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Nossa primeira categoria de fantasmas, as entidades, apresentam características semelhantes onde quer que ocorram: são seres conscientes, em sua grande maioria humanos ou animais que morreram, podem trazer evidências de pertencer ao passado, ao presente ou ter informações sobre o futuro – e mesmo que não pareçam ter consciência de ter morrido ainda – interagem com o meio, se desviam de pessoas ou prestam atenção em coisas ao redor. Mas existem casos em que os fantasmas parecem ignorar o ambiente e as pessoas presentes. Neste caso estamos falando dos Espectros.
Espectro é o nome que usamos para descrever este tipo particular de atividade fantasmagórica, que se mostra alheia as coisas ao redor. O termo é emprestado da física, e descreve uma faixa ou porção específica de freqüências (eletromagnéticas ou sonora). O exemplo clássico e bastante ilustrativo para nossos propósitos é o de um carvão em brasa ou de um metal incandescente que se torna vermelho e brilhante quando o calor absorvido é tamanho que passa a emitir um espectro visível. Da mesma forma um Espectro fantasmagórico, por algum motivo se torna visível como uma manifestação que foi absorvida pelo ambiente que então a irradia.
Verdade que em um capítulo anterior discutimos como fantasmas se diferenciam de gravações, já que uma gravação sempre se repete e um fantasma não funciona assim, mas este caso é a exceção. Um espectro fantasmagórico, pode ser entendido como um robô que age sempre da mesma maneira, ou de maneira muito parecida ou ainda dentro sempre de um contexto de ação limitado.
Vamos voltar ao caso do nosso navio fantasma, o Holandês Voador. Ele obviamente nunca foi um ser vivo para começo de conversa, não podemos dizer que ele teria uma consciência para sobreviver ao seu corpo, mas mesmo assim por quase dois séculos ele é sinal de mau agouro e desgraça para todos que cruzam seu caminho. E ele não é o único caso de embarcações fantasmas, um pesquisador curioso logo se depara com outros casos célebres como o Maria Celeste, o Constelation e muitos outros.
O Holandês Voador é talvez o mais famoso de todos aqui no ocidente. Você está navegando dentro de uma tempestade e, conforme ela se intensifica, vê um navio emergir, como se saísse de uma neblina, boiando pelo mar escuro, brilhando com uma luz espectral por toda sua volta, depois de um tempo o navio desaparece. Caso isso aconteça o consenso geral é: tente voltar para o porto mais próximo o mais rápido possível.
Como no caso do vaqueiro fantasma cavalgando seu cavalo ou do boiadeiro e de sua manada de animais fantasmagóricos, poderíamos dizer que mesmo que um navio não tenha consciência ele pode ser impregnado de energia pelos que tem. Deixando o papo esotérico de lado, se este navio se trata mesmo apenas de um navio de energia que fica boiando por ai, por que é que ele sempre flutua para longe ou para terra firme? Por que ele é sempre visto na mesma área quando surgem uma série de condições idênticas e de uma forma repetitiva?
Às vezes os fantasmas parecem ignorar o que se passa ao seu redor, como se não possuíssem consciência, e sempre se comportam e agem da mesma maneira. Isso é muito importante quando se tenta classificar um fantasma quanto à sua natureza, ele pode ser apenas um espírito que não tem consciência de estar morto ou é um espectro?
Imagine que um assassinato ocorreu de forma especialmente violenta e traumática para uma pessoa, e vamos supor que esse ato por algum motivo vire uma manifestação fantasmagórica. Cada vez que essa manifestação surgir as pessoas podem presenciar a mesma cena de novo, de novo e de novo. Cada vez que ela ocorre é exatamente idêntica e parece que os figurantes envolvidos não se dão conta dos espectadores. É como se você estivesse assistindo a um filme em três dimensões.
Não é muito difícil se encontrar casos de espectros para se estudar, uma das formas mais fáceis é: procure locais que foram palcos de grandes massacres, ou onde havia sofrimento contínuo. Em São Paulo, por muitos anos o Carandiru foi um presídio que sofreu de violência, de superpopulação de pessoas morrendo de doenças e brigas, ele foi eventualmente fechado e derrubado, em 2003 foi inaugurado o Parque da Juventude onde antes era a casa de detenção. Temos dúzias de relados de pessoas que dizem que fantasmas são vistos e ouvidos por lá em algumas épocas ou quando surgem algumas condições específicas como determinados tipos climáticos em determinadas horas do dia ou da noite. Muitos pesquisadores já conseguiram gravar lá sons que atribuem aos presos que morreram no local. Esses sons ocorrem independentes de quem esteja lá e são aparentemente, sempre os mesmos.
Espectros geralmente são vistos e ouvidos, mas esses dois registros não são necessariamente simultâneos, como no caso do Carandiru podemos ouvir gravações e não ver nada. Em outros casos podemos ver uma cena em que nenhum som saia dela. E em raras ocasiões impressões podem ser sentidas. Para uma exploração específica sobre este tipo de impressão recomendamos o estudo dos relatos de espectros emocionais presentes na obra “Auto Defesa Psiquica” de Dion Fortune.
O que podemos dizer sobre isso é que aparentemente um evento conseguiu ser gravado – impresso – na região em que ocorreu. Muitas pessoas tratam esses espectros simplesmente pelos termos assombração, dizem que um lugar é assombrado. Muitos pesquisadores dizem que um espectro é uma memória do lugar. Assim não existe apenas um fantasma de uma pessoa no local, é como se um evento inteiro que aconteceu se tornasse o fantasma. Um caso muito interessante de espectro fantasmagórico envolve um quarto de hotel situado Belo Horizonte, Minas Gerais. O hotel foi aberto onde antes era um antigo casarão de uma família muito rica da região. Desde sua abertura, hospedes do quarto 19 relataram ouvir gemidos noturnos e cenas que rapidamente desapareciam de uma menina na sofrendo doente em uma cama. Pesquisas posteriores relataram que de fato o quarto serviu de local de suplício para uma garota da família em meados da década de 1930. O detalhe interessante é que a garota, agora uma senhora de idade, ainda estava viva na época da caçada em questão.
Existem alguns relatos de carros fantasmas. Novamente coincidem com os trechos mais acidentados de rodovias. Os relatos geralmente são da seguinte natureza: a testemunha vê um carro que passa em alta velocidade, faz uma curva e ouve-se um som horrível de acidente, pneus cantando, a tentativa de se frear o carro, o som de metal de amassando, vidro se quebrando, etc., quando a testemunha corre para ajudar a vítima não encontra nada, nem carro nem sinal de batida. Normalmente esses relatos se repetem, o mesmo acidente de novo, de novo e de novo e são testemunhados por diferentes pessoas, são uma impressão, um espectro. Agora caso você tenha sorte pode presenciar sua manifestação, imagine que esteja no meio da rua e o carro venha em disparada, ele segue em sua direção e então te atravessa. Mas como dissemos pode ser que esse espectro tenha uma carga táctil, e isso significa que ele não vai te atravessar e o encontro termina não sendo tanta sorte assim. Isso acontece porque uma presença física real pode ser produzida sempre que um espectro se põe em movimento. E sempre existe a possibilidade de o que vem em sua direção ser um carro real, por isso sobriedade e cautela são sempre extremamente importantes em suas caçadas.
Novamente, existem alguns espectros que desafiam mesmo a lógica já questionável que existe por trás de fantasmas. Um exemplo disso envolve o escritor Walter Gibson. Ele se tornou mundialmente conhecido com o pseudônimo de Maxell Grant após ter criado a série que tinha como estrela a personagem O Sombra. Walter é descrito como um homem intenso com uma capacidade de concentração enorme, chegou a escrever 283 livros apenas com as aventuras do personagem que décadas depois foi interpretado por Alec Baldwin nos cinemas. Durante uma época ele se isolou em um chalé em Greenwich Village onde se dedicou a escrever as aventuras de sua criação. Ele dizia que seu processo de escrita funcionava da seguinte forma: parte do tempo se concentrava imaginando cada personagem em detalhes e então imaginava as histórias para depois colocá-las no papel. Anos depois, moradores do chalé afirmavam que as personagens de Walter eram vistas pelos cômodos e corredores da casa. Era como se a imaginação dele e sua concentração tivessem o poder suficiente de se criar um espectro no local.
Como pudemos ver mesmo que um espectro possua personagens, fantasmas de pessoas – fictícias ou não – ela é completamente desprovida de uma interação com os observadores. Elas também podem incluir pessoas, animais, plantas e mesmo objetos inanimados, além de se repetirem sempre da mesma forma elas ocorrem sempre no mesmo local ou na mesma área.
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