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A pesquisa de campo prévia a caçada – Manual dos Caça-Fantasmas

Leia em 12 minutos.

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Este capítulo poderia ser também chamado: “como encontrar um local assombrado e o que esperar do local”. Todo mundo conhece alguma história de um local assombrado, mas ninguém sabe de fato apontar um. Como encontrar um lugar para começar suas caçadas? Bibliotecas com arquivos em micro filmes, ou sites apontando assombrações clássicas são coisas que acontecem em filmes, mas dificilmente é assim que a coisa funciona na prática.

O Brasil é um pais muito rico culturalmente quando o assunto são fantasmas, mas você tem que ter em mente alguns fatores que com certeza irão te prejudicar muito no início:

1) Cristianismo

O Brasil sempre foi um país católico, mas nas duas últimas décadas o cristianismo evangélico, ou protestantismo, cresceu a passos largos. Hoje é difícil andar mais de 20 minutos em uma direção sem topar com um templo evangélico, seja uma igreja universal, uma igreja pentecostal, uma quadrangular, universal do reino de Deus ou outra qualquer.

O problema com isso é que enquanto os católicos deixavam seus padres dentro da igreja, os cristãos levam seus pastores a todos os lugares. Se combinarmos isso ao fato de que quase toda ocorrência sobrenatural é vista como obra do diabo por eles e algo que deve ser combatido, primeiro com a própria fé e depois com a ajuda do pastor, que não pára quieto, então temos um problema para o caçador. Assim como um caçador na árabia deve aprender a lidar com muçulmanos e importante o brasileiro saber lidar com os cristãos.

Dos muitos lugares assombrados hoje, grande parte é propriedade de algum evangélico, e a chance dele deixar que um caçador de fantasmas tenha acesso ao local ao invés de um pastor é muito pequena.

Outro problema é o fator “obra do diabo”. Primeiro você não ouvirá histórias sobre fantasmas e sim sobre encostos, obsessões, coisas do diabo. Isso faz com que qualquer processo científico seja visto com mais desconfiança do que as próprias atividades do local, o que acaba cortando todo o acesso que você poderia ter.

2) Espiritualismo

O Brasil também é o pais onde a doutrina espírita melhor se desenvolveu. Graças a Chico Xavier e muitos outros, a doutrina
desenvolvida por Kardec se abrasileirou e se adaptou, fazendo a doutrina católica e outras como a Quimbanda, o Candomblé e
praticamente todas as crenças erroneamente chamadas de “macumba”, abraçarem o invisível com outros olhos.

Esse espiritualismo, ou melhor, esse sincretismo religioso espiritualizado, fez com que fantasmas se tornassem espíritos guias ou maldições, que devem ser enfrentadas, novamente, pelos lideres religiosos de cada congregação em especial, seja um pai de santo, um médium, um filho de Egum, uma avó “Sinhazinha”, ou qualquer outra figura do naipe.

Assim novamente ao pesquisar é capaz que você se depare com casos de obsessão, ou pessoas vítimas de vingança ou despacho e não uma “casa assombrada”.

3) Folclore

A memória brasileira tem contos e registros que deixaria qualquer diretor de filme de horror americano de cabelos em pé. Mas nós estamos vivendo no século XXI, era de internet, operações computadorizadas, etc. Acreditar na Loira do Banheiro hoje é pior do que acreditar em Papai Noel; curupiras, lobisomens, M’boi-tatás não passam de contos de fadas, e discos voadores são coisas de maconheiros ou americanos paranóicos.

Tendo dito isso, muitas pessoas não se sentem confortáveis falando de fantasmas e assombrações de maneira séria na frente de outros. Quando presenciam um fenômeno, grande parte das pessoas que não é evangélica ou acham que isso é obra de uma macumba, fazem de tudo para racionalizar a experiência. O que de noite a deixou de cabelos em pé e sem conseguir pregar os olhos, gritando coisas sem sentido através das paredes, na manhã seguinte vira um sonho estranho, uma imaginação hiperativa, peças pregadas pelo cansaço, ou a pessoa enterra tudo no fundo da cabeça para parecer normal.

Esses fatores são as principais pedras no sapato de quem deseja se dedicar à caça de assombrações, mas existem maneiras de se
contorná-las ou tirar vantagem delas.

No Brasil a prática de usar assombrações locais para promover lugares públicos, como hotéis, parques e teatros, por exemplo, não são muito comuns, mas ainda assim ocorre. Procure listas de locais assombrados na internet ou livros nacionais especializados, eles existem, ainda que de forma meio amadora. Isto serve para você criar, antes de mais nada, uma área de ação. Claro que se você mora em Brasília irá procurar por lugares próximos. Não adianta ficar empolgado por achar livros de assombrações de um museu do Acre se você mora em Fortaleza.

Uma maneira é puxar assunto com grupos de pessoas. Empregados de museus, teatros, hospitais, presídios desativados, etc. sempre tem histórias para contar.

Além disso, a propaganda nunca machucou ninguém. Crie um site, veja o de grupos que já existem e descubra a melhor maneira de se promover. Crie folhetos e espalhe pela cidade com um telefone e um e-mail para contato, mas tenha em mente que existe muita gente desocupada no mundo e que grande parte das chamadas podem ser trotes ou tirações de sarro.

Isso tudo serve, para em um primeiro momento, você criar uma rede de possibilidades de lugar e ir então reduzindo as possibilidades para ir criando áreas onde a chance de fantasmas é realmente grande. Ouça também o folclore de sua região, praticamente toda cidade possui suas assombrações locais, procure por lendas e mitos locais e busque investigá-los a fundo.

Esta fase também será importante para que você consiga desenvolver o seu medidor de besteiras, quando começa a aprender a separar histórias inventadas de possibilidades reais de investigações.

No começo, a não ser que você dê sorte, o caminho vai ser difícil, trabalhoso e possivelmente frustrante. Caso tenha acesso, casas ou sítios e fazendas abandonadas sempre são boas opções para primeiras pesquisas com equipamentos – lembrando-se sempre do fator segurança, não vá sozinho, ou se for deixe avisado onde está, onde vai e tenha um celular. Existe muita gente maluca neste mundo.

Assim que ache um local que te pareça ser de fato assombrado busque levantar a sua história. Procure saber o que se passou por ali, quando o lugar foi construído, por quem. Ocorreram fatos intensos dignos de nota? Quais as atividades inexplicáveis que ocorrem? Eles tem algum tipo de padrão?

As primeiras investigações, solo ou em grupo, que arranjar, serão importantes para que você aprenda a desenvolver um método de trabalho, aprender onde fazer suas perguntas e de que maneira fazê-las, isso tudo para saber o que esperar quando finalmente chegar no local.

Assim que chegar a um caso que lhe pareça sólido você deve checar se tem acesso ao local.

Não adianta coletar centenas de relatos de um fantasma que assombra o porão de um hospital se você não conseguir ir para esse porão. Ou saber de uma casa legitimamente assombrada se os donos não querem pessoas de fora xeretando nos cômodos da propriedade.

Tenha em mente que cada dificuldade que encontrar no início de sua carreira compensará no futuro. Uma vez que comece a estabelecer um nome, mesmo que seja de forma local, mais e mais portas começam a se abrir para você.

Assim, uma vez que tenha o seu local assombrado e consiga acesso a ele é importante checar como o local e as pessoas que vivem nele, se é o caso, são afetados pelo fenômeno. Na propriedade existem problemas comuns com aparelhos elétricos e eletrônicos? Computadores, eletrodomésticos e lâmpadas que se queimam com freqüência? Telefones costumam tocar e quando se tira do gancho ele abre sinal para discar? Relógios que param de funcionar? Isso tudo pode indicar energias anormais em atividade no local.

Também é importante fazer um levantamento sobre as pessoas que vivem no lugar. Elas tem sofrido efeitos psicológicos incomuns, como paranóia, exaustão mental, sonhos intensos, pavores ou fobias inexplicáveis, escutam ou acham que escutam vozes, sentem toques, vêem ou acham que vêem vultos? Lembre-se que crianças, apesar de mais criativas, tem menos inibições e geralmente contam casos sem o medo de serem julgadas. Como são as crianças da casa? E fisicamente, como estão as pessoas? Tem fraqueza ou enjôos constantes? Sofrem de doenças ou de estados de agitação e irritabilidade? Isso costuma acontecer na casa toda ou apenas em alguns cômodos?

Tudo isso pode ser conseguido se conversando com as pessoas que moram no lugar ou com pessoas que vivem na área. Tudo isso deve ser anotado. Quanto à história do lugar tente confirmar assassinatos e casos de violência com a polícia, procure notícias em jornais ou revistas de época. Algo que você descobrirá com o tempo é que a criatividade coletiva é mais poderosa do que a memória coletiva de um lugar.

Durante a visita ao lugar, quando estiver entrevistando as pessoas, peça que lhe mostrem os locais onde as atividades costumam ocorrer e que tipo de atividades são essas. Uma prática que se mostrou a mais eficaz para nossos caçadores é desenhar um rascunho do local e ir marcando no mapa os locais.

Nestas descrições é importante se descobrir se determinada atividade ocorre com todos os moradores ou apenas com alguns, se cada evento tem uma “vítima” preferencial. Apenas vovó ouve as vozes? É apenas a pequena Helena que vê o fantasma marrom na escada? Apenas mamãe sente os puxões de cabelo no corredor? Descubra também, se possível, os maiores detalhes possíveis: horários em que as atividades ocorrem com mais freqüência, número de pessoas na casa quando elas ocorrem. Ocorrem a qualquer dia da semana ou em determinados dias são mais freqüentes?

Isso tudo permitirá que você trace um plano de ação e se familiarize com o local. Este primeiro contato e entrevistas não significam que você irá iniciar imediatamente sua caçada, todas essas informações unidas às todas as outras pesquisas que fizer lhe indicarão o que você provavelmente encontrará. É neste ponto que você marcará o início da caçada.

Sinta o lugar

Neste primeiro contato com os moradores – caso seja um local habitado – procure conhecer cada centímetro do local, obviamente você deve perguntar aos moradores se existem lugares que desejem que fiquem fora dos seus limites, e você deve respeitar isso. Procure transformar essa tour guiada em um ritual de se habituar ao local e de deixa o local “se habituar” a você, se houver alguma assombração presente, com certeza ela irá perceber sua presença.

Neste primeiro contato é importante que você deixe claro para todo que é profissional, mas isso não significa invadir a casa da pessoa com todo o seu equipamento e sua equipe, no máximo duas pessoas, além de você, são suficientes. leve o responsável técnico pelas câmeras e gravadores, caso tenha um, e o pesquisador, caso tenha. Isso dará a eles a oportunidade de estudar os melhores locais para colocar o equipamento e de tirar dúvidas históricas sobre a história.

Neste primeiro momento você não precisa levar nenhum equipamento com você.

Pesquise e trace sua estratégia

Sua primeira visita ao local deve ter sido capaz de te fornecer dados o suficiente para uma vez reunido com toda sua equipe, vocês sejam capazes de traçar um plano de ação. Nas suas primeiras caçadas é impossível se ter ainda a noção de quanto tempo deve investir em um lugar antes de decidir que já coletou dados o suficientes para estudar a atividade ou perceber que não vale mais a pena investir nela, ao menos no momento.

A televisão popularizou shows onde caçadores chegam no local, armam o equipamento, e depois de seis horas partem para analisar seus dados e um dia depois voltam para declarar se um lugar é assombrado ou não. Isso é ótimo para algo criado para divertir pessoas por 30 ou 40 minutos na televisão, mas a vida real é um pouco diferente. Você pode passar mais de um mês se dedicando a um único lugar. Você pode em duas horas colher toneladas de evidências, em uma casa, para, dias depois, chegar à conclusão que assustou o fantasma. Pode investir 5 dias de trabalho em um lugar aparentemente chato e banal, para apenas quando estiver empacotando tudo para sair as coisas ficarem de pernas para o ar.

O ideal, logo de cara, é que você possa investir em cada caso, todo o tempo disponível que possuir, respeitando os limites dos moradores ou responsáveis. Como muito provavelmente você tem um emprego ou estuda os melhores momentos para se dedicar à pesquisa fantasmagórica serão os fins de semana, e as noites de semana serão dedicadas a revisar o material. O que funciona para alguns grupos é dedicar, de cara, três fins de semana para as primeiras caçadas, descobrimos que um mês de visitas intermitentes torna os moradores pessoas de pavio curto, apenas uma ou duas visitas, além de não fornecer tempo para experiências, criam uma aura de charlatanismo ou incompetência. Três visitas em um mês, com tempo para se analisar o material coletado entre uma e outra, é um bom período para se coletar dados, ter experiências e não se prolongar demais em apenas um projeto. Tenha sempre em mente que estes dados podem variar, você pode dar a sorte grande de cair no centro de um vórtex paranormal e os moradores gostarem da sua presença e você ter acesso livre pelo tempo que quiser, ou pode ser que depois da primeira noite você não queira mais voltar.

Tendo em mente que os próximos três fins de semana estarão ocupados por caçadas e as próximas três semanas pelo estudo do material coletado, veja o mapa que você rascunhou do lugar. Com base no tamanho do lugar e quantidade de locais para se pesquisar você deve ser capaz de decidir se precisará do seu time inteiro, de apenas alguns membros ou se precisará de uma organização ainda maior.

Estude, com base nos dados que coletou, os melhores locais para se deixar gravadores e câmeras, veja os locais onde vale mais a pena ficar em busca de experiências. Se decidir criar grupos para percorrer mais espaço, decida agora que grupo ficará com cada lugar e como funcionará o rodízio de lugar entre eles. Fazer grupos trocarem de lugares é bom para que diferentes pessoas possam confirmar as experiências sentidas por todas. Também decida se algum lugar merece, de cara, uma dedicação integral de alguém ou se é mais interessante que as pessoas fiquem passeando apenas dedicando algum tempo a cada cômodo.

É importante marcar também, ao menos, duas reuniões em um centro de controles. Se cada período de caçada for durar 6 ou 8 oras, marque os momentos de encontro a cada 2 ou 3 horas, respectivamente. Nestes dois momentos todos poderão se atualizar sobre o que ocorreu e decidir se vão manter o plano original ou se mudanças são mais interessantes.

Caso ache que uma central de comando é necessária, agora é o momento de se organizar. É óbvio que poder separar um cômodo para seus receptores de vídeo ligados em computadores seria o ideal para qualquer grupo, mas isso requer equipamento ($$$) e espaço (nem sempre disponível). O que se pode fazer é deixar um responsável com um mapa do lugar e um caderno ou em um cômodo ou mesmo fora da casa. Ele deve marcar quem está onde, as pessoas podem ser comunicar por rádio, nextel ou mesmo celular. Caso algum grupo ouça algum ruído ou veja um vulto, deve entrar em contato com a central e verificar se alguém está no lugar, a central entra em contato com todos e confirma se é interferência de alguém do grupo ou não. E retorna o contato para informar ao grupo. Com isso muito trabalho inútil ou alarmes falsos podem ser poupados e muito tempo economizado. Mas esse tipo de organização surge apenas com a prática. Caso nunca tenha ido para uma caçada organizada, preocupe-se mais com os procedimentos em si do que em tentar organizar de antemão algo que você ainda não sabe como irá funcionar. O importante é coletar e organizar a informação, se familiarizar com o terreno e cada pessoa que for participar da caçada saber o que fazer.
Com isso você deve ser capaz de traçar um plano eficiente e prático,está pronto então para a fase dos preparativos finais.


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