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A extensa literatura sobre Teosofia, este pequeno livro se destaca por certas características especialmente marcadas. É uma tentativa para descrever a Mundo Invisível da mesma maneira que um botânico descreveria algum novo território neste globo, não explorado por qualquer botânico anterior. A maioria dos livros que tratam de Misticismo e Ocultismo se caracteriza pela falta de uma apresentação científica, tal qual se faz em todo departamento científico. Mais nos dão a significação das coisas do que descrições das coisas em si. Neste pequeno livro o autor aborda o Mundo Invisível do ponto de vista da ciência. Como tenho certa ligação com este livro, por ter sido o amanuense que o copiou para a impressão, posso descrever como veio a ser escrito. Na época em que foi escrito, em 1894, C. W. Leadbeater era o secretário da Loja de Londres da Sociedade Teosófica, e o seu presidente era o Sr. A. P. Sinnett. A Loja não fazia propaganda pública nem realizava reuniões abertas; porém três ou quatro vezes por ano se efetuava uma reunião na residência do Sr. Sinnett, e cartões de convite eram enviados aos membros da Loja e aos poucos das “classes superiores” que o Sr. Sinnett julgava provavelmente interessados em Teosofia. O Sr. Sinnett desejava que o Sr, Leadbeater (como era então o seu tratamento) fizesse uma palestra na Loja.
Nosso autor escolheu como tema “O Plano Astral”. Cabe citar aqui a descrição que ele próprio fez do seu treinamento em clarividência, que o habilitou a fazer uma investigação científica dos fenômenos do Plano Astral. Em seu livro Como Mc Veio a Teosofia, descreve assim o seu treinamento: Desenvolvimento Inesperado Deve-se compreender que naquela época eu não possuía nenhuma faculdade clarividente, nem jamais me havia julgado ser um sensitiva. Lembro-me que era minha convicção que a homem devia nascer com alguns poderes psíquicos e um corpo sensitivo antes de poder tomar qualquer iniciativa nessa espécie de desenvolvimento. De sorte que nunca eu havia conjeturado que me fosse possível qualquer progresso desse tipo nesta encarnação, porém nutria a esperança de que se eu trabalhasse tão bem quanto soubesse nesta vida, eu poderia nascer na próxima com veículos mais adequados para essa linha particular de progresso. No entanto, um dia, quando o Mestre Kuthumi me honrou com uma visita, Ele me perguntou se havia alguma vez tentado uma certa espécie de meditação relacionada com o desenvolvimento do misterioso poder chamado Kundalini. Eu tinha ouvido, certamente, falar desse poder, mas muito pouco sabia a seu respeito, e de qualquer modo o supunha absolutamente fora do alcance para os ocidentais. Todavia, Ele me recomendou fazer alguns esforços em determinadas diretrizes (que me comprometi a não divulgar a ninguém mais a não ser com Sua autorização direta) e me disse que Ele vigiaria esses esforços para ver que nenhum perigo resultasse. Naturalmente aceitei a sugestão, e trabalhei firmemente, e, penso poder dizer, intensamente, nessa espécie particular de meditação diária. Tenho que admitir que foi um trabalho muito árduo e às vezes distintamente penoso, mas por certo perseverei, e no devido tempo comecei a obter os resultados que tinha sido levado a esperar. Certos canais tinham de ser abertos e certas divisões eliminadas; foi-me dito que quarenta dias era uma boa estimativa da média do tempo requerido, se o esforço fosse realmente enérgico e perseverante. Trabalhei nesse sentido durante quarenta e dois dias, e a mim me parecia estar à beira da vitória final, quando o próprio Mestre interveio e executou o ato final de rutura, que completou o processo e me capacitou daí em diante a usar a vista astral ao mesmo tempo que mantinha plena consciência na corpo físico. Isto eqüivale a dizer que a consciência astral e a memória se tornaram contínuas, quer o corpo físico permanecesse acordado ou adormecido. Foi-me explicado que com meus próprios esforços eu próprio teria conseguido a rutura vinte e quatro horas mais tarde, porém que o Mestre interferiu porque Ele desejava empregar-me imediatamente num certo trabalho.
Treinamento psíquico.
Não obstante, não se deve supor nem por um momento que a obtenção deste poder particular fosse a finalidade do treinamento oculto. Ao contrário, apenas provou ser o início de um ano do mais árduo trabalho que jamais eu conhecera. Terá de se compreender que eu vivia ali na sala octogonal, junto à margem do rio, sozinho e durante longas horas diárias, e praticamente protegido de qualquer interrupção, exceto das horas de refeição que mencionei. Diversos Mestres foram bastante magnânimos para visitar-me durante esse período e oferecer-me várias sugestões; mas foi o Mestre Djwal Kul que me proporcionou a maioria das instruções necessárias. Possivelmente Ele foi movido a este ato tão amável por causa de minha estreita associação com ele em minha última existência, quando estudei sob sua orientação na escola pitagórica que ele fundou em Atenas, e mesmo tive a honra de dirigir depois de Sua morte. Não sei como agradecer-lhe tão grande soma de cuidados e incômodas que assumiu em minha educação psíquica. Paciente e repetidamente Ele criava uma vívida forma-pensamento, e me perguntava: “Que está vendo você?” E quando eu a descrevia com toda a minha melhor habilidade, vinha repetidamente o comentário:. “Não, não, você não está vendo certo; você não está vendo tudo; aprofunde-se mais, use a sua vista mental junto com a astral; force um pouco mais para adiante, um pouco mais alto.” Este processo tinha de ser amiúde repetido muitas vezes antes de meu mentor se dar por satisfeito. O discípulo tem de ser testado de todas as várias maneiras e sob todas as condições concebíveis; com efeito, pelo fim da instrução, espíritos da natureza brincalhões são especialmente chamados e ordenados de todas as passíveis maneiras para que se esforcem por confundir ou desnortear o vidente. Inquestionavelmente é um trabalho duro, e a tensão que ele impõe é, suponho, quase tão grande quanto a que um ser humano pode seguramente suportar; mas o resultado obtido é sem a menor dúvida mais do que compensador, pois leva diretamente à união do eu inferior com o Eu superior e produz uma imensa certeza de conhecimentos baseados na experiência que acontecimentos futuros jamais podem abalar (1).
Na ocasião em que a conferência para a Loja de Londres estava sendo preparada, eu residia com o Sr. Leadbeater e freqüentava cursos para exames. Era hábito do Bispo Leadbeater (para dar-lhe o título que ele passou a usar depois de sua consagração como Bispo da Igreja Católica Liberal em 1916), nunca jogar fora os envelopes em que recebia cartas. Abria-os nos lados e utilizava suas faces internas para escrever memorandos. Este hábito ele o conservou até o último ano de sua vida. Depois de dar a conferência segundo as notas, em 21 de novembro de 1894, sua tarefa seguinte foi escrevê-la para publicação, intitulando-a Transaction N.° 24 da Loja de Londres. Começou a escrever um pouco por vez, em retalhos de papel que eram os envelopes abertos. Meu trabalho então consistia em fazer a transcrição dos farrapos de papel para um velho diário de estudantes, tamanho ofício. Por isso o manuscrito está feito em minha caligrafia. O trabalha de escrever levou de três a quatro semanas, pois ele se achava ocupado em vários tipos de atividades para a sua subsistência, e por isso só podia escrever em horas disponíveis. Quando as provas do impressor dos Anais da Loja de Londres vieram ao Bispo Leadbeater, o manuscrita (que estava em minha caligrafia) foi por certo, devolvido pelo impressor. Este manuscrito mostrava as marcas do compositor e do revisor, ca brancura límpida das páginas desapareceu no processo do manuscrito. Isto não teria importância, pois uma vez impresso o manuscrita, este é atirado na cesta de papéis usados. Mas eis que aconteceu um desusual e inesperado incidente, que evidentemente aturdiu a Bispo Leadbeater. Uma manhã ele me informou que o Mestre K. H. lhe havia pedido o manuscrito, pois desejava depositá-lo no Museu de Arquivos da Grande Fraternidade Branca. O Mestre explicou que O Plano Astral era uma produção fora do comum e um marco na história intelectual da humanidade. Alegou que até então, mesmo numa civilização tão grande como a dos Atlantes, os sábios das escolas ocultas não haviam abordado os fatos da Natureza segundo o moderno ponto de vista científico, porém de um ângulo diferente.
Os instrutores ocultos do passado haviam procurado mais o significado interno dos fatos, o que se poderia chamar o “lado vida” da Natureza, e menos o “lado forma” da Natureza, tal como se caracteriza o método científico da atualidade. Conquanto até então os Adeptos houvessem reunido um vasto cabedal de conhecimentos provindos de civilizações passadas, concernentes aos mistérios da Natureza, tais conhecimentos haviam sido sintetizados não segunda uma detalhada análise científica, mas mediante reações da consciência ao “aspecto vida”. Por outro lado, pela primeira vez entre os ocultistas, havia sido feita uma pormenorizada investigação do Plano Astral em conjunto, de maneira similar à que numa selva amazônica teria feito um botânico a fim de classificar suas árvores, plantas e arbustos para escrever uma história botânica. Por esta razão o livrinho O Plano Astral foi definitivamente um marco, e o Mestre, como guarda dos Arquivos, desejou colocar no Grande Museu o escrito desse plano. Este Museu contém uma cuidadosa seleção de vários objetos de importância histórica para os Mestres e seus discípulos, em conexão com seus estudos superiores, e é especialmente um registro do progresso da humanidade em vários campos de atividade. O Museu contém, por exemplo, globos modelados para mostrar a configuração da Terra em várias épocas.
Foi destes globos que o Bispo Leadbeater traçou os mapas que foram publicados em outra transação da Loja de Londres, o do livro Atlantis de W. Scott-Elliot. Entre outros objetos significativos o Museu contém uma peça de Mercúrio sólido, que é um isótopo. Conserva vários textos antigos relativos a religiões extintas e atuais, bem como outros, materiais úteis para uma compreensão da obra da “Vaga de Vida” neste globo, a nossa Terra. A única ocasião que possa recordar-me em que se poderia descrever o Bispo Leadbeater como “excitado” foi quando recebeu do Mestre este pedido de seu livrinho, pois o manuscrito estava manchado — melhor se poderia descrevê-lo “sujo” — depois do manuseio do impressor. Não obstante, o pedido do Mestre tinha de ser atendido. Surgiu então a questão de como transportar o manuscrito para o Tibete. Todavia, isto não o apoquentou, pois o Bispo Leadbeater possuía certos poderes ocultos que não revelou a outros, embora eu os tenha observado em diversas ocasiões.
O manuscrito teve de ser transportado por desmaterialização, e ser rematerializado no Tibete. Aconteceu ter eu uma fita de seda amarela de três polegadas de largura, e dobrando o manuscrito em quatro, enrolei-o com a fita, que estiquei para formar uma faixa. Eu me achava excitado, pois havia ali uma notável oportunidade para conseguir prova de um “fenômeno”. Se o manuscrito fosse fechado numa caixa e a chave estivesse em meu poder todo o tempo, e depois se verificasse haver desaparecido o manuscrito, eu teria uma prova esplêndida para narrar. Mas por estranho que pareça, entre os pertences do Bispo Leadbeater e meus daquela época não tínhamos nada propriamente com fecho. Havia uma velha canastra coberta de couro, mas sua fechadura estava quebrada. Tínhamos ainda muitas maletas, mas todas com fechaduras defeituosas, e não havia absolutamente nada com fechadura aproveitável. Existia uma pequena caixa de madeira com uma carapaça de tartaruga embutida, que era uma caixa de trabalhos de sua mãe, mas sua chave se havia perdido há muito tempo. Nada restava a fazer senão colocar o manuscrito dentro desta caixa e empilhar sobre ela um monte de livros, na falta de coisa melhor. Na manhã seguinte, ao acordar, removendo a pilha de livros e olhando dentro da caixa de trabalhos, o manuscrito não estava mais ali. Meu pesar por perder a oportunidade de demonstrar um fenômeno não se sentiu consolado por me dizerem que eu próprio havia levado astralmente o manuscrito ao Mestre.
Talvez seja interessante transcrever aqui o que escrevi algures deste tema e da impossibilidade de encontrar um exemplo da ação de faculdades superfísicas que a céptica mentalidade cientifica pudesse considerar insofismável: “Sempre que poderíamos ter dado um exemplo de prava, com referência a fatos ocultos, sem qualquer possível objeção, sempre algo acontecia para frustrar a finalidade da prova. É bem sabido que, nas primórdios do Espiritismo, muitos objetos raros foram transportados de pontos distantes, demonstrando que os espíritos podiam empregar poderes extraordinários. Mas em cada exemplo faltava um elo final na cadeia. De maneira semelhante, nos fenômenos produzidos pêlos Adeptos em conexão com o trabalho de Madame Blavatsky em Simla, teria sido para Eles coisa facílima transportar de Londres para Simla o Times da dia, como certa vez foi sugerido. Mas em todos os casos de fenômenos havia a omissão, por inadvertência ou outra razão qualquer, de algum importante fato comprobatório”. Quando indagamos do Mestre sobre este assunto, fomos informados que Eles propositalmente evitaram qualquer fenômeno que pudesse ser absolutamente “comprovado” em matéria de prava. Era Seu plano que, enquanto a humanidade estivesse no presente estágio, em que a um grande número de mentalidades poderosas falta um adequado desenvolvimento moral, nenhuma oportunidade se dará a estas inteligências inescrupulosas para terem uma confiança completa na existência de poderes ocultos. Enquanto houver cepticismo nesta matéria, a humanidade estará protegida de ser explorada por inescrupulosos. Já sabemos quanto a humanidade tem sido explorada econômica e industrialmente pelas mentalidades egoístas que controlam os recursos da natureza.
Quão grande calamidade ocorreria se essas mesmas mentalidades pudessem também utilizar poderes ocultos para a exploração, não é difícil de conceber, mesmo a alguém dotado de pequena imaginação. O Bispo Leadbeater encontrou a Dr.ª Annie Besant pela primeira vez em 1894. No ano seguinte ela o convidou e a mim para residirmos na Sede Central Teosófica de Londres, 19 Avenue Road, Parque dos Regentes, onde H.P.B. faleceu em 1891. Esta casa era sua, e daí o seu convite a nós. Deste período em diante começou uma muito estreita colaboração entre a Dr.ª Besant e a Bispo Leadbeater, a qual continuou ininterrupta até o fim de suas vidas. Em 1892 ela iniciou uma série chamada “Manuais Teosóficos”, consistindo de pequenos livros sumariando ensinamentos teosóficos sobre vários assuntos. Os quatro primeiros, respectivamente, Sete Princípios do Homem, Reencarnação, Karma, Morte, Depois? haviam sido editados quando ela solicitou permissão do Bispo Leadbeater para publicar a Transação da Loja de Londres como um manual da série, o qual apareceu oportunamente como o Manual n.º 5. Foi em 1895 que ambos fizeram em conjunto investigações sobre a estrutura do Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio (e um quarto elemento batizado por nós “Occultum”, ainda não descoberto). ‘Nesse mesmo ano ambos fizeram extensas investigações da estrutura, condições e habitantes dos Planos Mentais inferior e superior. Tomando por modelo a obra feita pelo Bispo Leadbeater quando investigou o Plana Astral, a Dr.ª Besant e ele examinaram exemplos e mais exemplos de egos em “Devachan”, naquele período de sua existência depois da morte no estado de felicidade chamado o Mundo Celeste. Como antes, foi o Bispo Leadbeater quem escreveu as investigações, pois a Dr.ª Besant tinha muitas ocupações; esta foi a origem do Manual Teosófico n.° 6, The Devachanic Plane. Estas duas obras, O Plano Astral e O Plano Devacânicofow Mental), reúnem uma investigação, de maneira tão objetiva e científica quanto a Dr.’ Besant e o Bispo Leadbeater puderam fazer, e o resultado é uma soma muito preciosa de fatos concernentes ao mundo invisível. Uma acurada análise e estudo destes fatos por qualquer estudante ardoroso, datado de uma mente imparcial e sem preconceitos, não podem deixar de lhe proporcionar o sentimento de que, embora possa ser incapaz de crer nas exposições feitas, há, no entanto, uma característica acerca deles. Ë que parecem ser descrições de objetos e acontecimentos vistos objetivamente, como que por meio dê um microscópio ou telescópio, e não subjetivamente, coma é o caso de um novelista contando os incidentes de uma vívida estória. Esta é, em resumo, a história da escrita deste pequeno mas precioso manual: O Plano Astral.
(1) Em seu livro de contos, The Perfume of Egypt, o autor faz a descrição de uma prova final em seu treinamento, no capítulo “A Test of Courage”.C.J.
C. JlNARAJADASA
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