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Sim, você gastou tempo se aperfeiçoando. Sim, você investiu dinheiro em equipamento. Sim, você se dedicou a estudos. Você se tornou uma máquina de caçar fantasmas, pronta para entrar em ação. Mas você deveria fazer isso de graça? Ou a máquina precisa de moedas para operar?
No Brasil ainda não existe uma exposição forte à atividade de se caçar fantasmas, já citamos alguns entraves culturais que impedem que essa atividade talvez demore para se tornar séria, mas podemos estudar um modelo onde esse tipo de “esporte” não apenas se torna popular a cada dia que passa como também é levado a sério por muitos: o modelo americano.
Nos Estados Unidos você consegue encontrar grupos oferecendo seus serviços em praticamente todos os estados e grande parte das cidades. De anúncios em jornais a programas de TV. Alguém com certeza deve lucrar algo com isso certo?
Quando a Morte Súbita Inc. começou a dar a luz a grupos que caçavam no passado, o maior interesse dos caçadores era a caçada, não criar um novo meio de sustento, claro que o sonho de qualquer um é conseguir fazer dinheiro trabalhando com algo que goste. O assunto de cobrar por serviços nunca emergia nas entrevistas e o mais perto de cobrar algo que os grupos chegavam era pedir uma ajuda de custo com estadia e alimentação caso a caçada fosse durar algum tempo e levasse os caçadores para outras localidades mais distantes. Podemos afirmar hoje que os grupos nunca fizeram muito dinheiro, mas, nas palavras de um
dos caçadores: “se revendêssemos todas as pizzas que comemos naquela época provavelmente estaríamos muito bem”.
Para nossa surpresa, os grupos norte americanos não costumam se sair muito melhor do que isso, monetariamente falando. Era de se esperar que com o tempo e a profissionalização dos grupos, surgisse um mercado de trabalho voltado a essa área, mas isso não aconteceu. Uma breve análise do porquê isso acontece pode ser interessante para entender como lidar financeiramente com isso.
Em primeiro lugar, fantasmas geram experiências extremamente subjetivas. Durante a manifestação e o tempo que o lugar ou a pessoa são assombrados tudo é muito real. Passa-se uma semana de silêncio fantasmagórico, sem trocadilhos, e tudo parece ter sido um sonho, exagero, etc. Por isso fica difícil tanto se criar uma tabela de valores baseado nessas experiências como também até mesmo julgar uma experiência assim para saber quanta energia ou tempo você terá que
investir.
Em segundo lugar, como já vimos, não existe uma forma de se aprisionar ou se destruir um fantasma. Imagine você contratar o serviço de umdedetizador apenas para ele constatar que a sua casa possui baratas, você pagaria pelo serviço? Não existe uma forma segura de se expulsar definitivamente um fantasma de um lugar, apesar dos protocolos de assepsia que foram expostos no capítulo anterior geralmente garantirem que um fantasma não volte ou não se manifeste mais, não há garantias de 100%. Assim as pessoas poderiam ficar desconfortáveis em pagar por algo que não oferece resultados palpáveis a longo prazo garantidos.
Em terceiro, para um caçador a oportunidade de descobrir e estudar um fenômeno desses é algo muito bom para se deixar passar. Muitos grupos não cobram nada apenas para terem a oportunidade de entrar em contato com um lugar onde fantasmas se reúnem.
Por último, o mundo está cheio de charlatões que buscam lucrar com o invisível. Ande pelas ruas e tente andar por mais de 5 minutos sem ver um cartaz de TRAGO PESSOA AMADA, ou então pessoas distribuindo folhetinhos de alguém que lê tarô e faz “serviços”. As pessoas desconfiam muito de quem pede dinheiro para lidar com esse tipo de coisa, nem tanto pelo dinheiro que gastam, mas pelo papel de idiota que fariam caso se metam com algum enganador.
Para se ter idéia, um anúncio usado por um de nossos grupos nos anos de 1980 para promover seus serviços era o seguinte:
Você acha que pode estar sofrendo de problemas desconhecidos que envolvam espíritos ou fantasmas? Entre em contato!
– Conduzimos nossas investigações de sexta a sábado e feriados;
– Equipe de até 8 pesquisadores treinados, dependendo do tamanho do local;
– Equipamento de última geração;
– 1 hora para instalar o material, de 5 a 8 horas para investigar o local;
– Em dez dias todas as evidências serão analisadas e estarão prontas para serem apresentadas para o cliente;
– Possuímos referências, mais de 3 anos de serviços prestados. Portfólio de casos disponível para avaliação por parte do cliente;
– Todas as investigações serão realizadas com a presença de pelo menos um membro da casa;
– Não cobramos taxas de nenhum tipo; nosso serviço e profissionalismo são frutos de nossa paixão pelo estudo sério e científico de atividades paranormais[*]. A não ser que o cliente deseje cópias das fotografias e das gravações, serão cobradas somente as mídias para reprodução!
Tendo isso em mente parece que de fato a máquina funciona sem moedas.
Muitos grupos de caçadores ao redor do mundo começaram a criar uma ética onde caçadores reais não cobram por seus serviços, enquanto outros grupos maiores e mais tradicionais dizem que isso é coisa de adolescentes que se interessaram pelo assunto agora e apenas querem ter acesso fácil a um caso para saberem o que é um fantasma, mas que o trabalho de pesquisadores sérios deveria ser cobrado, nem que fosse através de uma taxa de visitação. Não existe um consenso.
O que fazer então?
Antes de mais nada, os caçadores mais experientes estão corretos ao afirmar que cobrar por um serviço não é errado ou anti-ético. Da mesma forma que você paga alguém para te fazer massagem para aliviar alguma dor, por que não pagaria para alguém pesquisar e conseguir evidências de que você não está imaginando coisas? Ainda mais se a evidência, em alguns casos, pode promover o lugar. Da mesma forma que a massagem só tem um efeito momentâneo, ou um lanche que você come só mata a sua ome depois de comê-lo, a sua dor nas costas e sua fome não voltarão apenas se você tomar cuidado com a postura ou se continuar comendo. Pessoas pagam para que detetives busquem informações apenas porque desconfiam que existe algo que ele irá encontrar, muitas vezes o
detetive recebe o dinheiro apenas para confirmar que a pessoa estava errada. Estudiosos de genealogia recebem dinheiro para tentar encontrar um antepassado de pessoas que, por exemplo, desejam passaportes de outros países e muitas vezes o genealogista volta de mãos abanando. Existem até aqueles que pagam algumas consultas para um psicólogo dizer que ela não sofre de mal nenhum.
Ao se criar um valor pela investigação você pode assustar possíveis clientes, ou pode conseguir uma aparência séria, de profissional ou charlatão, apenas a experiência irá criar uma reputação que possa servir de base para que você e seu trabalho sejam julgados.
Uma tática que pode ser usada é se cobrar um determinado valor apenas em caso de comprovação de atividades fantasmagóricas. A pesquisa e as entrevistas e primeira investigação de campo, antes da caçada podem ser livres de taxa, uma vez encontrado o fantasma você pode decidir como cobrar. A pessoa deseja evidências de que existe algo? Quer se livrar de algo? Quer alguma informação que o fantasma possa dar? Em cima de cada resultado você pode criar a sua tabela de preços. No início quanto mais experiência tiver melhor será para você e seu portfólio, então talvez os novatos ou grupos mais jovens e mais apaixonados estejam corretos, não cobrar nada, além de uma possível ajuda de custo ou uma doação podem te garantir essa experiência. Depois de algum tempo e já com algumas recomendações e referências coloque a tabela de preços do lado do balcão.
E de quanto seria essa quantia de que falamos? Isso vai variar para cada grupo e cada trabalho. Cada vez que você vai a um lugar, gasta com o transporte, seja a gasolina ou a condução. Se come fora, está gastando mais um pouco, depois disso ainda vai dedicar muitas horas ao estudo das evidências. Geralmente o que se faz é se criar um pacote de horas de trabalho, defina o preço da sua hora de trabalho e antes de marcar a caçada ofereça um orçamento de quantas horas acha que vale a penas investir no local. Qualquer hora a mais ou a menos pode ser negociada desta forma. Caso você tenha um emprego, pense em quantas horas você trabalha por dia. Pegue seu salário, divida por 20 (quantidade de dias úteis por mês, em média) e divida novamente pelas horas que trabalha por dia, isso deve te dar uma estimativa de quanto vale a sua hora de trabalho no escritório, o que cobrar caçando não necessariamente será o mesmo, mas com isso você consegue ter uma idéia de como chegar em um número interessante.
Agora tenha sempre em mente que, onde existe um grupo e dinheiro juntos vai haver uma divisão. Caso cobre você terá que administrar a divisão do dinheiro com os outros membros do grupo. Todo mundo é amigo até a hora que alguém achar que não recebe o que merece e que alguém o está passando para trás. Por isso, caso decida cobrar por seus serviços, converse com cada um do grupo e se certifique que todos concordem com a maneira com a qual o pagamento será dividido ou como será investido. Alguns grupos usam o dinheiro para comprar novos equipamentos, para pagar cursos que estejam relacionados com a área,
para organizar caçadas maiores em lugares distantes.
Uma outra opção, que será melhor explorada mais adiante, é conseguir lucrar com atividades paralelas a suas caçadas. Com o tempo você certamente ganhará mais experiência, essa experiência pode te capacitar a dar palestras, por exemplo, e essas palestras podem ser cobradas. Você pode organizar excursões de caçadas a lugares conhecidos. Pode dar aulas de como se caçar fantasmas, a operar o material, a analisar as evidências. Pode organizar workshops,encontros de grupos de outros caçadores, etc… eventualmente mesmo escrever um livro sobre suas experiências. Isso tudo pode garantir algum retorno financeiro.
Agora uma última palavra sobre o assunto. Independente de quanto imagine ganhar ou lucrar com essa atividade, tenha em mente que é a paixão e o compromisso que devem te guiar. Muitas vezes quando se busca apenas o dinheiro, algumas pessoas começam a se sentir tentadas a oferecer mais evidências do que conseguiram coletar para justificar ainda mais o seu trabalho. O dinheiro deve ser o resultado de um trabalho, não sua causa primária ou secundária. No momento em que alguém começa a forjar evidências ou ficar muito criativo com a maneira de pesquisar lugares, ela prejudica a todos os grupos sérios, inclusive ao dela própria. E acredite, existem muitos assim, converse com caçadores experientes e verá que nem programas de televisão que mostram grupos que caçam fantasmas estão livres dessas liberdades criativas nos episódios que vão para o ar. Existe muito ressentimento, é claro, muitos veteranos nunca conseguiram um grama de atenção enquanto pessoas que estréiam um programa viram especialistas da noite para o dia, mas isso não quer dizer que as estrelas sejam sempre éticas.
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