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Quando alguém fala de fantasmas ou quando lemos uma história ou assistimos a um filme, geralmente a personagem principal é uma entidade. Uma entidade é um fantasma que parece possuir consciência e na maioria das vezes interage com o meio e com pessoas. No ramo de se caçar fantasmas entidades são responsáveis por quase todos os trabalhos que surgem, e com o tempo você acaba sendo capaz de identificar esse tipo de aparição fantasmagórica com facilidade.
O assunto sobre entidades poderia se estender por centenas de páginas e mesmo assim não cobriríamos todas as possibilidades, hipóteses e casos, mas fica mais fácil entender o que são e o que não são ao falarmos sobre os outros tipos de fantasmas. No próximo capítulo vamos estudar como se forma um fantasma, então não há motivo para tentar explicar neste momento de onde vêm as entidades ou como elas surgem, mas podemos tentar explicar porque as entidades permanecem em determinado local ou então porque continuam interagindo com o “lado de cá”.
Anos de pesquisas e encontros, não apenas da Morte Súbita Inc., mas de vários grupos de pesquisa paranormal, caçadores de fantasmas e alguns exorcistas, acabaram apontando alguns padrões na atividade de entidades que levaram os pesquisadores e caçadores a algumas conclusões “psicológicas” – ou se preferir “motivacionais” – que fazem com que uma entidade permaneça em um lugar depois de sua morte.
Aparentemente quando uma pessoa morre de forma repentina e especialmente violenta parece que se cria um quadro de teimosia por parte do morto. Mortes súbitas ou violentas são os dois tipos que quase sempre estão associadas com a presença de um fantasma e não temos como explicar isso, mas podemos imaginar alguns motivos. Se um fantasma for, de certa forma, uma parte da pessoa que, por algum motiv, não depende mais de seu corpo físico para existir, ou seja, se todos nós somos fantasmas vestindo um manto de carne, podemos esperar algumas motivações ou traços psicológicos muito semelhantes aos das pessoas vivas. Assim, se o ciclo natural de alguém é interrompido, ou se determinada pessoa é impedida de conseguir algo, ou é separada de algo que desejava muito, parece que mesmo depois que seu corpo se vai algo
dela permanece tentando completar seu ciclo, terminar o que estava fazendo ou simplesmente continuar próximo daquilo que desejava tanto. Isso acaba se enquadrando no que é conhecido como “negócios inacabados” ou negócios pendentes.
Também é muito comum, por exemplo, que pais que sofrem o trauma de perderem um filho, acabar, em algum momento, encontrando o espírito deste filho. A psicologia afirma que essa é uma experiência muito comum, é uma alucinação causada pela mente traumatizada que busca preencher o vazio deixado pela morte do filho ou filha. Em muitos casos não há como negar isso, e como um caça-fantasmas sério você não pode simplesmente achar que qualquer coisa que alguém afirme que viu, por mais séria ou transtornada que seja a pessoa, é a prova da existência de uma atividade fantasmagórica. Veja, é comum que pais passem a vida vendo a figura do filho, muitas vezes em momento de stress ou de alegria, e a imagem do filho parece confortar os pais ou legitimar a alegria que estão experienciando como se isso lhes mostrasse que podem ser felizes apesar da tragédia. Ao mesmo tempo é comum que apenas um dos pais veja o filho e é mais comum que apenas sintam a presença. Isso tudo de fato pode ser explicado pela psicologia como uma forma do cérebro lidar com o problema, por outro lado parece que tudo o que acontece e que não pode ser explicado de maneira convencional acaba se tornando “uma maneira do cérebro fazer alguma coisa”. Embora às vezes essa presença do filho não seja prejudicial e até traga alegria para os pais, ou um dos pais, em outras ela vai muito além de uma mãe dizer que apenas sente o filho próximo.
Um dos casos estudados por Joshua P. Warren, pesquisador paranormal e caça-fantasmas americano, envolvia uma família que morava em uma fazenda isolada no Alabama. Duas gerações já haviam morado sob aquele mesmo teto e, por ser isolada, não havia hospitais nas imediações. No começo do século XX um bebê nasceu no sótão, foi um parto difícil e a mãe quase morreu, já era sua sexta gravidez. O bebê nasceu muito debilitado, e depois de alguns dias ele morreu. Na mesma noite em que o bebê morreu a família começou a ser acordada de noite por berros atormentados de um recém nascido, as crianças pequenas ficavam em seus quartos, abraçadas, tapando os ouvidos e chorando. Com o tempo se tornou comum que pequenos objetos caíssem das prateleiras mais baixas. Não agüentando mais a família vendeu a casa e se mudou. Neste caso existe uma enorme diferença entre um pai triste e um evento que vai muito além do que o que um cérebro possa fazer para atenuar uma perda.
Outro caso ilustrativo, investigado por um caçador paulista ligado ao Clube de Caça, descreve um caso interessante, novamente acontecendo ao redor de um recém falecimento da filha mais velha de um casal. Preocupada em arrumar as coisas da criança morta, a mãe começou a ficar aflita porque não encontrava uma certa boneca de profundo significado emocional. Caída aos prantos a mãe adormeceu e de madrugada sentiu um peso com se alguém tivesse subido na cama. Assustada acendeu a luz e nada viu. Novamente ao tentar dormir e se convencer que foi apenas uma impressão nervosa, mas mais tarde acordou novamente com a nítida sensação de que alguém tentava levantar o colchão. Sem conseguir dormir novamente tentou ela mesma levantar o colchão para ver se a sensação seria a mesma que teve e ao fazer isso pôde ver a boneca escondida em baixo de sua cama. A boneca estava junto do diário da filha que ela costumava esconder para manter longe dos olhos do irmão mais novo.
Muitas vezes entidades de entes queridos são vistas, mas dificilmente elas permanecem presentes por muito tempo. O mais comum é que elas sejam vistas no curto período que se segue à morte e então desaparecem, parece que surge para se despedir de algumas pessoas e então simplesmente não aparece mais, tenha em mente que como caçador de fantasmas a maioria desses casos apenas são registrados na forma de depoimentos, dificilmente você consegue analisar uma entidade dessas por causa de sua breviedade. Algo interessante sobre esse tipo de aparição é que ela não parece estar presa a um espaço ou uma região, pessoas de uma mesma família ou amigos de uma pessoa falecida já disseram ter visto o seu espírito em lugares diferentes e mesmo distantes. Um filho disse que viu o espírito do pai dois dias após o
enterro, o pai havia sido sepultado no Rio de Janeiro e o filho estava de volta em seu apartamento no Recife. Qualquer que seja a natureza íntima de uma atividade fantasmagórica as limitações de espaço parecem possuir pouco ou nenhum efeito sobre elas.
Nesse caso as aparições parecem estar ligadas mais a um sentimento forte de carinho, ou a uma confusão causada pela morte inesperada.
Negócios inacabados geralmente ocorrem no caso de pessoas mais velhas, que parecem ter uma ligação mais forte com o mundo físico. Um casal, depois de muitos anos de esforço e trabalho, conseguiu comprar a casa dos sonhos em uma praia, de frente ao mar e se mudaram lá para viver a sua aposentadoria em paz. Era uma casa muito bonita, grande e estava em um lugar maravilhoso, era fácil entender o motivo de todo o trabalho que tiveram para conseguir comprá-la e reformá-la. Depois de alguns anos o marido decidiu que estava cansado daquele marasmo e não agüentava mais o lugar, chegou a falar com a esposa várias vezes sobre a hipótese de se mudarem, ela não queria, aquela era a casa dos sonhos dela, dizendo que “nem morta deixaria aquela casa” para voltar para a cidade. Alguns meses depois o homem recebeu uma proposta generosa pela propriedade e a vendeu. Isso gerou um stress violento com sua esposa, que chorou, brigou e finalmente se resignou. Seu marido saiu de casa alguns dias depois para ir passar a escritura para o nome do novo dono e concluir a venda do imóvel, quando voltou para casa encontrou sua mulher morta, caída na varanda, ele disse que no parapeito havia uma coruja branca acima do corpo de sua mulher, e a coruja parecia encará-lo. Ele disse que teve certeza que estava olhando dentro dos olhos de sua mulher e que ela continuava com raiva dele. Em uma semana os cabelos grisalhos do homem ficaram completamente brancos e ele deixou a casa da praia e voltou para a capital.
Ainda algumas entidades parecem permanecer por aqui graças a alguma obsessão que tinham em vida ou mesmo por vingança, são chamados de espíritos obsessivos. É comum nos depararmos com relatos de pessoas que foram mortas em algum lugar serem vistas no local, seja atormentando a pessoa que a matou ou alguém que tenha uma ligação com essa pessoa. Espíritos obsessivos geralmente são as entidades mais voláteis e agressivas, muitas vezes tomando formas desagradáveis e atacando as pessoas.
Desta forma o estudo jornalístico de qualquer caso se torna fundamental para você se preparar para o que vai encontrar. Mais para frente vamos nos ater detalhadamente a como isso pode ser feito. A importância de você saber com o que está lidando é enorme, primeiro porque pode ter uma idéia de como a atividade fantasmagórica vai se comportar. Depois porque, levantando informações sobre as possíveis motivações dela, pode ter algumas opções mais certeiras de como ela se manifesta e assim uma probabilidade maior de se comunicar com ela e registrá-la.
Imagine no caso da mulher da casa de praia que morreu. De cara podemos dizer que o desgosto que sentiu por terem vendido aquilo que considerava seu paraíso particular pode ter tido uma parte importante na causa de sua morte. O envelhecimento de seu viúvo e seu desgaste físico foram perceptíveis. Apenas com esses dados não temos como nos aprofundar na motivação da entidade. Mas se por acaso soubéssemos que ela continuou se manifestando de forma agressiva ou não durante a semana em que o viúvo ficou na casa e se ela continuou surgindo para o novo dono podemos começar a notar alguns padrões que nos dizem muito a respeito de seu modus operandi.
Este caso ainda é interessante porque a manifestação ocorreu na forma de um animal. Não são incomuns relatos e casos registrados onde entidades que não eram animais em vida assumam essa forma depois de mortas. Mas o que dizer de um caso como o seguinte:
Imagine que você está investigando um sítio supostamente assombrado. Depois de uma noite de investigações você vai estudar o material que coletou e descobre que gravou relinchos de cavalos ou fotografias de porcos fantasmas.
Negócios inacabados, entes queridos e obsessões fazem sentido quando analisamos a psicologia humana. Mas o que motivaria um cavalo a permanecer aqui? Um cão? Não há como saber. Começar a especular pode ser um ótimo exercício filosófico, afinal podemos dizer que animais também possuem almas, ou mesmo objetivos pessoais, mas isso não nos leva a lugar nenhum quando falamos de uma resposta prática e sólida. Mas não devemos jamais ignorar esse tipo de aparições e manifestações, elas podem indicar que basta existir para que se deixe uma impressão na realidade que pode ser capturada com a tecnologia correta.
Existem casos de fantasmas de animais que estão presos a figuras humanas, uma viagem pelo interior do Brasil é tudo o que você precisa para ter em primeira mão histórias de vaqueiros que são vistos cavalgando em seus cavalos ou peões que ainda perseguem bois fantasmas. Nestes casos o que parece é que o fantasma de uma pessoa acaba criando a impressão fantasmagórica do animal, ou quem sabe ainda prendendo o animal em sua condição fantasma.
Como vimos um dos fatores principais de uma entidade é que ela tem algo que pode ser comparado com uma consciência e ela interage com o meio e pessoas que as cercam. Assim podemos ainda dividir entidades em três modelos temporais.
Quando falamos em fantasmas geralmente o que nos vem à mente é alguém que já morreu e não está mais presente fisicamente. Isso nos coloca em contato com algo do passado, às vezes próximo, como alguém que morreu há pouco tempo, e às vezes a um passado distante que existiu ha anos, mesmo séculos, antes de você nascer. Fantasmas de escravos que fugiram para a mata, tribos indígenas fantasmas inteiras aparecendo para celebrar rituais antigos, fantasmas de personalidades em castelos ou construções públicas, etc. Esses são talvez o tipo mais comum de entidades.
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