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Experiência Objetiva e Subjetiva – Manual dos Caça-Fantasmas

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Antes de qualquer coisa vale a pena parar para nos questionarmos sobre o princípio mais básico de qualquer experiência humana. Isto é: a maneira como ela é experienciada versus a maneira que ela ocorreu de fato.

Todo dia, a cada instante, vivemos experiências que tem como único elo conosco nossos próprios sentidos. Isso quer dizer que invariavelmente tudo o que acontece, acontece para nós sob o nosso ponto de vista. Isso é uma visão extremamente limitada da realidade. Nossos sentidos são muito úteis para basicamente tudo o que fazemos, mas se só eles bastassem não precisaríamos microscópios ou testemunhas para casamentos. Se nossos sentidos fossem uma fonte fidedigna de informação não teríamos advogados trabalhando nos tribunais e o mercado de máquinas fotográficas provavelmente nunca teria se desenvolvido. Nosso ponto de vista e nossa experiência pessoal são coisas que ao longo do tempo se deturpam, mudam e em última instância se tornam extremamente tendenciosas.

Normalmente memórias são coisas delicadas, existem inúmeras pesquisas que revelam que as pessoas costumam apresentar graves problemas ao tentar se lembrar do passado, e isso não significa que tenham dificuldade em buscar lembranças ou mesmo que se esqueçam delas. Geralmente as pessoas teimam em se lembrar de detalhes e coisas que simplesmente não aconteceram.

E não apenas isso, com percepções em tempo real também existem alguns problemas de interpretação, em um experimento famoso algumas pessoas eram colocadas em um ambiente controlado dentro de um grupo que tinha como grande parte atores contratados. As pessoas então recebiam questões para responder, como por exemplo “Qual é a cor do mar?”, “Quem é o atual presidente?”. Os atores eram instruídos a dar uma resposta errada, mas não simplesmente errada, era uma resposta muito errada. O que se observou é que depois de alguns atores darem suas respostas absurdas pelo menos 50% das pessoas foram na onda dando uma resposta absurda semelhante, apenas 25% das pessoas se recusaram a dar a resposta errada mesmo quando confrontada pelos atores e 5% nem pensava, apenas respondia o que a maioria respondia, estando certo ou errado. Entre outras coisas esse experimento mostrou que pelo menos um terço das pessoas vai ignorar algo que sabem ser correto se outras pessoas presentes insistirem que uma resposta errada é verdadeira.

Além disso, todos têm uma memória extremamente seletiva – inclusive nós mesmos. Certa vez reuniram um grupo de pessoas e passaram para elas um filme de um acidente automobilístico. Então perguntaram para as pessoas a que velocidade achavam que o carro corria antes de bater, mas a pegadinha estava na forma que a pergunta foi apresentada. Um grupo foi questionado sobre a que velocidade achava que o carro estava antes de colidir. Outro grupo foi questionado sobre a que velocidade o carro estava antes de ser completamente esmagado. Outro grupo, a que velocidade o carro estava quando tocou o obstáculo. Aqueles que receberam a questão com a palavra “esmagado” estimaram que o carro estivesse a uma velocidade em média 20Km/h mais rápido do que as pessoas que receberam a pergunta com a palavra “tocou”. Uma semana depois as pessoas foram chamadas novamente e então questionadas sobre os vidros quebrados, o que indicaria um acidente sério. Aquelas cujo

questionário anterior continha palavras fortes (esmagado, etc.) relataram em detalhes sobre como as janelas do carro estouraram e o vidro voou para todo lado, mesmo que no filme o carro não tivesse vidro nas janelas. Isso mostra como uma simples escolha de palavras pode manipular a memória e a percepção das pessoas que estão observando um evento na hora, e isso inclui você também.

Na verdade esses exemplos foram casos de laboratório, mas nem precisamos ir tão longe, pegue um casal que está junto há algum tempo e, separando os dois, pergunte detalhes do primeiro encontro deles, ou sobre a primeira experiência sexual, isso é um evento marcante, ou que romanticamente e emocionalmente deveria ser, e pergunte sobre detalhes como, por exemplo, assuntos que discutiram, as cores dos lençóis, ou detalhes específicos sobre o lugar e a hora e o clima, e muito provavelmente, apesar da história contada pelos dois ser basicamente a mesma, vários detalhes serão distintos, muitas vezes pode-se ter a impressão de que cada um está falando de um evento completamente diferente.

Mas o que isso tudo tem a ver com caçar fantasmas?

Bem, isso tem tudo a ver. No próximo capítulo discutiremos com calma as motivações que podem levar alguém a caçar fantasmas, mas vamos já perguntar de cara: por que motivo você se interessaria por isso? Mera curiosidade? Para resolver um assunto que te incomoda? Para aprender mais sobre a vida após a morte? Para provar de uma vez por todas que fantasmas existem ou não existem? Qualquer que seja a resposta você vai ter que ser completamente honesto e consciente de que vai ter que confiar nas respostas e nas evidências que coletará e nas experiências que sofrerá.

Mais do que isso, tem que saber que nem sempre vai poder confiar na sua mente. E isso não porque o assunto é delicado ou sobrenatural, mas simplesmente porque a nossa mente não é o computador que gostamos de acreditar que seja. A única maneira segura de saber que algo de que nos lembramos aconteceu, seja há vinte anos ou há vinte minutos, de fato aconteceu como nos lembramos, é nos basear em algumas evidências objetivas. E para isso nada como nos utilizarmos de alguns protocolos que já existem, como o processo científico e o processo jornalístico.

Ter um médium que enxerga fantasmas do seu lado é uma idéia tentadora, ela fica ainda melhor se nós mesmos podemos enxergar esses espíritos, mas temos que ter em mente que, ao passo que nossa mente não é um supercomputador, ela é um ótimo teatro. Muitas experiências que sofremos podem ter uma impressão positiva ou negativa baseada simplesmente em detalhes que consideramos bobos.

Vamos voltar ao laboratório: certa vez em uma faculdade fizeram uma experiência com os alunos. Selecionaram algumas turmas e lhes disseram que seu professor habitual não estava em condições de dar aula e que um substituto iria assumir a classe. Mas antes distribuíram o currículo desse novo professor para os alunos, metade da classe recebeu o currículo A e metade o currículo B, ambos eram exatamente idênticos a não ser por um detalhe: o currículo A descrevia o professor como alguém divertido, com senso de humor e simpático, o currículo B descrevia o professor como alguém sério, meticuloso e um pouco frio socialmente. Então a turma assistiu a uma aula com ele e depois que o professor saiu os alunos receberam um formulário para analisar a aula. Aqueles que receberam o currículo que dizia que o professor era um cara legal disseram que ele era um excelente profissional, divertido, aberto a piadas e que gostariam de ter outra aula com ele, aqueles que receberam o currículo dizendo que ele era frio e que não gostava de convívio social afirmaram que a aula deixou a desejar, que ele não era um bom professor, era ranzinza e preferiam o velho professor de volta.

Isso nos mostra que um mesmo evento pode causar dois tipos de impressão influenciadas apenas por um detalhe preconcebido por nós mesmos. Ou seja, somos manipulados sem dó por nossas expectativas, e isso acaba influenciando qualquer experiência fantasmagórica que possamos ter.

Caso você decida ir para uma locação assombrada, esperando encontrar um fantasma assassino, cruel e vingativo, qualquer incidente que ocorra, mesmo que não seja sobrenatural, vai ficar registrado como uma experiência traumática; por outro lado, se você já for sabendo que tudo não passa de superstição e bobagem, mesmo que uma banda fantasma se manifeste tocando os maiores sucessos da década de 1960 você irá sair dali pensando que qualquer um que acredite que aquilo era uma evidência de fantasmas é uma pessoa carente de atenção ou simplesmente um ignorante altamente impressionável.

Desta forma médiuns e capacidades mediúnicas são ótimas ferramentas auxiliares, mas depender exclusivamente disso pode limitar sua caçada e suas experiências, já que no fim das contas você vai ter que contar não com a própria opinião, mas com a opinião de terceiros, e com a interpretação de terceiros sobre o evento. Mais para frente no capítulo sobre trabalhos de campo vamos explicar como utilizar capacidade mediúnicas da forma mais eficiente, para que se tornem um bônus e não um obstáculo para você. Algo que se deve ter em mente quando for caçar um fantasma é que o tempo costuma estar contra você, cada segundo conta e mesmo que possua uma equipe vocês não podem estar em todos os lugares todo o tempo.

Assim mesmo que você tenha como objetivo apenas ver um fantasma para depois sair correndo é importante adotar alguns métodos para garantir que a sua experiência tenha sido real e não apenas uma peça da sua imaginação, ou da imaginação de algum acompanhante.

Desta forma, se desejar brincar ou se dedicar seriamente ao ramo de caçar fantasmas, nem que seja por hobby a princípio, tenha em mente que mais de 90% do trabalho é escrever, pesquisar, anotar, ficar sentado na frente do computador, passar horas ouvindo gravações e analisando fotografias. Caçar fantasmas é meio como pescar, a maior parte do tempo você fica sentado olhando para um lugar onde nada acontece até que algo se manifeste – ou você volte para casa com uma outra mentira para contar.

Existem também aqueles que desejam encontrar fantasmas por algum motivo que não necessite de comprovação própria do incidente. Vamos tratar deste caso no próximo capítulo. Mas por hora saiba que invariavelmente você vai ter que se tornar um pesquisador amador e isso significa ter que dedicar algum dinheiro, algum tempo e algum espaço físico para a prática. Tendo deixado isso claro vamos analisar a prática de se caçar fantasmas de uma maneira cética e séria.

Qual a importância de transformar sua diversão em uma séria pesquisa paranormal?


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