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Santiago Boavista
Embora se tenha discutido e escrito amplamente sobre o conceito de Coragem, o medo ainda reina sobre a humanidade. Desde o medo primitivo, que encapsula todas as reações instintivas de autopreservação, até aquele medo mais sutil, mascarado como defesa pessoal, o medo continua a dominar os corações humanos. Isso sugere que a humanidade ou desconhece o verdadeiro Coragem ou possui uma compreensão equivocada dele, pois Coragem não é simplesmente uma questão de bravura ou impulso imprudente, mas sim um equilíbrio delicado de Autodomínio
Dentro do ser humano, existe uma defesa interna que impede as forças negativas e destrutivas de penetrar: algo que podemos chamar Roda de Controle, que vigia constantemente a entrada de qualquer vibração no ser. Contudo, quando o medo prevalece, essa barreira se enfraquece, permitindo a entrada de forças negativas, destrutivas e, em última instância, da morte. A verdadeira Coragem reside em manejar adequadamente o Autodomínio, distinguindo-se da “coagem” superficial que os homens comumente atribuem a esse termo, o qual é apenas o oposto do medo.
A Coragem é, portanto, sempre fiel à sua missão vital, e não pode ser reduzido às aparências exteriores do valor humano. Homens que se consideram corajosos e que realizaram atos heroicos muitas vezes tremem diante de uma simples sombra noturna, enquanto mulheres, que se assustavam com o rangido de uma porta, são capazes de demonstrar coragem inabalável em momentos de necessidade, como uma mãe que se lança às chamas para salvar seu filho.
Para que o Coragem seja plenamente realizada, ele deve ser experimentado em quatro etapas distintas. A primeira delas é a Simplicidade. O Mestre ensinou: “Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. A simplicidade é fundamental para que a Roda de Controle funcione sem impedimentos. As crianças, com sua inconsciência e espontaneidade, são o exemplo perfeito, pois geram a força necessária para sua defesa. A simplicidade é um verdadeiro valor, pois uma alma simples é uma alma destemida, livre de preocupações constantes sobre o futuro e segura de si mesma.
O homem moderno, entretanto, vive em um estado de constante preocupação, preso em uma mentalidade de defesa contínua e cavilações sobre males futuros. Abandonar essas preocupações e viver o presente é o primeiro passo para adquirir o poder necessário para reagir adequadamente ao perigo quando ele se apresentar, e não antes. O exemplo do Mestre que, ao ser informado de que não havia arroz, respondeu com alegria por poder demonstrar à Deus sua confiança, ilustra essa simplicidade em ação. Da mesma forma, o general San Martin, que ao receber a notícia de que o inimigo estava próximo, optou por descansar em vez de se preparar imediatamente para a defesa, demonstra a confiança inabalável que vem da simplicidade.
O segundo passo para alcançar o Valor Controle é a Prudência. Como o Mestre disse: “Sede simples como pombas, mas prudentes como serpentes”. A prudência, enquanto manifestação de Controle Pessoal, não é indecisão, mas sim a capacidade de reconhecer até onde o controle pode ser exercido sem ultrapassar o limite e transformar-se em medo. É a vigilância constante sobre as forças pessoais e a capacidade de agir com justiça, mas também com cautela, evitando o desperdício de energias preciosas.
Um exemplo clássico de falta de prudência é a história de Pedro, que prometeu dar sua vida por Cristo, mas o negou três vezes diante do perigo. Quando confrontado pela realidade, a bravura idealizada deu lugar ao medo. A prudência ensina a medir forças e a agir apenas quando se está preparado para enfrentar as consequências reais das ações.
A Temperança é o terceiro passo, essencial para se viver em paz, manter a simplicidade e dar à prudência o mérito que ela merece na distinção entre forças reais e ilusórias. A temperança é o reservatório onde se acumulam as energias da Coragem, permitindo que o ser controle e modere todos os seus atos, pensamentos e palavras, preservando assim suas forças. A história do cardeal Peretti, que escondeu sua verdadeira força até o momento em que foi eleito papa, exemplifica o poder da temperança em acumular e preservar energia para o momento certo de agir.
Por fim, chegamos ao quarto e mais desafiador passo: a Fortaleza. A verdadeira fortaleza não reside em uma resistência passiva, mas na capacidade de resistir até o momento certo e, então, abandonar a resistência, confiando na vitória já assegurada. A fortaleza não busca a destruição do inimigo, mas sim a superação dos próprios limites. Jacob lutou com o anjo e o venceu, e essa resistência é o que sustenta o universo e defende a vida. Contudo, a verdadeira fortaleza é generosa, desistindo do fruto da vitória quando a essência do valor já foi conquistada.
Assim, a Coragem e o Controle Pessoal se manifestam na simplicidade da criança que não conhece o medo, na prudência do ancião que já não teme o perigo, na temperança do virtuoso que evita os excessos da vida e na fortaleza do vencedor que se eleva acima de sua própria vitória.
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