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Nuit Além de Yuggoth

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Kenneth Grant

De Hecate’s Fountain (A Fonte de Hécate), Parte II, Capítulo I, por

O primeiro capítulo do AL compreende a ‘Palavra’ de Nuit, a Deusa do céu noturno. Sua forma planetária é a Lua; seu tipo estelar é Typhon (ursa maior); seu zoótipo – na atual fase evolutiva – é a fêmea humana. [1] Na Árvore Sefirótica, Nuit é o elo entre Saturno, como Ísis (Natureza), e a Esfera de Yuggoth. [2] Ela une, ou funde, o Ain, [2] o Ain Soph e o Ain Soph Aur, o reino dos Yith cujo portal de ingresso na onda de vida humana é via Nuit e a Cidade das Pirâmides, representada pela terceira zona de poder cósmico, Binah, o Grande Mar, o lar dos Deep Ones (os Profundos) presidido por Cthulhu. [3] Nuit une a escuridão de Saturno, como Noite (NOX), com a brancura da Luz Cósmica (LVX), conhecida no Necronomicon como a Neve Suprema de Kadath, ou Kadath (Hadit) no Deserto Frio. Nuit e Hadit estão assim unidos nos kalas e nos caminhos que levam de Yuggoth, pois Hadit une Yuggoth a Chokmah, assim como Nuit o une a Binah (Saturno), a esfera das Sombras Sencientes, tipificada pela coruja.

É necessário ‘ver interiormente’ profundamente essas correspondências, pois somente assim a inter-relação dos aeons pode ser compreendida. Had é a manifestação de Nuit no sentido de que Had (ou seja, Set) é o filho de Nuit em sua fase tifoniana. Ele desvenda a Companhia do Céu na medida em que “abre” sua mãe ao nascer, revelando assim seus filhos – as Sete Estrelas – dos quais ele é o primeiro homem e, portanto, o cume, a altura (height) ou o oitavo (eight). Os mistérios do número 8 se repetem com frequência no AL. Desta revelação inicial, segue-se por analogia que “todo homem e toda mulher é uma estrela”, pois Nuit (a Deusa das Sete Estrelas) atinge sua apoteose, ou altura, em Set. Um significado de Set, ou Sept, é 7. Como tal, ele aperfeiçoa o 7, superando-os e tornando-se o Altura da Perfeição, o Pleroma Gnóstico. Há um profundo mistério nesta Perfeição, que é uma Perfect-ion [4] ou aeon perfeito. Sua conexão com o 8 será investigada oportunamente. A figura 7 tornou-se o símbolo dos deuses no antigo Egito como o machado-neter , o sinal do ‘abridor’ ou ‘entrante’. Além disso, os deuses eram os Nuter ou os neutros, nem masculinos nem femininos. Isso porque a divindade foi tipificada pelo Har, a criança que não era nem de um nem de outro sexo e, portanto, possuía o potencial de ambos. O Har representava o Herdeiro ou Princípio Imortal, o Neither-Neither (O Nem-Nem ou Nenhum-Nenhum) [5] que possuía potencial infinito. Este era o verdadeiro Heru (Hórus) ou Herói, o Imortal. Para a Criança, todo número é infinito, não há diferença entre eles porque, sendo neutro, não há diferença ou diferenciação em sua forma manifestada.

Nuit invoca o senhor guerreiro de Tebas para ajudá-la em sua revelação diante dos filhos dos homens. Ela não teria necessidade de qualificar essas crianças como humanas se Aiwass não estivesse prestes a comunicar o tríplice livro da Lei aos seres humanos (ou seja, terrestres). Tebas é a arca primordial ou útero do qual o Senhor Guerreiro é Hadit, como a semente dentro do útero; neste caso a semente transmitida por Nuit de Hadit em Yuggoth. Portanto, fica claro no início do AL que Aiwass está transmitindo aos filhos dos homens uma semente não humana. [6] Nuit, portanto, chama Hadit como seu “centro secreto”, representado por seu coração e sua língua. O coração aqui tipifica a morada do amor no centro sexual, e a língua é uma referência à forma de magia sexual empregada para extrair a semente depois que ela foi depositada no coração e misturada com os kalas gerados pelo jogo do amor.

A Deusa então declara que esse conhecimento secreto, a sabedoria verdadeiramente “proibida”, é revelado à humanidade por Aiwass, o “ministro de Hoor-paar-kraat”, que é essencialmente idêntico a Aiwass como o silêncio de Daath. Essa forma peculiar de silêncio requer explicação. Como mostrado em volumes anteriores, Hoor-paar kraat é o gêmeo ou sombra de seu irmão Ra-Hoor-Khuit. Hoor-paar-Kraat é atribuído à 11ª zona de poder, que é a sephira ‘falsa’, Daath, conhecida na terra como Morte. Hoorpaar-Kraat é o silêncio dos mortos, mas os últimos são – mais precisamente – os não-mortos, os verdadeiros Nosferatu. A morada de Hoor-paar-Kraat é Daath. Ele é a lua, ou filha, da Zona Malva, assim como Ra-Hoor-Khuit é o sol (filho) de Tiphereth. O simbolismo se tornará cada vez mais significativo à medida que este comentário se desenrolar.

O núcleo da doutrina secreta é que a Estrela, ou kala estelar, do poder mágico supremo está localizada no Khu. Khu = 31 = AL; a chave do Livro da Lei. 31 é 1/3; de 93, sendo os dois terços restantes 62, que é o número dos Filhos (BNI) ou gêmeos. Isso mostra quão belamente o simbolismo é inerente, pois Ra-Hoor-Khuit e Hoor-paar-Kraat estão contidos em forma de semente no Khu. Além disso, o Khu é o kala místico do feminino, pois 31 também enumera as iniciais do título grego , ‘A Mulher Escarlate’.

Algumas escolas arcanas deturparam esses Mistérios, localizando o Khu no Khabs, o que implica que o poder mágico está na luz das estrelas ou em configurações meramente celestes. Daí surge a abordagem errônea da astrologia “popular”, uma ciência preocupada originalmente com os ritmos dos kalas. Isso também destaca a falha em algumas das interpretações alquímicas que gradualmente ganharam popularidade. e obscureceu a gnose da genuína Tradição Estelar que é revivida em AL.

 

A Estrela implícita é Sirius, [7] a Estrela de Prata e seus kalas que estão incorporados nos representantes terrestres de Nuit. Ela, portanto, aconselha a adoração da Estrela para que sua luz encharque a terra. Aqueles que servem sua missa, no entanto, devem ser “poucos e secretos”. Isso é inevitável porque só os adeptos mais habilidosos são capazes de trilhar esse “caminho funambulatório” [8] sem perder o equilíbrio e cair no abismo. Os poucos, sejam extraterrestres ou não, constituirão uma elite e “governarão os muitos e os conhecidos”. Esta profecia tem causado muita controvérsia, mas se a frase “os muitos e os conhecidos” for bem entendida, a explicação é simples. Os muitos e os conhecidos são terráqueos. Eles são conhecidos por aqueles que estão necessariamente além deles, e além da terra, seja como adeptos humanos que transcenderam as condições terrestres, ou como membros de uma fraternidade transmundana e oculta que pode ou não ter suas raízes nativas em Sirius, a Estrela de Set.

Nuit descarta como tolos aqueles indivíduos, partidos ou grupos adorados pelos terrestres. Não é difícil entender ou simpatizar com sua atitude, e nenhum insight oculto específico é necessário; nem há necessidade de recorrer a explicações exóticas. Os tolos são apenas tolos; a referência não se aplica aos reflexos de Atu O. [9]

Nuit então exorta os “filhos dos homens” a se apresentarem sob as estrelas e se encherem de amor. É importante entender que esta é uma exortação ao amor sob vontade, não uma exortação geral, mas uma instrução de procedimento preciso. É como se ela estivesse dizendo a seus adeptos: Invoquem a Corrente Estelar e bebam profundamente dos kalas que se manifestam através da sacerdotisa escolhida para o rito. Ela declara que não está apenas acima, [10] mas também dentro das celebrações na terra; em veículos terrestres específicos escolhidos especificamente por ela para transmitir suas energias mágicas.

Segue-se então um hino de louvor, e o simples apagamento de uma vírgula revela o fato de que o “esplendor nu de Nuit” está acima do “azul cravejado de pedras preciosas”, os céus conhecidos pela humanidade. O hino contém a primeira afirmação positiva no AL a respeito das posições relativas a serem adotadas pelos celebrantes do Ritual Supremo. A afirmação retoma a fórmula 718, retratada na Estela da Revelação, onde Nuit exemplifica as linhas:

“Acima, o azul cravejado de pedras preciosas é

O esplendor nu de Nuit;

Ela se curva em êxtase para beijar

Os ardores secretos de Hadit.

O globo alado, o azul estrelado,

São meus, ó Ankh-af-na-Khonsu!”

Implícita nestas linhas está a fórmula da Mão Esquerda de viparita maithuna na qual a sacerdotisa ocupa a posição dominante.

O globo alado justaposto ao azul estrelado não é apenas: uma referência ao veículo ou nave espacial [11] de Hadit, mas também aos kalas ou radiações com as quais o Espaço é impregnado pelas Forças além de Yuggoth. Nuit reivindica tanto o globo quanto os kalas. Ela se dirige a Ankh-af-na-Khonsu, [12] pois estamos aqui no reino dos mortos, ou, mais precisamente, dos mortos-vivos.

Como mostrado anteriormente, a estela e a pedra-estrela são um; os kalas e o globo estão, portanto, implícitos na estela, a pedra usada na invocação do Sacerdote morto que retornou como Aleister Crowley para comunicar o Livro da Lei.

Então, Nuit declara a identidade do “sacerdote e apóstolo escolhido do espaço infinito” e do “príncipe-sacerdote a Besta”: “E em sua mulher chamada Mulher Escarlate é dado todo o poder”. Quando estão em conjunção, como estrelas, ou em união sexual como Besta e Mulher, são instrumentos para trazer a “glória das estrelas aos corações dos homens”. Isso implica uma fórmula de impregnação, com kalas estelares, de terrestres. A declaração final de identidade é dada no versículo 16, onde a Besta é identificada com o Sol, e a Mulher Escarlate com a Lua. “Mas para ele é a chama secreta alada”. Esta cláusula de qualificação distingue suas funções específicas. A Besta comunica a semente secreta, e a Mulher Escarlate comunica os kalas. É significativo que o verso que indica essa identidade seja numerado 16, que é o número total de kalas secretados pela mulher em sua fase escarlate ou lunar. A “mulher de pálpebras azuis” [13] é exortada a “curvar-se sobre eles”, pois esta é a “maneira muito prática e terrena pela qual ela descarrega seus kalas, ou elixires, na boca da Besta, a besta que vive no sangue, o vampiro que permanece para sempre morto-vivo. O falcão foi representado miticamente como se alimentando apenas de sangue e tornou-se, em consequência, o símbolo de Hórus – o filho – cujo aeon é proclamado pelo livro. Mas também prenuncia o aeon oculto da mulher de pálpebras azuis – a filha, ela que é a “filha de pálpebras azuis do Pôr do Sol… o brilho nu do voluptuoso céu noturno”; espaço vibrante com a Corrente Criativa que transmite à Terra. A passagem é uma alegoria da fecundação da terra por agentes extraterrestres.

A “chave” desses rituais está localizada especificamente “na palavra secreta que lhe dei”. A Palavra, Aeon, ou Ion é o secret-ion (secre-ção) que Nuit comunicou. [14] Segundo uma interpretação de Frater Achad, [15] a Palavra pode ser “manifestation”; como explicado em Cults of the Shadow (Os Cultos da Sombra, cap. 8), onde é mostrado que o -final, ou aspecto-filha [16] do Tetragrammaton está implícito. O Ma-ion, por sua vez, é um prenúncio da manifestação do Aeon de Maat. O propósito do Aeon de Hórus é, de fato, preparar para a troca espacial e transmissão da semente além de Yuggoth, a semente dos Yith, Yoth ou Xoth. A cabala desses conceitos revela muitas correspondências interessantes: Yith é 420, que é o número de ‘Nada sob suas Três Formas’, como mostrado anteriormente. Yoth = 480, o número de Daath no plural, mostrando as infinitas ‘multiplicações da Zona Malva nos corredores dos universos refletidos, cada um dos quais difere ligeiramente do outro. 480 é também o número da Rainha-Demônio Lilith, cujo totem, a coruja, é o emblema da terceira zona de poder cósmico, Binah. É também o número de SKTh, ‘ficar em silêncio’, Outra correspondência de 480 é PTh, pudenda mutliebria. PTh é a forma anterior (egípcia) do hebraico BTh, a “casa” ou “morada feminina”. Outro significado é MKRKR, Saltans, ‘saltando’ ou ‘pulando’, sugestivo da fórmula dos voltigeurs e, em particular de Hecaté como Hekt. A rã (Hekt) não é apenas o símbolo anfíbio da reificação, [17] mas também de um modo peculiar de saltar os Caminhos atrás da Árvore da Vida. [18] Ainda outro significado de 480 é MThM, ‘Perfeição’ (cf. o Perfect-ion), como se para confirmar a natureza da transmissão extraterrestre que leva à perfeição do homem, 480 é o maior número na cabala Sirius, ou transmissão, ainda outro – ponteiro para a influência do além. [19]

A fórmula Xoth é 530 que corresponde a QLTh, ‘vozes’, e com Piliu, ‘vulva’, que é o meio de contatar as ‘vozes’ via mágicka sexual. É também o número de ThQL, letras que faziam parte da “escrita na parede?” na festa de Belsazar, e para as quais ainda não foi dada uma interpretação satisfatória. É também o número de NPTh, ‘respirar’, ‘inspirar’, que é um símbolo do Espírito, neste caso inspirando a corrente vital do Exterior. Finalmente, 480 = ABNI ThVHV, ou Lapides Inaninatis, a Pedra do Espaço; e, como reflexão profunda é a humeração das Qliphoth de Malkuth que – no sentido em que a Terra (Malkuth) é aqui considerada – sugere a Zona Malva ou aspecto sideral da consciência terrestre.

A situação pode ser esclarecida visualizando essas transações no esquema da Árvore (ver Quadro). Yuggoth lança as correntes gêmeas, Hadit e Nuit, sobre Chokmah e Binah, os “Poderosos Pilares” do Dia e da Noite equilibrados pela Luz Dupla (ou seja, Crepúsculo) de Daath no Deserto Carmesim [20] dos Árabes. Os antigos egípcios o conheciam como o Deserto de Set, e é mencionado no Necromomicon como o Abominável Planalto de Lêng. Esta é a esfera de Shugal-Choronzon; existe “fora” da Árvore, fora dos círculos do tempo e além das células do espaço.

O relato a seguir, extraído dos arquivos da Nova Ísis, pode trazer alguns dos conceitos ao alcance do leitor mais ritualisticamente inclinado.

“A sala da loja, estava preparado para exibir a vastidão nevada daquele planalto abominável, situado em regiões astrais que coincidem terrestremente com certas regiões da Ásia Central não especificadas com precisão por Al Hazred. [21] As paredes e o chão eram brancos, e brancos eram os sete caixões enfileirados sobre cavaletes diante de um altar de um branco deslumbrante, onde os montes de neve brilhavam e traçavam sobre as encostas lisas de gelo de três pirâmides os sigilos naturais de suas flores primitivas. Da precisão glacial e austera dessas pirâmides surgiram cones nevados que terminavam em flores de chamas incolores. O único relevo neste deserto de brancura era a figura da sacerdotisa oficiante, toda embainhada de preto que realçava quase ao ponto da invisibilidade a palidez contrastante de sua carne. Isso fundiu-se com a palidez predominante, de modo que as ondas esvoaçantes de seus cabelos negros encerravam, como em um oval escuro, o rosto ausente de uma bela mulher que flutuava sobre a neve como uma lua espectral refletindo o pó liso sob seus raios.

Não só os caixões foram alugados; alguns dos montes de neve eram formados pelas túnicas com capuz branco dos acólitos que se agachavam em um círculo irregular na base do altar. Eles se mexeram enquanto a sacerdotisa apagou as velas uma a uma, deixando apenas uma única luz central para iluminar a sala.

Então um som, estranho e equívoco, invadiu o templo. Pode ter sido causado pelo arranhar de roedores ou pelo farfalhar de insetos devorando os cadáveres nos caixões. Persistiu e foi aumentando gradualmente de volume até adquirir uma sonoridade peculiar e emergir uma estrutura definida. O som sugere a música dos gafanhotos, o chilrear amplificado dos grilos, ou uma orquestra infernal de violinos, tornando apenas o esqueleto de uma sinfonia, e omitindo completamente a carne de sua melodia.

O chilrear atingiu uma intensidade insuportável e as figuras encapuzadas ergueram-se uma a uma da neve, cada uma emitindo um uivo estranho e contrapontístico que lembrava o uivo de lobos. A sacerdotisa se abaixou diante do altar e uma sombra branca desceu da escuridão acima e pousou em sua forma imóvel. Não era nem coruja nem morcego, mas combinava alguns dos atributos de ambos. Era, na verdade, um dispositivo mecânico projetado para aumentar a atmosfera de mistério e anormalidade que já permeava a sala da loja.

Para apreciar o que se seguiu é necessário destacar o fato de que o dispositivo era uma simples engenhoca mecânica controlada por um membro da Ordem que estava vendo os procedimentos de uma sala contígua.

Quando os acólitos se levantaram, viu-se que seus capuzes continham crânios malformados tingidos de musgo cor de malva, também inventados, assim como a rajada de neve rodopiada por uma brisa mecânica liberada por uma abertura no rodapé. O pássaro-shantak emitiu um grito repentino – um cruzamento entre o guincho metálico da araponga de garganta nua e o guincho de um whippoorwill (pássaro noitibó-cantor). Ele flutuou do corpo da mulher e iluminou o altar, onde se escarranchava obscenamente no ápice da pirâmide onde a chama solitária piscava. Quando a cacofonia atingiu seu clímax, as tampas do caixão se abriram e caíram com um estrondo no chão. Os ocupantes se levantaram de dentro e deslizaram pelas laterais de seus cortiços mortuários. Então, uma massa fervilhante de lesmas e vermes brancos se fundiu em cordas serpentinas que rastejaram sobre a neve e convergiram para o altar, usando o corpo da sacerdotisa como escada. Eles deixaram vestígios de sua ascensão brilhando em suas pernas, pescoço e rosto, mas deixaram sem mancha o vestido preto imaculado, pois eles desapareceram sob ele e reapareceram através do declive entre seus seios. Ao chegarem ao cume do altar formavam uma massa ondulante de tentáculos, uma toalha viva de altar que lentamente começou a velar as bases das pirâmides e a invadi-las como ectoplasma, cobrindo as encostas reluzentes e subindo cada vez mais perto do pássaro-shantak.

Quando a primeira cabeça balançando cegamente se projetava ao alcance das garras do shantak, o pássaro infernal devorou-a silenciosamente. A festa continuou até que todas as lesmas empanturradas de sangue desaparecessem. A sacerdotisa, como que por uma curiosa inversão de papéis, em vez de estar totalmente esgotada pelos ghouls que haviam chupado seu sangue, em vez de ser invisível em sua palidez contra o fundo branco, agora brilhava como uma ferida recente que descoloria a neve com seus pingos enquanto o pássaro-fera zunia em seus fios mecânicos e, caindo sobre seu corpo, cortava em tiras com o bico o veludo preto de seu vestido.

Só um Sime poderia ter retratado aquele pássaro fantástico engajado em sua horrenda refeição; apenas um Wunderlich poderia representar a fome da mulher quando ela cedeu a um abraço feito extremamente monstruoso pela natureza não humana de seu companheiro.

O Abominável Planalto de Lêng é o altar-mor de uma Missa sem nome envolvendo a fusão de elementos humanos e não humanos. Austin Spare insinuou-o sombriamente como a Festa dos Supersensualistas; Soror Andahadna o chamou de Banquete do Demônio, [22] os antigos egípcios o escondiam sob o véu de hieróglifos que se referiam à refeição mortuária. Mas todo o horror deste breve relato só pode ser apreciado quando se compreende que em um determinado estágio do rito – a partir do momento em que o pássaro montou na pirâmide – o acólito que operava o dispositivo mecânico perdeu o controle. Os fios foram posteriormente manipulados por uma Força desconhecida que cumpriu o real propósito da performance que, talvez, fosse conhecida apenas por Aqueles de Fora.

[1] O conceito de Nuit passou pela fase não humana como hipopótamo ou vaca d’água (Ta-Urt/Typhon), depois como vaca terrestre, Hathor, e finalmente como mulher.

[2] Ver diagrama 1. Segundo Le Plongeon, Ain é o nome do Egito, representado nos monumentos maias pelo crocodilo que, no Egito, é o totem de Set, filho de Typhon (Nuit).

[3] Ver observações sobre   na Parte I, capítulo 3.

[4] Veja Outside the Circles of Time (Fora dos Círculos do Tempo) para uma explicação completa do Perfect-ion.

[5] Uma expressão cunhada por Austin Osman Spare para denotar energia pré-conceitual com potencial infinito. Veja Images & Oracles of Austin Osman Spare  (Imagens e Oráculos de Austin Osman Spare).

[6] Cf. Gênesis, VI.4.

[7] Argenteum Astrum, ou A.’.A.’., popularmente conhecido como a Grande Fraternidade Branca, que necessariamente comporta seu Gêmeo Negro.

[8] A expressão é de Austin Spare.

[9] O trunfo atribuído ao Louco, no Tarô.

[10] Como Nuit, o céu noturno cravejado de estrelas, arqueada sobre a terra.

[11] Aquilo que transporta a semente para a terra.

[12] O sacerdote da XXVI dinastia, comemorado pela Estela da Revelação.

[13] Observe a introdução de uma cor adicional, neste caso um kala de espaço, ou ar. Veja o Liber 777 de Crowley para correspondências mágicas; também Parte III, caps. 7 e 8 do presente livro.

[14] Veja Cults of the Shadow (Cultos da Sombra), cap.8

[15] Ou seja, Ma-ion.

[16] Ver observações supra, sobre a natureza peculiar do silêncio de ‘Hoor-paar-Kraat.

[17] Ou seja, da água à terra, ou, consciência desperta em outro plano, do sonho (astral) à consciência desperta.

[18] Para um relato da fórmula dos voltigeurs, veja Cults of the Shadow (Cultos da Sombra), cap.9.

[19] A influência do além (Mezla), é outra forma de Aiwass.

[20] Na antiguidade, o carmesim, o roxo e o malva eram simbolicamente intercambiáveis.

[21] O autor do Necronomicon. Algumas autoridades sugerem a Antártida como o locus de Lêng.

[22] Reproduzido como a Placa 2 de Nightside of Eden (O Lado Noturno do Éden).

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Fonte:

Nuit Beyond Yuggoth. Hecate’s Fountain, by Kenneth Grant.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.


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