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O Culto Moderno de Cthulhu

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Citando Lovecraft, “Acredito, às vezes, que essa vida menos material é nossa vida mais verdadeira, e que nossa vã presença sobre o globo terrestre é o fenômeno secundário ou meramente virtual”, de fato aquilo que chamamos de existência material é um fenômeno psíquico – ou seja, no fim das contas, usamos o externo para influenciar o interno, e por vez refletir novamente no externo.

A luz de toda ciência moderna não afastou nem por um centímetro o medo dos antigos deuses. Milênios antes do iluminismo a humanidade já havia construído ferramentas mentais para viver. Complexas mitologia, religiões ancestrais e sistemas mágicos para interagir e entender o mundo ao nosso redor. Esses deuses e deusas não foram criados do nada, mas usaram a matéria prima das emoções e pensamentos humanos, foram moldados do barro da alma humana. O ceticismo pode se desfazer de muitas destas formas, mas de nenhuma de suas essências. O terror, o amor, o sexo e a tristeza continuam para sempre imaculadas. Se Ares fosse uma farsa e a guerra apenas uma ideia, então isso apagaria os crimes feitos em seu nome? Os deuses apenas mudam de nome:  Afrodite, Libido, que diferença faz? Jesus nunca existiu, mas Cristo vive eterno.

Hoje a ciência diz que não há deus de trovão e que portanto não há o que temer. Mas mesmo o coração do maior dos céticos palpita imediatamente quando o céu explode. O medo esta lá, portanto os deuses ainda estão.  Lovecraft disse certa vez que a “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido.” Foi dessa matéria prima velha como  a vida que o mestre esculpiu os grandes antigos. Ou seja que foram os grandes antigos que chegaram ao mestre no mais antigo dos meios de comunicação? O horror. Ele mentiu? Inventou? Você decide.

Foi da mentira que a magia nasceu – assim como a ignorância, duas deusas que andam lado á lado na humanidade, procurando sempre manter-se vivas dando a luz á novos seres. A Magia foi um desses bebês. Qualquer pessoa com o minimo de inteligência não agrega fator literal á Bíblia alguma. E se ela tiver um pouco mais de inteligência, não agregará á nenhum tipo de livro sagrado ou espirito manifesto. Observe que por mais que possamos ter resultados com qualquer tipo de pratica básica em magia, agregar uma explicação supostamente lógica ou até vendo espíritos incorporados urrando, existe sempre uma interpretação cética/cientifica para tal – do mesmo jeito que uma espiritual – e ambos lados, estão mentindo. Não procuramos explicações. Procuramos eficiência. No Liber O Vel Manus Et Sagitae, Edward nos alerta com o seguinte paragrafo;

“Neste livro é falado das Sephiroth e dos Caminhos, de Espíritos e Conjurações; de Deuses, Esferas, Planos, e muitas outras coisas que podem existir ou não.

É irrelevante se elas existem ou não. Pois fazendo certas coisas, certos resultados seguirão; estudantes devem ser seriamente advertidos a evitar atribuições de realidade objetiva ou validade filosófica a qualquer uma delas. As vantagens a serem obtidas delas são as seguintes:

  • Uma ampliação do horizonte mental.
  • Um aperfeiçoamento do controle da mente.

 O estudante, se obter qualquer tipo de sucesso nas práticas que se seguem, será confrontado por coisas (ideias ou seres) deslumbrantes ou terríveis demais para serem descritos. É essencial que permaneça o mestre de tudo que vê, ouve ou concebe; ou será escravo de ilusões e vítima da loucura.”

“Será escravo de Ilusões e vítima de Loucura” – Koronzon.

Observe que o mesmo conceito é pregado dentro do Livro dos Mortos Tibetano – o buscador, deve permanecer imóvel após a morte e não se deixar devorar por demônios. Segundo o livro, após a sua morte, você confronta com os demônios que existem em sua própria consciência, que buscam te prender novamente á roda karmica. O único modo de vence-los, é através da mente – você deve observa-los enquanto mantem firme em sua consciência, que são apenas ilusões astrais. Eles tomaram formas cada vez mais absurdas, tentando lhe tirar o sossego e por fim, prende-lo novamente a existência física. Aquele que busca a Iluminação, deverá manter fixo, em sua mente que não são, nada mais que aspectos de seu próprio subconsciente. Edward nos alerta sobre isso, em seu Liber DCCCXIII – Ararita. Analisando esse Liber profundamente, podemos ver que todos os espíritos, deuses e demônios, em sua essência, provem do próprio mago. São etapas no caminho, não exatamente o fim da jornada. Aquele que se prende a adorações, invocações, oferendas e praticas de feitiçaria, estaria reforçando em sua mente, o conceito de que existe “forças maiores que o homem” e de “deveria adora-las”. Usando um pouco de lógica, relembre de qualquer pedido feito á qualquer espirito e se pergunte; “porque o espirito x, com seus mil anos de idade, atendeu meu pedido ? Por causa de meras oferendas? Se ele é tão poderoso assim, será que ele não conseguiria pegar essas oferendas, ou a energia vital de qualquer pessoa, sem precisar de intermediário ?”

Qualquer estudante básico de magia já leu o texto “O que é Magick?” do Edward. Nesse texto, nosso querido Eduardo nos dá sua visão apocalíptica de fé e adoração externa, com frases de extrema blasfêmia, como;

“O Homem é capaz de ser e usar qualquer coisa que percebe; porque tudo que ele percebe é, de certo modo, uma parte de seu ser. Ele pode, desta forma, subjugar todo o Universo do qual ele é ciente a sua Vontade Individual.”

“Toda força no Universo é capaz de ser transformada em qualquer tipo de força pelo uso dos meios adequados. Há, deste forma uma inesgotável fonte de qualquer tipo de força que precisemos.”

“Ele poderá atrair para si mesmo, qualquer força do Universo, tornando-se um receptáculo adequado para isto, estabelecendo a conexão adequada às condições para que a natureza desta força faça fluir através dele.”

Nessas três frases, ele blasfema todos os cultos á Divindades, nos trazendo novamente a nossa herança humana como algo realmente divino. No próprio Liber Samekh, o Eduardo Alexandre Crowley, nos entrega novamente um psicodrama de extrema força, a mais potentes das evocações – aquela em que o Homem chama a Energia Inominável e logo em seguida, se reconhece como aquela Energia. Observe que como um Rei, o homem pode se disfarçar de mendigo. Vide Liber AL, II.

Logo depois de desmentir (ou relembrar)os principais conceitos do ocultismo moderno, vamos nos fixar no princípio mais bizarro de todos os tempos – Cthulhu existe.

A ideia de um garçom com tentáculos, ultrapoderoso que nos traz Caos & Destruição, longamente utilizada em jogos de RPG, já foi mais que agregado, dentro da mente humana. Todos os deuses, demônios e anjos nasceram justamente da imaginação coletiva – a popular egregora – que iluminando a nossa percepção, nos da novamente o ouro-segurança de que, o universo pode ser, algo mais amigável do que aparenta. Se realmente o Tentacular é apenas um fruto de uma imaginação deturpada e uma simples egregora com o qual nos sintonizamos e tiramos qualquer proveito, está tudo tranquilo, não há com o que se preocupar.

A menos que tudo isso seja mentira. E lembre-se da primeira frase, toda mentira é real.

Pensar sobre isso pode nos dar um pouco mais que um Mindfuck, mas nos levar ao conceito de que, qualquer realidade, teria um pouco mais que uma dimensão – ela não seria exatamente apenas, x ou y. Não teríamos apenas uma egregora á dispor de nossos caprichos, mas também temos um Deus Antigo pronto para receber nossa vitalidade. Ao mesmo tempo que ele não teria vontade própria (ou tem), ele teria personalidade própria (ou uma cópia da perspectiva do feiticeiro em relação é ele), e uma pré disposição á Loucura. Ou nos levar a Loucura. Veja que, fazer um desenho em um papel e depois se masturbar desejando que aquilo aconteça e aquilo realmente acontecer, é loucura demais, se pensarmos ceticamente. Mas por algum motivo, supostamente interpretado por nós, “aquilo” acontece.

O mesmo vale para Cthulhu.

O que nós dispomos como realidade, além de ser uma interpretação subjetiva de acontecimentos pessoais, tem uma rachadura. Na vida de todo homem, existe uma rachadura. Uma coincidência, algo que nos faz pensar e em seguida acontecer, algo que nos leva a crer que de certa forma, podemos prostituir a realidade com a nossa mente. Observe que você nunca poderá provar a própria língua, como diz Teoremas da incompletude de Gödel. Porém, você pode observar a realidade externa, e de certa forma altera-la. E para altera-la, você precisa usar algumas mentiras. Cthulhu é uma dessas mentiras disponíveis.

E o principal, logo após altera-la, não deixar nada com os créditos. Lembre-se, não é porque algo deu certo, que exclusivamente ele precisa ser concreto. As vezes, a fantasia pode se tornar a arma mais pesada contra o tédio da realidade.

por King e Morbitvs Vividvs


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