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Excertos de Evangelho Segundo Marcos
Comentado por Ya’aqov, seguidor de Ya’aqov
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12-13 : Tentação de Jesus – o Véu de Paroketh
Todo início acontece no deserto. Não no deserto físico, mas no deserto do vazio, da ausência de coisas. E é justamente neste “local” que somos colocados à prova. A prova consiste em escolher entre construir algo novo ou ficar tentado a retroceder.
O retrocesso, o voltar ao antigo, é tentador, mas guarda em si uma prisão, pois nos tornamos escravos dessa escolha. Em nosso íntimo algo já desabrochou e insiste em nos indicar que existe algo além, mas, ao retroceder, temos de passar a vida tentando negar este novo. E, por mais que o retrocesso pareça ser agradável, com a ilusão de um lugar seguro, conhecido, este lugar não existe mais, pois não somos mais o que éramos e, portanto, não cabemos mais no passado.
Desta forma, o avanço no deserto, vencendo as tentações do retrocesso, é o caminho para a libertação, o caminho para a construção do novo. Este caminho deve ser feito na escuridão da noite, ouvindo o chamado de Yahweh, que vem do leste, nos indicando que há o Sol para nascer. Mas, apenas com o nosso caminhar é que as águas irão se abrir.
(12) E logo o Espírito o impeliu para o deserto.
A fim de verificar se Jesus, de fato, se tornará um eleito, ele é enviado, simbolicamente, ao deserto. De maneira similar à experimentada pelos Israelitas que, após atravessarem as águas e abandonando o período de servidão no Egito, percorrem o deserto por 40 (quarenta) anos até alcançarem a Terra Prometida.
Importante destacarmos que o deserto é o simbolismo utilizado para destacar um local de dificuldades, em função da escassez de recursos, que nos expõe a revelar o que mantemos em nosso íntimo, o que inclui a possibilidade de abrirmos espaço para o divino.
Deuteronômio 8:2
“Lembra-te, porém, de todo o caminho que Yahweh teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, a fim de humilhar-te, tentar-te e conhecer o que tinhas no coração[1]: irias observar seus mandamentos ou não? Ele te humilhou, fez com que sentisses fome e te alimentou com o maná que nem tu nem teus pais conheciam, para te mostrar que homem não vive apenas de pão, mas que o homem vive e tudo aquilo que procede da boca de Yahweh.”
Ou seja, por mais que o deserto possa ser exposto por intermédio de situações externas, a “humilhação e a tentação” acontece no íntimo de cada um, para revelar o que está em nossos corações.
Lucas 6 : 45
“o homem bom, do bom tesouro do coração tira o que é bom, mas o mau, de seu mal tira o que é mau; porque a boca fala daquilo de que está cheio o coração.”
(13) E ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; e vivia entre as feras, e os anjos o serviam.
O versículo em análise nos indica que o período no qual Jesus passa no deserto corresponde a 40 (quarenta) dias, ou seja, por todo um período de maturação. Porém, é importante entendermos que a expressão dia, utilizada no versículo, corresponde à totalidade de um dia, isto é, desde o seu início no pôr do sol, até o seu fim, no próximo pôr do sol[2]. Mesmo período simbólico experimentado por Noé, quando, protegido em sua Arca, viu a que a “chuva caiu sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites” (Gênesis 7:12), e que, novamente, remete ao período no deserto após a saída do Egito e antes da chegada à Terra Prometida.
Deuteronômio 8 : 1-6
“Observareis todos os mandamentos que hoje vos ordeno cumprir, para que vivas e vos multipliqueis, entreis e possuais a terra que Yahweh, sob juramento, prometeu aos vossos pais. Lembra-te, porém, de todo o caminho que Yahweh teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, a fim de humilhar-te, tentar-te e conhecer o que tinhas no coração: irias observar seus mandamentos ou não? Ele te humilhou, fez com que sentisses fome e te alimentou com o maná que nem tu nem teus pais conheciam, para te mostrar que homem não vive apenas de pão, mas que o homem vive de tudo aquilo que procede da boca de Yahweh. As vestes que usavas não se envelheceram, nem teu pé inchou durante esses quarenta anos. Portanto, reconhece no teu coração que Yahweh teu Deus te educava, como um homem educa seu filho, e observa os mandamentos de Yahweh teu Deus, para que andes em seus caminhos e o temas.”
Ao observarmos os outros Evangelhos (Mateus e Lucas) que contam sobre este período no deserto enfrentado por Jesus, verificamos que ele, após período de jejum, sente fome e é, justamente, quando sente fome, que ele é tentado. Quando a nossa despensa interna está praticamente vazia, é que somos convidados a revelar o que mantemos guardado em nosso íntimo.
Este processo é conduzido pela figura do Satanás ou Satã (שטן). Satanás significa “adversário”, mas, diferentemente do que se costuma pensar, ele não é adversário de Yahweh, mas da humanidade (Adam). Entendemos isso, principalmente, quando estudamos o Livro de Jó, onde Satã se apresenta a Yahweh e segue as suas regras[3], bem como informa de onde vem[4]. Desta forma, o Adversário é algo que existe na matéria[5], e, por isso, encontra-se no domínio das coisas materiais e busca instigar a humanidade, representada por Jó, a revelar o que existe em seu coração em seu momento de “fome”, a fim de revelar se realmente estamos empenhados na jornada espiritual ou se a abandonamos nos momentos de atribulações.
E, no momento de fome, Satanás aparece para tentar Jesus por 3 (três) vezes e, por 3 (três) vezes, Jesus vence a tentação[6]. Dentro da cultura judaica, há o entendimento de que fazer algo por 3 (três) vezes torna uma coisa permanente, um dos simbolismos contidos na letra Gimel (ג), “as portas do paraíso”, que possui este valor numérico[7].
A primeira tentação, tanto Mateus, quanto Lucas, afirmam que Satanás instigou Jesus a transformar pedras em pão, mas Jesus recusou proclamando o ensinamento contido na passagem do Deuteronômio transcrita. Aqui, além da prova do egoísmo, isto é, de transformar algo para saciar apenas a sua fome, também encontramos a tentação de se tornar igual à Yahweh, que criou o homem (Adam) com o material do solo (Adamah) (Gênesis 2:7).
A segunda tentação, descrita em Mateus e que no Evangelho segundo Lucas é a terceira, corresponde ao ato de saltar de um lugar alto e pedir para que os mensageiros de Yahweh o segurem. Esta tentação possui tanto o aspecto da vaidade[8], pois visa fazer com que Jesus se comporte de maneira a se sentir especial em relação a Yahweh, quanto a verificar a sua própria fé, pois faz alusão a um trecho do Salmo 91 “a desgraça jamais te atingirá e praga nenhuma chegará à tua tenda: pois em teu favor ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos. Eles te levarão em suas mãos, para que teus pés não tropecem numa pedra”. Porém, Jesus responde fazendo uso da passagem contida em Deuteronômio 6:16 “Não tentareis Yahweh vosso Deus como o tentaste em Massa”. Esta referência, faz alusão ao Êxodo 17:7, quando os israelitas pediram a Moshé uma demonstração do poder de Yahweh, fazendo com que ele golpeasse a rocha e fizesse surgir água. Ou seja, a fé em Yahweh, a confiança em seu poder não deve ser fruto de uma troca visível, baseada em fenômenos, mas deve ser sincera. Pois, a fé daquele que faz algo esperando uma coisa em troca, não é um ato sincero, mas baseado em interesse[9].
Já a terceira tentação descrita em Mateus e, em Lucas, como a segunda, consiste numa prova do orgulho[10], no qual Satanás indica que poderá conceder fama e domínio a Jesus. Porém, Jesus, novamente, faz uso dos ensinamentos contidos no Deuteronômio (6:13) “É a Yahweh teu Deus que temerás. A ele servirás e pelo seu nome jurarás”, demonstrando que todos os atos são atos de Yahweh e que somos instrumentos da sua Vontade.
João 5 : 30-31
“Por mim mesmo, nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço, e meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. Se eu der testemunho de mim mesmo, meu testemunho não será verdadeiro.”
Dentro do processo de tentação, o versículo em análise indica que Jesus estava entre feras e era servido pelos anjos (mensageiros divinos). Este ensinamento nos mostra que apesar de convivermos com as nossas baixas paixões, aquelas que são fruto da carne, da matéria, de Nephesch, ainda assim, as mensagens de Yahweh chegam até nós. Porém, é necessário que a gente se conecte com estas mensagens, para que as nossas paixões venham a morrer no deserto.
Números 14 : 27-33
“Até quando esta comunidade perversa há de murmurar contra mim [Yahweh]? Ouvi as queixas que os israelitas murmuram contra mim. (…) Os vossos cadáveres cairão neste deserto, todos vós os recenseados, (…), vós que tendes murmurado contra mim. Juro que não entrarei neste país, a respeito do qual eu, levantando a mão, fiz juramento de nele vos estabelecer. Apenas Caleb, filho de Jefoné, e Josué, filho de Nun, e os vossos [Moshé e Aarão] filhos, dos quais dizíeis que seriam levados como presa, serão eles que farei entrar e que conhecerão a terra que desprezastes. Quando a vós, os cadáveres cairão neste deserto, e vossos filhos andarão errantes neste deserto durante quarenta anos, carregando o peso da vossa infidelidade, até que os vossos cadáveres se consumam no deserto.”
Assim, Jesus, aquele que representa o novo broto, que havia ultrapassado o Véu de Nephesch, agora atravessa o Véu de Paroketh[11], e está apto a ser confundido com Ruach e, por isso, ser chamado de o Cristo. Como Ruach (Espírito – Pneuma), é ele que invade a matéria e a dá movimento, dá a vida.
João 14 : 6-7
“Diz-lhe Jesus: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também conhecereis meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes”.
Uma vez que ele se confunde com Ruach, Jesus pode falar que ninguém vai ao Pai, isto é, àquilo o que é mais elevado, se não passar pelo caminho que ele transitou. Entretanto, por ser o caminho, ele não é o Pai, posto que a jornada ainda deve continuar. Por isso, a partir deste momento, tem início o Evangelho do Cristo, aquele que relata o caminho a ser percorrido do Véu de Paroketh até o terceiro véu, o Véu do Abismo. E, por estar para além da matéria, Jesus passa a ter autoridade sobre as questões da matéria, incluindo Satanás.
Neste ponto, uma pergunta que pode ser feita é: por que Jesus, ao se tornar o Cristo, semelhante a Ruach, iria atuar no mundo e iniciar o seu Evangelho? E a resposta é relativamente simples, para dar continuidade aos desígnios de Yahweh, como a Sua descendência. Esse conceito da continuidade da obra de Yahweh em diversas camadas é expressa por toda a Torá, com alguns aspectos já abordados, nas principais festividades judaicas que acontecem em Tishrei (תשרי)[12], mas ganha destaque especial nas 3 (três) apresentações e explicações do porquê do Shabat (שבת)[13], o quarto mandamento, que se revela fundamental para entendermos o contexto do versículo analisado e o próximo..
A primeira apresentação do Shabat se encontra na Gênesis:
Gênesis 2 : 1-3
“Céus e terra, e todos os seus componentes foram assim completados. Com o sétimo dia Elohim terminou todo o trabalho que Ele havia feito. Ele assim cessou [shavat], no sétimo dia, de todo trabalho que Ele tinha feito. Elohim abençoou o sétimo dia, e Ele o declarou santo, pois neste dia que Elohim cessou todo trabalho que ele tinha criado do modo que iria continuar a funcionar.”
Nesta primeira referência ao Shabat, ele tem uma abrangência cósmica, posto ser o término da ação criativa de Yahweh. E este momento é, por si, abençoado, pois Ele assim o fez.
A segunda referência ao Shabat aparece no Êxodo, quando Moshé recebe a Lei.
Êxodo 20 : 8-11
“Lembra o Shabat para mantê-lo sagrado. Tu podes trabalhar seis dias na semana e fazer todas as tuas tarefas. Mas o sétimo dia é Shabat para Yahweh teu Senhor. Não faças qualquer coisa que constitua trabalho criador e criativo. Isto inclui a ti, teu filho, tua filha, tua serva, teu animal, e o estrangeiro em teus portões. Foi durante os seis dias da semana que Yahweh fez o céu, a terra, o mar, e tudo que está neles, mas Ele descansou no sétimo dia. Por isso, Yahweh, abençoou o Shabat e o santificou.”
Nesta passagem, verificamos que o Shabat precisa ser cumprido para que a sua santidade continue. Isto é, apesar de, no Gênesis, o Shabat ter sido declarado santo, no que se trata da humanidade (Adam), há a necessidade de, ato contínuo ao de Yahweh, continuar a santificá-lo.
Enquanto na terceira referência ao Shabat, encontrada em Deuteronômio 5:12-15, verificamos:
Deuteronômio 5 : 12-15
“Preserva o Shabat para mantê-lo santo, como Yahweh, teu Senhor, ordenou-te. Tu podes trabalhar os seis dias da semana, e fazer todas as tuas tarefas, mas o sétimo dia é Shabat para Yahweh, teu Senhor, assim não faças nada que constitua trabalho criador e criativo. Isto inclui tu, teu filho, tua filha, eu escravo e escrava, teu boi, teu jumento, teus outros animais, e o estrangeiro que está em teus portões. Teu escravo e escrava então descansam assim como tu. Tu deves lembrar que tu foste escravo no Egito, quando Yahweh, teu Senhor, te tirou com mão forte e braço estendido. Por esse motivo, Yahweh, teu Senhor, ordenou-te a guardar o Shabat.”
Nesta passagem, encontramos uma ligeira diferença em relação à segunda citação. Aqui, o Shabat é direcionado para aqueles que se encontram vinculados ao judeu, isto é, para fazer com que as suas atividades cessem. Essas 3 (três) passagens indicam, dentre outras coisas, o escalonamento do ato de cessar (Shabat) as atividades criativas e criadoras, no qual o “superior” intercede em favor do “inferior”. Em outras palavras, aquele que tem o direito do Shabat, tem o dever de estendê-lo aos outros que se encontram abaixo[14].
Ademais, para fins do nosso estudo, cabe lembrarmos que o mandamento de se “guardar o Shabat” é o de número 4 (quatro). Isto é, ele é vinculado ao significado da letra Dalet (ד), que, além de ser a “chave do portal”, é a anulação do “eu” que acompanha qualquer mudança na orientação existencial[15]. Assim, a anulação do “eu” e a chave do portal para Yahweh necessita de que nós façamos cessar a atividade daqueles que estão vinculados ao nosso íntimo e se encontram em situação de inferioridade, como os nossos “escravos e animais internos”.
Por isso, devemos cumprir as 39 (trinta e nove) proibições[16] contidas na Torá (e explicadas no Talmud) acerca do Shabat, todas associadas à construção do Tabernáculo, incluindo acender o fogo. É por isso que, antes de se iniciar o período de Shabat, no final do sexto dia, pouco antes de a noite chegar, devemos acender o fogo[17], para garantir que, durante todo o Shabat, estejamos devidamente iluminados[18] e prontos para o Teshuvá, o retorno a fonte Primária e Suprema[19], que acontece após o período da noite do Shabat, isto é, com o nascer do sol.
E, quem garante que esses “escravos e animais internos” venham a cessar as suas atividades, cumprindo o Shabat, é o seu senhor. Por isso que Jesus dá início ao Evangelho do Cristo, “a boa mensagem” de que o Reino de Deus se aproxima.
Notas:
[1] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio. Enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).
[2] Mateus 4:1-2 “Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome”.
[3] Jó 1:12 “Então Yahweh disse ao Satã: ‘Pois bem, tudo o que ele possui está em teu poder, mas não estendas tua mão contra ele’.”
[4] Jó 1: 7 “Yahweh então perto ao Satã: ‘De onde vens?’ – ‘Venho de dar uma volta pela terra, andando a esmo’, respondeu Satã.”. A ideia de que Satã anda “a esmo” na terra, indica que ele, dentre outras coisas, que ele é associado a atos automáticos, nos quais não prestamos atenção e, por isso, caminhamos a esmo pela matéria. As forças de Satã decorrem de Nephesch, a porção da nossa alma que é responsável pelas questões automáticas da vida.
[5] Em Josué 3:14-17 vemos que, enquanto Adam (a Humanidade) se encontra na margem leste do Rio Jordão, nas terras de onde vem a Luz, Sartã está localizada na margem oeste do Rio Jordão, nas terras da matéria. Portanto, a tentação decorrente deste adversário da Humanidade, que interfere no caminho espiritual, é um atributo vinculado à Nephesch, a Alma ou Alma Animal, que é a responsável por guiar o corpo automaticamente (ou de maneira instintiva) nas questões da vida material. Esta informação também pode ser observada ao se perceber que a expressão Nephesch decorre da raiz associada a ideia de descanso, isto é, ela assume a condução do corpo quando o Ruach (Espírito) está descansando.
[6] Mateus 4:1-11 e Lucas 4:1-13
[7] A Torá foi dada no terceiro mês do calendário judaico a Moshé, o terceiro filho de seus pais (depois de Miriam e Aarão), para um povo que tinha três grupos, Cohen, Levi e Israel. Além de a própria Torá ser dividida em três partes, o Pentateuco, os Profetas e as Escrituras.
[8] A Vaidade é a valorização de suas qualidades (reais ou não) fundamentada no desejo de que elas sejam reconhecidas pelos demais.
[9] Mateus 6:3-4 “Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”. Aqui é importante destacarmos que, dentro da Tradição, a mão direita é aquela que faz, enquanto a esquerda é aquela que recebe, assim, a passagem bíblica indica que não devemos fazer alguma coisa esperando receber algo em troca, e que esse ato de desprendimento deve ser feito de coração, pois Yahweh sabe o que se encontra em nosso coração e, com base nisso, ele irá atuar. Se formos sinceros, a Sua recompensa se fará presente, mas, caso não sejamos sinceros, nada receberemos.
[10] O Orgulho é o sentimento de prazer e de grande satisfação com o próprio valor.
[11] O Véu de Paroketh ou véu do Templo, como também é chamado, é uma alusão ao véu que delimita, inicialmente, o Tabernáculo, criando uma área oculta na qual a Arca da Aliança ficava guardada (Levítico 16:2) e, posteriormente, no Templo de Salomão, desempenhando a mesma função. A este espaço no qual a Arca da Aliança fica localizada, também se dá o nome de Santo dos Santos.
[12] Tishrei (תשרי) é o nome do primeiro mês do calendário civil hebraico, que acontece entre setembro e outubro do calendário gregoriano (quando tem início o outono no hemisfério norte), no qual vamos encontrar o Rosh Hashaná, o Yom Kippur, o Sucot, o Shemini Atzeret e o Simchat Torah, que são todas festividades que, cada um à sua maneira, conversam com a ideia do recomeço de um ciclo. Ainda mais se levarmos em consideração que ele é o sétimo mês do calendário religioso, sendo chamado na Torá de Yerach Ha’etanim ou, simplesmente, Etanim. Por ser o sétimo, ele também é referido como sendo o “mais saciado dos meses”, pois a palavra “sete” (שבע) se escreve em hebraico da mesma maneira que a palavra “saciado” (שבע), indicando que o sete é aquele que trás a saciedade.
[13] Normalmente, traduzido como “descanso”, Shabat deve ser traduzido como “cessar”, no sentido de que uma atividade chegou ao fim.
[14] Uma curiosidade a respeito do Shabat, mas que denota a sua importância e a questão do seu efeito cíclico, encontra-se no fato de que, apesar de ele ser o sétimo dia, os demais dias da semana, em hebraico, são referências a sua contagem. Assim, aquilo que conhecemos como domingo é o dia um; a segunda-feira é o dia dois; até se chegar no próprio Shabat. Esta contagem é feita do próprio Shabat, assim o dia um (Yom Rishon) é o dia um após o Shabat, o dia dois (Yom Sheni) é o dia dois após o Shabat; e, assim, sucessivamente.
[15] Ensinamentos contidos na Tradição e verificados pela combinação de letras que compõem a letra Dalet (ד): Dalet se soletra Dalet (ד), Lamed (ל) e Tav (ת).
[16] Dentro da cultura Judaica, as 39 (trinta e nove) proibições que devem ser atentadas durante o Shabat foram aumentadas por atividades que são “próximas” às que são proibidas, pois, como uma ação “parece” com a ação proibida, se evita praticá-la para evitar de acabar praticando, mesmo que sem querer, a ação proibida.
[17] Apesar da Mistsvá de se acender o fogo possa ser executada por qualquer pessoa, tradicionalmente, ela recai sobre a mulher. Assim, nos ritos de Shabat, faltando 18 (dezoito) minutos antes do Shabat, a mulher deve acender as velas da residência. [o período de tempo indica, pela redução, o número 9, que indica a letra Teth (ט), que, por sua vez, simboliza o “logos universal”, a ideia de refúgio e de potencial de forças que se isolam a fim de se manterem protegidas das limitações estabelecidas pelo mundo material]. Após acender a vela, a mulher deve estender as mãos, fazer movimentos circulares em sua direção e cobrir os olhos. Então recita Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshanu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner shel Shabat kodesh (Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou acender a vela do santo Shabat). Depois, dá-se continuidade ao rito com a benção (Kidush) ao vinho e o jantar.
[18] Isaías 24:15 “Glorifique o Eterno com luz”. Esta passagem também costuma ser traduzida como “Glorificai a Yahweh no Oriente”.
[19] A expressão Teshuvá possui a raiz Shuv, que significa “retorno” e é a mesma raiz de Shabat. Na correlação com a semana, tem-se a ideia de que nos primeiros seis dias da semana, a Humanidade tem a missão de retificar a existência e, no sétimo dia, retornar ao seio da criação.
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