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Por Frater Goya e Frater Melquisedeque
O sistema de magia enoquiano nascido da colaboração entre John Dee e Edward Kelley no período elisabetano apresenta-se como um enorme desafio aos estudiosos e praticantes, dentre diversos motivos, pelo seu sistema obscuro de notação mágica. Este breve ensaio se propõe a oferecer alguns comentários sobre a história e a sistematização desse sistema de notação, com o objetivo de auxiliar o iniciante falante de português a entender sua lógica, bem como oferecer exemplos de pronúncia dos fonemas (sons) e transliteração (escrita das palavras enoquianas no alfabeto da língua portuguesa) que compõem o sistema de John Dee que se relacionem com o português.
Pronúncia de Palavras Enoquianas – Uma discussão infindável
A pronúncia das palavras em enoquiano muitas vezes parece estranha ou difícil ao estudante, e também difícil de se lembrar, pois a maior parte das letras parece dispostas aleatoriamente. As palavras enochianas são formadas a partir de quadrados mágicos, como aqueles presentes no Mysteriorum Libri Quinque, Sloane Ms. 3188.
A forma que as palavras enoquianas eram pronunciadas por Dee e Kelley é desconhecida atualmente. Pode-se fazer algum tipo de aproximação a partir de como era pronunciado o inglês naquele momento histórico, porém, não temos como garantir ou aferir que essa informação também se aplique de modo irrestrito para palavras enoquianas. Antes de seguir adiante em qualquer raciocínio, é importante salientar ao leitor alguns pontos curiosos:
1) Não há qualquer registro gravado de voz que nos informe como era a pronúncia correta da língua Enoquiana conforme compreendida por Edward Kelley e que esse transmitiu a Dee e tampouco uma garantia que ambos pronunciassem as palavras da mesma maneira;
2) Até o presente momento, não temos uma comprovação de que Anjos1 possuam cordas vocais, e portanto, tampouco que eles possam emitir qualquer som articulado de forma audível. Havendo ou não som articulado, é preciso também cogitar se Kelley entendeu os sons corretamente conforme ouviu (ou viu, durante as sessões de vidência), e se conseguiu transmitir de forma fidedigna a Dee, que de alguma forma transcreveu essa pronúncia também da forma correta, conforme ouviu de Kelley.
3) O inglês era a língua dos falantes (Dee e Kelley), mas os livros eram em sua maioria, escritos em latim, conforme observa Leo Vinci:
“John Dee usou o inglês em muitas de suas obras para as pessoas que sabiam ler. Ele foi um escritor muito prolífico e alguns impressores não aceitaram algumas de suas obras por serem muito longas. A primeira edição do livro Monas Hieroglyphica de Dee e a maioria dos livros da época foram escritos em latim, porque o latim era o idioma dos estudiosos, das pessoas civilizadas e cultas da época, independentemente de sua língua nativa. Isso significava que a obra poderia ser lida em quase todos os lugares do mundo civilizado, independentemente do idioma.”2
4) Apesar de algumas defesas de uma pronúncia similar ao hebraico, Dee inicialmente fez uma tentativa com a transcrição usando letras gregas, e depois desistiu.
5) John Dee era um falante da língua inglesa, e portanto, é compreensível que mesmo sendo conhecedor de outras línguas, como o latim e o hebraico, ao escrever/compreender aquilo que foi transmitido por vidência, ele acabasse favorecendo a sonoridade o “sotaque” ou o jeito inglês de formar uma frase, o que é percebido pelos estudiosos, como Laycock, Leitch, ou Vinci. Laycock ainda defende que a sintaxe é excessivamente próxima do inglês, mais do que de qualquer outro idioma europeu ou semítico3, apesar de ter sido ditado em um ambiente que não utiliza a língua inglesa, no caso, a Cracóvia, na Polônia, após seis anos de sua saída da Inglaterra4.
6) Os textos estudados pelos praticantes da Magia Enoquiana no Brasil no geral são escritos por autores falantes de língua inglesa, o que não ajuda muito, pois mesmo havendo boas intenções bastante sinceras, a perpetuação do inglês como língua normativa, acaba tendo uma função muito mais no papel de reforçar o inglês como língua de uma nação colonizadora, eurocêntrica, sem um apoio maior do que a submissão do leitor, quanto à superioridade intelectual destes. E embora na prática Acadêmica atual o inglês seja a língua franca, desejo deixar bem claro aos leitores, que o foco aqui não é uma troca Acadêmica, mas sim facilitar o acesso ao praticante brasileiro especificamente, principalmente baseado no fato de que, apesar de muito difundido, o acesso à língua inglesa pelo brasileiro médio, ainda pode ser entendido como um acesso elitizado, e queremos aqui derrubar barreiras, e não ampliá-las. Ainda vivemos num país de desigualdades, e como magista e autor capaz de ajudar a moldar novos pensamentos e atitudes nos leitores, buscamos diminuir distâncias e oferecer acesso.
E por que pensar dessa forma? Sendo a língua enoquiana uma língua revelada por meios angelicais, não faz o menor sentido pensarmos que uma divindade privilegiaria o inglês como base de uma língua revelada. Ou seja, a adoção de uma “sonoridade inglesa” não traz nenhum benefício à prática, ou se sustenta como “a mais correta”, pois como dito acima, sequer sabemos como era a pronúncia do século XVI e XVII. Inclusive em termos a sintaxe da época difere da atual, conforme apontado por Benjamin Rowe5.
Leo Vinci aponta uma posição sobre este tema que serve como ponto de reflexão:
“Madeline, no início do trabalho, achava que qualquer outra forma de pronúncia que não fosse o sistema da Golden Dawn não funcionaria bem, talvez nem funcionasse e, quanto a isso, não tenho dúvidas de que ela era sincera em suas opiniões. Eu estava feliz em usar a Golden Dawn como ponto de partida e há muito tempo penso que os Poderes muitas vezes tomam a ‘intenção como propósito’, especialmente quando a intenção é sincera e honesta.
Não discordei da proposta de um sistema de pronúncia no dicionário original. O que me desagradou foi a inferência de que era assim que ‘deveria ser feito’. O que eu queria escrever era que essa era ‘uma maneira de fazer isso’ e explicar ao leitor que o sistema oferecido era amplamente baseado em um sistema usado por uma respeitada Ordem Oculta, e por isso foi usado para manter um senso de continuidade com o passado. Não foi com a intenção do capítulo que discordei, mas com a maneira autoritária de apresentá-lo”.6
7) A pronúncia disseminada pela Golden Dawn é talvez a mais aplicada atualmente pelos praticantes do sistema, e ela baseia-se numa técnica bastante utilizada pelos cabalistas chamada de “pronúncia estendida”, ou seja: quando tem uma palavra cuja pronúncia correta desconheço, eu leio a mesma letra a letra, como no conhecido Tetragrammaton, IHVH: seria pronunciado Iúd-Rê-Váv-Rê. Aqui o problema principal consiste no fato de que a língua enoquiana não é hebraico. E lembro ao leitor que acima cito o fato de Dee tentar associá-la inicialmente ao grego. Logo, não faz sentido usar a pronúncia inglesa como elemento norteador e tampouco o hebraico, pois a ideia é que o enoquiano é uma língua em si, e não algo criado e tal fato negaria a origem “divina” da mesma. Ao mesmo tempo, não encontra tampouco respaldo na análise feita por Laycock que comenta:
“…Mas é evidente que não há nada surpreendentemente “não inglês” na gramática: nenhum traço do caso de construção ou dos plurais irregulares do hebraico ou do árabe, nenhuma indicação clara de casos múltiplos ou formas verbais complexas, como no latim e no grego. A gramática sugere ainda mais o inglês, com a remoção dos artigos (‘a’ e ‘o, a, os, as’) e das preposições, e com algumas irregularidades para confundir o quadro”7.
Ou seja, não há nenhum motivo para buscar um parentesco de pronúncia entre hebraico e o enoquiano, que não parta de uma ação deliberada de criar um vínculo que não existe, e que ao longo do tempo pode ter um efeito que cria mais confusão do que esclarecimento, além de demonstrar uma certa ingenuidade na época da Golden Dawn (ou será malícia?) de tentar a todo tempo fazer algo autojustificado, mas ao mesmo tendo poucas informações disponíveis. Isso é no mínimo algo temerário de se fazer.
8) A suposta origem divina da língua enoquiana levanta outra questão fundamental: Se é uma língua revelada, ela não precisa da interferência de uma língua humana e basta por si. Quaisquer outras inferências colocam em xeque essa perspectiva.
O que nos leva a um outro pensamento que segue uma linha que talvez esbarre num pensamento desconfortavelmente ‘perenialista’8, pois segundo essa linha de pensamento, a revelação que ocorre ao profeta – aquele que recebe a mensagem, ou seja, Kelley como vidente, é uma revelação de ordem primária, que pode ser através, de fala, pensamento ou qualquer tipo de comunicação que possa existir entre o emissor (os Anjos) e o receptor (Kelley) não necessita de palavras como as conhecemos, mas precisa ser compreendida pelo receptor e dessa forma, sempre acabará por ser afunilada (presumindo-se é claro, que o emissor possua um conhecimento superior ao do receptor).
Se a mensagem for recebida por alguém cujo conhecimento não consegue expressar a mensagem, este oferecerá uma interpretação limitada ao seu entendimento. Essa limitação implicaria em uma perda parcial da mensagem inicial, e ao transmiti-la a outra pessoa, como um escriba (Dee, no caso), já seria uma tradição de segundo grau, e o próprio escriba necessitaria também adequar aquele conteúdo ao seu entendimento, e dai teremos uma nova quebra no registro, e também teremos outra perda quando o leitor das palavras do escriba (que não são nem do profeta e tampouco do Anjo ou ser que a transmitiu) também terá seu filtro intelectual, emocional, mental, histórico, sociopolítico, etc.
Ou seja, a menos que se tenha a revelação de ordem primária, toda e qualquer análise ou registro de uma possível língua enoquiana sempre esbarrará no filtro humano como receptor. Todo e qualquer discurso acerca do tema acabará por revelar muito mais sobre o argumentador do que da língua enoquiana e sua pronúncia propriamente dita.
9) Uma perspectiva que devemos adicionar aqui, é das Chamadas Enoquianas, que são o referencial de onde se deduz a língua e seu significado, serem um texto que pode ser lido ou executado de diversas formas. Em meus cursos eu demonstro gravações de Crowley, Regardie e Duquette realizando as chamadas, cada um à sua maneira, sendo que todos soam de forma bastante diferente um do outro. Isso invalidaria suas pronúncias ou interpretações?
A chave da compreensão neste ponto é a palavra interpretação. Se pensarmos nas chamadas como um texto a ser lido sempre da mesma forma, isso talvez colocasse em dúvida os sucessos desses praticantes ou mesmo de qualquer praticante que não fossem John Dee e Edward Kelley, o que é evidentemente um disparate. Porém, se em vez de vermos as Chamadas Enoquianas como um texto fixo e observá-las talvez como uma partitura musical, uma nova proposta se revele. Porque mesmo que se mantenha a melodia principal, os arranjos podem ser alterados, ou a interpretação (execução da partitura por determinado músico ou orquestra ou banda), ainda assim serão casos particulares, e ainda assim serão a mesma música. A propósito, quantas versões você conhece de “Garota de Ipanema” (Vinícius de Moraes e Tom Jobim)”, ou mesmo de “Carmina Burana” (Carl Orff) você conhece? Todas são executadas da mesma forma? Qual delas você gosta mais, ou qual delas comove mais você como ouvinte?
Listarei aqui textos de outros autores a respeito da Língua Enoquiana que poderão ajudar o estudante a compreender por si e a escolher melhor a pronúncia que mais lhe agradar ou que funciona mais na sua prática.
A pronúncia proposta pela Golden Dawn; (clique para ler)
A proposta de pronúncia por Leo Vinci; (clique para ler)
A proposta de pronúncia por Donald C. Laycock e considerações; (clique para ler)
A proposta de pronúncia por Aaron Leitch; (clique para ler)
Considerações sobre a Sintaxe do Séc. XV por Benjamin Rowe. (clique para ler)
Baseado nos escritos de John Dee supõe-se uma pronúncia, mas sem qualquer certeza definitiva. O que propomos aqui é uma padronização para a língua portuguesa desse método.
Sobre a Pronúncia do Z e do Ds
Esses dois casos merecem uma observação à parte, por possuírem uma ou mais notas nos diários de Dee e Kelley, e que acabaram orientando esses casos em particular. Cito abaixo o que diversos autores comentam a respeito, e também alguns trechos dos diários em que o Z aparece como Zod.
Donald Laycock faz a seguinte observação sobre a pronúncia do Z: “Para fazer essas observações sobre a pronúncia, Dee teve de improvisar com o alfabeto inglês comum; ele não tinha um sistema de notação fonética. Mas sua intenção geralmente é bastante clara. Ele escreve dg quando quer dizer “g suave” (como em gem); e s para “c suave”; e indica em alguns lugares que ch deve ser pronunciado como k. Ele assinala as vogais acentuadas na maioria das palavras. Às vezes – mas não com frequência – ele indica que uma letra deve receber sua pronúncia no alfabeto – assim, o ds deve ser pronunciado como “dee ess” e o z, em algumas circunstâncias, recebe a pronúncia ‘zod’. (A letra z nem sempre foi chamada de ‘zed’ ou ‘zee’; ela teve muitos nomes, entre eles ‘izzard’ e, no final do século XVI, ‘ezod’. “Zod” nada mais é do que uma variante desse último nome). Em casos mais difíceis, ele dá exemplos do inglês, assim, diz-se que zorge deve ser pronunciado para rimar com “George” e ul deve ser pronunciado “com o mesmo som em “ U”que pronunciamos yew, de onde são feitos os arcos”, ou seja, ul é pronunciado como ‘Yule’”9.
Leo Vinci10 complementa com a seguinte informação: “Pronuncia-se cada letra de uma palavra separadamente quando há ausência de vogais. A letra A é Aye; B é Bee; C é See; S é Ess; H é Aitch e assim por diante. Você encontrará uma ou duas exceções, como a letra Z, pronunciada com um “o” longo, formando o som Zood. Por exemplo, Dee dá ZCHIS como Zod-Chis e ETHAMZ como EthamZod, mas quando ele chega a MICALZO, ele dá como Micalzo e não usa “zod”, o que não nos ajuda a chegar a uma conclusão simples.”
Esse comentário de Leo Vinci em especial demonstra que há outras alternativas mesmo em língua inglesa que vão numa proposta diferente da Golden Dawn. Temos ainda a observação dada pelo Frater A.M.A.G.11 que nos orienta12: “Nos documentos originais da Golden Dawn, escritos por Mac Gregor Mathers e William Wynn Wescott, foram estabelecidas certas regras para a pronúncia das palavras Enoquianas: Mathers aconselhou que as consoantes deveriam ser seguidas pela vogal que aparece nas letras hebraicas correspondentes. Por exemplo: a palavra “sobha” poderia ser pronunciada soh-bay-hah. Os nomes de Deus, como MPH ARSL GAIOL, encontrados na Tábua de Água, são pronunciados como: Em-pay-hay Ar-sel Gah-ee-Ohl. A única grande exceção a todas as regras é que a letra Z é sempre pronunciada como zoad. Assim, a palavra Zamran é pronunciada como Zoad-ah-mer-ah-noo.”
A Pronúncia do Enoquiano em Língua Portuguesa – Finalmente!
A pronúncia das palavras em Enoquiano muitas vezes parece estranha ou difícil ao estudante, e também difícil de se lembrar, pois a maior parte as letras parece serem dispostas aleatoriamente. As palavras enoquianas foram reveladas a Dee e Kelley a partir de 29 de março de 158313.
Segundo estudos mais recentes de pesquisadores do Enoquiano14, a regra seria uma tentativa de pronúncia próxima da usada por Dee e Kelly, consoantes como em inglês, e as vogais como nas línguas latinas, quase sempre abertas. Note-se que nesse caso, é uma regra extremamente genérica, que não está levando em conta fonemas aspirados, sotaques regionais ou de diferentes países, etc. Isso é um tema que exigiria pesquisas adicionais da língua inglesa e suas particularidades, mas no caso, não traria um esclarecimento maior para o caso do presente texto.
Logo, daremos abaixo alguns exemplos simples e outros não tão simples, para que o estudante possa se basear na hora de pronunciar palavras e nomes em Enoquiano.
Nas palavras onde existem vogais, pronuncia-se a palavra usando o som da própria vogal. No caso de palavras onde existem consoantes mudas, deve-se substituir pelo som natural da letra.
Algumas letras e palavras ainda assim possuem anotação no material de Dee, como “Ds” (quem, aquele), pronuncia-se “Dies, ou De-es ou ainda Dis”. No caso para um falante do português, sugerimos Dies ou Dis (com som de z, como em “ele diz…”). O “Z”, como diversos autores apontam, pronuncia-se “Zod” quando não é mesclado com o restante da palavra, mas nem sempre, podendo ser encontrado nos diários pronunciado como Z apenas.
Por exemplo, o nome do Anjo “Zaxanin” poderia ser vocalizado como “Zaksanin”, mas a palavra “Znurza” deve ser pronunciada como “zodnurza”.
Dee ainda indica que o “Dg” é usado para indicar um “g” suave, e o “S” para indicar um “C” suave. Em muitos lugares indica que o “Ch” é pronunciado como “K”.
Exemplos:
Tplabc……………..Te-pe-la-bê-ssê (com som de SS)
Rxnl…………………Reks-né-le
Cla………………….Sé-lá (C como o som de S em ‘sela de cavalo’)
Bdopa……………..Bê-do-pá
Hcoma……………..Re-co-má (H pronunciado como R em ‘retorno’)
Bitom………………Bi-tô-mê
Exarp……………….E-kza-re-pê (o R pronunciando-se como em ‘arara’)
S…………………….Ésse
Ds…………………..Dis (com som de z, como em “ele diz…”) ou Dies como no latim: “Dies Mercurii”)
Z……………………Zod, ou como Z (pronunciado como em ‘zebra’)
A melhor regra para o Enoquiano, é treinar cada palavra que será usada no ritual, de modo a adquirir fluência, buscando uma maior eufonia15. Os nomes e palavras em Enochiano funcionam como os nomes bárbaros16 usados em muitos rituais. Uma vez que conforme dissemos acima, não há um consenso de como a pronúncia será realizada em outros idiomas (mesmo para os falantes da língua inglesa não há uma concordância geral e irrestrita) e sua pronúncia quase sempre é desconhecida, salientamos a importância na interpretação/declamação das palavras, e o efeito será sempre melhor se o praticante aplicar a cavaná17 correta para executar um ritual.
Aqui a palavra interpretação é utilizada no mesmo sentido de um ator que ‘interpreta’ um papel, ou um cantor que imprime na música a sua ‘interpretação’ pessoal. Note-se que ainda assim interpretar revela um sentido de ‘entendimento, compreensão’, pois como um cantor interpreta uma música se não for da forma que ele ‘entende’ que ela deve ser apresentada ao seu público?
É vital que se entenda esse guia como uma orientação, não uma regra fixa ou absoluta. Lembre-se que as forças cegas às quais as Chamadas são dirigidas atendem o chamado do praticante desde que a cavaná correta seja aplicada. Ou seja, mais que a pronúncia, a atitude do magista é que conta.
Abaixo, deixo ainda algumas regras complementares que podem ajudar nesse treino.
Letra | Descrição da Pronúncia |
A | Pronuncia-se como A de Amizade. |
B | Pronuncia-se como Be de Beata. |
C | como K antes de a, o, u; como SS antes de i, e (com muitas exceções) ou em conjuntos de letras: noncf = nonsf18 |
CH | como RR em quase todas as posições como a palavra Carro. |
D | Pronuncia-se como De deDestaque. |
Ds | Dis (com som de z, como em “ele diz…”) ou Dies como no latim: “Dies Mercurii”) |
E | Pronuncia-se como E deElefante. |
F, PH | Pronuncia-se comoFdeFaca. O PH às vezes pode soar também como Peri (Perigo) ou Pere (peremptoriamente). Na prática, ficará mais claro quando usar um ou outro. |
G | G seco (gu, como em aluguel) na frente de a, o, u, como J antes de i, e como gui, no final de palavras. Caosg (‘A Terra’ em enoquiano) será pronunciado como Caosêgui. |
H | No início, como R forte ( ex.: Rolha). Como sílaba final, pode assumir o som de um R breve, como em coringa ou baralho. E se estiver no final de uma palavra, antecedido por uma vogal, seu som será mudo, mas prolongará a vogal. Ex.: Baltoh (‘Honradez’ em enoquiano) será pronunciado Baletó. |
I, Y | Pronuncia-se como I em Idioma. |
J | Pronuncia-se como /ʒ/ Jo em Jota. Mas também como /dʒ/ DJ (Djalma, Djanira) |
K | Pronuncia-se como Ká em Casa. |
L | Pronuncia-se como Le em Levantar. |
M | Pronuncia-se como Me em Mercúrio. Para final da sílaba ou meio da palavra, pode ocorrer uma nasalização como em ‘também’ e ‘ninguém’, experimente! |
N | Pronuncia-se como Ne em Nebulosa. Da mesma forma que a letra anterior, experimente! |
O | Pronuncia-se como Ode Roma. E em combinações “oi”, “ou” ou “oo”, soa como U (em Fundo). |
P | Pronuncia-se como Pe em Perigo. |
Q | Pronuncia-se como Quê em Quebrado. Mas também pode soar como kwa, similar a palavra Quadrado. |
R | Pronuncia-se como Re em Resgate ou Reto. No final das palavras, pronuncia-se como em couro. |
S | Som de S, como em Ser. No final da palavra, Ex.: Bams, pronuncia-se Ba-mê-ssê (‘esquecer’ em enoquiano) ou Ba-mê–ssi (ci como em cigarra). |
SH | Pronuncia-se como Ser em Sertãoou Serviço.Note-se que nesse caso, além do som de S, temos o som de R. |
T | Pronuncia-se como Te em Teto. |
TH | Pronuncia-se como Te emTeto, porém, adicionando-se o som de R como em Terapia. Ex.: Ethamz será pronunciado como Eterámezod. Embora a palavra Ath (‘Filha da Filha da Luz’ no ‘Sigillum Dei Aemeth ’) seja pronunciada como Até. |
U | Pronuncia-se como U em Unânime. |
X | Como som de KS como em Ajax, fax, pirex. Ex.: Bliorax (‘Conforto’ em enoquiano), será pronunciado como Belioráks. |
Z | Pronuncia-se como Z, como em Zebra, zimbro. Em alguns lugares como Zod. |
Em L.L.L.L.
Frater Goya,
Campo Mourão, 27 de dezembro de 2023. 20:46
Ano Vix, Sol em 5º57’ de Capricórnio e Lua em 17º11’ de Câncer. Dies Mercurii.
Notas:
1É importante salientar que o termo “Anjo” utilizado aqui necessariamente não se refere a Anjos como entendidos pelo Cristianismo ou outras correntes religiosas e ocultas. A este respeito, sugiro a leitura de outro texto que pode ser encontrado aqui https://cih.org.br/?p=994 (citação em 29/12/2023 – 16:42).
2Vinci, Leo, An Enochian Dictionary – GMICALZOMA, New Generation Publishing, 2006, pág. 72.
3Laycock, Donald C., The Complete Enochian Dictionary, Weiser Books, 2001, pág. 43.
4Laycock, op.cit., pág.43.
5https://cih.org.br/?p=1843 – em 26/dez/2023, 21:19.
6Vinci, Leo, An Enochian Dictionary – GMICALZOMA, New Generation Publishing, 2006, pág. 72.
7Laycock, op.cit., pág.43.
8Escola perenialista, também chamada de perenialismo ou escola tradicionalista, é composta por um grupo de pensadores dos séculos XX e XXI que tentam expor ou reformular o que eles julgam ser uma filosofia perene, que remonta a ideias da Grécia antiga e do Antigo Egito. – fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_perenialista em 29/12/2023, 19:08.
9Laycock, Donald C., The Complete Enochian Dictionary, Weiser Books, 2001, pág. 45.
10Vinci, Leo, An Enochian Dictionary – GMICALZOMA, New Generation Publishing, 2006, pág. 77.
11“Ad Majorem Adonai Gloriam” – (Para a Glória Maior de Adonai) – Motto de Israel Regardie na Golden Dawn.
12Regardie, Israel, The Complete Golden Dawn System of Magic, The Original Falcon Press, 2nd Edition, pág. 979, 2003.
13Sloane Ms. 3188, Liber Mysteriorum Quintus, cobrindo o período de 23 de Março de 1583 a 18 de Abril de 1583, contendo as tabelas que depois serão transcritas por Kelley no Sloane Ms.3189.
14Aqui podemos citar Donald Tyson em Enochian Magic for Beginners e Donald Laycock em Complete Enochian Dictionary.
15Qualidade acústica favorável da emissão e/ou da audição de um significante pela articulação de certos fonemas.
16Nomes bárbaros são nomes de divindades que acabaram sendo corrompidos ao serem copiados, ou ao passarem de uma cultura para a outra, por falta de domínio do idioma original, seja falado ou escrito. No entanto, mesmo que tenham perdido sua ‘forma’ original, mantém sua efetividade ritualística.
17(no Hebraico כַּוָּנָה literalmente: “intenção” ou “direção”) é a atitude ou mentalidade quando se executa os deveres religiosos, em especial a oração. Maimônides dizia que, para alcançar a cavaná quando estiver em oração, a pessoa deveria se colocar mentalmente na presença Divina e despir-se totalmente de todas as preocupações do mundo.
18Aqui mantive a observação conforme indicada por Laycock, por fazer sentido tanto inglês como em português, mas, ainda assim, colocando a pronúncia SS como utilizamos no português brasileiro.
Fonte: Pronúncia do Sistema Enochiano para o Português Brasileiro – cih.org.br
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