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por A. Morte.
“Junto da morte é que floresce a vida!
Andamos rindo junto a sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
Da cova é como flor apodrecida.
A Morte lembra a estranha Margarida
Do nosso corpo, Fausto sem ventura…
Ela anda em torno a toda criatura
Numa dança macabra indefinida.
Vem revestida em suas negras sedas
E a marteladas lúgubres e tredas
Das Ilusões o eterno esquife prega.
E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
Faminta, absconsa, imponderada cega!”
Ironia de Lágrimas, Cruz e Souza
Fazia quase um ano que eu devia uma leitura de oráculo a uma pessoa muito querida, mas estava adiando, pois sentia que algo me seria mostrado e eu teria problemas em dizer (e sentir). Acontece que decidi fazer a leitura. Não é a primeira vez que a morte me visita nas leituras oraculares, e, ao longo de tantos anos, tenho muitas e muitas histórias sobre isso, que vou contando aqui aos poucos. Ela vem de forma sublime, de modo que muitas vezes preciso ponderar antes de dizer algo.
Existe um mistério que sempre surge diante de mim nesse momento e, especificamente nessa leitura, pude perceber que esse mistério é dado como consolo e não como dor, diferente da outra vez. Não senti aquele peso ou sensação de morte, mas uma leveza e um tipo de “carinho” vindo do oráculo.
Passei o dia inteiro pensando em uma forma de dizer isso à pessoa que lhe trouxesse alento, e não desespero. Então, eu simplesmente não disse toda a verdade; não consegui dizer aquele “em breve você vai seguir seu caminho para o outro lado”. A leitura toda me parecia brilhar como o brilho do sol, e foi onde me agarrei em palavras para traduzi-la. Foi muito difícil…
Se eu não a conhecesse, se não fosse alguém que amo profundamente, talvez tivesse sido uma das leituras mais bonitas já feitas em minha vida. Mas eu a conheço e, por mais que saiba que nada é eterno, eu não gostaria de saber que ela vai morrer. E, muito menos, gostaria de ser quem daria essa mensagem dessa forma. Eu não suavizei a leitura, mas li a parte bonita, a parte que exaltava aquela pessoa.
Eu tenho me despedido dela há alguns meses, pois entendi e senti que o fim está muito próximo. Uma guerreira iluminada pela luz do sol que, finalmente, consegue se perceber com o valor que tem e cujo brilho nos olhos exalta ainda mais esse valor.
Foram horas e horas pensando… E sim, eu chorei depois daquele momento de leitura. Eu não gostaria de ter visto a morte.
Com ponderações mais tarde, percebi que não há paradoxo entre morte e vida. Existe um elo entre ambas e, por isso, mesmo viva, minha conexão com a morte se faz tão presente. E a vida se mostra de forma tão sublime mesmo nos momentos finais. Percebi que, da morte, tiramos todo o elixir da vida, que lágrimas são excelentes unguentos mágicos e que há iluminação em poder se despedir da melhor forma possível.
Dessa vez, eu não senti o peso da morte; não senti como se estivesse morrendo. Senti a leveza da vida que, em dado momento, se esvai, a beleza das flores murchando e exalando o cheiro de mofo nas coroas sobre túmulos que sempre admirei. Vi-me sentada numa sepultura em tenra idade, observando a beleza da vida que nascia dentro daquele imenso cemitério que me parecia ainda maior do que já é. Eu, que admirava cada detalhe ali, hoje admiro até a cor da terra vermelha que desce lentamente sobre as covas, até a ferrugem nas cruzes e lápides que traz uma paleta de cores cuja beleza apenas nós, necromantes, conseguimos enxergar. Mas penso ainda que até mesmo você, leitor, deveria olhar com outros olhos os detalhes da vida a partir de agora.
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