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História do Manuscrito
Assim deixando de lado agora o que os estudos do documento podem revelar sobre sua origem vamos nos concentrar no que é possível saber sobre a sua história, por onde ele passou e quem o teve em mãos antes dele terminar na coleção de Wilfryd Voynich.
A história registrada do manuscrito começa com um carta enviada ao jesuita Athanasius Kircher. Kircher como muitos cientistas naturais de sua época não se especializava em apenas um assunto, ele era matemático, físico, astrólogo, alquimista, inventor e homem de Deus, entre outras coisas Kircher chegou a escrever mais de quarenta livros e dentre essas publicações um dicionário Copta e dedicou muito de seu tempo a decifrar o hieroglifos egípcios, provavelmente por causa desses últimos trabalhos chamou a atenção de um alquimista nascido na Bohemia chamado Georg Baresch que em 1693 escreveu para o jesuíta uma carta onde mencionava uma “charada digna da esfinge” que ocupava um espaço em sua biblioteca: “Por causa da natureza das ilustrações de ervas, que são muitas no códice, e a variedade de imagens de estrelas e outras que tem a semelhança de símbolos alquímicos, eu presumo que se trate de uma tratado médico, o braço mais benéfico do conhecimento humano, a parte da salvação de almas”. Esta foi a descrição da segunda carta enviada pelo alquimista a Kircher, indagando que a primeira carta talvez houvesse se perdido, dai a ausência de respostas ao enigma enviado algum tempo antes. Baresch enviou junto com a carta cópias de algumas porções do manuscrito e esperava que Kircher pudesse se interessar em tentar decifrá-lo. Aparentemente Kircher se interessou a ponto de tentar adquirir o tomo, mas Baresch não o vendeu, permanecendo com ele até o dia de sua morte. Então o manuscrito passou para as mãos de um amigo seu, Jan Marek Marci (Johannes Marcus Marci), o reitor da universidade Charles em Praga, que então enviou o manuscrito para Kircher, seu amigo e correspondende de longa data. A carta que Marci enviou junto com o livro (1665/1666) está anexada ao manuscrito hoje. Dentre as correspondências entre Marci e Kircher, Marci diz que de acordo com um amigo, Raphael Mnishovsky, o livro foi comprado anteriormente por Rudolf II (1552-1612), Sagrado Imperador Romano e rei da Bohemia por 600 ducados[1], e de acordo com a carta Mnishovsky especulava que o autor do livro teria sido o frei franciscano Roger Bacon (1214 – 1294), Marci escreveu que não iria julgar a afirmação do amigo, Mnishovsky morreu em 1644, junto com suas afirmações e evidências, se é que possuia alguma, e a compra do livro por Rudolf II deve ter ocorrido antes de sua abdicação em 1611, pelo menos 55 anos antes de Marci escrever a carta.
Neste ponto a história entra no reino nebuloso da especulação. Até então a idéia mais aceita é que, já que Roger Bacon talvez fosse o escritor do livro então a pessoa mais provável a tê-lo conseguido para então vendê-lo a Rudolf II seria John Dee. Ou pelo menos essa foi a conclusão lógica de Voynich. Dee era um matemático, astrólogo, filósofo e ocultista da corte da Rainha Elizabete I, e era famoso por possuir uma coleção enorme de escritos de Bacon. Muitos estudiosos do Manuscrito Voynich acreditam que essa possibilidade está correta. Dee e seu assistente médium Edward Kelley viverem am Bohemia por muitos anos, onde e quando tentaram vender seus serviços para o imperador. O problema com esta hipóetese, se é que podemos chamar isso de falha, é que em nenhum dos diários meticulosos de Dee existe menção à venda do livro. Também se a origem do manuscrito não for Bacon, a conexão com Dee simplesmente desaparece.
Os únicos elos que temos que podem ligar Dee diretamente ao manuscrito é a história de John Dee em Praga contada por seu filho, Dr. Arthur Dee, onde cita “um livro contendo um texto incompreensível que meu pai tentou em vão decifrar”, sem mais nenhum detalhe essa referência pode ser ao manuscrito Voynich ou a outro livro criptografado, a biblioteca de Dee foi assaltada inúmeras vezes e suas perdas foram enormes, não sabemos exatamente todo os tomos que passaram por suas mãos, desta forma não há como afirmar de qual livro seu filho poderia estar falando, mas esta incerteza também não exclui a possibilidade dele estar se referindo a este tomo. e a numeração dos fólios que supostamente apresenta a mesma caligrafia de Dee. Ambas são evidências muito superficiais. E para completar, nos registros de compras de livros de Rudolfo II não existem menções que liguem Dee ou Kelley ao manuscrito.
Uma reprodução fotostática feito por Voynich da primeira página do manuscrito logo antes de 1921 mostrava uma escrita muito desgastada que havia sido apagada. Com a ajuda de um banho químico o texto pode ser recuperado parcialmente e a inscrição “Jacobj à Tepenece” pode ser lida. Muitos ligaram este nome a Jakub Horčický de Tepenec, também conhecido por seu nome latino Jacobus Sinapius (1575-1622), especialista em medicina com ervas, médico particular de Rodolfo II e curador de seus jardins botânicos. Muitos pesquisadores, Voynich entre eles, encontraram nesta nota a confirmação de que aquele manuscrito havia de fato passado pelas mãos de Rodolfo II e assim Mnishovsky estaria correto em suas afirmações, outros chegaram a acreditar que a inscrição era a prova de que o manuscrito não havia sido escrito por Bacon e sim pelo próprio Jacobus. O problema com esta assinatura é que ela não confere com as assinaturas existentes de Jacobus em documentos como os encontrados por Jan Hurych em 2003. É possível então que o nome Jacobus tenha sido escrito na primeira página por um dono posterior do livro que apenas deixou registrado quem ele achava que fosse o autor ou então simplesmente anotou o nome de um dos donos antigos do manuscrito, como um registro histórico.
Pelos próximos 200 anos após a aquisição de Kircher não existem, hoje, menções ao livro, mas é muito provável que assim como a correspondência de Kircher ele tenha permanecido no Collegio Romano, hoje conhecido como Universidade Gregoriana Pontífice. No século XIX o governo romano decidiu confiscar várias propriedades da Igreja, inclusive a biblioteca do Collegio, e assim as tropas de Victor Emmanuel II anexaram à Italia os estados Papais em 1870. Mas pouco tempo antes disso acontecer muitos livros da biblioteca da universidade foram tranferidos para as bibliotecas particulares dos reitores e professores que estavam livres de serem confiscadas. A correspondência de Kicher estava entre esses livros, e é seguro supor que o Manuscrito Voynich também, já que ele traz até hoje o selo EX LIBRIS de Petrus Beckx, o líder da ordem jusuita e reitor da universidade na época. A biblioteca particular de Beckx foi levada então para a Villa Mondragone onde foi então encontrado por Voynich. No início do século XX o Collegio Romano aparentemente passava por algumas dificuldades financeiras e decidiu vender, de forma muito discreta, algumas de suas posses. Voynich comprou 30 manuscritos deles o livro que hoje leva o seu nome estava entre eles.
Depois da morte de Voynich em 1930, o manuscrito foi herdado por sua esposa Ethel. Ele morreu em 1960 e deixou o manuscrito para sua amiga, a Srta. Anna Nill. Em 1961 o livro foi vendido para um negociante de livros antigos, Hans P. Kraus que, não conseguindo vender o livro a ninguém, o doou para a universidade de Yale em 1969.
Notas:
[1] 600 ducados seriam o equivalente a 66.42 onças troy de ouro. Hoje no Brasil (2010) uma onça troy está avaliada em R$60,00, o livro teria sido vendido à R$ 3,985.2 reais.
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