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A Poesia Mística de Jacopone de Todi

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Santiago Bovisio

Chama-se asceta a Jacopone de Todi porque seu caminho espiritual foi um constante esforço para se aproximar de Deus, sem nunca atingir, por espírito interior de sublime sacrifício, o estado místico de União Divina.

Costuma-se confundir a ascética com a mística: a ascética assinala no candidato o seu esforço por meio da prática de exercícios purgativos e amorosos e do estudo teórico dos diversos modos de alcançar a perfeição, desde seus primeiros passos até chegar à contemplação. Já na mística, o indivíduo penetra, pela prática volitiva e pelo rapto extático, até a União Divina.

Na ascética, há luta e esforço, pois persiste a dualidade entre o ser e sua essência pura, entre o homem e Deus. Na mística, por outro lado, há sossego e quietude, uma vez que há unidade: a pequena chama se uniu à grande chama Divina, e o homem funde-se em Deus.

Os ascetas cristãos basearam sua vida espiritual no caminho da Imitação de Cristo; entre os franciscanos, especialmente, adotou-se a imitação de Cristo pobre e crucificado, o que fez com que São Francisco de Assis fosse chamado Alter Christus e recebesse em seu corpo os sinais da Paixão.

Contudo, Jacopone de Todi, também franciscano, tomou como centro de suas aspirações e como exemplo de amor e dor na via ascética, a Virgem das Dores.

Stabat Mater dolorosa
Estava a Mãe dolorosa
Juxta crucem lacrimosa
E lacrimosa, aos pés da cruz
Dum pendebat Filius
Da qual pendia seu Filho

A imagem feminina sempre o inspira. É sua vida, sua musa, sua santidade. Pela imagem da mulher idealizada, Jacopone aprende a amar, impulsiona-se a escrever e criar, geme, desespera-se e converte-se à vida perfeita. Quando menino, ama sua mãe acima de tudo.

Nascido em 1228, sua mãe é o centro de toda sua atenção e carinho. É educado com todo o esmero, como convinha aos nobres de seu tempo, sendo adestrado nas artes de escrever bem e guerrear. Sua alma forte e varonil, no entanto, rebelava-se contra as disciplinas, encontrando paz apenas no amor de sua doce mãe. Seus versos indicam essa ligação:

Ben vegio che ama il figlio
Bem se vê que o filho ama
Lo patre per natura
A seu pai por natureza
E matre con dolzura
Mas à mãe dá todo
Tutto suo cuor il dona
Seu coração, com doçura

Seu pai, Benedetti, era firme e de caráter rígido, preocupado apenas em dar ao filho uma educação adequada, tarefa complicada em tempos em que o idioma italiano ainda não estava plenamente formado, e na península itálica falava-se latim, provençal e vários dialetos locais. Jacopone foi um precursor da língua italiana, junto com Bruneto, antecipando o que culminaria com Dante, Petrarca e Boccaccio. Além disso, devido à fragmentação da Itália em pequenos estados beligerantes, era necessário grande perícia nas artes da guerra, estratégia e jurisprudência.

Benedetti não poupava castigos nem disciplinas ao filho para conter seus impulsos rebeldes e sua inclinação às fantasias da juventude. Nos momentos de tormento interior, Jacopone sempre encontrava carinho e amparo nos braços de sua mãe, a quem se apegava cada vez mais, distanciando-se do pai a ponto de desenvolver certo ódio por ele. Jacopone confessa:

Stava a pensare
Estava pensando
Mio patre morerse
Que se meu pai morresse
Eh io più non staesse
Eu não mais estaria preso
A queste brigata
A estas obrigações

Apesar de sua rebeldia, não conseguia escapar da influência e da autoridade do pai, que o obrigou a estudar na Universidade de Bolonha, onde se doutorou em leis. Por quarenta anos, Jacopone exerceu a profissão de advogado e procurador, dedicando-se com afinco ao seu ofício.

Mas o espírito rebelde de Jacopone não estava completamente adormecido. Em 1267, já perto dos quarenta anos, casou-se com Vanna, filha dos Condes de Coldimiezzo, transferindo para ela todo o amor que antes devotava à sua mãe. Vanna era jovem, formosa, discreta e trazia a promessa de uma felicidade plena. Jacopone continuou sua adoração à imagem feminina em sua esposa, a quem amou com devoção terna e sincera.

Contudo, em 1268, ocorreu uma tragédia. Durante uma festa na praça principal de Todi, o camarote reservado às damas, onde estava Vanna, desmoronou, matando-a. Jacopone, que observava a cena entre os jurados, ficou devastado. Tentou salvar sua esposa, chamando-a com doces nomes e oferecendo sua vida pela dela, mas nada pôde impedir o destino. A perda de Vanna mergulhou Jacopone no desespero.

Cujus animam gementem
Essa alma que chorava
Contristatam et dolentem
Triste e dolorida
Pertransivit gladius
Foi transpassada por uma espada

Esse momento trágico de sua vida se refletiria em sua obra, especialmente no Stabat Mater. A morte de sua esposa provocou uma conversão religiosa profunda, despertando sua antiga personalidade, marcada pela poesia, rebeldia e espiritualidade. Surge, assim, o poeta asceta, iniciando seu caminho de penitência e renúncia.

A partir de então, Jacopone dedicou-se à Virgem das Dores como centro de seu caminho ascético. O suave amor pela mãe e o amor apaixonado pela esposa transformaram-se no amor à Mãe Divina. Maria, a Dolorosa, tornou-se seu refúgio e guia na busca pela perfeição espiritual.

Jacopone via em Deus um juiz implacável e em Jesus o grande Rei Salvador. Mas quando pensava em Maria, sua atitude mudava completamente: comovido pela dor da mãe, ele se inflama de compaixão e ternura. Através das lágrimas da Dolorosa, Jacopone encontra forças para renunciar ao mundo e mortificar-se.

Quis est homo qui non fleret
Que homem não chora
Matrem Christi si videret
Se vê a Mãe de Cristo
In tanto suplício?
Sofrendo tanto?

Essa conversão, aliada ao amor santo, o transformou em poeta. Embora muitos acreditem que ele começou a escrever apenas após sua conversão, é provável que Jacopone já compusesse versos desde antes, ainda que de forma reservada. Suas laudes em italiano e seus hinos em latim mostram um escritor de grande maturidade.

Em 1278, Jacopone entrou para a ordem dos Frades Menores, como leigo, por espírito de humildade. Sob o hábito de São Francisco, ele buscava penitência e mortificação, desprezando-se como pecador. Seu caminho ascético era árido e doloroso, dedicado ao sofrimento em imitação a Cristo e à Mãe Dolorosa.


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