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Obito
Pompéia é hoje uma comuna italiana que se localiza na província de Nápoles, e possui cerca de 25.000 habitantes, um número não muito maior do que havia dois milênios atrás, quando fazia parte do Império Romano. Ela foi fundada pelos Oscanos (obsci), um povo nativo da Itália que competiu com os Etruscos pela região. Depois de fundada foi colonizada pelos Gregos e acabou adotando seus costumes, seus deuses e sua arquitetura.
Depois do domínio grego, e região foi conquistada pelos Samnitas, e volta para a mão dos itálicos. Os habitantes de Pompéia parecem ter aceitado os diferentes regimes com certa moderação e não sofreram interferências dos povos que lutavam pelo poder sobre as terras onde estava localizada. Era um centro comercial desenvolvido e tinha como lema “Salve Lucrum” (bem-vindo o lucro), até cair nas mãos do Império Romano no século I a.C, e se tornar uma colônia de Roma pelos próximos dois séculos.
Pouco antes de 79 d.C. a cidade foi abalada por um tremor de terra, mas ninguém deu muita atenção a isso, até, claro, o Vesúvio entrar em erupção.
O vesúvio é um vulcão ativo que se localiza em Nápoles e tem uma altura de 1281 metros, antes de 79 ele estava silencioso havia mais de 1500 anos. Sua erupção fez com que uma camada de lava quente com 2 metros de espessura cobrisse as cidades de Pompéia e sua vizinha Herculano. Em seguida o vulcão lançou para os ares cinzas e pedras que, quando caíram formaram outra camada de cobertura que em alguns lugares chegou a 15 metros de altura. Mais de 20.000 habitantes da região morreram. Isso tudo em um período inferior ao de 12 horas. E assim a cidade inteira mergulhou em trevas e no esquecimento – até ser descoberta por acaso em 1720 por um agricultor que se deparou com um de seus muros. Desde então, as escavações proporcionaram um sítio arqueológico extraordinário, que possibilita uma visão detalhada da vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga como se ela tivesse sido congelada no tempo.
Em meio a suas construções, artefatos e obras de artes, um dos achados mais curiosos encontrado é aquilo que ficou conhecido como o Quadrado Sator. O grafitti já era uma arte antiga e conhecida em Roma nos primeiros anos do cristianismo, era usado em protestos, como forma de arte e como declaração de amor, o que não surpreende que umas das versões mais antigas do Quadrado Sator tenha sido rabiscada nas paredes do banheiro de Paquius Proculus {imgem1}. Provavelmente o Quadrado Sator (QS) não teria passado de uma simples curiosidade se não tivesse sido encontrado também em diferentes países em diferentes períodos da história.
Algo importante para compreendermos o texto a seguir é ter em mente que mesmo que os QS’s encontrados em Pompéia e Herculano serem os mais antigos conhecidos, eles apenas foram descobertos no século XVIII, e que por séculos antes disso ele esteve presente em muitos lugares.
O encontramos nas ruínas de Cirencester, na Inglaterra, no castelo de Rochemaure, na parede da catedral de Oppède em Siena, na abadia de Collepardo, em Santiago da Compostela, na Abadia de Valvisciolo em Sermoneta e na Colegiata de Sant’Orso em Aosta, em Conimbriga, Portugal, na abadia beneditina de São Pedro ad Oratorium em Abruzzo e outros lugares. Existe ainda em um papiro datado do século IV ou V d.C., que mostra que era conhecido no Egito e usado como amuleto. Pinturas de caverna da Capadócia, datadas do século IX também registram o Quadrado.
E o que é o Quadrado Sator?
Ele é um quadrado composto de palavras latinas. As palavras SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS foram colocadas de forma a serem lidas de cima para baixo, da esquerda pra direita, de baixo pra cima e da direita para a esquerda sem perder sua leitura ou significado. Contando-se todas as ocorrências, cada palavra pode ser lida 4 vezes no quadrado. As palavras, quando colocadas em sequência, formam um palíndromo, uma frase que pode ser lida da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, sem perder o significado.
Durante a história, onde quer que estivesse presente, linguistas se dedicaram a decifrar o significado da frase formada pelas palavras, mas isso se mostrou mais difícil do que imaginavam. Parte do problema com a tradução é a palavra AREPO, já que ela não existe na língua latina. A palavra é o que se chama de hapax legomenon, uma palavra que ocorre apenas uma vez em registro histórico de uma língua, nos trabalhos de um determinado autor ou num texto simples.
Como acontece, sempre que alguém se vê num beco sem saída mas quer conseguir explicar algo, as pessoas se tornaram muito criativas na tentativa de desvendar essa palavra. Uma das idéias que surgiram foi a de encará-la como um acrônimo, tornando essas cinco letras iniciais ou abreviações, algumas das curiosidades que isso produziu foram: SA(LVA)TOR A RE (X) P(ONTIFEX) O – Salve ó sumo-pontífice – ou SATOR A R(ERUM) E (XTREMARUM) P(RINCIPIO) O(MNI) – À satisfação do afamado [e] extremado princípio pleno.
Outra idéia iluminou Jérôme Carcopino, que associou a palavra AREPO latina à grega ἅπαξ – que siginificaria “uma vez”, “de uma vez por todas” – e então baseado em um comentário feito por Columella, um escritor agrícola do século I d.C., disse que ἅπαξ se originaria do Celta e quer dizer “arado” – Columella escreveu que os gauleses chamavam meio acre de terra de arepennis. E quando encontraram o quadrado em uma bíblia grega do século XIV traduzido para o – adivinhem – grego, muitos se convenceram de que a lógica de Carcopino fazia sentido. No quadrado grego as palavras foram traduzidas para: ὁσπεἱρων ἄροτρον ϰραεί ἔργα τρόχος, nesta versão AREPO aparece como Arotron, que também significava arado. Ainda surgiram aqueles que apontaram a semelhança entre AREPO e o termo AD REPO “eu rastejo” (sinônimo de repto, que deu origem a réptil), mas descartaram como coincidência.
Outros, procurando resolver ou contornar este problema, tomaram o termo AREPO como um nome próprio e assim a tradução ficou:
Sator: “Semeador”, “Aquele que planta”.
Arepo: possível nome próprio.
Tenet: “ele segura”.
Opera: “trabalhos”.
Rotas: “rodas”.
“Arepo, o semeador, mantém com destreza as rodas”, ou ainda “O semeador Arepo, com suas mãos (trabalho) guia o arado (rodas)”.
Mas o que torna o QS de fato interessante é sua estrutura e não apenas seu significado, e para a compreendermos melhor é necessário merguhar brevemente em três assuntos: Palíndromos, Acrósticos e Quadrados Mágicos.
A palavra “palíndromo” vem das palavras gregas palin -para trás – e dromos – corrida, pista. Um palíndromo é uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades que tenha a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita.
De acordo com a proposta de Rômulo Marinho, os palíndromos podem ser classificados de três formas:
Expliciti – trazem sempre uma mensagem direta, clara e inteligível, como “Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos”.
Interpretabiles – têm coerência, mas requerem esforço intelectual do leitor para serem entendidos, como “A Rita, sobre vovô, verbos atira.”
Insensati – cuidam apenas de juntar letras ou palavras sem se preocupar com o sentido, como “Olé! Maracujá, caju, caramelo.”
As frases formando um palíndromo também são chamadas de anacíclicas, do grego anakúklein, significando que volta em sentido inverso, que refaz inversamente o ciclo.
Já os acrósticos são formas textuais onde a primeira letra de cada frase ou verso formam uma palavra ou frase. Podem ser simples, com frases ou palavras que não tenham ligação entre si ou podem mesmo ser o encerramento de uma poesia. Um dos exemplos mais conhecidos é o Wilhelmus van Nassouwe, o hino nacional dos Países Baixos. A letra foi escrita entre 1568 e 1572, em homenagem a Guilherme I, Príncipe de Orange, também conhecido como Guilherme de Nassau, durante a Guerra dos 80 anos. Ele é o mais antigo hino nacional do mundo e o texto completo tem 15 estrofes e as primeiras letras de cada estrofe forma o nome “Willem van Nassov”.
Hoje temos inúmeros registros de acrósticos datados de séculos antes de cristo, como o poeta romano Quintus Ennius, que escreveu um poema em que a primeira letra de cada linha soletrava: Quae Q. Ennius fecit (Q. Ennius escreveu isto).
E finalmente temos os quadrados mágicos, que eram formados por números organizados em colunas e linhas de forma que o resultado da soma de qualquer coluna ou linha fossem sempre o mesmo. Os quadrados mágicos eram conhecidos já pelos matemáticos chineses no século VII a.C. e por matemáticos árabes no século VII d.C. O registro mais antigo que temos aparece no Pergaminho do rio Lo, conhecido como Lo Shu. Na China antiga houve uma grande enchente e o grande rei Yu tentou escoar a água toda para o mar, de onde surgiu uma tartaruga com um curioso padrão em seu casco, manchas formando números arranjados em uma tabela de 3×3, e a soma de cada coluna e cada linha de números era 15.
4 9 2
3 5 7
8 1 6
Isso foi tomando como um importante acontecimento, já que o cada um dos 24 ciclos que compõe o ano solar chinês possui 15 dias e havia uma simetria na posição dos números – trace uma reta que se inicia no 1, segue até o 2, volta para o 3 e assim em diante. Esse quadrado passou a ser usado pelo povo para controlar o rio e as águas que haviam causado a enchente em primeiro lugar.
Existem certos modelos de quadrados mágicos que recebem uma classificação especial devido a suas singularidades.
Imperfeito ou Defeituoso – o que não obedece a todas as regras de um quadrado mágico. Por exemplo, um quadrado mágico onde a soma das linhas e colunas são iguais, mas a das diagonais não;
Hipermágico – o que tem certas propriedades adicionais, além de obedecer às regras básicas. Por exemplo, um quadrado mágico onde, trocando-se duas colunas de lugar, forma-se um outro quadrado mágico; e
Diabólico – é um quadrado hipermágico com muitas propriedades ou com propriedades muito complexas. O nome diabólico tem sua provável origem na dificuldade em se formá-lo.
Agora isso tudo começa a ficar interessante quando unimos essas informações à importância atribuída a números e a palavras. Dois exemplos claros disso podem ser encontrados nos estudos que os povos semitas faziam e fazem da Torah através da gematria, do Notaricon e da Temurá e na escola pitagórica na Grécia.
Gematria é uma metatesis da palavra grega Grammateia. É baseada no relativo valor numérico das palavras. As palavras de valores numéricos similares supostamente são interpretadas mutuamente, e esta teoria se estende as orações e frases completas. Notaricon é uma palavra derivada do latim que significa Notario. Do Notaricon derivam duas formas. Na primeira, cada letra de uma palavra é tomada como abreviação de outra palavra, assim, com as letras de uma palavra é construída uma frase, A segunda forma do Notaricon é exatamente o contrário da primeira. Qualquer das letras que formam uma frase podem dar origem a uma palavra ou a outra frase. E a Temurá é a permutação. De acordo com certas regras uma letra pode ser substituída por outra que a anteceda ou que a preceda no alfabeto, e desta maneira dar forma a uma nova palavra. A crença era que Deus havia criado o universo, a realidade, através da Palavra, o Verbo que se Fez Carne. Assim cada palavra, cada letra, possui um poder que quando descoberto abre para a pessoa a Verdade Absoluta e dá o poder de trabalhar com esta Verdade. É como se ao descobrir o poder de cada letra o sábio pudesse ele mesmo interferir na realidade, recriando-a.
Um exemplo de exercício para isso é o seguinte: pode-se destacar que as três primeiras letras das primeira palavra da Bíblia, BRAShITH – no princípio -, ou seja, BRA, são as iniciais dos nomes que constituem a Trindade: BN, Bem, o Filho; RVCh, Ruach, o Espírito e AB, Ab, o Pai. Mas ainda, a primeira letra do Antigo Testamento é B, inicial de BRKH, Berakhah, bendição, e não A, que é a inicial de ARR, Arar, condena. O valor numérico da palavra Berashith, em sua máxima expressão, nos indica os anos de medida entre a Criação e o Nascimento de Cristo: B=2000, R=200, A=1000, Sh=300, I=10, Th=400, total=3910 anos em números redondos. Picus de Mirandola fez o seguinte trabalho com Berashith: unindo a terceira letra A, com a primeira B, obteve AB, Ab, o Pai. A primeira letra repetida B, mais a segunda R, dão BBR, Bebar, Através do Filho. Tomando-se todas as letras, tirando a primeira, temos RAShITH, Rashith, o Princípio. Conectando a lera Sh com a primeira B e a última Th, temos ShBTh, Shebeth, o Fim ou o Resto.
Com as três primeiras obtemos BRA, Bera, Criado. Omitindo a primeira e pegando as três seguintes temos RASh, Rash, Cabeça. Se omitimos as duas primeiras e tomamos apenas as duas seguintes temos Ash, Ash, Fogo. Tomando a quarta e a última temos ShTh, Sheth, fundação. Pegando a segunda e colocando-a anteposta a primeira temos RB, Rab, Grande. Colocando antes da terceira colocamos a quinta e a quarta, temos AISh, Aish, Homem. Juntando as duas primeiras com as duas últimas temos ThB, Theb, que comumente é utilizada como TVB, Thob, Bom. [1]
Além dos semitas muitos outros povos se interessavam pelo estudo das palavras e números, como nos mostra Pitágoras, o filósofo e matemático grego supostamente nascido em Samos no século VI a.C. Supostamente porque quase nada pode ser afirmado com certeza a seu respeito já que era alvo de inúmeros relatos e lendas atribuídos a ele tardiamente, muitos historiadores inclusive colocam em dúvida sua existência. O que se sabe com certeza a seu respeito foi o legado a ele atribuído, a escola pitagórica – cujos princípios foram determinantes para evolução geral da matemática e da filosofia ocidental cujo principais enfoques eram: harmonia matemática, doutrina dos números e dualismo cósmico essencial – Pitágoras inclusive foi o criador da palavra “filósofo”.
Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números – para eles o número (sinônimo de harmonia) era considerado como essência das coisas – e criaram assim a teoria da harmonia das esferas (o cosmos é regido por relações matemáticas). A observação dos astros sugeriu-lhes a idéia de que uma ordem domina o universo.
Segundo o pitagorismo, a essência, que é o princípio fundamental que forma todas as coisas é o número. Os pitagóricos não distinguem forma, lei, e substância, considerando o número o elo entre estes elementos, assim investigaram as relações matemáticas e descobriram vários fundamentos da física e da matemática.
O símbolo utilizado pela escola era o pentagrama, que possui algumas propriedades interessantes. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; pelas intersecções dos segmentos desta diagonal, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original exatamente pela razão áurea.
Pitágoras descobriu, por exemplo, em que proporções uma corda deve ser dividida para a obtenção das notas musicais no início, sem altura definida, sendo uma tomada como fundamental; pensemos numa longa corda presa a duas extremidades que, quando tangida, nos dará o som mais grave – e a partir dela, gerar-se-á a quinta e terça através da reverberação harmônica. Os sons harmônicos. Prendendo-se a metade da corda, depois a terça parte e depois a quinta parte conseguiremos os intervalos de quinta e terça em relação à fundamental. A chamada SÉRIE HARMÔNICA. À medida que subdividimos a corda obtemos sons mais altos e os interevalos serão diferentes. E assim sucessivamente. Descobriu ainda que frações simples das notas, tocadas juntamente com a nota original, produzem sons agradáveis. Já as frações mais complicadas, tocadas com a nota original, produzem sons desagradáveis.
Mas os estudos que empreendiam iam além da mera compreensão do mundo, se estendia à compreensão da própria existência. A escola pitagórica era conectada com concepções esotéricas e a moral pitagórica enfatizava o conceito de harmonia, práticas ascéticas e defendia a metempsicose. Teriam chegado à concepção de que todas as coisas são números e o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço basicamente intelectual. A purificação resultaria de um trabalho intelectual, que descobre a estrutura numérica das coisas e torna, assim, a alma como uma unidade harmônica. Os números não seriam, neste caso, os símbolos, mas os valores das grandezas, ou seja, o mundo não seria composto dos números 0, 1, 2, etc., mas dos valores que eles exprimem. Assim, portanto, uma coisa manifestaria externamente a estrutura numérica, sendo esta coisa o que é por causa deste valor.
Dentre os pensamentos atribuídos a Pitágoras, e difundidos por seus alunos encontramos:
– Educai as crianças e não será preciso punir os homens.
– Não é livre quem não obteve domínio sobre si.
– Pensem o que quiserem de ti; faz aquilo que te parece justo.
– O que fala semeia; o que escuta recolhe.
– Ajuda teus semelhantes a levantar a carga, mas não a carregues.
– Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem.
– Todas as coisas são números.
– A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar, é aproximar-se de Deus.
– A Evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus.
– A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se.
– A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos.
A idéia é que através da sabedoria adquirida através do conhecimento é possível não apenas compreender o mundo, mas entrar em contato com o princípio criador, a forma mais pura e primerva de Deus – muito diferente da imagem de Deus vendida pelos religiosos de modo geral. A divindade não seria uma figura antropomórfica ou com uma consciência semelhante à consciência humana, mas aquilo que permite que o universo exista, a ordem que se reflete nas leis da física e na harmonia da criação.
Assim podemos imaginar que a criação de quadrados mágicos e exercícios com palavras eram formas de exercitar a mente e tentar compreender o universo velado, as regras ocultas da criação e como tudo estaria interligado. Não apenas uma forma de mudar o mundo, mas de conseguir enxergar o mundo como ele realmente é. O Estudo da harmonia se utilizando de letras e números.
Voltando ao Quadrado Sator
Como vimos, existem registros de quadrados mágicos bem definidos, como o Lo Shu, ou os quadrados pitagóricos. Temos quadrados pré-Islâmicos na Pérsia, ligados ao jogo de xadrez. Os árabes usavam quadrados mágicos para estudar a matemática e a astronomia hindu. Na Índia eram associados com os vedas, em Khajuraho no templo Parshvath Jain encontramos o quadrado mágico
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chamado de Chautisa Yantra já que cada coluna, fileira, diagonal, sub quadrados 2×2, 3×3 e 4×4 somam 34.
Mas diferente de outros quadrados, o QS se utiliza de palavras, e o objetivo de sua criação permanece um mistério.
Além dos significados gramaticais, como vimos acima, o QS possui muitas sutilezas que merecem um estudo mais profundo, pois graças a elas o encontramos enraizado não apenas no folclore mas também na religião, além de ter chamado a atenção de escritores e matemáticos.
Sua construção é tão bem feita que possui acrósticos não apenas em suas letras iniciais, como ocorre com outros quadrados feitos com palavras, mas em cada uma de suas colunas. Veja que a primeira letra de cada uma das palavras soletra a primeira palavra inteira, as segundas letras soletram a segunda, e assim em diante. A frase composta por todas elas pode ser lida de trás para frente sem perder o significado.
As possíveis origens do Quadrado Sator
O mistério sobre sua origem e significado, aliados à sua presença em inúmeros lugares criou um mito que até hoje persiste.
Quadrados mágicos sempre acabaram encontrando seu caminho para dentro do esoterismo, da magia e da demonologia. O QS foi encontrado gravado em igrejas, em bíblias e pergaminhos egípcios muito antes de ser encontrado em Pompeia e Herculano. Por eras foi usado gravado em pratos, copos e talheres, em casas e templos pois acreditavam que espantava maus espíritos e protegia contra venenos. Isso fez com que fosse associado ao cristianismo.
Além do significado obscuro de sua sentença sobre o semeador que com mão de ferro desenvolve seu trabalho cíclico já foi relacionado com o texto dos Evangelhos como a referência apontada por Jerôme Carcopino. Além da menção ROTAS ser associado com as rodas testemunhadas por Ezequiel.
Como vimos, AREPO foi interpretado como um nome próprio do semeador, a palavra foi ligada com o Criador, aquela que Semeia e assim surgiu a interpretação: “O Criador, autor de todas as coisas, mantém com destreza as suas próprias obras”. A interpretação centra-se na parte «SATOR OPERA TENET», deixando o resto como repetição lida ao contrário.
Assim o quadrado consistiria de um palíndromo (TENET), uma inversão (SATOR e ROTAS) e uma palavra (OPERA) que pode ser invertida em um nome criado (AREPO).
No âmbito da cultura cristã, a interpretação é coerente com a grande quantidade de ocasiões e lugares onde o quadrado Sator foi encontrado.
A crença na origem cristã se intensificou quando C. Frank descobriu nele em 1924, oculto sob a forma de um anagrama, a cruz paternostre.
As letras A e O colocadas nos lados da cruz poderão ser uma referência ao Apocalipse de São João, que teve difusão na Itália, uma referência ao Alfa e Ômega.
Outra associação cristã é a de que as palavras são uma lista dos “nomes místicos” dos pregos tirados do corpo de Cristo. Em seu livro Arithmologia (roma 1665), R.P. Kircher registra uma viagem que fez para a Abissínia, onde descobriu que os Etiopianos invocam o Salvador ao enumerar os cinco pregos que atravessaram o corpo Cristo na cruz, são eles: SADOR, ALADOR, DANET, ADERA, RODAS – claramente as cinco palavras do quadrado em uma forma corrompida. Sim, havia a crença de que Jesus havia sido preso com cinco pregos na cruz. Um uso semelhante dessas palavras foi encontrado em uma tumba em Faras, na Núbia, onde as cinco palavras aparecem depois de uma frase em copta que quer dizer: “os nomes dos pregos da cruz de Cristo”. Já no século XI d.C. essas palavras eram usadas na Abissínia para se referirem aos cinco ferimentos de Cristo – nas mãos/pulsos, nos pés, na fronte por causa da coroa e o corte feito pela lança no flanco.
Em outros locais encontramos outras interpretações cristãs para o QS, na Cappadócia, na época de Constantino VII, no século X, os pastores da história do nascimento de Jesus eram chamados de : SATOR AREPON e TENETON. Enquanto em uma Bíblia bizantina, de um período anterior, vemos os nomes de batismo dos três reis magos: ATOR, SATOR e PERATORAS.
Seguindo este raciocínio muitos apontaram que o quadrado era uma forma que os primeiros cristãos tinha de sinalizar para outros como eles que estavam presentes em determinado lugar sem correr o risco de serem perseguidos, algo como um sinal secreto dizendo: “ei, se você acreditar em Cristo, e não quiser levar uma coça dos pagãos, você não está sozinho: aqui existem cristãos!”
Mas nem todos pensam assim.
Como dissemos a ligação entre o QS e os cristãos era forte até o encontrarem em Pompéia e Herculano. Isso significa que ele foi desenhado lá antes de 79 .dC. e muitas pessoas apontam que a existência de Cristãos na cidade antes da erupção do Vesúvio é um problema por causa do que se entende como cristianismo nos dias de hoje.
E essa compreensão aliada a alguns outros fatos fazem com que muitos estudiosos, como Walter O. Moeller, afirmem que o QS tem sua origem em outra religião mais antiga do que o cristianismo, o Mitraísmo.
O Mitraísmo, também conhecido como Mistérios de Mitras ou Mitráicos, era uma religião de Mistérios Sagrados, que se tornou muito popular entre os militares romanos entre os séculos I e IV d.C.
A crença começou a atrair a atenção em Roma na segunda metade do século I d.C.. Publius Papinius Statius, o poeta romano nascido em Nápoles, menciona o desenvolvimento e aceitação do Mitraísmo em seu livro Thebaid, datado do ano 80 d.C. E a evidência material mais antiga da crença data deste mesmo período, é o registro de soldados romanos que retornavam da província romana de Pannonia (próxima da fronteira húngara). Muitos destes soldados estavam envolvidos na supressão das revoltas em Jerusalém nos anos de 60 e 70 d.C.
O primeiro dos Qs, parcialmente destruído, foi encontrado em 5 de outubro de 1925 na casa pertencente a P. Paquius Proculus, situada na via dell’Abbondanza, teve sua divulgação inicialmente num artigo científico publicado em 1929. O segundo, encontrado seis anos depois, a 12 de novembro de 1936, por Matteo Della Cortepelo, especialista italiano em inscrições antigas. Ao contrário do primeiro, que não teve o texto reconhecido por causa do desgaste, esse era um exemplar completo e estava gravado nos muros da Grande Palestra (local para exercícios coletivos de ginástica), situada próximo ao Anfiteatro da antiga colônia romana.
As descobertas são importantes por dois motivos. Primeiro, trata-se dos mais antigos exemplares do Quadrado até hoje encontrados. Segundo, de acordo com os estudiosos, elas invalidam todas as interpretações baseadas numa origem cristã do objeto.
Pompéia era uma espécie de cidade de recreio para os romanos ricos, e em suas ruínas não foram encontrados outros vestígios de práticas cristãs o que confirmou a noção histórica de que, por volta de 79, o Cristianismo ainda não havia chegado àquela região. Por isso apesar de não ser impossível a crença geral é de que seria altamente improvável que houvessem cristãos na cidade antes da erupção do Vesúvio.
Se levarmos em conta que o QS é uma forma de se criptografar a cruz paternoster, temos que supor que a cruz já fosse um símbolo cristão antes do ano 79 d.C., mas o uso deste símbolo pelos cristãos não era conhecido antes da Epístola de Barnabás, que foi datada de 130-131 d.C. aproximadamente.
Outra questão levantada é a de que se o quadrado foi de fato inventado por cristãos, ele estaria escrito em grego, não em latim, já que o grego era a língua usada para se ensinar as liturgias.
O uso cristão do A e do O como Alfa e Ômega foi inspirado por passagens do Apocalipse, só que esse livro da Bíblia foi escrito entre os anos de 85 e 95, pelo menos 6 anos depois da confecção dos quadrados descobertos em Pompéia.
E finalmente, os símbolos usados pelos cristãos apareceram após o século III durante as perseguições, logo o QS não poderia ser um deles, já que na época eles usavam o peixe como símbolo para se identificarem.
Mas, além de refutar relações com o início do cristianismo, Walter O. Moeller aponta que o Quadrado Sator contém em sí elementos do Mitraísmo. como a tríade Mítrica de Saturnus-Aion, Sol Invictus e Mithra, além disso que das várias formas de se organizar as palavras do quadrado três delas tem um significado que estão ligadas ao pensamento Mítrico, além de mostrar que as palavras como ROTAS possuíam significados relacionados à religiões fenícias e sírias. Na verdade os estudos de Moeller apenas criaram uma argumentação que às vezes parece tão forçosa quando a argumentação cristã é inconclusiva.
Como vimos um dos quadrados foi descoberto nos muros da Grande Palestra, um local utilizado para exercícios militares dos iuvenes romanos, e como vimos o Mitraísmo se tornou muito popular no exército na época. Moeller também afirma que a cruz TENET dentro do quadrado mostra uma origem pagã já que a cruz era usada por egípcios, o Ank, e se tornou em Roma o símbolo da vida futura, assim como a crux gammata – também conhecida como swastica – era bem conhecida, e nenhuma teria relação com os cristãos. Os Assírios usavam o símbolo da cruz no culto ao Aion Alexandrino e ainda levanta a possibilidade de cruzes serem tatuadas, ou marcadas, nas testas dos sacerdotes de Isis assim como nos iniciados nos mistérios de Mitra.
Cruzes eram comuns em monumentos erigidos em honra a Mitra, por ser um símbolo solar ela era associada a entidades solares.
Nos atentando para as palavras temos a associação da palavra SATOR como referência ao deus do tempo Saturnus Aion, que era representado como um jovem sendado em uma roda (ROTAS) ou segurando uma.
O início e o fim do ano eram marcados por Sol e Aion, respectivamente, e Moeller não deixa passar desapercebido que TENET começa e termina com a letra T, e compara esses T com a letra Tau hebraica, que era escrita como uma crux quadrata (+) ou uma crux decussata (X) – isso ainda fez com que alguns estudiosos descartassem o Mitraísmo e o Cristianismo, e atribuissem a confecção do QS aos Judeus. Mas o Tau era usado também por outros povos como os Fenícios, os Libiofenícios e o Sírios, com o mesmo significado de fim.
Na Algéria foi encontrada uma inscrição dedicada ao Sol Invictus, que começava com a letra X, pesquisadores, como M. Janon, identificou este símbolo tanto com o símbolo solar da crux decussata, quanto com a abreviação de Χρόνος (Cronos), que era o equivalente grego de Saturno. Assim o deus SATOR – Saturnus Aion – como divindade solar, poderia ser considerado o PATER NOSTER, o Pai Nosso, que está no céu, pois seu símbolo é uma cruz solar que é desenhada tanto como um + quanto como um X. Assim o PATER NOSTER não seria uma referência ao cristianismo, mas à deidade de uma religião ainda mais antiga, um Deus da eternidade que já era referido como o começo e fim de tudo, como o Alfa e Ômega, ou na tradição judaica o Aleph e o Tau.
Quanto à palavra AREPO, Moeller simpatiza com as idéias propostas por Carcopino, defendendo a origem céltica da palavra “arepos”, e afirma que trocar ou repetir vogais em palavras e frases era uma prática comum encontrada na liturgia Mitraica. Além dessas relações Moeller conseguiu criar várias suposições baseadas em estudos da numerologia do quadrado combinada com suposições que as relacionam com as três divindades Mitraicas e costumes romanos pagãos da época.
O problema é que tentar refutar qualquer relação cristã com o quadrado apenas cria mais confusão, já que as noções que muitas pessoas, inclusives estudiosas, tem sobre o cristianismo primitivo estão erradas, ou não levam muitos fatos em consideração.
Aqui se faz necessário um parênteses de que o objetivo desta parte do texto não é refutar a origem Mitraica ou pagã do QS em prol da origem cristã, mas para uma riqueza maior na informação história que cerca a época e o local onde o quadrado foi encontrado.
Os primeiros Cristãos, os Judeus cristãos.
Temos que ter em mente que os primeiros cristãos não faziam parte de uma nova religião, para eles Cristo era o Messias que os profetas haviam prometido há séculos, o líder Judeu que viria para socorrer o povo de Deus. Esses primeiros cristãos se consideravam judeus, como qualquer outro. E isso causou um “apagão histórico” sobre eles.
Esses primeiros cristãos frequentavam o Templo e seguiam os ritos religiosos, inclusive a circuncisão. Mas aos olhos dos Judeus eles eram uma seita, um grupo à parte. Já os cristãos se enxergavam como os verdadeiros Judeus, que haviam reconhecido o Messias e por isso se tornaram herdeiros das promessas do Deus de Abrahão, Isaac e Jacó. Isso por si já era um problema, já que para o Judaísmo os cristãos eram desviados e haviam abraçado um falso Messias e para os judeu cristãos aqueles que não reconheciam em Jesus o Ungido prometido eram aqueles que se recusavam a aceitar a vontade de Deus. Este problema se agravou ainda mais quando o cristianismo começou a crescer e cada vez mais pagãos começaram a aceitar a fé cristã e a se converter.
Uma vez que os judeus cristãos observavam as leis judaicas questões como: os cristãos convertidos do paganismo devem ser circuncidados e assim fazer parte do povo Judeu?
Para entender a importância disso devemos lembrar que a Lei Judaica é clara a respeito disso:
“quando uma mulher der à luz um menino será impura durante sete dias, como nos dias de sua menstruação. No oitavo dia far-se-á a circuncisão do menino.” (Levítico 12:2, 3)
A circuncisão se tornou um sinal da Aliança entre Deus e os descendentes de Abrahão, e é considerado um ritual onde o menino é inserido no povo eleito. Dentro da crença judaica, Deus tornou a prática obrigatória para Abrahão um anos antes de Isaque nascer e todos os homens na casa de Abrahão, tanto dos seus descendentes como dos dependentes, estavam incluídos, e todos os seus escravos receberam em si este “sinal do pacto” onde entregavam a Deus a sua aliança de carne (anel prepucial) mostrando a reciprocidade deste ato de fé em seu corpo (levítico).
A desconsideração deste requisito era punível com a morte.
A circuncisão torna-se um requisito obrigatório na Lei dada a Moisés, como vimos na passagem do Levítico acima, e isto era tão importante que, se o 8.º dia caísse no dia de Sábado, teria-se de realizar a circuncisão. Inclusive chamavam figurativamente aos judeus que não eram sensíveis às palavras dos profetas de “incircuncisos”. (Jeremias 6:10; Atos 7:10)
Além disso os Judeus da época não viam com bons olhos a idéia de pagãos começarem a se considerar judeus depois de serem convertidos por uma seita que eles não consideravam parte da religião oficial. Quando os novos cristãos provenientes da Palestina passaram a defender a necessidade da “judaização” dos novos convertidos, ou seja, após o batismo, que fossem também circuncidados e passassem a obedecer a outras prescrições do Antigo Testamento criou-se um dilema. Para resolver isso enviaram Paulo e Barnabé a Jerusalém para que o caso fosse estudado pela comunidade e se chegasse a um consenso.
Ocorre então o Concílio de Jerusalém, no ano 49/50, quando os apóstolos se reúnem com os anciãos para solucionar as dúvidas que as novas conversões estavam criando. Neste que ficou conhecido como Concílio dos Apóstolos, Paulo defende a liberdade dos cristãos diante das leis judaicas, a evangelização livre das obrigações da Lei, foi reconhecida e aprovada por Pedro, Tiago e João e a decisão de não obrigar os pagãos convertidos à circuncisão foi publicada no Decreto dos Apóstolos. Assim se cria as duas formas legítimas de cristianismo da época: a Igreja Judaica-Cristã e a Igreja Pagano-Cristã.
Mas a história se complica mais. Se na Antioquia se torna fácil conservar a liberdade cristã sem se submeter à Lei Judaica, na Palestina a coisa era bem diferente. Os preceitos de Moisés eram a lei pública e desobedecê-los era o mesmo que trair a própria pátria que estava sofrendo sob o julgo romano. Em outras palavras, morar em Israel era seguir a Lei.
Em Jerusalém os judeus cristãos passam a ter uma atitude ambígua, eles viviam com os pagãos convertidos e tentavam levar a vida de judeus observantes. Com o tempo passam a se distanciar dos convertidos preferindo a vida judaica cristã. A situação era ainda mais complexa por causa das revoltas internas realizadas pelos judeus e pela nova invasão romana que se precipitava. Naquele momento abandonar a Lei do povo parecia para os judeus cristãos uma traição ao sangue que corria em suas veias. Surge a necessidade então de se separar a comunidade Cristã da comunidade política de Israel. É quando Paulo afirma que a salvação pela fé em Cristo não era afetada pela prática da Lei, assim acreditar em Cristo, independente de sua origem – seja judaica ou pagã – não era uma traição ao judaísmo.
Entra em cena o general romano Tito, que no ano 70 conquista Jerusalém e destrói o Templo. Sem o Templo o símbolo maior da fé Judaica não existe mais, e ocorre uma migração em massa de Judeus da região, a comunidade cristã se retira para Pelas, na Transjordânia. Isso faz com que o Cristianismo se distancia cada vez mais da tradição religiosa de Israel. Isso acarreta numa separação definitiva entre a nova Igreja pregada pelos cristãos e da Sinagoga. Essa separação começa a criar um anti semitismo por parte de um grupo e um anti cristianismo por parte de outro. Em Roma cristãos são perseguidos graças a denúncias de judeus, e judeus passam a ser perseguidos por cristãos. Para o judeu, abraçar o cristianismo é ser traidor de Israel, para o Cristão ser Judeu é ter sido responsável pela morte de Jesus.
Essa raiva mútua chega ao cume com o primeiro Concílio Ecumênico em Nicéia no ano de 325 onde se afirma que “nós cristãos não queremos ter nada em comum com os Judeus”.
Outra causa para esse silêncio histórico vem da época em que os judeus cristãos foram para a Transjordânia, chegando lá surge uma separação, e um grupo se separa do cristianismo paulino que estava se desenvolvendo, formando uma comunidade própria. Recebem o nome de Ebionitas – os “humildes” – que se distancia tanto dos judeus quanto dos nazarenos, inclusive Orígenes afirmou que Ebionita era o nome recebido por um Judeu que aceitava Jesus como o Ungido. A separação dos Ebionitas dos outros cristãos fez com que suas crenças permanecessem ligadas ao judaísmo e com isso passaram a rejeitar muitas das crenças que com o tempo passaram a fazer parte da crença desenvolvida por Paulo, por exemplo eles não acreditavam na divindade de Jesus, no nascimento de uma virgem, na ressurreição ou que a morte de Cristo havia livrado a todos do pecado, também não aceitavam a visão de uma divina trindade e que Jesus havia sido escolhido por Deus graças às suas virtudes e bondade em vida após ser batizado, quando foi então ungido pelo Espírito Santo.
Estes fatos fazem com que os Judeus Cristãos tenham se tornado um embaraço tanto para os Judeus da época quanto para os cristãos que estavam se formando, um grupo de hereges tanto para a religião do passado quanto para a do futuro.
E agora combinamos isto a outro fato interessante relativo aos cristãos primitivos: o símbolo da cruz.
Criou-se a crença histórica de que os cristãos não usavam a cruz como símbolo de sua religião nos primeiros séculos, que ela passa a ser usada depois do século II, criando-se assim uma linha divisória de que o símbolo cristão dos primeiros séculos era o peixe e que a cruz só passa a ser utilizada depois do século II. Essa divisão não é real, é simplesmente um postulado histórico sem bases reais, e vamos ver agora o porquê disso.
Tanto os cristãos quanto os Judeus atribuem o uso da cruz pelos seguidores de Cristo como uma prática que surgiu depois do segundo século. O Expository Dictionary of The Neew Testament Words afirma que:
“Por volta dos meados do 3ºséc. A.D, as igrejas ou se haviam apartado ou tinham arrematado certas doutrinas da fé cristã. A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, aceitavam-se pagãos nas igrejas, à parte de uma regeneração pela fé, e permitia-se-lhes em grande parte reter seus sinais e símbolos pagãos. Assim se adotou o Tau ou T, na sua forma mais frequente, com a peça transversal abaixada um pouco, para representar a cruz de Cristo.”
A Enciclopédia Judaica diz:
“Por volta dos meados do 3ºséc. A.D, as igrejas ou se haviam apartado ou tinham arrematado certas doutrinas da fé cristã. A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata, aceitavam-se pagãos nas igrejas, à parte de uma regeneração pela fé, e permitia-se-lhes em grande parte reter seus sinais e símbolos pagãos. Assim se adotou o Tau ou T, na sua forma mais frequente, com a peça transversal abaixada um pouco, para representar a cruz de Cristo.”
Agora deixando de lado isso e voltando ao que já expusemos, a letra Tau hebraica, que era escrita como uma crux quadrata (+) ou uma crux decussata (X). Na bíblia há uma menção de Ezequiel à letra Tau como uma marca feita para separar os homens bons dos maus, aqueles que seguiam a Lei de Deus daqueles que que se perdiam em práticas abomináveis:
“Passa pela cidade, por Jerusalém, e marca com um TAU a fronte dos homens que gemem e choram por todas as práticas abomináveis que se cometem”. (Ezequiel 9, 1-7)
Na Bíblia, ou seja na tradição judaica, o ato de marcar alguém, de assinalar alguém, é o mesmo que lacrar, fechar dentro de um segredo, é confirmar um testemunho e comprometer aquele que possui o segredo. O Tau era visto como o selo de Deus por muitos Judeus, significava estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção. É segurança e redenção, voltar-se para o Divino, sopro criador animando nossa vida como aspiração e inspiração. O uso da cruz então não estava associado a Cristo, era usado muito antes por Judeus e não estava relacionado ao instrumento de tortura dos romanos, mas sim à afirmação de consagrar a própria vida a Deus.
Ainda existem elos que mostram como o Judaísmo herdou o uso da cruz Tau de outros povos mais antigos. Ainda no Egito a cruz em forma de Tau era utilizada para simbolizar o mistério do iniciado diante das provas a que deveria se submeter todo aquele que almejasse o autoconhecimento, esse iniciado recebia o nome de Chrestos, que tinha o significado de “Homem das Dores”. Ela foi encontrada nos objetos do faraó Achenaton. A cruz ainda era usada como símbolo na Índia, na Síria e Pérsia fazendo com que o uso da cruz como símbolo religioso em tempos pré-cristãos e entre povos não-cristãos provavelmente pode ser considerado como quase universal, e em muitíssimos casos ligava-se a alguma forma de culto da natureza.
Logo, o uso da cruz era antigo, are relacionado com a deidade e com a religião e foi adotado pelos Judeus na época do profeta Ezequiel. Quando surgem os Judeus Cristãos eles já estavam cientes do uso da cruz, e não a utilizavam como representação da morte de Cristo, mas da relação que possuíam com Deus, assim não é de se admirar que tenha sido encontrada em artefatos na região da palestina que datavam de antes do século II.
Como veremos adiante apesar de Pompeia ser uma cidade de veraneio Romana sofreu grande influência dos Judeus, isso não exclui a possibilidade de judeus Cristãos também existirem por lá, uma evidência que talvez aponte para isso foi um achado na cidade de Herculano, vizinha de Pompéia. Em 1939 foram efetuadas escavações em Herculano, que levaram a descobrir a marca de uma cruz sobre uma parede na parte reservada aos escravos de uma casa nobre. Em torno da cruz ainda se viam os pregos que sustentavam a portinhola ou a cortina que escondia o símbolo. Chama a atenção o fato de que a Cruz se encontrava num alojamento de escravos, oculta por medo de perseguições ou por temor de zombaria. Sabe-se que o escândalo ou a loucura da Cruz era contestado pelos intelectuais do Império Romano, de modo que eram escarnecidos os homens mais simples que lhe davam crédito.
Assim a idéia de judeus cristãos na região da pompéia não se torna tão problemática quanto parece, e se ligarmos isso às as evidências mais antigas do mitraísmo estavam relacionadas às revoltas judaicas dos anos de 60 e 70 d.C. Isso cria um ponte interessante que pode mostrar como o Quadrado Sator pode ter migrado do Mitraísmo para os primeiros judeus cristãos ou vice-versa.
Sem contar que isso derruba muitos dos argumentos que se criaram para desvincular a origem do QS do cristianismo. O que não significa que ele de fato tenha se originado por mãos cristãs, mas mostra que talvez a gana de se oferecer uma origem religiosa desvinculada do cristianismo apenas foi responsável pelo surgimento de mais desinformação a seu respeito, mas como veremos a seguir a ligação da cruz com a religião não pára no cristianismo ou no mitraísmo.
Outra desmistificação que surgiu foi sobre a cruz paternoster, quando estudiosos como Wlider Bentley provaram como é fácil construir frase a partir do QS e criou quatro exemplos para mostrar isso:
S I T A S S A T U M S E R E T M E T A R I R E P A A R E B U E D O N E E A E R E T E N E T T E N E T R O T O R T E N E T A P E R I U B E R A E N O D E A R E A E S A T I S M U T A S T E R E S R A T E M
“Irepa detém as senhoras situadas a ser suficientemente amarradas. Arebu tem uma raça que continha, as senhoras mudas e [suas] frutas [tetas] fartas. Ela pleita e você moe, Eu me voltei a isso, Oh homem da Trácia, pelos teus argumentos eu medirei a balsa, ela, amante da área, deve moer.”
Seguindo o mesmo raciocínio do quadrado o autor pegou ao menos uma palavra sem significado e a tratou como nome próprio, isso mostraria que o paternoster seria apenas mais uma combinação que faria sentido, coincidentemente ligada à religião cristã.
A crença na origem judaica.
Sabemos ser um fato que um grande número de Judeus se mudaram para a pompéia e seus arredores em 62 a.C., J. P. Frey escreveu o livro ““Les Juifs à Pompéi” que trata as influências judaicas na região nesta época.
Desde a época de Moisés os judeus sempre foram acusados de ser charlatões, supersticiosos e metidos com magia e eram conhecidos por usar amuletos e talismãs mágicos, feitiços e charadas. Vimos que a crença judaica no poder das palavras é muito forte, tanto hoje como naquela época, para eles não apenas as letras do alfabeto eram o receptáculo de toda a sabedoria de Deus, como as palavras também estavam carregadas de poder. Um palíndromo seria uma palavra especialmente poderosa.
O preconceito mostrado acima apenas reforça a forma com que os Judeus da época lidavam com palavras e que criavam muitos amuletos ou diagramas com elas. Uma origem judaica do quadrado fornece várias explicações satisfatórias para as descobertas associadas com as palavras, que deixariam de lado muito do abuso criativo usado para explicar a origen cristã ou mítrica.
Apesar da simbologia do Alpha e Ômega não ser usada no cristianismo antes de surgir no livro do Apocalipse (Apo 5:8) na segunda metade do primeiro século (depois da erupção do Vesúvio) ela existe nos livros judaicos da bíblia (Êxodo 3:14, Isaias 41:4 e 44:6). As letras Aleph e Thau (primeira e última letras do alfabeto hebraico) também são usadas no Talmude para simbolizar a totalidade completa, desta forma que essas letras aparecessem em um diagrama judeu seria muito plausível, em particular se contarmos a proximidade dom os T’s de TENET, que seriam explicados não como uma cruz cristã, mas como a forma latina da letra hebraica Thau, um símbolo de salvação que, na visão de Ezequiel, salvou os justos do anjo vingador. Esta marca surge na sua forma arcaica como uma cruz (+) e está presente em muitos ossuários dos períodos helênico e romano, especialmente em Jerusalem.
A posição central do N pode ser significante também. Os Judeus acreditavam que pronunciar o “Nome” criava muito poder, em especial se fosse o Nome Divino. A letra inicial da palavra nomen, N, pode servir como o equivalente latino da palavra שם o Nome Divino distinto, fonte do divino poder e centro e origem de todas as coisas.
A hipótese judaica também satisfaz o diagrama da cruz Paternoster, não apenas o A e o O e o N central se encaixam na ultura religiosa judaica, como a estrutura da cruz mostra claramente a forma de um Thau arcaico. O mais significante é o uso do Pater Noster. Longe de ser uma criação cristã, o título era usado por Judeus há muitos séculos. Nas revisões Babilônica e Palestina do Schemone Esre Deus é chamado, entre outras coisas, de Pai Nosso, e outras evocações para o Pai Nosso são encontradas nas preces do Rabi Eliazar (morreu aproximadamente em 90 d.C.) e do Rabi Akiva (morreu em aproximadamente 135 d.C.), é possível que então a invocação Pater Noster fosse familiar aos Judeus que falavam latim e viviam na Pompéia.
A questão que permanece é a interpretação, do ponto de vista judeu, de ROTAS OPERA TENET AREPO SATOR. Apesar dos esforços de tentar ligá-las às imagens de Ezequiel e o conceito do Logos como alguém que anda em uma carruagem, não existe uma explicação convincente. A “magia” do quadrado está na sua simetria, imaginar que as palavras, especialmente AREPO, não possui significado em latim, o que tornar qualquer interpretação muito superficial.
E claro que o demônio não poderia ficar de fora. existem aqueles estudiosos que afirmam que o quadrado é a obra de adoradores do diabo, dispostos a trazer seus vícios para a terra e assim entregar-lhe o reino do mundo. Das várias frases que surgiam das diferentes combinações das letras, encontraram evocações e orações satânicas:
SATAN, ORO TE, PRO ARTE A TE SPERO
(Satã, oro a ti e te espero para o ofício)
SATAN, TER ORO TE, OPERA PRAESTO
(Satã, três vezes oro a ti, oferencendo-lhe obras)
SATAN, TER ORO TE, REPARATO OPES
(Satã, três vezes oro a ti, pela recuperação de riquezas)
Logo surgiu a crença de que o QS havia sido criado também como representação das datas em que se realizam festas satânicas – como a festa de Opera, festa de Sator e outras mais, onde supostamente se cultuaria Lúcifer – combinando-as com as letras do palíndromo que representariam capitães da terceira hierarquia satânica. E então durante a histeria satânica o quadrado em igrejas não eram mais louvores a Deus, mas a sinalização de que apesar de parecer um lugar de culto cristão ali se realizavam os festivais de culto sombrio.
Em um estudo sobre o quadrado na revista Lúcifer, Blavatsky escreveu no capítulo sobre Números, Seu Poder Oculto:
“Será notado que o grande número de Sol é 666, chamado Sorath, SURT, o número da Best, sobre o qual muitas tolices já foram escritas. Um quadrado famoso, de dimensões cinco vezes cinco, que soma em quase todas as direções 666 é formado pelas palavras místicas sator, arepo, tenet, opera, rotas. Destas a primeira, a terceira e a última somam 666, mas opera e a sua forma reversa somam apenas 356.”
Além de uma ligação direta com o satanismo, muitos entusiastas das fogueiras santas atribuíram sua origem e uso ao paganismo. Eitrem em seu livro “The SATOR AREPO Formula once more” aponta para o fato do N central seria a origem da leitura, formando assim a palavra NET. Isso faria com que o texto fosse lido como NET, e a tradução em italiano: “Ela (uma deidade, demônio ou a própria inscrição) tece seu trabalho revolvendo”. Mas nenhuma dessas teorias deu qualquer explicação convincente.
E ainda nos restam os céticos. Muitos daqueles que se aprofundaram na pesquisa da origem do quadrado afirmam que:
“A primeira versão do Quadrado Sator (iniciada com SATOR) ainda é, depois de quase 2000 anos de existência, o único quadrado de palavras que forma uma frase completa e inteligível.”
“Uma segunda disposição de palavras em forma de quadrado só veio a aparecer em 1859, numa edição da revista acadêmica britânica Notes and Queries (Notas e Indagações) portanto, 1780 anos depois do primeiro exemplar conhecido do Quadrado Sator.”
“Talvez seja esse o maior mistério associado ao Quadrado: por que essa disposição criativa de letras não gerou sequer um outro quadrado de palavras, mesmo de palavras menores, durante 17 séculos? Por que o instinto de imitação do ser humano, ou mesmo a sua criatividade, não o levaram a fazer experiências nesse sentido, que tivessem ficado registradas em documentos acessíveis a historiadores? Povos e mais povos travaram contato com o Quadrado. Disso nada resultou, que a História tenha documentado.”
Provável Origem do Quadrado Sator
Até agora dentre todas as afirmações e lendas que surgiram ao redor do QS temos uma evidência que se destaca acima de todas quando buscamos suas origens: a falta de acesso ou de interesse dos pesquisadores a informações sobre outras descobertas feitas em Pompeia e Herculano quando o QS foi encontrado. O livro Pompeii de Melvin George Lowe Cooley, traz uma relação de achados nas cidades e nos mostra muitas coisas interessantes. Uma delas é que grafites e pixações – ou vandalismos em bens públicos e provados se preferir – eram muito comuns na época. Inscrições de “FULANO ESTEVE AQUI” apareciam em muitos lugares como GAIUS PUMIDIUS ESTEVE AQUI, datado de 78 a.C. e outras inscrições como:
“Pyrrhus para seu colega Chius: Estou triste pois ouvi que morreste; então adeus”
“Secundus sauda sua própria Prima em todos os lugares. Amada, eu peço que você me ame”
“Lucius Istacidius, eu tomo como desconhecido todo aquele que não me convidar para jantar”
Mas não apenas frases era comuns, recadinhos tirando sarro como:
Successus o tecelão ama a mulher que serve vinho na estalagem chamada Iris, que não gosta dele, mas ele pede e ela sente nada além de pena. Um rival escreveu isto. Adeus”
E também jogos com palavras como podemos ver na assinatura do arquiteto Crescens:
No grafite do minotauro feito na Casa dos Lucretii:
E no grafite que ficou conhecido como O Jogo da Serpente, feito perto da entrada de uma casa, onde todas as quatro linhas do poema começam com a letra S.
“Se qualquer um tiver a oportunidade de observar o jogo da serpente,
No qual o jovem Sepumius mostrou toda sua habilidade,
Não importa que você seja um espectador do palco teatral ou um devoto dos cavalos,
Que seja você sempre equilibrado como ele é em todos os lugares.”
Assim como nos dias de hoje mostrar o seu talento na rua com intervenções era algo comum por essas evidências, não era diferente com a prática de quadrados de palavras. Além do QS ele havia outro quadrado semelhante só que com as palavras:
R O M A
O L I M
M I L O
A M O R
Que significa:
ROMA – Roma
OLIM – uma vez
MILO – nome próprio
AMOR – amor
Milo amou uma vez em Roma.
A estrutura é muito similar, ao invés de um quadrado 5×5 ele possui quatro colunas e quatro fileiras, uma palavra é um nome próprio e a frase composta é um palíndromo.
Mesma cidade, mesma época.
Coletando outras evidências podemos ver que a cultura de quadrados de palavras também não era nova na época, nem restrita àquele local.
Os incas eram uma tribo originária da região do lago Titicaca, situado entre a Bolívia e o Peru. Pesquisas ainda em curso já comprovam a existência de uma civilização avançada “Norte Chico” (Norte Pequeno, em espanhol), estabelecida em três vales ao norte de Lima, capital do Peru, que teriam ascendido em cerca de 3000 a.C. e perdurado por cerca de 1.200 anos até sua queda.
Esta cultura já construía pirâmides de até vinte e seis metros de altura e grandes complexos cerimoniais. Há evidências de que a cultura do “Norte Chico” tinha religião de culto antropomórfico, praticava a agricultura irrigada e o comércio, notadamente troca de algodão plantado por peixe, com povos das planícies.
Por volta de 1800 a.C., este povo deixou a região, posteriormente (cerca de 800 a.C.) surge em Chavin de Huantar o embrião do estado teocrático andino; do ano 50 até cerca do ano 700 a civilização mochica floresce, e aproximadamente no ano 1000 explode a cultura Tiahuanaco. Os incas, originários das montanhas do Peru, expandiram o seu controle a quase toda região dos Andes. A civilização inca alcançou o seu apogeu no século XV, sob Pachacuti. Entre as suas realizações culturais está a arquitetura, a construção de estradas, pontes e engenhosos sistemas de irrigação.
E foi nesta civilização que surge outro quadrado de palavras.
O palíndromo em que ele seria baseado, formado por palavras do idioma inca (o quíchua), tem a existência confirmada por trabalhos científicos respeitáveis. E não há dúvida que a disposição de suas palavras em forma de quadrado cria uma inscrição semelhante à do QS. Entretanto, o uso do palíndromo como um quadrado de palavras, no tempo dos Incas, ainda é uma questão em aberto.
Em 1533, Cuzco, a capital Inca, caiu ante os espanhóis comandados por Francisco Pizarro, marcando o fim do único império existente na América antes da conquista européia. A frase que formaria o quadrado de palavras inca faz parte da lenda “O Pastor e a Filha do Sol”, uma história da amor proibido que finda com os dois amantes unidos e transformados em estátuas. Num trecho da lenda, Chuqui-llantu, a Filha do Sol, sonha que está contando a um pássaro sobre o amor à primeira vista que sentiu pelo pastor Acoya-napa. O pássaro sugere que ela se apresente diante de quatro fontes d’água e cante “aquilo que está mais gravado na memória”. Se o canto for repetido pelas fontes, o desejo de unir-se ao amado será satisfeito. A frase escolhida por Chuqui-llantu é uma inscrição gravada numa placa de prata que viu na testa de Acoya-napa: “Micuc isutu cuyuc utusi cucim.”
A frase também aparece na clássica obra Origen e Historia de los Incas del Perú, de Martín de Morúa, lançada na Espanha em 1590. Repare que se trata de um palíndromo, isto é, uma frase que pode ser lida nos dois sentidos, sem alteração de significado. E ela se presta perfeitamente à formação de um quadrado de palavras. Assim como o Quadrado Mágico Sator, tem 5 palavras de 5 letras:
M I C U C
I S U T U
C U Y U C
U T U S I
C U C I M
Conta a lenda que utusi era o nome do ornamento de prata onde a frase estava gravada. Na placa, duas figuras comiam um coração. Micuc significa, em quíchua, “aquele que come”. E a idéia de eco, implícita na resposta das fontes, reflete a natureza da frase, que pode ser lida nos dois sentidos.
Assim como no caso do Quadrado Sator, há divergências quanto à tradução do palíndromo inca, não mencionada na lenda. Estas duas confusas variantes podem dar uma idéia de como os autores divergem: “Um pedicelo (haste de flor ou fruto) que come o Utusi que se agita traz felicidade”; e “A felicidade é esse estranho animal que se come ao pássaro que se agita”. Provavelmente, trata-se de um mero jogo de palavras incluído como frase “mágica” numa lenda, já que os estudiosos da língua quíchua reconhecem apenas “micuc” (“aquele que come”) e “cusim” (“feliz”) como palavras legítimas do idioma.
No século III depois de Cristo viveu um escultor chamado Moschion, pouco se sabe de sua vida, mas seu talento o imortalizou. Ele foi o responsável pelo mais complexo jogo de cruzamentos de palavras em grego.
Apesar de tecnicamente a inscrição da estela criada por ele não apresentar uma disposição de palavras horizontais e verticais formando um quadrado existe nela o cruzamento de palavras – a estela de Moschion é mais um quadrado de letras com cruzamento de palavras do que um quadrado de palavras tradicional.
A estela expressa um tributo a Osíris e sua inscrição destaca-se pelo tamanho e pela complexidade: enquanto o Quadrado Sator possui apenas 5 palavras/linhas de 5 letras cada uma, a estela de Moschion contém 1521 casas, dentro das quais foi gravada, em cada uma delas, uma letra grega, resultando num quadrado de letras de 39 casas horizontais por 39 casas verticais. Outra novidade fica por conta de como se chega ao texto desse tributo. O leitor deve começar pelo “O” central e continuar em qualquer direção não diagonal (para o alto, para baixo ou para um dos lados) até a última letra, e então seguir pela margem. Outra forma de leitura utiliza um ziguezague horizontal/vertical ou vice-versa, de 3 em 3 casas. Em ambos os casos, aparecerá seguidamente a frase: “De Moschion para Osíris, pelo tratamento que me curou o pé”. Como a frase se repete e os sentidos de leitura são múltiplos, produz-se o cruzamento constante de palavras. Abaixo desse grande quadrado de letras, a estela apresenta outras frases em forma de versos.
Este exemplo de quadrado mostra como uma pessoa pode dedicar um estudo complexo e fazer uso da engenhosidade a algo tão mundano como um pé curado, não necessariamente a um ato de adoração. Apesar de ser posterior ao QS e ao quadrado ROMA temos que nos lembrar que eles foram descobertos apenas muitos séculos depois, mesmo com as outras inscriçòes SATOR em mosteiros e papiros, por anos a estela Moschion foi considerada o quadrado de palavras mais antigo. Independente disso isso nos mostra que a idéia de fazer esse tipo de jogo de palavras não era desconhecido do mundo antigo.
Semelhante à estela, foi encontrada na Basílica de San Juan de Santianes, nas Astúrias a inscrição “Silo Princeps Fecit” – o príncipe Silo o fez. Sua construção é atribuída ao Príncipe Silo, que reinou entre 774 e 783. seguindo a tradição de jogos de palavras na forma de quadrado, a inscrição é feia em um quadrado do tipo 19×15, e assim como a estela apenas a frase pode ser lida. A “pedra labiríntica de Silo”, como ficou conhecida, chegou a ser usada por Salvador Dali em um de seus quadros, e existe a controvérsia relativa ao número de maneiras diferentes de se ler a frase: 250 para alguns, e até 2024 maneiras para outros. O processo de leitura guarda semelhança com o da estela de Moschion por começar na letra central (no caso, o S) e não utilizar as diagonais. Mas, em vez de haver uma quebra obrigatória no sentido, todas as opções ficam disponíveis ao leitor: mudar de direção em qualquer uma das casas seguintes; ir até a última letra e depois seguir até um canto do quadrado; fazer um ziguezague contínuo, do centro a um canto; e assim por diante. Todos esses caminhos levam a “Silo Princeps Fecit”, desde que a letra final situe-se numa das extremidades.
Embora a pedra labiríntica esteja associada ao nome do rei, pela denominação tradicional, o mais provável é que a inscrição tenha sido criada por um súdito do monarca, encarregado de realizar essa pequena proeza intelectual.
Como vimos a idéia de brincar com palavras e colocá-las na forma de “quebra cabeças” era muito comum na antiguidade, o Qs provavelmente foi o resultado de um desses jogos, que acabou sendo atribuído a um significado religioso e ganhou características mágicas, mesmo que essa não fosse a intenção do criador. Se vamos levar em conta a idéia de uma origem cristã, judaica, mitraica ou de qualquer outra crença, não podemos nos esquecer dos outros jogos de palavras feitos, e das outras variantes do próprio Qs, duas delas curiosas são o Quadrado de Cirencester, datado do século III e encontrado onde hoje se passa a Victoria Road, onde a ordem das palavras foi invertida para:
ROTAS
OPERA
TENET
AREPO
SATOR
E a versão encontrada na Abadia de Valvisciolo, construída no século VIII por monges gregos. A curiosidade desta versão é que o quadrado aparece na forma de um círculo:
Quadrado Sator na cultura ocidental
Os quadrados mágicos entraram na cultura européia no fim do século XIII. Em 1300 o estudioso Greco-Bizantino Manuel Moschopoulos escreveu um tratado matemático sobre quadrados mágicos deixando de lado o misticismo que seus predecessores atribuíam ao assunto. Hoje se acredita que ele tenha sido o primeiro ocidental a escrever sobre o assunto. Na década de 1450 o itliano Luca Pacioli estudou os quadrados mágicos e coletou um grande número de exemplos deles.
Em 1510 Heinrich Cornelius Agrippa escreveu De Occulta Philosophia, baseado nos trabalhos de hermeticismo e magia de Marsilio Ficino e Pico della Mirandola. Neste trabalho ele expôs as virtudes mágicas de sete quadrados mágicos de ordens de 3×3 até 9×9, cada um associado com um dos planetas astrológicos. Este livro se tornou uma grande influência através da Europa até a contra-reforma, e os quadrados mágicos de Agrippa, também conhecidos como Kameas continuam a ser usados hoje em dia em rituais de magia cerimonial, de uma maneira não muito distinta da descrita por ele.
O uso mais comum para esses Kameas é desenvolver um padrão sobre o qual sigilos de espíritos, anjos ou demônios possam ser construídos, as letras do nome da entidade são convertidas em números para então revelar o padrão. Em um contexto mágico o termo “quadrado mágico” também é usado para designar quadrados com letras, também encontrados em grimórios. O objetivo mais comum para o trabalho com esses quadrados é a confecção de talismãs.
Em 1514 Albrecht Dürer finaliza sua gravura Melancolia I, a primeira obra de arte européia que se acredita conter a ilustração de um quadrado mágico. É muito similar ai quadrado Yang Hui, que foi criado na china mais ou menos 250 anos antes de Durer nascer. A soma de 34 pode ser encontrada em todas as colunas, fileiras, diagonais, quadrantes, nos quadrados centrais, nos quatro quadrados externos, além da data da gravura nos dois quadrados centrais da fileira de baixo: 1514.
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09 06 07 12
04 15 14 01
Assim como o QS outros quadrados mágicos acabaram sendo incorporados em igrejas e templos como é o exemplo do quadrado na igreja da Sagrada Família em Barcelona, criado pelo escultor Josep Subirachs. A Constante mágica do quadrado é o número 33, a suposta idade da morte de Cristo [2]:
01 14 14 04
11 07 06 09
08 10 10 05
13 02 03 15
Este quadrado no entanto não possui as condições mágicas adequadas, já que estão ausentes os números 12 e 16 e os números 10 e 14 se repetem.
Tendo em conta a popularidade desses quadrados e o mistério que rondava o Qs não é difícil imaginar como ele saltou de uma curiosidade cristã – afinal Pompéia não havia sido redescoberta e ele era frequentemente encontrado em igrejas e monastérios – para literatura ocultista e para a superstição geral do povo.
Existem documentações do quadrado sendo usado como talismã por um período que varia do século VI ao XIX, e atingindo o continente africano, europeu e americano. Foi gravado em uma bíblia carolíngea do século VIII, no século XV se tornou um amuleto contra incêndios no Chateaux de Chinon, em Jarnac, e no tribunal de Valbonnais. No século XVI era usado para curar a insanidade e febre, como descrito nos livros De Varia Quercus Historia, de Jean du Choul (Lyons 1555) e De Rerum Varietate, de Jérôme Cardan (Milão 1557). Em Lyons um cidadão teria se curado da insanidade depois de comer três cascas de pão com o desenho do QS, enquanto engolia cada pedaço de pão recitavam para ele o Pai Nosso – repetido cinco vezes em memória dos cinco pregos de Jesus na cruz: Pro quinque vulneribus Christi, quae moriendo accepit, nee non pro clavibus.
No século XIX um livro alemão, Der Lange Verborgene Freund, escrito por Johann Georg Hohman, que possui como subtítulo: “Uma Coleção de Misteriosas e Valiosas Artes e Remédios para os Homens, Assim Como para os Animais, com Muitas Provas de suas Virtudes e Eficácia na Cura de Doenças”, registra dois usos para o QS:
Para Extinguir Fogo sem o Uso de Água
Escreva as palavras do quadrado em cada lado de uma bandeja e jogue-a no fogo. As chamas rapidamente se extinguirão.
Para Ser Dado ao Rebanho, Contra Bruxaria
Escreva as palavras do quadrado numa folha de papel e faça com que o rebanho a engula misturada à comida.
O fato de apresentar um palíndromo (frase que pode ser lida nos dois sentidos, sem mudança de significado) levou algumas pessoas a acreditar que a leitura das palavras do Quadrado Sator no sentido normal permitiria chamar espíritos, enquanto a leitura no sentido inverso obrigaria esses espíritos a se afastarem do lugar.
E desta forma o QS se tornou o antídoto contra praticamente todo mal, inclusive o diabo, quando descobriram escondidas em suas letras as preces:
RETRO SATANA, TOTO OPERE ASPER
(Vade, Satanás, cruel em todas as tuas obras)
ORO TE PATER, ORO TE PATER, SANAS
(Oro a Ti, Pai; oro a Ti, Pai; Tu curas)
O PATER, ORES PRO AETATE NOSTRA
(Ó, Pai, reza por nossos tempos)
ORA, OPERARE, OSTENTA TE PASTOR
(Reza, obra, mostra-te um pastor)
Ainda, o livro Dictionary os Symbols, da editora Pengun, traz exemplares descobertos recentemente do quadrado, mas com as inscrições em hebraico. A obra não menciona o ano de criação dos objetos.
Como vimos, o uso de quadrados associados a espíritos já era conhecido, por ser um palíndromo muitas pessoas acreditavam que a leitura das palavras do QS no sentido normal permitiria chamar espíritos, enquanto a leitura no sentido inverso obrigaria esses espíritos a se afastarem do lugar.
Ainda hoje, os cinco nomes do Quadrado Sator são usados em algumas igrejas cristãs européias para designar os pastores da Natividade.
Em 1834 uma versão diferente do QS passou a ser adotada como rótulo por Cyrus Hall McCormack, o inventor da ceifadera mecânica. Nale a palavra TERET substitui TENET
SATOR
AREPO
TERET
OPERA
ROTAS
A tradução dada na época era: O ceifador será poupado do trabalho quando a ceifadera mover suas engrenagens.
Umberto Eco chegou a trabalhar com o quadrado em duas poesias, dando sua opinião sobre o mistério do quadrado:
Se tu pretendi, come il mondo suole,
andar cercando strani paragrammi,
trovando stratagemmi di parole
occultate tra i versi, i segni e i grammi,
rinunzia a ogni pretesa d’ermeneutica.
A cercar non si trova. Alcuna regola
riposta, né speranza di maieutica
e di verbal complotto, o d’altra fregola,
potrà svelarti un codice segreto
onde scoprir sotto il mister del verso
taciti indizi, e il sintomo discreto,
e il segno da trovare a tempo perso.
No, caro mio, per sempre impenetrabile
e ascoso ti riman l’inesistente
trama che cerchi, ed il mistero labile,
oscuro del mio verso: il senso è NIENTE.
Poi che io ti conosco, e non rinunzi,
e cercherai nel verso un qualche acrostico,
rifletti. Non cercare occulti annunzi
a far l’endecasillabo men ostico.
Ripeto: quel che dico non ha senso,
ovvero, l’ha, ma è quello letterale.
Tronca la tua ricerca. E ti sia penso
accettar quel che dico, tale e quale.
Se v’è un segreto, sappi, è il più banale.
tradução:
Se tu, como é costume a todos,
andas procurando estranhos paragramas,
tentando encontrar estratagemas de palavras
ocultos nos versos, nos signos e gramas,
renuncia a toda pretensão de hermenêutica.
A nenhum resultado levará a procura. Nenhuma dissimulada
regra, nem esperança de maiêutica
e de complô verbal, ou de uma outra mania,
poderá revelar-te um código secreto
onde se descubra, sob o mister do verso,
tácitos indícios, e o sintoma discreto,
e o sinal para encontrá-lo oportunamente perdido.
Não, meu caro, para sempre impenetrável
e escondido te permanecerá a inexistente
trama que procuras, e o mistério lábil,
obscuro do meu verso: o sentido é NENHUM.
Pois eu te conheço, e não renuncias,
e procurarás no verso um acróstico qualquer,
reflete. Não procures mensagens ocultas
a tornar o hendecassílabo menos áspero.
Repito: o que eu digo não faz sentido,
ou, o possui, mas é somente literal.
Termina a tua busca. E conforma-te em
aceitar o que eu digo, tal e qual.
Se há um segredo, que tu saibas: é o mais banal.
e
Se credevi che andando in autobus
avessi fatto con facilità
tutto come Queneau, ecco che zitt
o (ed è un bell’enjambement) ora il secondo
round io mi provo trepido a tramar.
Andando per petrosi versi, e già
rodeando con grazia e lieto andar,
ecco proseguo, e tu mi dirai se
potevo fare meglio, et allez op!
Orgoglioso l’acrostico fecondo
traccio, operoso come un martinitt,
e i solchi per quegli alba prata che
nel regger l’atro aratro si compon
esili, per sottil trame semiotiche,
tutti di nigrum semen seminabant
opprimendo ogni tasto del lor pondo,
prone le dita mie su quel click up.
Ecco, raddoppio, ed in onor di Ermete
ripetuto ho la prova, per provar
ancora ardito, e una seconda volta,
reiterata virtù di un avatar
onesto dei signor dell’Oulipo.
Tieni, ringrazia dio, ton dieu, oppur Gott:
Ammetto che la rima c’è e ci sta
Soltanto quando permetteva il mus.
tradução:
Se acreditavas que viajando num ônibus
a questão tivesse sido resolvida,
tal como o fez Queneau, eis que quiet
o (e é um belo enjambement) agora o segundo
round eu me encontro temeroso a tramar.
Andando sobre versos pedregosos, e já
rodeando-os com graça e alegre andar,
eis que prossigo, e tu me perguntarás se
poderia fazer melhor, et allez op!
Orgulhoso, o acróstico fecundo
traço, árduo como um martinitt,
e os sulcos para semeá-lo, que
no comandar o atro arado assim van
esguios, por sutis tramas semióticas, e
todos de negras sementes germinando no hábitat,
oprimindo a cada passagem de seu peso,
predispõem os meus dedos para aquele click up.
Ei-lo aqui, e o duplico, e em honra de Ermete
repetida tens a prova, para mostrar
ainda ousado, uma outra vez ainda,
reiterada virtude de um avatar
obreiro e honesto dos senhores do Oulipo.
Toma-o, agradece a deus, a ton dieu, ou a Gott:
Admito que a rima ocorreu e aqui se encontra
Somente quando a musa assim o quis.
Agora releia ambas, prestando atenção na primeira letra de cada frase.
Em 1998, já no clima de fim de século, a revista “Manchete” fez uma enquete entre oito especialistas em Literatura: quais seriam os 50 maiores romances brasileiros do século XX? O vencedor foi “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, seguido por “Macunaíma”, de Mário de Andrade. Entre as outras 48 obras-primas encontrava-se “Avalovara”, provavelmente o texto mais complexo entre os escolhidos, do ponto de vista estrutural.
“Avalovara” foi lançado em 1973, durante a fase mais violenta do Regime Militar, o governo do general-presidente Emílio Garrastazu Médici. Escrito por Osman Lins (1924-1978), o romance apresenta uma estrutura baseada num quadrado sobreposto a uma espiral, figura reproduzida nas páginas iniciais. O quadrado é dividido em 25 outros quadrados menores, nos quais aparecem as palavras do Quadrado Sator: SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS.
O título do romance, “Avalovara”, refere-se a uma ave mítica citada em poema de Jorge de Lima. A estrutura do texto representa uma homenagem à “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, outra obra centrada numa estrutura predeterminada e seguida à risca pelo autor. E o enredo conta a história do protagonista Abel, sempre em busca do sentido de sua vida, procura centrada em aventuras amorosas que acabam por levá-lo a conhecer uma mulher que não tem nome e cujo corpo é composto por palavras. E ela o faz sentir-se inteiro pela primeira vez na vida.
Na narrativa, a criação do Quadrado Sator é atribuída ao escravo Loreius, que teria vivido em Pompéia no século II (101-200). Como vimos antes, a cidade está correta, mas a época está errada: o século I desponta como o período provável da criação do Quadrado. Na trama, Loreius teria construído o palíndromo em troca da própria liberdade, atribuindo à frase não um, mas dois significados: “O lavrador mantém cuidadosamente a charrua nos sulcos”, referente à mobilidade do mundo material, e “O lavrador sustém cuidadosamente o mundo em sua órbita”, correspondente à imobilidade do mundo divino. Nesse sentido, Osman Lins inovou em relação aos outros intérpretes do Quadrado, que sempre procuraram uma única interpretação para a frase nele inscrita.
Notas:
[1] Aleister Crowley LIBER LVIII, GEMATRIA UM ARTIGO SOBRE QABALAH – THE EQUINOX I(5)
[2] Até quinhentos anos após a morte de Cristo, a contagem dos anos era feita a partir do ano da fundação de Roma. Atribuí-se ao Monge Dionísio – o Pequeno, a contagem atual dos anos, partindo-se da suposta data do nascimento de Jesus.
Monge Dionísio viveu em Roma entre os anos 500 e 545, traduzindo do grego para o latim diversas obras eclesiásticas. Ao elaborar uma tabela com a data da Páscoa numa série de anos, ele usou pela primeira vez a expressão “era cristã”, designando os anos subseqüentes ao ano de 753 da fundação de Roma.
Atualmente, é consenso geral que ele errou. Tanto ao esquecer de colocar o ano zero intermediando os dois períodos, como ao fixar o nascimento de Jesus no ano 753, pois os pesquisadores estabelecem um período de até seis anos antes para o nascimento de Cristo. Conseqüentemente, está errado contar como ano 1 do período cristão, o ano de 754.
Ao se estudar os evangelhos, fica patente que os evangelistas não tiveram qualquer preocupação de elaborar um documento de registro histórico e geográfico. A finalidade única era de exaltação e apresentação da mensagem (Boa Nova) para transformação de toda a humanidade. Por isso, há diferença nas referências como os dados históricos do Evangelho segundo Mateus e do Evangelho segundo Lucas. Os outros Evangelhos não se referem ao nascimento de Jesus.
Mateus 2:1
Tendo nascido Jesus em Belém da Judéia nos dias do Rei Herodes. Lucas 2:1 Naqueles dias saíu um decreto de César Augusto ordenando um recenseamento de toda a terra. Este foi o primeiro recenseamento no governo de Quirino na Síria.
Herodes, denominado o Grande e ainda como Rei dos Judeus, nasceu em 73 a.C. e morreu em 4 a.C. (ano 750 da fundação de Roma).
Públio Sulpício Quirino foi governador da Síria entre os anos 6 e 12 d.C. Esse fato dificulta a conciliação dos dados históricos. Alguns historiadores acreditam que Quirino pudesse ter sido governador da Síria de 11 a 9 a.C., ou que tivesse um cargo de autoridade semelhante nesse período, quando teria iniciado o recenseamento, finalizado pelo governador Gaio Sêncio Saturnino, que governou a Síria entre 9 a 6 a.C.
Para se conciliar as datas, tería-se que estabelecer o ano 6 a.C. ou anos próximos (747, 748 ou 749), o qual Herodes reinava e Saturnino finalizava o recenseamento e o último ano de seu governo. Ocorre, entretanto, que não há registro histórico de um recenseamento nesta época, embora fosse um evento importante, que não deixaria de ser citado em algumas das fontes históricas.
O que registram os Evangelhos
Lucas 3:1-2
(sobre o início das atividades proféticas e dos batismos de João Batista)
No décimo quinto ano do império de Tibério César, sendo governador da Judéia Pôncio Pilatos, tetrarca da Galiléia Herodes e Felipe, seu irmão, tetrarca da Ituréia e da Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, sob o pontificado de Anás e Caifás…
Lucas 3:23 (sobre o início da vida pública de Jesus)
Ao iniciar o ministério Jesus tinha cerca de trinta anos.
Marcos 23:54 (sobre o dia da morte de Jesus)
Era o dia da Preparação (para a Páscoa) e estava para começar o sábado. João 2:20 (sobre o início da vida pública de Jesus) Replicaram os judeus: quarenta e seis anos levou a construção deste templo e tu vais levantá-lo em três dias?
O que registra a história
Tibério César governou de 13 a 37 d.C.; Pôncio Pilatos de 26 a 36 d.C.; Herodes (Antipas) de 2 a.C. a 39 d.C.; Felipe de 4 a.C. a 34 d.C.; Lisânias (data incerta); Caifás foi sacerdote entre 19 e 36 d.C.
Pouco tempo depois de João Batista ter iniciado sua missão de anunciar a vinda do Messias, Jesus teria sido batizado e dado início ao seu ministério. Pelo cálculo romano o décimo quinto ano de Tibério foi de 19 de agosto do ano 28, até 19 de agosto do ano 29 d.C. O cálculo sírio coloca entre setembro/outubro de 27 a setembro/outubro do ano 28. Assim, parece correto fixar o ano 28 ou 29, como o ano em que Jesus começou sua vida pública. Segundo Flávio Josefo em Antiguidade Judaica, volume XV (11:2), o início da reconstrução do templo de Jerusalém foi no ano de 19 a.C. Calculando quarenta e seis anos, chega-se a Páscoa do ano 28 d.C.
A festa da Páscoa caía no 15º dia do sétimo mês do calendário israelita (março, abril). Apenas nos anos 28 e 33 a Páscoa coincidiu com o sábado.
Conclusões
Há muitos indícios que Cristo deve ter nascido no ano de 749 da fundação de Roma, quatro anos portanto, antes da data tradicional atribuída pelo Monge Dionísio. O dia e o mês são ainda desconhecidos. A data de 25 de dezembro foi escolhida na época de Constantino, aproveitando-se a comemoração do solstício de inverno no oriente e o “renascimento do sol” no mediterrâneo. Aliando as informações de Emmanuel à história, concluímos que Jesus morreu na tarde do dia três de abril, sexta feira, do ano 33, com trinta e seis ou trinta e sete anos. O seu ministério durou do ano 28 a 33.
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.
Uma resposta em “Quadrado Sator”
Excelente artigo amigo. Vou indicar para mais pessoas lerem.