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Paramore: tão cristãos que nem parecem

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“Nós somos ateus. (risadas) Não, pessoalmente, acreditamos em Jesus Cristo.”
– Hayley Williams em entrevista a BBC

O Cristianismo de hoje passa por uma crise artística. Apesar da energia e do amor que invoca parece que muitas pessoas não entendem sua mensagem claramente, ou pelo menos não entendem como passar essa mensagem a diante. Depois de quase dois milênios parece que todo novo cristão se contenta em repetir a mesma cartilha do mesmo jeito chato. Isso levou muitas pessoas sinceras nas últimas décadas a questionarem se o cristianismo é uma crença sem criatividade ou uma crença que atrai pessoas sem criatividade. Se Jesus foi alguém tão na vanguarda com uma mensagem que conseguia transformar até mesmo o pior e mais ferrenho de seus inimigos, porque é que hoje em dia parece que aqueles que transmitem a sua canção conseguem apenas atrair aqueles que já fazem parte do rebanho?

A arte cristã permanece algo insosso, sem cor e brilho fora da igreja que por sua vez se comporta como se tivesse a obrigação de gostar de tudo o que fosse produzido dentro dela, e algumas vezes apena disso. Se cristão parece até que obrigatoriamente significa ignorar tudo o que não saia da boca de um outro cristão e renegar tudo o que esteja ligado com a vida que a pessoa deixou para trás, mas isso é uma contradição e uma ironia, já que foi justamente essa vida que a levou até Cristo. Assim uma pessoa que tinha por gosto ouvir determinado tipo de música ou acompanhar determinado tipo de arte, uma vez convertido passam a evitar aquilo abraçando algo que por si só não precisa trazer qualidade.

Por um lado o recém convertido passa a rejeitar manifestações artísticas ditas não-cristãs, por outro assim que entra nessa nova vida tem já a predisposição a trocar o seu senso crítico secular por um novo que abraça apenas a mensagem, mas não a estética do que está sendo acreditado. Os Beatles nunca se declararam cristãos, muito pelo contrário, abraçaram religiões orientais, se envolveram com drogas, mas nenhuma banda cristã atual conseguiu espalhar a mensagem All You Need Is Love – Tudo o Que Você Precisa é Amor – como eles. Parece haver algo errado, os cristãos deveriam ser os primeiros a falar de amor. E não apenas de amor, mas de liberdade, de provações, de humanidade e de relacionamentos. Enfim, de todos os assuntos que tocam o Evangelho. O que vemos hoje é música sendo feita de maneira amadora por pessoas aparentemente amadoras, certo?

Errado!

Graças a Deus existem  exceções que merecem nossa atenção. Há anos vemos uma subcultura cristã voltar a trazer a paixão e o talento para a mensagem, como é o caso da banda norte-americana Paramore que mostra de forma cristalina que nem todo grupo musical cristão segue o batido estereótipo. O som de Paramore, a coragem e os cabelos vermelhos de Hayley Williams, dificilmente se enquadram no que esperamos de um grupo formado por cristãos sinceros.
Paramore consegue ser significativa sem ser pedante e tem algo a dizer sem apelar para os velhos clichês de sempre. No Manifesto Jesus Freak, temos que seria uma boa idéia “nos preservar um pouco dos hinários e livros de salmos e compor novas músicas com novas letras que sejam atuais e de acordo com nossa época.”

É exatamente isso que Paramore consegue fazer. Não espere encontrar citações da bíblia nem rimas pobres com Deus e Cruz. Ainda assim, a mensagem está lá como geralmente está em tudo o que um cristão faz. Como disse Josh Farro: “Nós somos cristãos, mas não somos uma Banda Cristã. Somos como qualquer pessoa, você sabe. temos nossas crenças.”

Que lufada de ar fresco em um ambiente estagnado é ouvir uma declaração como esta. Nos traz de volta aquele mesmo espírito que levou Joni Mitchell a compor as letras da música Woodstock que contava a história de um “filho de Deus” que ruma para o festival que deu o nome à música e que sem ser uma pregação conseguiu conversões na multidão. O mesmo espírito envolve Paramore que não se deixa afogar na mesmice e busca despertar nas pessoas o sentimento de rebeldia e alegria como Cristo fazia, sem pedantismo e com carisma, não se preocupando em seguir uma linha politicamente correta e monótona, mas fazendo a própria alma vazar pela boca e lavar àqueles que ela toca.

Essa postura louvável da banda foi colocada a prova recentemente quando algumas linhas da música “Misery Business” (ver video) chamaram a atenção de algumas pessoas. A letra invocava deus e dizia se sentir tão bem no meio de uma revanche pessoal. Isso bastou para receber críticas de algumas pessoas interessadas em apontar os dedos na cara dos outros. Nessa situação  a vocalista decidiu se manifestar no blog oficial da banda, como texto que segue:

Redenção | substantivo 1. ação de salvar ou ser salvo do pecado, erro ou mal, eg. Deus tem um plano para a redenção do mundo.

Há algo em minha mente que quero compartilhar, tem haver com a música “Misery Business”. Eu honestamente não sei bem o que dizer, nem como dizer, mas conversando com os rapazes sobre isso, achamos que é muito importante tentar. (quer isso soe “legal” ou não). Pode-se se tornar algo pessoal, mas vamos lá.

“Misery Business”, como já falamos em várias entrevistas, mesmo em postas anteriores do LiveJournal, é uma história verdadeira. A música foi escrita em uma época da minha vida em que eu me sentia muito amarga com relação a uma garota, que eu ainda não perdoei, por várias coisas que ela fez alguns anos atrás. Até esta pessoa aparecer na minha vida e na de meus amigos eu não fazia idéia no poder que alguém pode ter sobre os outros. Eu vi ela usar sexo para manipular um de meus amigos até o ponto em que nenhum de nós – de nosso pequeno circulo de amizade – conseguia reconhecê-lo. Ele mudou de alguém inocente e alegre para alguem que se fechou para tudo. Não é preciso dizer que isso doi. Não apenas porque era um amigo próximo, mas porque eu estava apaixonada por ele. ( Eu sei que não é certo se apaixonar assim tão cedo, mas enfim).. a dor que eu senti resolvi guardar dentro de mim. Imaginei que se as pessoas soubessem como eu me senti ferida, irritada e amarga elas achariam que eu era uma pessoa má, ou pior, uma pessoa fraca. Para não me estender muito e não deixar este texto ficar muito pessoal,  vou terminando esta história por aqui dizendo que ele eventualmente percebeu que aquilo não tinha nada haver com amor e depois disso nossa amizade mudou. Nós meio que nos brigamos porque descobrimos da pior forma que não é legal começar a namorar tão cedo, especialmente depois do que tinha acontecido. Mas brigar tornou as coisas mais dificeis e a última coisa que eu aconteceu é que nos afastamos.

Eu lembro bem da situação quando escrevemos a letra da música. Eu me forcei a reviver algumas memórias vividas da época em que ele estava se encontrando com ela. Eu não acho que ninguém pode entender quão horrível foi aquilo tudo para alguém tão jovem… Para terminar de explicar meu lado da história bem.. eu me sentia tão irritada e tão feliz ao mesmo tempo. Cada palavra que eu escrevia era como se tirasse vários quilos das costas. O que eu não percebo foi que conforme escrevi estas linhas e tirava um peso.. eu estava colocando outro.

“But god does it feel so good… to steal it all away from you now. and if you could then you know you would. cause god it just feels so… it just feels so good.”

“Mas, Deus, isso é tão bom… roubar tudo de você agora. e se você pudesse, então você saberia que poderia. porque Deus! Isso é tão bom.”

Eu me envergonho do que disse, embora eu creia em Jesus Cristo e o tenha como meu Deus, quando eu escrevi esta letra eu não me dirigia a ele. Eu usava o nome casualmente. Em vão, para ser sincera. Se você conhece um pouco da Religião Cristã (um nome que eu não gosto de usa para minha Fé.), você provavelmente sabe que um dos dez mandamentos é “Não usará o nome de Deus em vão” e vai além dizendo que “.. O Senhor não achará sem culpa aquel que usar seu nome em vão.”

Como crente em Cristo, esta última parte me assusta para diabo. Eu não quero se contada como sendo a causa de tantas pessoas usarem o nome dele em vão. Você não é obrigado a acreditar no que eu acredito e ninguém da Paramore vau tentar forçar nossa fé na vida das pessoas… mas acredite ou não, eu posso ter feito alguns de vocês acharem que levo meu salvador levianamente. E eu não levo.

Deus me fez passar por tudo aquilo que eu narro em “Misery Business”. Eu acredito que sou uma pessoa mais forte porque estas coisas aconteceram em minha vida. POr causa desta situação eu aprendi muito, quando canto aquela música agora, não sou a mesma pessoa que a escreveu. Quando canto aquela linha que costumava cantar em vão, eu a canto de maneira diferente. Não quero a responsabilidade de deixar tantas pessoas usando o nome do meu Deus em vão. Então, quer você creia ou não em Cristo. Quer você se importe ou não em dizer alguma coisa quando diz Deus, saiba que para mim, quando eu canto estas linhas, eu estou dizendo a Deus que me sinto muito bem por levantar vitoriosa depois de meses de confusão e dor. Não me fere mais como feria.

Desculpem pelo texto tão grande. Nós não falamos muito sobre nossa fé, principalmente porque nossa fé é algo pessoal para nós. Mas eu sentia que algo precisava ser dito, antes que fosse tarde. Obrigado por ler. ”

Certamente Hayley é daquelas que não se envergonha do Evangelho e é talentosa o suficiente para não apoiar sua carreira num nicho de mercado tão fácil. Essa postura ao mesmo tempo sincera e desapegada faz de Paramore um exemplo muito digno não de como um cristão deve ser, mas do que um cristão pode se tornar.
Como a própria vocalista disse durante uma apresentaçao em Willow Creek “Ter a sua fé não é parar o que está fazendo durante trinta minutos por dia para ter o seu momento bíblia. É aprender a enxergar Deus e a Mensagem de Cristo em cada pequena coisa de seu dia a dia. Nós acreditamos que temos uma rotina, mas ter uma rotina significa não saber o que você vai estar fazendo nos próximos trinta minutos, e isso significa que você deve enxergar a Deus em cada uma dessas coisas novas.”

De fato. Deus está em todo o lugar, em todas as pessoas, principalmente naquelas que muitos acham que seria o último lugar em que Ele desejaria estar. É bom ver que entre os artistas cristãos existem aqueles que enxergam além do próprio preconceito e conseguem encontrar Deus sem ter que que enfeitar sua música com rótulos de pronto uso. Paramore é uma banda que consegue fazer uma música chamada “Hallelujah” e não soar como se estivesse cantando enclausurada em uma igreja. Para finalizar, em entrevista para a BBC Josh Farro, guitarrista e compositor do grupo  diz em poucas palvras o que Hayley demonstrou em sua carta: “Nossa Fé é muito importante para nós. Obviamente ela vai aparecer em nossas músicas porque se alguém acredita em algo então sua visão de mundo aparece em tudo o que se faz. Mas nós não estamos aqui para pregar para as crianças. Estamos aqui porque amamos música.”

Eles amam a música.


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Uma resposta em “Paramore: tão cristãos que nem parecem”

Preferível mil vezes ouvir Paramore do que todas as bandas do lixo infantil que se chama Música Gospel. Nunca levei muita fé nesta banda, vou começar a prestar atenção nela a partir de agora. O Mundo seria bem melhor se todos os cristãos católicos e protestantes pensassem como os membros da banda.

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