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Por Kenneth Grant, Outside the Circles of Time (Fora dos Círculos do Tempo), Capítulo 15.
DE GRANDE importância para os Mistérios de Maat é o conceito das máscaras assumidas pelo ego enquanto dançam o drama de Seus rituais em sonho ou em vigília. As máscaras são totêmicas e têm afinidades com as Onze Torres que, como totens, representam a energia particular de uma Sephira ou zona de poder qabalística, conforme segue:
A Kether é atribuída a máscara do Cisne, símbolo do paramahamsa pelo qual os Hindus personalizaram o pranava OM. As sutilezas e profundidades deste mantra-semente podem ser estudadas nos Upanishads e livros sobre o Hinduísmo em geral, mas atenção também deve ser dada às possibilidades mágicas do pranava, descritas por Crowley. (1) O som é estendido para compreender a vibração da criatividade – GN – a base da Gnose Ofidiana que pertence particularmente ao Aeon de Hórus. Em um contexto Maatiano, essa vibração não se refere apenas à Palavra de Poder emitida por um Ipsissimus (que não está mais preso à terra), mas também a um além da terra e fora de seus tempos e espaços. A dança desta Máscara está, portanto, além da compreensão das mentes que funcionam em tempos e espaços abaixo do abismo que as separa do atemporal e do atemporal.
À segunda zona de poder cósmico, Chokmah, é atribuída a máscara da Garça, Águia ou Falcão de Hórus. É de ouro reluzente, como a máscara do Cisne é de pura brancura, tornada visível apenas pelas sobrebaias das penas que a compõem. O falcão simboliza o Ba ou essência geradora masculina, que é ele próprio um símbolo do spanda criativo. De acordo com Hor-Apollo, que era um alto iniciado nos ritos antigos de Khem, o falcão bebe sangue, nunca água, e “a alma (ba) é sustentada pelo sangue”. Esta é a chave do mistério do Falcão, escolhido pelos Egípcios como símbolo de Hórus. O falcão não é apenas o procriador, mas também o destruidor como uma força vampírica. A aniquilação tipificada pela brancura vazia do cisne é manchada pelo fluxo místico de sangue que é bebido pelo falcão cujo ouro então se torna negro. O processo alquímico é abundantemente aparente. A negritude é totemizada pela Máscara da Coruja, que é usada pela sacerdotisa quando é assumida aos Mistérios de Binah e de Babalon.
A coruja é a Ave das Trevas associada a Atena, a deusa militante, mostrando assim uma conexão adicional com o sangue. Atena, a tecelã, transformou Aracne em aranha, daí a zona de poder Aracneana que colide com Binah e está associada a Babalon-Odudua, (2) a aranha (3) sendo o símbolo supremo do Culto Obeah do místico Aub (4) e da Corrente Ofidiana em geral. Seu número é 9, que o liga a Yesod e ao Loon (veja mais adiante).
O Pássaro do Abismo é identificado por Andahadna como o Íbis de Thoth (Daäth). Segundo Plutarco, a íbis instruía os homens no uso do enema, que ela administrava a si mesma com o bico. Ela foi, portanto, escolhida como a típica fênix ou ‘vira as costas’, simbolizando os fenômenos da ressurreição por meio do retorno cíclico ou aeônico. (5) No presente contexto, e em conexão com o Portal do Abismo, o simbolismo denota o modo de saída do universo conhecido para o desconhecido. Sua fórmula é Conhecimento (Daath), que também é Morte (Death), pois ‘aquele que sai pelo Portal Norte, sai para sempre’.(6)
A Máscara do Íbis é, de todas as máscaras, a mais difícil e a mais perigosa de assumir, pois, como escreveu Andahadna:
A travessia do Abismo… o salto inicial de aceitação da própria inexistência individual deve ser seguido por atos contínuos de morte; somente quando a aceitação se torna um modo habitual de percepção em todos os momentos na consciência desperta é que se pode começar a operar em termos de Maat.
Às zonas de poder abaixo do Abismo, as máscaras são atribuídas de acordo com o significado interno e o significado das forças Sephiróticas:
A Chesed é atribuída a máscara do Corvo. Este é o pássaro negro de Set, distinto do Falcão de Hórus dourado em seu avatar solar. A palavra corvo, TzRB (292), é a palavra caldaica para ‘tarde’, o momento da distribuição uniforme de luz e escuridão, o entarde-cer (even-ing) das forças contrárias de Set e Hórus. Considerada misticamente, esta conjuntura, ou sandhi, denota uma certa travessia que, em vista da posição de Chesed na Árvore da Vida, refere-se, presumivelmente, à Travessia do Abismo que está à frente do Adepto que atingiu a assunção do máscara do Corvo. O número 292, como o de 393 e 494, é de grande importância nas Qabalahs de Besqul. Denota Chozzar, que segundo Blavatsky (7) é o nome pelo qual os profanos aludem a Netuno, o ‘símbolo da magia Atlante’.
O tridente que simboliza Netuno também o identifica como um deus das profundezas. É o símbolo da magia Atlante por causa da doutrina da tríplice língua descrita anteriormente e do aspecto tríplice da Besta: 333 + 333 + 333. Ou seja, a Besta Choronzon-Shugal (333 + 333 = 666), e o kala ou metal de Sirius ‘B’ (Sagala = 333), que juntos criam ou projetam a Mulher ou Ninfa (Nymphe) das Profundezas – a Filha das Águas – 999.
Chozzar é a palavra Hebraica para ‘porco’. Os ocultistas procuraram em vão compreender a conexão entre Netuno, a Magia Atlante e o Porco. Mas quando a origem Typhoniana do animal é compreendida, e quando se percebe que a propensão ao consumo de excrementos humanos, que caracteriza esse animal, deve ser entendida como simbólica de outra forma de excremento – a forma associada ao ciclo lunar da fêmea humana – então a conexão se torna clara.
A Máscara do Galo é atribuída a Geburah. O galo simboliza o sol nascente, e a natureza fálica da dança dessa máscara é explicada por sua conexão com os ritos de sangue de Marte, o representante planetário de Geburah. Mas um fator que não deve ser esquecido é o significado original dos Mistérios de Sangue, que eram femininos antes de serem substituídos pelos ritos solares masculinos. O mito Indiano ainda mantém o tipo original, e os ritos de Kali são realizados em uma Terça-Feira, que é o dia sagrado para Marte apenas nos calendários posteriores. Os Ritos de Kali celebravam uma época em que os mistérios estelares e lunares eram encenados à noite, e o surgimento desses Mistérios – tipificados pelo galo como o sol nascente – tornou-se a base dos cultos fálicos posteriores que glorificavam a corrente masculina ou solar, e guerra. O sangue da guerra foi conseqüentemente substituído no lugar do sacrifício primordial, ou derramamento de sangue que não era de natureza marcial.
A Máscara do Falcão associada a Tiphereth requer poucos comentários. É a assunção da máscara do ego à energia masculina e solar, fazendo do ego o centro do universo manifesto abaixo do Abismo. No entanto, o falcão é um símbolo da alma que deriva seu único alimento do sangue (ou seja, a fonte feminina), conectando assim a ideia de sangue com a Estrela de Set (Sirius). De acordo com os calendários posteriores, os Ritos de Kali também eram celebrados no dia de Set ou de Saturno.
No verso anterior àquele em que ela declara que seu número é o das Qliphoth (ou seja, 11), Nuit – a Mulher arquetípica – exclama ‘Meu incenso é de madeiras e gomas resinosas; e não há sangue nele: por causa do meu cabelo as árvores da Eternidade’. (AL.I.59).
Em Árabe, Sirius é chamado de ‘cabeludo’, e em Egípcio o Serau denota ‘um bode cabeludo como uma ovelha’. Os dois conceitos, Cabelo e Estrela de Set – encontram-se assim na palavra Sirius. As ‘árvores da Eternidade’ estão assim conectadas misticamente com o conceito de Sirius. Em vista deste fato, o verso pode ser interpretado da seguinte forma: ‘Meu incenso é de madeiras e gomas resinosas (ou seja, os kalas); e não há sangue nele; isto é, não há componente lunar – eles não são kalas lunares e, portanto, em certo sentido, também não são kalas terrestres – porque Nuit, não Babalon, está falando, e Nuit é o veículo de Sirius e dos kalas do espaço Infinito tipificado pelas árvores da Eternidade.
E isso explica outro assunto obscuro, pois Hrumachis (ou Hor-Makhu; veja AL.III.34) significa ‘Hórus da Estrela’. Ele é o Abridor do Ano, assim como Sirius é o Abridor do Ano, e sua influência é conhecida como o Sol atrás do Sol. Hrumachis, portanto, é Sirius.
O Grande Equinócio é declarado ter caído ‘quando Hrumachis se levantar’ e quando o de varinha dupla assumir o trono e o lugar de Ra-Hoor-Khuit (ou seja, o Hórus ‘terrestre’, distinto de Hórus da Estrela). Então, continua AL:
Outro profeta se levantará e trará febre fresca (8) dos céus; outra mulher despertará a luxúria e adoração da Serpente; outra alma de Deus e besta se misturará no sacerdote englobado; outro sacrifício manchará o túmulo; outro Rei reinará; e bênçãos (ou seja, sangue) não serão mais derramadas Ao Senhor místico com cabeça de Falcão!
Nesta passagem está a explicação das palavras de Nuit (AL.I.59) já citadas. O Falcão de Tiphereth, o Sol, será superado por aquele outro Falcão, ou Hórus da Estrela, e esta Estrela é a Estrela-Sirius de Set.
No Antigo Egito, a ascensão de Sirius era celebrada por certas cerimônias obscenas em homenagem à Estrela do Cão. O Cão é o guia dos mortos em Amenta. No simbolismo mágico, o cão, e as fórmulas peculiares da mágicka sexual associadas ao seu culto, representam o subconsciente, o profundo, o escuro, o outro lado da Árvore que conduz ao ‘outro’ universo que é tipificado neste pela ideia da Existência Negativa, ou a negação da existência. A ideia de existência negativa era denotada nos hieróglifos pelo ideograma de uma mulher menstruada.
59 é o número do versículo em que Nuit declara que seus kalas não contêm sangue, e 50 é o número de NDH, ‘menstruar’, da palavra Egípcia neti, que significa ‘ser’, ‘existência’, ‘negativo’, ‘espuma’, ‘o sinal de sangramento’, ‘fonte feminina’. É também o número da palavra ‘fim’, e de acordo com AL.I.66, ‘A Manifestação de Nuit está no fim’. Este ‘fim’ é ainda corroborado por outra forma de 59, ZNB, ‘cauda’, ‘extremidades’. As extremidades da manifestação de Nuit são, portanto, as letras ma e ion nas quais Achad viu um prenúncio do Aeon de Maat.
A Pedra Mani e o Man – também contidos em ‘Manifestation (Manifestação)’ – já foram explicados em detalhes. O que resta a ser explicado é o papel da Filha, Ma, como a plena realização da fórmula do Aeon.
Na fórmula do Tetragrammation – IHVH – o hé final representa a plena manifestação em matéria da semente original ou yod. A Manifestação de Nuit é Had, e isso indica outro uso do termo ‘reificação’. Reificação significa ‘tornar real’, ‘real-izar’; é quase sempre interpretado como um processo de materialização. Mas a secret-ion ou kala de Ma, (a Filha), é o meio pelo qual se entra no Universo alternativo, de modo que a reificação em questão envolve (9) uma certa aniquilação ou desmaterialização total.
A filha é, então, a porta para um universo que é inexistente do nosso ponto de vista atual; fora dos círculos do Tempo e localizável em nenhum Espaço conhecido. O prenúncio intelectual dessa percepção inunda a consciência do Adepto que executa a Dança e assume a Máscara do Falcão no Centro Tiphereth. Este é o Centro Sol/Filho deste lado da Árvore, e o Centro Sol-Set/Filha do outro lado. É a fusão do ouro brilhante da chama do sol e do sangue noturno, vermelho tingido de verde, do pôr do sol que pinta seus tons iridescentes de arco-íris sobre a Máscara de Netzach, representada pelo Pavão.
A força total do simbolismo da filha aparece em uma forma emplumada com olhos numerosos, assim como o pavão – o símbolo da sacerdotisa que tudo vê adormecida no transe da Visão. Ela está adormecida porque Virgem (ou seja, não despertada), e sua estranha dança de luz de penas, que simboliza os tons sempre mutáveis dos kalas ativos dentro dela, está em sintonia com o canto estranho do Beija-flor emitido pela Máscara do Sacerdote na zona de poder de Hod, que com suas vibrações sutilmente reverberantes joga com a delicada maquinaria da mulher-sombra. (10) A alquimia implícita neste sutil intercâmbio de energias está relacionada ao Túnel de A’ano’nin onde, no caldeirão das Bruxas, é fabricado o fatal Vinum Sabbati que traz o sono eterno à Tríade terrestre, que tem o Loon de Yesod como seu ponto central. Por esse ponto fluem os gritos intraduzíveis do pássaro do crepúsculo, o pássaro do crepúsculo pairando sem peso acima da sacerdotisa como os dedos do padre enquanto eles esvoaçam sobre os sandhis. O esvoaçar, como o das asas da mariposa, estimula os óleos dos sandhis a borbulhar no caldeirão, até que o mundo dos sentidos seja secretado como um único globo em sua névoa ardente. E uma Águia voa no alto do Cálice; a Fênix ressuscitou e retorna novamente ao Aethyr, onde o Cisne de Kether flutua preguiçosamente em um sonho desimpedido.
Além do reino do Cisne, e da brancura de seu voo emplumado, amanhece a Chama Negra, a imagem cintilante do Ain Soph Aur. (11) Andahadna explica que o
‘negro não é, neste caso, a ausência de luz, mas o cancelamento dela. A radiância e a absorção são tão finamente equilibradas que a Visão Astral percebe o preto como a cor da Chama. Esta é a Luz Ilimitada porque sua ecologia operativa re-cicla constantemente todo o esplendor sem perda de energia.
Esta Chama não é alcançada pelo voo da Águia para Kether, pois a transformação no Cisne denota a apoteose da realização em relação à Árvore Obversus e no continuum espaço-tempo deste universo. Ao atingir o Pilar de Daath, no entanto, a águia mergulha e voa através do Portal do Abismo sob o Deserto de Set, e re-emerge nos espaços dos Grandes Antigos, onde fica a submersa Cidade de R’lyeh, o infame planalto de Lêng e a Torre de Koth. Esta varredura em ‘Kadath Desconhecida e o Deserto Gelado’ é o segredo exposto em escritos como o Livro de Dzyan, o Livro de Thoth, o Necronomicon ou Livro dos Nomes Mortos, e o Grimório da Doutrina Negra de Mu-Ion . A varredura permeia o espaço além de Daath e ilumina – embora sem luz – os Túneis de Set. Sua apoteose na Chama Negra é a ‘cor cintilante’, a imagem inversa, do Brilho Branco de Kether, cuja sombra projetada sobre a parede do Ain (12) – é a imagem do Deus Oculto, o maior dos Antigos. (13)
Em seu resumo sobre a natureza das Máscaras, Andahadna mal menciona um dos principais totens do Culto Maatiano – a Abelha. A razão é que este inseto desempenha um papel tão importante no simbolismo do Culto que limitá-lo a qualquer zona de poder é limitar sua função como um símbolo senciente da Corrente Maatiana in toto.
Como a mariposa e – em menor grau – a aranha, a abelha está ligada à noção de alma, da qual é um zootipo primário.
Muitos povos antigos representavam a alma como saindo do corpo na forma de uma abelha, e há uma tradição de que somente as abelhas de todas as criaturas descendem do paraíso. A razão para esta noção deve ser encontrada na gnose primordial. Sua associação com as flores e com o mel sugeria que a abelha era nativa do paraíso e daqueles campos Elísios florescendo com as flores das quais emanava o aroma do esquecimento e o doce esquecimento do aniquilamento. Mas havia outro elemento ligado ao simbolismo, e isso tinha a ver com o prazer sexual e com a gnose física primordial que precedeu as interpretações “florais” posteriores. A abelha, como coletora de mel das flores dos campos do céu, tipificava o iniciado sugando o alimento mágico dos kalas, cujos perfumes sutis exalavam das ‘flores’ da sacerdotisa escolhida para os ritos místicos. Ao embeber o mel dessas flores é conferida a dádiva da imortalidade. Assim, Virgílio em seu Quarto Livro das Geórgicas, alude à abelha imortal que entra no paraíso viva, ou seja, plenamente consciente, ou sem sofrer o esquecimento da aniquilação. Os imortais são os deuses, e na verdadeira gnose, a imortalidade se aplica a uma classe de seres que talvez nunca tenha incluído homens ou mortais.
As estrelas ou kalas de Nuit são as flores das quais é destilado o mel da imortalidade, e Crowley, referindo-se a AL, afirma que o Livro ‘explica que certas ‘estrelas’ vastas … uma delas é responsável pelos destinos deste planeta (ou seja, a terra) por períodos de 2.000 anos.’ (14)
A abelha é usada, portanto, como símbolo das estrelas como derramadoras do néctar da imortalidade. É, portanto, o tipo supremo de imortalidade ou duração assegurada pela mudança de um aeon (sistema estelar) para outro. É usado também para tipificar a Sacerdotisa das Estrelas que encarna e derrama o orvalho da imortalidade que – em seu estado reificado ou congelado – é a Pedra-Mani ou gema que realiza desejos.
Gerald Massey observa que
A Abelha é… uma forma da Abait Egípcia, ou Mosca-pássaro, que é um guia e condutor para as Almas dos mortos a caminho dos campos de Aarru. Era uma figura do Baixo Egito como a terra do mel, daí um guia adequado para os campos celestes do Paraíso-Aarru.
Massey sugere que o nome egípcio para a alma, Ba, pode ser idêntico à nossa palavra abelha:
Ba é o mel determinado pelo signo da Abelha, e Ba também é a alma. Os Egípcios usavam o mel como meio de embalsamar os mortos. Assim, a abelha, como zootipo da alma, tornou-se mensageira dos mortos e meio de comunicação com os espíritos ancestrais.
Quando se pergunta ao falecido quem o conduziu ao céu, ele responde:
Foi a divindade-Abait que me conduziu…
Saudações a ti, que voas para o céu para iluminar as estrelas. (15)
A abelha também é equiparada à leoa, pois o nome da leoa, Sekhet, é também o nome da abelha, que é o símbolo real do Baixo Egito. De acordo com Massey ‘a abelha denota a doçura do leão’. Sekhet era a deusa da doçura ou prazer – deusa da lua de mel. Daí a associação da abelha com o leão. Mas há mais do que isso. O leão é um símbolo solar de realeza e poder; a abelha é um símbolo lunar de mel e prazer, e os dois juntos constituem um símbolo de poder através do prazer que remete à fórmula do IXo O.T.O. (16) Desta forma podemos entender como as técnicas mágicas envolvendo IXo e XIo podem ser usadas para invocar os poderes do futuro (17) e do passado (18), abrindo assim um Portal para o Aeon de Maat.
No último rito, o sacerdote (ou seja, o leão) sozinho participa do Sacramento, enquanto na Missa de Maat a sacerdotisa (ou seja, a águia) também comunga. A águia, tendo contribuído com seu mel na geração do Elixir da Imortalidade, ela então participa do consumo dele.
Sustenta-se que um grave desequilíbrio energético resulta da não observância dessa exigência, e que o leão ser o único celebrante é reduzir o rito a pouco mais que vampirismo. Outra diferença essencial entre os dois ritos diz respeito à atividade positiva da águia na Missa de Maat.
De maneira simbólica semelhante, a mariposa, ou borboleta noturna, compreende Maat como a Boca (Mouth) e o Mito (Myth), (19) pois o mito é transmitido apenas de boca em boca, diferentemente da lenda, que é a palavra presa, embalsamada ou comprometida por escrito (tornada legível). Á primeira, Maat é atribuída (ascribed), ao último, seu consorte Thoth, o escriba (scribe). A pena dele é a pena mergulhada na tinta do sangue dela, e as palavras dela, congeladas, são seus enunciados materializados ou manifestados. Como consorte de Maat, Thoth é o veículo da Palavra ou Mito que procede de sua boca, o proferidor ou útero que emana o mel coletado pela abelha.
A mariposa é, portanto, um símbolo desta operação, e prenuncia o mot, a Palavra do Aeon de Maat enquanto paira sobre a Chama Negra do Ain Soph.
Mitos e lendas são do passado, mas Maat não deve ser pensado em termos de eras passadas ou futuras. Maat está presente agora para aqueles que, conhecendo os ‘alinhamentos sagrados’ e o ‘Portal do Limiar (Inbetweeness)’, experimentam a Palavra sempre vindo, sempre emanando, da Boca, nas formas sempre novas e sempre presentes que estão continuamente sendo geradas a partir do místico Atu ou Casa de Maat, o Ma-atu. (20) Estas são as palavras que formam o Mu-ion ou Aeon de Ma, com sua Doutrina das Trevas, um grimório para sempre incompreensível ao não iniciado.
A velha máxima “quando o chela está pronto, o guru aparece” pode ser adaptada com igual verdade à noção de que quando o indivíduo está pronto (ou seja, despertado), o Aeon aparece, e ele ouve a Palavra do Aeon, não em tempo sequencial, mas totalmente fora dos círculos do Tempo. Pois esse Aeon final não é um período, uma pausa, uma divisão de tempo (um kala), mas um Akala supremo e um fluxo contínuo, como Nuit é o ‘contínuo do Céu’ ou do Sekhet-Aarru, ‘a consciência da continuidade da existência’, ilimitada, não confinada a nenhum aeon particular, nenhum kala específico.
A assunção das máscaras de Maat e de Thoth são, portanto, possíveis apenas no Pilar de Daath. Quanto à consciência humana, os Adeptos assumem máscaras familiares para que seja possível relacionar-se e interagir com não iniciados. ‘Portanto, o mago se torna a pessoa necessária no lugar e tempo apropriados para aquelas (pessoas)’ dirigidas em seu caminho pela Corrente de Maat e, portanto, prontas para a iniciação. Consequentemente, é difícil para qualquer um, exceto um Rei, reconhecer outro Rei, a menos que ele decida aparecer como um. (21)
Sobre o assunto da fabricação de máscaras, Andahadna faz as seguintes observações:
Um Ego perfeitamente construído é muito mais forte e mais resistente à destruição do que um ‘natural’ (ego). Quanto maior o cuidado e habilidade artesanal com que foi feito, mais forte é sua vontade de viver. Além disso… as máscaras do ego que são mais eficazes em mudar a consciência dos ‘naturais’ tendem a situar-se nos extremos da ilusão do ‘bem’ e do ‘mal’.
Uma máscara de ego ‘mal’ é mais fácil de controlar e recordar a inexistência, em geral, pois as pressões subconscientes dos ‘naturais’ familiarizados com ela tendem a empurrá-la para o esquecimento … exceto nos casos em que o mago está trabalhando com ‘naturais’ que são de predisposição semelhante. Uma máscara ‘boa’ recebe o apoio subconsciente de seus companheiros naturais e, portanto, requer a máxima delicadeza e controle por parte do mago. É (portanto) aconselhável não assumir a máscara de um santo, a menos que haja acesso físico aos seus pares.
O que foi dito acima indica os perigos, muito frequentemente encontrados, de se esforçar para desempenhar um papel além do grau adequado de realização espiritual. Isso leva a consequências desastrosas tanto para o chela quanto para o guru. A menos, portanto, que um satsang genuíno (22) esteja disponível, ou pelo menos uma máscara totalmente iluminada prontamente acessível, é imprudente bancar o ‘santo’.
A Dança das Máscaras, se realizada dentro de estruturas mágicas específicas, é de uso imediato e inestimável para penetrar tanto os lados de cá quanto de lá da Árvore da Vida, desde que as máscaras possam ser assumidas e descartadas à vontade. Adotar a máscara do Loon, por exemplo, quando a esfera imediata de trabalho de alguém mudou para Tiphereth ou Geburah, seria cortejar um desastre instantâneo. Em geral, era melhor para o mago assumir essas máscaras dentro do Círculo protetor de sua loja ou grupo. A dança pode então ser executada com relativa segurança. As dificuldades reais surgem quando há ocasião de adotar uma máscara para enfrentar não apenas os habitantes do exterior, mas também os habitantes do interior, especialmente quando eles são de natureza qliphótica, ou se relacionam de alguma forma com os Túneis de Set. Se a máscara de alguém não for perfeitamente forjada, se a pessoa não estiver sempre completamente consciente de que é uma máscara, então problemas são esperados, e os perigos de se identificar com tal máscara levam à dissociação da personalidade (isto é, a erosão gradual e desintegração da máscara), desnudando o mago e tornando-o presa de forças hostis e vampíricas. Sua máscara pode ser apreendida, ‘remendada’, aprisionada e usada por larvas como um zumbi ou uma isca para atrair para os Túneis os associados desavisados do mago. A intervenção de uma força além do Abismo pode por si só salvar tal destroço.
Uma compreensão mais completa da função das máscaras pode ser obtida considerando as zonas de poder transabissais em relação aos mitos Lovecraftianos.
A Tríade Infernal, que reflete os nós Sefiróticos em termos da não-existência de Daath, pode ser expressa assim: Yuggoth (23) refletido via Shugal-Choronzon (24) em Daäth (25) como Yog-Sothoth, dá origem ao ‘globos’ abaixo do Abismo (ou seja, as sete sephiroth restantes). Assim como Yog-Sothoth é o Portal para as energias de Yuggoth, Yuggoth também é um Portal para as energias transplutônicas do Universo ‘B’ representadas por Nu-Ísis.
Os globos restantes podem ser atribuídos ao panteão Lovecraftiano da seguinte forma:
Chesed-Júpiter, Nodens; Geburah-Marte, Hastur; Tiphereth-Sol, Azathoth no centro da criação; Netzach-Vênus, Shub-Niggurath; Hod-Mercúrio, Nyarlathotep; Yesod-Lua, Yig; Malkuth-Terra; Geh.
Da mesma forma, a Tríade Superior Infernal pode ser alocada da seguinte forma: Plutão-Kether, para Yuggoth; Netuno-Chokmah, Kadath; Saturno-Binah, para Cthulhu ou Set-Hulhu; (26) Urano-Daath, para Yog-Sothoth.
Os globos, ou bolhas, compreendem “aquele monstro amorfo com tentáculos… cuja máscara era como um aglomerado de globos iridescentes, o nocivo Yog-Sothoth, que espuma como limo primordial no caos nuclear além dos postos mais distantes do espaço e do tempo”. (27)
De acordo com August Derleth. (28) O Espreitador no Limiar (The Lurker at the Threshold, do qual a citação acima é extraída) era mais de noventa por cento de sua própria obra, de modo que o acima deve – estritamente falando – ser referido à recensão Derlethiana do mito.
Existem, até o momento, várias recensões do mito do Necronomicon. (29) A recensão de Derleth é a mais útil para o nosso propósito atual. É bem sabido que ele era um descrente raivoso na verdade oculta dos Mitos de Cthulhu, como o próprio Lovecraft também pretendia ser. No entanto, ambos os escritores deixaram um legado duradouro e inestimável na forma de diretrizes para a descoberta de fórmulas mágicas nas quais eles mesmos fingiam não acreditar. Provavelmente não há exemplo mais claro – nos círculos literários ou ocultistas de tais pesquisadores céticos determinados a negar as verdadeiras fontes de sua inspiração. Isso eles só podiam fazer negando a possibilidade da existência de tais fontes, a saber: a ‘recordação’ subconsciente e/ou atávica daquilo que tinha sido para ambos – seja em vidas anteriores, ou nesta – um real e tradição mágica vital. Desnecessário dizer que as teses atuais seriam rejeitadas pelos próprios autores que formularam, ou melhor, redescobriram o mito, nos túneis da memória atávica.
Um dos números de Yuggoth, 453, é o de NPSh ChIH, a ‘Alma Animal em sua plenitude’, que inclui – como Crowley observa em Sephir Sephira – ‘a Entidade Criativa ou Ego, Chiah, a Besta’. Este também é um número de Behemoth, que indica a natureza da Besta. Yuggoth é, então, a máscara suprema e quintessencial do Ego.
Como 428, Yuggoth se equipara a Jesus Cristo, a anti-Besta, equilibrando assim o Universo da Matéria com o da antimatéria. É também o número de GOShKLH, as forças qliphóticas de Chesed (Júpiter-Nodens), o ‘quebrador-em-pedaços’, sugerindo o aspecto catastrófico da transição de um universo para o outro. ChSh MLIM, os ‘Brilhantes’, também equivale a Yuggoth como 428. (30)
Finalmente, como 556, Yuggoth é um com LMVPTh, ‘in signum’, ‘portentum‘, ‘para um sinal’, ‘maravilha’. Que maravilha maior do que a passagem Yuggothiana para um sistema de espaço-tempo diferente? Observe que esse número é um a mais que 555, o número do Necronomicon, o grimório preocupado especificamente com a abertura dos portais secretos e primitivos fora dos círculos do tempo.
Como observado anteriormente, o Aeon de Maat não precisa ser, de fato não deveria ser, considerado como um evento ainda a ocorrer, mas como um ato-evento que está ocorrendo agora e para sempre em espaços e tempos adjacentes ou realmente idênticos a, o ‘presente’ Aeon de Hórus. Não basta aceitar a possibilidade teórica desse fato, é preciso experimentá-lo por uma forma de reificação engendrada pela pericorese onírica. Usando a fórmula de ‘atividade crítica-paranóica’ de Dali, aplicada à gematria, é possível estabelecer relacionamento com entidades fora do espaço e do tempo, entidades que possuem todas as características da transubstanciação Maatiana em fenômenos ‘externos’.
Em termos de aeonismo Thelêmico, a imagem Hórus-Filho-Sol se traduz em Maat-Filha-Escuridão, e sua união perfeita resulta na aniquilação simbolizada pela Chama Negra do Aeon de Ma (Ma Ion). Esta é a manifestação da Doutrina das Trevas (Mu Ayon), que é a substância do Necronomicon.
Notas:
(1) Magick, edição RKP, pp. 180-184.
(2) Odudua, a primitiva Deusa Africana e Rainha da Cidade da Prostituição (Ado). Ela é o Od ou Serpente de Fogo, o Veículo da Corrente Ofidiana.
(3) Onse ou Anansi, a aranha, atribuída a Chokmah a segunda zona de poder.
(4) Aub ou Ob, a Serpente. AVB = 11, o número de Mágicka.
(5) Veja O Renascer da Magia, capítulo I, ‘O Retorno da Fênix.’
(6) The Grimoire of Azin (O Grimório de Azin).
(7) A Doutrina Secreta, vol. II., pág. 356.
(8) Ver observações sobre febre, capítulos 11 e 13.
(9) Do ponto de vista do nosso universo, é isso.
(10) O corpo astral da sacerdotisa.
(11) Luz Ilimitada.
(12) O Vazio, ou Filha-Escuridão.
(13) AL significa Deus ou o ‘Antigo’; portanto, Liber AL é O Livro do Grande Antigo.
(14) Crowley em sua introdução ao Livro da Lei (1938).
(15) O Livro dos Mortos (tr. Renouf); Cap.76.
(16) Cf. Juízes XIV. Libra. Veja Cap. 5, supra.
(17) Representado pelo IXo.
(18) Representado pelo XIo.
(19) Boca (Mouth) e Mito (Myth) são termos sinônimos.
(20) Isso também pode ser interpretado como a Casa de Ma, a Filha.
(21) Cf. AL.II.58: ‘… há mascarados meus servos: pode ser que aquele mendigo seja um Rei. Um Rei pode escolher sua roupa como quiser: não há teste certo, mas um mendigo não pode esconder sua pobreza.’
(22) Comunhão com Iniciados; a Companhia dos Iluminados.
(23) Kether-Plutão.
(24) Chokmah-Netuno.
(25) Urano.
(26) Esta forma fragmentada e anterior do nome Cthulhu mostra inequivocamente sua origem Typhoniana. O número de Hulhu é 52, o número de BHMH, Behemoth, a Besta das Profundezas, do egípcio bekhama, ‘hipopótamo’, e o totem de Ta-Urt (Typhon). 52 é também o número de KLB, ‘um cão’, totem de Set ou Sirius.
(27) The Lurker at the Threshold (Lovecraft e Derleth), 1945. Veja também observações em O Renascer da Magia, p. 116, onde se sugere que os globos sejam representados no mágico Selo da Grande Besta.
(28) Comunicação privada datada de 1965.
(29) A última é uma interpretação visual do artista H. R. Giger (Necronomicon, Big O Publishing, 1977). Giger traduz livremente Necronomicon como ‘Tipos de Máscaras da Morte’.
(30) Cf. descrições de ÓVNIS, ou fenômenos que parecem passar de um universo para outro.
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Fonte:
Kenneth Grant, Outside the Circles of Time, Capítulo 15. Frederick Muller Limited, 1980.
Copyright © 1980 Kenneth Grant.
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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