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Seguindo a tese de que o Tarot seria uma invenção cristã do século XII, misto das fontes iniciáticas judaicas/cabalísticas, islâmicas/sufis e cristãs/gnósticas podemos chegar a comparar o que transmite com os modernos sistemas de ocultismo e magia. Seguindo o esquema de associações propostos com o alfabeto
hebraico e com a Árvore da Vida, cada um diferente do outro e em nada coincidentes, percebemos alguns nuances interessantes.
Primeiramente, o esquema cabalístico sempre se adapta aos modernos sistemas de planificação do universo, o que o Tarot nem sempre acompanha. Isso é fácil de ser demonstrado. O ocultismo sempre trabalha com opostos, visto que isto é o que ordena as leis herméticas. A dualidade é um componente de várias correntes
filosóficas e principalmente da Cabalá. No momento da criação do mundo, D-us, ao se contrair durante o Tzim-Tzum, formou duas realidades, o que a Ele pertencia em sua essência e o que Ele não permeava. Estava criada a dualidade.
A dualidade pode se estender a conceitos infinitos. No oriente é comumente estudada, principalmente do ponto de vista do Taoismo e correlatos. O Yin, o Yang e etc. No Tarot podemos perceber a dualidade
perfeitamente, uma vez que a Árvore da Vida tem 11 emanações, ou Sefiroth, e existem 22 Arcanos maiores. Assim, vejamos a relação:
Kether Mago / Força
Chokmah Sacerdotiza / Enforcado
Binnah Imperatriz / Morte
Chesed Imperador / Temperança
Pechad Hierofante / Diabo
Tiferet Amantes / Torre
Netzach Carro / Estrela
Hod Justiça / Lua
Yesod Eremita /Sol
Malkuth Roda / Julgamento
Daath Louco / Mundo
Essas polaridades podem representar várias coisas. Inicialmente podemos atentar para o fato de que o Mago e a Força correspondem a duas diferentes formas de controle, a habilidade no Mago e o domínio na Força. Mas em Daath que a formula realmente faz sentido, uma vez que o Louco é a armadilha do conhecimento e o Mundo sua recompensa. De certa forma, essas duas energias, Louco e o Mundo, são grandes desafios e formas de ilusão.
Atualmente, os ocultistas mergulham no estudo da Árvore da Morte, o reino das Qlifah, ou das cascas. Originalmente Qlifah é o prepucio que é retirado no momento da circuncisão. O reino das Qlifoth se projeta abaixo da Árvore da Vida (Etz Chaim), formando uma Árvore invertida, onde Malkuth é o ponto mais alto e Kether se aproxima das profundezas, correspondendo à primeira forma de organização das energias do Caos, que emanam do infinito tanto do desconhecido macrocosmico, quanto do microcosmico. Kether da Árvore da Morte está nas profundezas da coluna vertebral, refletido nos genes adormecidos de nosso DNA. Essas profundezas, muito longínquas de qualquer acesso ou conhecimento da moderna psicologia, podem
apenas serem acessadas por métodos de resurgencia atávica, muito bem conhecidos por praticantes do Zos Kia Cultus. Lá, nesse universo obscuro e desconhecido, muito além de onde o caricaturesco demônio cristão pode sequer imaginar a existência, mora toda a fonte do Caos.
Normalmente, representações da Árvore da Morte tem o desenho da Árvore da Vida invertida, com dez Qlifoth que correspondem a inversão das qualidades das Sefiroth. Mais modernamente, ocultistas como Frank Ripel (membro do ramo italiano da OTO), afirmam que a Árvore da Morte teria treze emanações, correspondentes aos treze globos de Yogg- Sothoth, o Mercúrio Negro do Caos e companheiro de Asa-Thoth, o senhor louco e cego do Caos. Esses seres são pertencentes a cosmogonia e mitologia do Necronomicon. De forma semelhante, a Árvore da Vida teria também treze emanações.
Esse esquema, como o de dezesseis do Voodoo, manda para o buraco toda relação do alfabeto hebraico com a Árvore e qualquer tentativa de associar o Tarot a ambos. Resta a solução de se “criarem” novos Arcanos para completar a Árvore. Mas esse estudo não cabe aqui.
Considerando-se que existe uma Árvore invertida, que Atu corresponderia a cada Qlifah ? Podemos argumentar que o Atu I se encaixa em Kether da Árvore da Vida e o Atu XI na da Morte. Isso é lógico, mas não provável, uma vez que a Árvore da Vida é o conjunto de quatro Árvores, uma para cada mundo, ou seja Atziluth, Briah, Yetzirah e Assiah. Cada mundo desses se relaciona com um elemento e com um naipe, segundo o esquema da Golden Dawn e derivados:
Atziluth Paus Fogo
Briah Espadas Ar
Yetzirah Copas Água
Assiah Pentáculos Terra.
Assim, existe um Atu I para cada elemento, assim como um Atu XI. Isso também se deve ao fato que a real colocação dos Arcanos Maiores é nos Caminhos e não nas Emanações. Para as Sefiroth, os Arcanos Menores são melhores indicados. Assim, devido ao fato de serem caminhos, os Arcanos Maiores não tem elementos definidos, uma vez que se refletem tanto nos quatro mundos, como no Caos da Árvore da Morte, governada por Lilith, a rainha das Qlifoth.
Todavia, na magia enochiana, revelada por John Dee e Kelly, podemos notar algumas deficiências do Tarot. Segundo as Tábuas Enochianas, existe primordialmente 5 elementos. Os quatro elementos, primeiramente
estariam relacionados nas 4 tábuas e na Tábua de União estaria o Éter. Todavia, no Enochiano, o Éter se divide em Aethyrs (ou éteres). Esses Aethyrs se espalham pela Árvore da Vida. O Tarot, a principio não tem relação com o Éter, ou seja, não existe um naipe que se associe a ele. Podemos até dizer que os Arcanos Maiores seriam o Éter. É uma tese plausível, a não ser por um ponto.
Atualmente, modernos pesquisadores como Schueler, descobriram a Sexta Tábua, a Tábua do Caos. Assim, o mundo das correspondências se fecha. Como o Ar se opõe à Terra, sendo seu oposto complementar, o Fogo se opõe à Água. E agora, o Caos se opõe ao Éter. Se unirmos as tábuas, podemos criar um hexaedro, uma vez que temos tábuas quadradas, ou cubo se preferirem. Esse cubo enochiano seria uma perfeita planificação do universo, uma vez que dentro dele circulam energias, de uma tábua para outra, formando caminhos diversos e desconhecidos. Se uma explicação para o Éter já era complicada para o Tarot, uma para o Caos é mais complicada ainda.
Atualmente se acredita que os Aethyr se espalham pela Árvore da Vida, se dividindo entre os três véus, ou seja, Massak, Paroketh e Abismo. Podemos chegar a supor que existiriam opostos aos Aethyr, pela Árvore da Morte, mas isso é só tese. A verdade é que não existe um Tarot para o Éter nos moldes conhecidos pelos tarólogos. Schueler criou um Tarot Enochiano, onde relaciona os Aethyr com cartas, mas isso é de certa forma incipiente e criado conforme as viagens que teve pelos Aethyr. O mesmo deveria ser feito a partir da exploração da tábua do Chaos.
Ou seja, ainda existem dois naipes do Tarot desconhecidos para nós e que, pelo jeito, ainda estarão ocultos por muito tempo…
by Frater Cronos
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Uma resposta em “O Universo Enochiano e os Naipes Ocultos do Tarot”
Ignorância da minha parte, mas não achei os argumentos pesados a ponto de bancar uma afirmação forte como “existem 2 nipes desconhecidos”