessidade do conhecimento da jornada humana como primeiro passo para formação de um arcabouço simbólico adequado e para a compreensão de si mesmo.

Não é possível conhecermos a nós mesmos sem ter ideia de onde estamos em nossas vidas. E sem essa mera compreensão de si, a magia torna-se inviável aos que estão comprometidos com o tema. Beethoven jamais teria composto suas sinfonias sem conhecer seus próprios objetivos e ser capaz de entender em que ponto de sua própria história se encontrava e o mesmo pode ser aplicado aos Beatles, Alan Moore e Christopher Nolan: é a percepção de si que nos permite compreender o que queremos criar.

Imagine por um momento que você busque um ritual ou feitiço para encontrar um novo amor. Se você não sabe o que está buscando em detalhes, o que te faz acreditar que o rito irá funcionar? Qual seria a diferença de ritualizar algo e baixar um aplicativo de namoros e tentar flertar com absolutamente todas as pessoas disponíveis? Ou de ir para uma grande avenida com uma placa de “disponível para beijar qualquer um”? A absoluta falta de percepção do que se quer trará resultados ruins independentemente do método utilizado.

Mas pode ser que você tenha ciência do que quer e com isto o ritual funcione adequadamente. Isto nos faz passar para o próximo questionamento: por quanto tempo irá funcionar? Não adianta ter o que quer e não estar apto para aquilo que se deseja. 

Usar magia para encontrar um relacionamento amoroso pode ser uma versão de usar magia para encontrar um carro sem saber dirigir e o resultado a curto e médio prazo será o mesmo: falha. Neste ponto voltamos à ‘Jornada do Herói’ de Campbell como uma ferramenta de autoanálise bastante adequada, pois será possível mensurar quem se é e o quanto do necessário já está disponível. Talvez seja melhor fazer as aulas da autoescola antes de buscar um carro através de magia; talvez seja adequado se tornar alguém atrativo antes de buscar amor, e saber exatamente o ponto de ruptura é necessário para que ele possa ser ultrapassado.

É evidente que a magia pode ser usada justamente com o propósito de tornar-se uma pessoa melhor em determinada área – e novamente a necessidade de conhecer a jornada é importante. Se você busca conseguir completar uma especialização e pede a um espírito que “te faça um especialista em determinado assunto” pode ocorrer de você encontrar muito material sobre o tema na internet ou em livros; mesmo que isso seja inútil “curricularmente” falando. Também pode ser que ele te arremesse novamente ao arcano do ‘Louco’ com uma vaga em um curso excelente, mas que te fará recomeçar todo o esforço já realizado. Compreender em que ponto você se encontra lhe permitirá ser preciso no que se quer – e esta é só uma das vantagens de ter o conhecimento simbólico bem formatado.

Vale pontuar que até o presente momento visei apenas elucidar a importância da compreensão da jornada simbólica como ferramenta de compreensão de si, mas que isso não aufere a devida importância à formação de um vasto arcabouço. Por sinal, sequer expressei minha compreensão pessoal sobre como formar este arcabouço ou o que ele é em si e creio que seja adequado começar daí.

Tudo o que é por nós consumido formata a nossa compreensão de símbolos e trazer para si apenas significadores ruins e empobrecidos terá um efeito bastante negativo na compreensão do mundo. Alguém que só conheça a dicotomia de “Deus e o Diabo” será capaz de usar somente estes dois símbolos para catalogar todo o universo, da mesma forma que quem se afunda vorazmente na militância de determinado espectro político só será capaz de ver o mundo da exata mesma forma usando as “caixinhas” do vilão e do herói. Ou até pior: irá tentar forçar aquilo que não cabe quando “quiser fazer caber” e isso irá gerar uma série de distorções, chegando ao nível do bizarro e do desconexo. Há uma fragrante diferença entre fazer humor com a ideia do “Jesus zumbi e necromante” e realmente cultuar esta forma humorística como se fosse uma realidade. 

A validade de um culto completamente descaracterizado possivelmente terá o mesmo valor de cultuar uma laranja como o Senhor do Universo, mas percebam que com isso não estou dizendo que o erro tolo não possua valor no âmbito da fé. São muitas as histórias que correm sobre senhoras de certa idade que rezaram para alguma action figure de Senhor dos Anéis ou Star Wars acreditando que fossem algum Santo católico e não há nada de errado com isso: é o engano da imagem, não é um engano da simbologia ali presente. Ademais, aquele que tem um arcabouço bem firmado será capaz de perceber as inspirações dos Santos presentes em Aragorn e Obi-Wan Kenobi. Afinal Tolkien era um católico praticante de muita fé e isso influenciou a sua obra tanto quanto a Qabbalah influenciou a obra de George Lucas. Não há qualquer problemática no culto cuja imagem induz a esse tipo de erro, mas há grave deficiência no culto criado às pressas como firmeza da própria fé: a fé precisa ser bem fundamentada e não à toa os mais ortodoxos são muitas vezes referidos como fundamentalistas.

O Oxford Language traz como uma das definições da palavra fundamentalista o seguinte: “diz-se de ou cientista que se ocupa da ciência ou da pesquisa fundamental”. Por mais que a obediência rigorosa e literal aos dogmas ou o seu integrismo não façam parte do caminho da Arte, o seu conhecimento faz-se necessário na medida em que isso é parte da análise simbólica a ser usada posteriormente. Afinal, o forte temperamento associado a São Miguel Arcanjo é um aspecto do ser em si ou um reflexo dogmático do catolicismo romano? E esse endurecimento surge das vias de Agostinho, Bento ou Tomás de Aquino? Ou de distorções dessas obras pelas mãos político-religiosas da própria igreja ao longo dos séculos? A “pesquisa fundamental”, ora referida, é papel inerente do estudioso das artes e isso o torna um fundamentalista dentro desta definição específica e o obriga a buscar dentro do outro significado de fundamentalismo as origens daquilo que se visa compreender.

Um mago não é necessariamente um religioso, mas ele certamente necessita de fé. Mais à frente dedicarei um capítulo a respeito da fé, mas por enquanto só precisamos entender que a fé precisa de um conluio racional em si mesma – não é à toa que, por tantas vezes, os Santos deixam Obras de natureza intelectual. A absorção racional da fé liga-se com a compreensão dos símbolos ali inseridos. A ideia do “pecado original” é muito mais interessante para quem lê Agostinho e lida com sua correlação entre o primeiro dos pecados e a misericórdia de Deus. Na mesma medida, a ideia dos daemons gregos que existem na criação passa a fazer muito mais sentido a partir da leitura mais crítica de Jâmblico. Em ambos você pode encontrar a resposta sobre o porquê humanos seriam capazes de controlar os espíritos celestes e infernais – e curiosamente não há uma discordância entre os autores que não seja no ponto da religião. Há algo de sagrado nos dois caminhos.

Ocorre que a própria compreensão desses símbolos necessita da formação do nosso arcabouço pessoal e digo com tranquilidade que compreender o mundo é compreender a arte. Não há escola séria de conhecimento humano que não vá te recomendar a leitura dos clássicos, independente do que são os clássicos de sua própria era. E isso, por si só, já é um sinal que nos alerta: ao se deparar com qualquer um que tente te convencer que Shakespeare possui menos valor que George Martin, fuja. Shakespeare já se provou, Martin ainda tem uma longa trilha pela frente. 

O que é chamado de literatura clássica é justamente aquela que sobreviveu aos testes do tempo e aos testes da leitura crítica. Tolkien e Lewis são autores relativamente recentes na linha do tempo humano, mas não são tão mais recentes de Tolstói e Dostoiévski. Bukowski é posterior a todos esses e também tem sua qualidade atemporal reconhecida pela crítica. Ou será que a afirmação correta seria de que tiveram seus símbolos reconhecidos pela história humana? O que faz com que esses autores sejam enquadrados no conceito de “literatura clássica” encontrado em certos lugares está no fato de que suas obras são atemporais per si e não por já terem sobrevivido ao teste dos séculos.

Podemos fazer a exata mesma afirmação quanto aos filmes de Georges Mélièt e Charles Chaplin. O cinema é uma forma artística que ainda não completou seu segundo século, mas que apresenta uma longa lista de clássicos capazes de tocar o ponto mais antigo da alma humana. ‘Os Sete Samurais’ nasce cinquenta anos após a morte de Dvořák, ‘Era uma Vez no Oeste’ cinquenta anos após Debussy e ‘A Lista de Schindler’ cinquenta anos após Rachmaninoff e isso só demonstra como não é preciso ser secular para se alçar a categoria de clássico da eternidade através do seu valor simbólico.

O conhecimento da introspecção pode ser encontrado na trilha sonora ‘Time’ de Hans Zimmer para o filme ‘A Origem’ tanto quanto no ‘Moby Dick’ de Herman Melville. Personagens como a Galadriel em ‘Sociedade do Anel’ ou a Papisa Joana no filme homônimo vão cruzar a mesma característica inata do arcano da Sacerdotisa no Tarot, perpassando o mistério dos ‘Três Segredos de Fátima’: o símbolo do silêncio como representação do segredo feminino do mundo irá remontar desde a formação do Verbo e dos motivos pelos quais Deus é chamado de Pai; Ele expressa o Verbo e diz “Haja Luz”, enquanto a mãe guarda em si mesma o mistério cósmico do hidrogênio que um dia se tornou senciente. 

Toda essa expressão do cosmos pode passar diante dos seus olhos enquanto se assiste ‘Interestelar’, da mesma forma que o maravilhamento pode vir da trilha sonora de ‘Jurassik Park’ nas mãos de John Williams ou em alguma obra do Studio Ghibli. Pode ser difícil compreender o que é uma rapsódia através das obras de Liszt tão repetidas nos desenhos infantis das décadas passadas, mas a voz de Freddie Mercury em ‘Bohemian Rhapsody’ não deixa dúvidas quanto ao sentimento inerte a este tipo de obra. Da mesma forma, pode ser que o sagrado não fique tão evidente em Promethea de Alan Moore, mas o mais completo e obscuro profanar são perfeitamente cabíveis em ‘O Modelo de Pickman’ de Lovecraft.

A construção simbólica que a arte é capaz de trazer fomenta nossa mente com o arcabouço necessário ao ato mágico em si. Ao buscar o contato com um espírito bom o que você espera encontrar traduzido por sua mente, afinal? Ouvir uma voz doce como a de Idina Menzel cantando ‘Defying Gravity’ ou uma voz honesta em sofrimento como a de Tom Jobim em ‘Chega de Saudade’? Ele deve se portar como Guido de ‘La vita è bella’ ou como Jin de ‘Samurai Champloo’? Sua forma de falar deve lembrar-nos de Heitor na Ilíada ou como Lady Mcbeth de Shakespeare? O conteúdo enigmático de suas falas é mais adequado se inspirado no ‘Ortodoxia’ de Chesterton ou no ‘O Livro Vermelho’ de Carl Jung?

Espírito não falam, não possuem formas e talvez sequer possuam uma personalidade da maneira como estamos acostumados a compreender – uma consciência tão humana que dificilmente pode ser chamada de divina. Os seres metafísicos são reflexos daquilo que nossa consciência é capaz de conhecer através do conteúdo que inserimos nela e isso se adequa individualmente. Gnose é matéria individual e certamente não é capaz de validar a experiência do outro justamente pela diferença necessária na formação do arcabouço simbólico de cada indivíduo. A manifestação ocorre no metafísico, mas é o cérebro humano o retentor de toda a informação e este que irá traduzir aquilo dentro do conteúdo inserido previamente.

Música, pinturas e ilustrações, cinema, séries, filmes, livros de todo tipo, animações e animes, arte – acima de tudo, boa arte! O consumo daquilo que é inerentemente bom e devidamente averiguado pelo teste do tempo, da crítica e dos símbolos que conectam com a verdade humana: são estes os responsáveis por formatar um bom arcabouço simbólico dentro de nós. E esta deveria ser sua primeira meta ao tentar trabalhar com arte e magia.

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