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Os Sete Graus de Renúncia

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Santiago Boavista

Se uma pessoa decidisse abrir mão, não apenas das coisas que considera prejudiciais ao seu desenvolvimento pessoal, mas sim em nome da verdadeira liberdade, ela experimentaria uma felicidade indescritível, uma serenidade inabalável e um estado de êxtase natural e indescritível. No entanto, quando alguém se liberta de algo específico, pode, paradoxalmente, acabar se aprisionando em laços ainda mais sutis e em “gaiolas” maiores. Por isso, a renúncia deve ser voltada para alcançar a verdadeira liberdade, que é o que significa realmente viver.

Quando alguém renuncia voluntariamente às coisas que possui, algo curioso acontece: essa pessoa, em certo sentido, se torna dona dessas coisas. Quem recusa o pedaço de terra oferecido pela sociedade em busca de liberdade, acaba adquirindo domínio sobre a própria terra. E quem destrói sua casa porque está cansado de ver o céu apenas através da janela, acaba por contemplar todo o horizonte. Não estou advogando a destruição das propriedades, no entanto, a verdadeira renúncia começa quando a pessoa se desvencilha da personalidade que possui atualmente. Em textos sobre Desenvolvimento Espiritual, são descritos sete graus de Renuncia.

Primeiro Grau de Renúncia

O primeiro grau consiste em romper com a personalidade atual, que é composta por um conjunto de ideias que aprisionam a pessoa em um círculo de leis, crenças, hábitos, costumes e tendências específicas. Romper esse círculo e rejeitar a ideia de que a felicidade depende desses conceitos preestabelecidos é o primeiro passo em direção à verdadeira liberdade.

A pessoa que se prende àquilo que acredita ser sua fonte de felicidade e bem-estar acaba sofrendo continuamente, pois teme perder essas amarras, que são como teias de aranha que a prendem a si mesma e limitam sua visão interior, reduzindo-a a um ponto ínfimo. Vivendo em um espaço espiritual tão restrito, essa pessoa não tem outra força além da ilusão de segurança.

Um exemplo que ilustra essa ideia é o diálogo entre a rã do charco e a rã do rio. A rã do charco acreditava que não havia maior extensão de água do que aquela em que vivia. Da mesma forma, a alma que se sente aprisionada anseia por liberdade. Assim como os seres humanos que não se contentam com o que têm e desejam algo mais, esse desejo é o primeiro passo para a Renunciação.

Segundo Grau de Renúncia

Ao renunciar à personalidade, a alma busca adquirir sua verdadeira individualidade, aquela que a conectará, por meio de suas próprias forças, com a alma do mundo. A lagarta, prestes a se transformar em borboleta, é uma metáfora para essa transformação: o ego antigo desvanece, dando lugar a uma nova compreensão, mais próxima do divino. Dentro da “cela” da personalidade, a pessoa percebe que não é verdadeiramente feliz e acaba mentindo para si mesma, tentando acreditar no contrário. Por isso, o segundo grau de Renunciação envolve a coragem de reconhecer e confessar sinceramente as próprias limitações e imperfeições.

Renunciar significa conhecer-se profundamente. É iluminar a alma e confrontar, nos recantos mais ocultos da consciência, aquelas sombras temidas e cuidadosamente escondidas. O acúmulo de desejos, aspirações, tendências e vícios desconhecidos por todos é uma forma de avareza moral. Requer-se um valor extraordinário para, não apenas confessar esses defeitos internos, como fez Rousseau, mas também para que a alma os reconheça diante de si mesma.

Essa natureza oculta age como uma sombra que constantemente encoraja o indivíduo a esconder suas misérias interiores e pecados ocultos. No entanto, a alma que anseia por liberdade, ao renunciar à sua natureza inferior e à sua personalidade pesada, destrói esse inimigo interno. Ela não se envergonha mais de se ver como realmente é, com suas virtudes e falhas, pois compreende que bem e mal são apenas facetas da mesma realidade interior.

Terceiro Grau de Renúncia

Somente quem não se conhece verdadeiramente pode ser avarento, invejoso e mesquinho, vivendo com a ilusão de ser o centro do universo, com todos os outros girando ao seu redor. Por isso, no terceiro grau de Renunciação, rompe-se o conceito de separatividade. “Eu e tu”, “este e aquele”, “hoje e amanhã” — todas essas distinções desaparecem sob o olhar sereno daquele que tudo renunciou. Ele já não se vê mais como o centro mesquinho ao redor do qual tudo deve girar, mas sim como parte de um todo maior.

Um ser assim não pode se vangloriar do que é, pois sabe que todos têm suas próprias falhas e virtudes. Ele não deseja o que não tem, pois “ter” e “não ter” são conceitos relativos à vida exterior. Para ele, bem e mal se uniram em uma única base, o pilar sagrado sobre o qual arde a chama única do Espírito. Quando se alcança essa compreensão, a visão e as ações mudam completamente.

Quarto Grau de Renúncia

No quarto grau de Renunciação, compreende-se o verdadeiro significado de “servir pelo serviço” ou “trabalhar pelo trabalho”. A pessoa trabalha como uma abelha, sem pensar para quem ou por que está trabalhando. O trabalho torna-se um meio de libertar a alma, sem qualquer desejo de recompensa, apenas com a satisfação de realizar a tarefa. Ela dá sem esperar reconhecimento; a mão esquerda não sabe o que faz a direita, pois já superou o desejo de satisfação pessoal.

A caridade praticada por vaidade é uma forma de luxo mental, mas a caridade praticada por amor à prática é uma verdadeira libertação, não apenas dos sentidos, mas também da mente. Os grandes seres que realizaram obras humanitárias frequentemente responderam aos elogios dizendo: “Eu não fiz isso; Deus fez”. Esses seres, ao receberem a tarefa mais humilde ou banal, a cumprem sem questionar. Nesse ponto, vivem plenamente a vida e alcançam o quinto grau da Renunciação.

Infelizes são os que acreditam que existem coisas agradáveis e desagradáveis e que buscam apenas o que consideram belo. Eles jamais serão verdadeiramente felizes, pois não há coisas feias ou belas; todas merecem ser conhecidas e, aos olhos do observador atento, revelam a semente do Espírito que as sustenta.

Certa vez, numa noite fria e chuvosa, dois frades humildes caminhavam descalços em direção a Assis. O menor deles, de repente, rompeu o silêncio e disse ao companheiro: “Frei Leão, ovelha de Deus, escuta-me atentamente”. Era São Francisco de Assis. Ele perguntou: “Se conhecesses o segredo do Universo, de todos os mundos, de todas as coisas, terias a perfeita felicidade?” Após enumerar várias coisas grandes e belas, perguntou-lhe novamente: “Se, ao chegarmos ao convento, o irmão porteiro não nos reconhecesse e nos deixasse sob a intempérie, com fome e frio, como dois vagabundos, eu te digo que nisso estaria a perfeita felicidade”. São Francisco dizia isso porque a verdadeira felicidade está no conhecimento profundo de todas as coisas, boas e más.

Sexto Grau de Renúncia

No sexto grau da Renunciação, ultrapassa-se a liberação dos sentidos e da mente; alcança-se a libertação espiritual. Quem renunciou a tudo se assemelha tanto à Vontade Divina que supera o tempo e a dor. O ser que se libertou espiritualmente alcança um ponto de vista tão amplo que vê a obra da vida em sua essência e beleza, mesmo quando os outros veem apenas o avesso.

Assim, o Peregrino da Eternidade alcança o sétimo grau da Renunciação e vive na Hora Eterna, pois aprendeu que perder é ganhar, que dar é receber, e que deixar o pequeno é viver no grande. Ao desprezar as horas e o tempo, coloca-se firmemente no Umbral da Eternidade.


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