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Como não poderia deixar de acontecer, o manuscrito Voynich acabou sendo incorporado ao Mito criado e desenvolvido por Lovecraft e seus admiradores. Um dos pontos altos deste círculos de escritores era descrever em detalhes nítidos a existência de alguns livros como se eles fossem reais, dentre alguns temos o Unausprechlichen Kulten, De Vermiis Mysteriis, os Manuscritos Pnakóticos, Liber Ivonis, e a jóia da coroa o Necronomicon. Todos eles inseriam algum grau de realismo em seus contos misturando alguns fatos com ficção, alguma mitologia existe com eventos criativos e assim muitas pessoas ficam na dúvida se estão se referindo a algo real ou simplesmente a algo fictício. No caso do Manuscrito Voynich a confusão chega a ponto de várias pessoas confundirem o Manuscrito Voynich e o Necronomicon, acreditando que ambos de tratam de um mesmo livro.
A confusão começou quando o escritor Colin Wilson escreveu a história “O Retorno do Lloigor”, publicada pela Arkhan House. Na história o professor Paul Lang, da universidade da Virgínia, recebe o pedido de conseguir uma cópia do Manuscrito Voynich, com o desenrolar da história Lang descobre que o livro está escrito em árabe (?!?) e que o livro foi escrito por Martin Gardener e que é tanto um “documentário completo do universo” quanto “um típico livro medieval de magia, teologia e especulações que antecedem a Copérnico”, acho que não é necessário colocar aqui qual foi o nome real do manuscrito descoberto por Lang.
Uma das características dos contos de Wilson é tentar trazer o mito Lovecraftiano para a nossa realidade como se o mito não passasse exatamente disso, mas para isso o insere em um ambiente real com pessoas e fatos reais, então ele escreve que o professor (fictício) nunca ouvira falar do Necronomicon (supostamente fictício) e fica surpreso quando descobre que Lovecraft (real) supostamente o inventou (existem controvérsias a esse respeito). E a partir dai começa a comparar ficção com realidade apontando várias similaridades entre o documento Voynich (real) e a literatura de Lovecraft e Arthur Machen e diz que isso só poderia ser possível se ambos tivessem visto outras cópias do Manuscrito Voynich em algum momento de suas vidas, ou seja, Lovecraft teria tido não apenas acesso ao documento, mas teria tido acesso também a seu conteúdo e usado esse manuscrito real para criar uma versão fictícia dele em suas histórias, o necronomicon, a partir desse ponto Wilson faz todo o tipo de ligação do manuscrito com cultos satânicos, magia negra e coisas afim.
ALgum tempo depois Wilson retorna a sua idéia de unir o manuscrito Voynich e o Necronomicon em seu conto A Pedra Filosofal, sempre usando seu estilo de mesclar a realidade e a ficção a ponto de um leitor desavisado poder duvidar da existência do manuscrito Voynich ou de realmente acreditar que o manuscrito e o Necronomicon de fato são reais e um mesmo livro. O que talvez tenha servido muito não só para introduzir o manuscrito num universo onde a magia negra e o impossível acontecem como via de regra mas também para trazer a aura de livro maldito e proibido para o Manuscrito.
Como se não bastasse a ficção, existe um terceiro texto que foi escrito para passar como um estudo real, também criado por Wilson, que foi publicado juntamente com a edição de a edição de George Hay do Necronomicon, uma das farsas que circula por ai como uma das versões originais do livro que aparece nas histórias de Lovecraft. Colin Wilson foi um dos responsáveis pela criação dessa versão do livro e decidiu colocar como material extra uma introdução pseudo real e pseudo científica que explicaria uma história que termina com a descoberta deste texto maldito. O necronimicon teria sido a transcrição de um manuscrito cifrado encontrado em uma biblioteca, mas desta vez eram tabelas de letras produzidas por John Dee. Depois de muito esforço essas tabelas conseguiram ser traduzidas por um criptógrafo e ele descobre que o material cifrado de John Dee era na verdade o necronomicon. Assim como nos contos de Wilson, aqui se cria a hipótese de que Lovecraft teve acesso a uma outra cópia do volume. Desta vez o texto, novamente escrito por Wilson, e novamente apresentado como um texto real, sugere que o necronomicon tenha sido um livro cifrado encontrado na biblioteca de Dee, apesar de não escrever o nome deste manuscrito misterioso fica implícito que se trataria do manuscrito Voynich.
Assim muitos entusiastas da literatura Lovecraftiana e muitos curiosos sobre magia ou demonologia que estão começando seus estudos, ou não são tão sérios ou aplicados quanto deveriam, acabam associando o Manuscrito Voynich com todo tipo de rituais e segredos que faria dele um ótimo candidato às fogueiras da inquisão, mas isso não passa de desinformação, ou pelo menos até que se traduzam o seu conteúdo não poderemos saber do que realmente se trata este livro.
Agora não podemos deixar de considerar a possibilidade de que Lovecraft tenha de fato tomado conhecimento da existência do manuscrito Voynich, que na época era conhecido como o manuscrito cifrado. A primeira menção de Lovecraft ao necronomicon é no conto O Sabujo, escrito em 1922 e publicado em 1924, e mesmo assim a descrição é breve, quase acanhada. Voynich comprou o manuscrito cifrado em 1912, e assim que chegou aos Estados Unidos providenciou cópias e as envioupara pessoas que talvez pudesem auxiliá-lo a decifrá-lo ou a revelar algo de sua origem. Em 1921 Newbold já publicava sua solução para a cifra na qual o texto havia sido escrito e já fazia palestras sobre seu conteúdo mirabolante e fantástico, assim não seria difícil imaginar que Lovecraft tenha tido acesso às informações sobre o livro e acompanhado as ideias de Newbold serem refutadas e depois descartadas. Isso poderia ter inspirado o escritor a criar um livro antigo, misterioso e desconhecido por quase todos que trouxesse um conteúdo fantástico quase sobrenatural. Mas mesmo que este seja o caso, Lovecraft depois escreveu vários textos sobre a história do necronomicon, e todos os dados que ele fornecem não tem nenhum paralelo à história conhecida do manuscrito Voynich.
por Obito
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