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Por Ícaro Aron Soares.
Isfet ou Asfet (que significa “injustiça”, “caos” ou “violência”; como verbo, “fazer o mal”) é um antigo termo da mitologia egípcia usado na filosofia, que foi construído sobre um dualismo religioso, social e politicamente afetado. Isfet era o contrário de Maat, que era a ordem cósmica. Isfet não tinha forma física. Em vez disso, acreditava-se que Isfet era personificado na forma de Apep. Isfet foi importante na cultura egípcia, pois mostrou que há equilíbrio no mundo.
O CONCEITO DE DESORDEM CÓSMICA:
Pensava-se que Isfet era a contrapartida do termo Ma’at (que significa “ordem” ou “harmonia”). De acordo com as antigas crenças egípcias, Isfet e Ma’at construíram um dualismo complementar e também paradoxal: um não poderia existir sem o seu homólogo. Isfet e Ma’at se equilibravam. Ma’at deveria superar isfet, ‘aquilo que é difícil’, ‘mau’, ‘desarmônico’ e ‘problemático’. Isfet deveria ser superado pelo bem, que substituiria a desunião pela unidade e a desordem pela ordem. Um rei egípcio (faraó) era nomeado para “alcançar” Ma’at, o que significa que ele tinha que manter e proteger a justiça e a harmonia destruindo Isfet. Uma realeza responsável significava que o Egito permaneceria em prosperidade e em paz em Ma’at. No entanto, se Isfet ascendesse, a humanidade decairia e retornaria a um estado primordial. A decadência era inaceitável como curso natural dos acontecimentos, o que significava que o mundo estava separado do cosmos e longe da ordem. O universo era cíclico, o que significa que tinha sequências repetidas: o pôr do sol diário e seu nascer, as estações anuais e as cheias do Nilo. Por outro lado, quando Ma’at estava ausente e Isfet era desencadeada, a inundação do Nilo falhava e o país caía na fome. Portanto, os antigos egípcios acreditavam que através dos seus rituais da ordem cósmica trariam prosperidade aos deuses e deusas que controlavam o cosmos. Os princípios da contrariedade entre Isfet e Ma’at são exemplificados num conto popular do Império Médio, chamado O Lamento do Beduíno:
“Aqueles que destroem a mentira promovem Ma’at;
aqueles que promovem o bem apagarão o mal.
Assim como a saciedade expulsa o apetite,
como as roupas cobrem a nudez e
como o céu clareia depois de uma tempestade.”
Aos olhos dos egípcios, o mundo sempre foi ambíguo; pensava-se que as ações e julgamentos de um rei simplificavam esses princípios, a fim de manter Ma’at, separando a Ordem do Caos ou o Bem do Mal. O Texto do Sarcófago335a afirma a necessidade dos mortos serem limpos de isfet para renascerem no Duat.
Acredita-se que o Isfet seja o produto do livre arbítrio de um indivíduo, e não um estado primordial de caos. Na mitologia, isso é representado por Apep nascendo do cordão umbilical de Rá relativamente tardio.
A DUALIDADE ENTRE A ORDEM E A DESORDEM CÓSMICAS:
Na cultura egípcia a dualidade era importante. Para que a dualidade existisse, era necessário que houvesse duas forças opostas. O contrário de Isfet era Ma’at. Dizia-se que Ma’at trazia ordem, enquanto Isfet trazia o caos. Isso criou o conceito de dualidade. Criando duas forças opostas que existiam simultaneamente. Os egípcios acreditavam que o mundo não poderia ser equilibrado sem esta dualidade; é por isso que eles acreditavam tanto em Isfet quanto em Ma’at.
O FARAÓ COMO O MANTENEDOR DA ORDEM CÓSMICA:
Quando o rei fazia aparições públicas, ele era cercado por imagens de estrangeiros que enfatizavam seu papel como protetor de Ma’at e inimigo de Isfet, que eram os inimigos estrangeiros do Antigo Egito. Como tal, o rei é mostrado principalmente ‘ferindo’ estrangeiros para manter Ma’at.
O rei também mantinha o culto nos templos para evitar a propagação de Isfet, garantindo que os rituais fossem realizados em intervalos definidos, que eram necessários para preservar o equilíbrio de Ma’at contra as forças ameaçadoras de Isfet.
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