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Não há praticante das correntes modernas de ocultismo que não tenha, ao menos em pensamento, considerado utilizar os Grandes Antigos, descritos nos contos de H.P Lovecraft em suas operações mágicas. Sendo a magia essencialmente um trabalho de foco e concentração da imaginação estas praticantes logo se deparam com a difícil tarefa de visualizar uma figura que, por definição não se encontra nos sentidos e dimensões que pretensiosamente chamamos realidade. O caso não é apenas que os Grande Antigos não rasguem o tecido do plano físico, eles tão pouco cabem em nossas limitadas mentes humanas.
Esta natureza intangível dos Grandes Antigos faz deles figuras difíceis de se trabalhar magicamente. Sendo eles encorporações de imensas energias primais de vasto poder, é difícil encaixá-los nas técnicas padrões de magia ritual. Tentativas de alocá-los em meta-estruturas simbólicas como a Cabala, usando correspondências elementais ou do zodíaco são, em minha opinião, limitadas em seu poder. Uma vez que os Grandes Antigos não possuem “personas”, no sentido em que outras deidades têm, há pouco sentido em usá-los em rituais de invocação, ao menos da maneira como as invocações são normalmente conduzidas. Pode existir uma aproximação a eles entretanto pelo uso de viagens oníricas, técnicas de scrying e explorações mentais. Estas tendem a ser técnicas individuais e receberam pouca atenção dos grupos mágicos que trabalham com a corrente dos Mitos de Cthulhu, como articulado pela Ordem Esotérica de Dagon atualmente.
Um dos poucos Grandes Antigos que assumem a forma humana, ao menos temporariamente é o Caos Rastejante, Nyarlathotep. Apesar de, como os demais que lhe são semelhantes ele possuir uma forma infinita de formas, suas mais importantes aparições nos mitos de Lovecraft são como o “Homem Negro” do Sabbath das feiticeiras. O Caos Rastejante é o mediador entre os Grandes Antigos verdadeiramente alienígenas e os seres humanos que desejam adorá-los, ou no caso de Randolph Carter, que desejam conhecimentos proibidos. Nyarlathotep foi identificado com Satan e também com Aiwass. Uma de suas figuras zoomórficas é a de uma esfinge negra sem rosto -a esfinge é uma besta sobrenatural cujo poder, de acordo com Levi são as bases de toda magia – saber, querer, ousar e calar. A forma de esfinge de Nyarlathotep também sugere a necessidade de assumir formas que no entendimento vulgar são monstruosas, para se aproximar dos Grandes Antigos.
Nyarlathotep tambémpode ser entendido como uma figura iniciática: aquela cujas ações são mais conscientes e intencionais do que transcedentais ou insanas como as dos Grandes Antigos ou o comportamento semi-lucido de Cthulhu. Nyarlathotep pode aparecer em uma diversidade de cenários mágicos como os Mistérios Egípcios, Paganismo, Satanismo tradicional e moderno, Thelema, Corrente de Ma’at e é mesmo no êxtase caotico de uma rave! Ele possui as chaves do conhecimento passado e seu ‘avatar’ Dr. Dexter demonstra (no livro Robert Bloch’s The Shadow from the Steeple de Robert Bloch) um terrível conheicmento sobre o futuro. De tafo, o ‘Doutor Dexter’ faz uma conexão com o thelemita “Engenho de Guerra mencionado no Livro da Lei e as Estações de Energia Nuclear – os ‘templos’ modernos nos grandes antigos.
Sobre este assunto há um livro muito interessante, ‘Witchcraft: A Tradition Renewed’ de E.J. Jones e Doreen Valiente (publicado por Robert Hale). O texto propõe uma abordagem mais sombria e sinistra do Neo-paganismo do que aquela originalmente proposta pelos autores modernos do renascimento pagão. O sistema se aproxima do satanismo tradicional da Ordem dos Nove Ângulos e meçe o “Homem de Preto” aparece como o oficial do coven responsável pela mediação e relacionamento com outros covens. Em alguns grupos pagãos, o Homem de Preto é o sacerdote com uma função de conselheiro independente.
O culto de Nyarlathotep pode ser muito proveitoso para o magista, de muitas formas diferentes, unindo técnicas de Feitiçaria, Xamanismo ou mesmo Vodu. No trabalho onírico por exemplo, participantes podem concentrarem-se em encontrar Nyarlathotep em sonho como um Homem de Preto que os guiará para um Sabbat Astral. Pode até mesmo ser desejável criar um culto externo usando algum dos sistemas mágicos acima mencionados, no qual o contato com Nyarlathotep só se dá gradualmente, com a entidade talvez, assumindo o papel de “Chefe Secreto” ou Adepto Supremo do templo. Os contatos astrais iniciais podem ser seguidos por invocações, depois por possessões, no sentido dos “rituais de frenesi” aludidos por Lovecraft em “O Chamado de Cthulhu” e em “O Horror de Red Hook”.
by Fra. Abbadon 1
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