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Por Por Rachel Pollack, tradução por Ícaro Aron Soares.
Os Arcanos Maiores chegam até nós em uma sequência numerada e, com o tempo, essa sequência se tornou uma parte vital da interpretação das cartas. A maioria dos comentaristas de tarô não olha para o Mago apenas por suas qualidades individuais, mas como a carta I, o início da jornada. Para os cabalistas, a ordem das cartas determina o caminho que cada uma ocupa na Árvore da Vida. E, no entanto, parte da glória do tarô reside no fato de que são cartas e não um livro encadernado. Em vez de uma sequência fixa, eles na verdade formam uma ordem inteiramente nova toda vez que os embaralhamos e os dispomos.
Imaginemos, por enquanto, que o tarô realmente venha de guias espirituais (os Radiantes, ou a Tribo Iluminada, como gosto de chamá-los). Se eles quisessem dar a seus discípulos originais uma sequência fixa de símbolos, eles teriam dado a eles uma única mesa ou um livro costurado. Em vez disso, deram-lhes cartas (as cartas do baralho mais antigo que conhecemos).
A sequência padrão costuma ser chamada de “a Jornada do Louco”, porque a carta principal, o Louco, mostra um viajante despreocupado. Nessa nova maneira de pensar, no entanto, a Jornada do Louco é simplesmente uma variação dos Arcanos Maiores. Se misturarmos as cartas e a primeira carta, a carta temática, for a Suma Sacerdotisa, podemos chamar os Arcanos Maiores como um todo de “a Meditação da Suma Sacerdotisa” e vê-la como uma vasta visão meditativa.
Para auxiliar nossas interpretações, podemos seguir qualquer um dos padrões estruturais descobertos pela primeira vez na ordem tradicional. Existem muitos desses padrões, e qualquer um deles nos dará uma maneira de entender as cartas. Durante os anos em que trabalhei com o tarô, achei valioso deixar o Louco de lado, como a carta principal, e dispor o resto em três fileiras de sete. (Para as razões por trás desse sistema, veja meu livro 78 Degrees of Wisdom, 78 Graus de Sabedoria.) Aqui está o padrão:
A carta inicial é a carta temática. Cada uma das três linhas abaixo contém a mesma estrutura. As duas primeiras cartas apresentam as questões básicas dessa linha. Por exemplo, na sequência padrão, o Mago e a Suma Sacerdotisa simbolizam os opostos básicos da vida — ativo e imóvel, claro e escuro, fala e silêncio, consciente e inconsciente. As três cartas do meio mostram o “trabalho” dessa linha: as questões que devemos enfrentar se quisermos compreender a mensagem das cartas e, de fato, vivê-las. A Imperatriz, o Imperador e o Hierofante simbolizam assuntos como natureza, sociedade e tradição, ou mãe, pai e educação. Em cada linha, a carta bem no centro forma um teste, ou crise. Para muitas pessoas, o Imperador é uma carta difícil. Confronta-nos com a sociedade, com regras e restrições. Se quisermos reconhecer o Imperador em nós mesmos, temos que estabelecer limites e organizar estruturas. Se quisermos viajar pelas várias fases da vida, devemos nos entender com o Imperador e suas estruturas.
As duas últimas cartas representam as conquistas da linha. A carta VI mostra uma experiência direta que obtemos depois de realizarmos o trabalho, enquanto a carta VII indica o que podemos nos tornar. Assim, ao passar pela vida de trabalho da Imperatriz, do Imperador e do Hierofante, o Louco experimenta a paixão dos Amantes e assume a personalidade bem-sucedida da Carruagem. As outras duas linhas repetem o mesmo padrão, indo para níveis mais profundos de conhecimento e sabedoria.
Com este (ou qualquer outro sistema estrutural) em mente, podemos misturar os Arcanos Maiores e ver o que obtemos. Existem duas maneiras de fazer isso. Você pode embaralhar todos os vinte e dois e definir sua carta inicial como seu tema. Se a primeira carta que você virar for a Justiça, você terá um Arcano Maior da Justiça, no qual aprenderá sobre as questões, desafios e experiências de vida que surgem a partir desse assunto. Se a carta for Força, você aprenderá quais testes e recompensas vêm à medida que aprendemos a ser espiritualmente fortes. E se a primeira carta que virarmos for o Louco? Bem, então teremos uma nova Jornada do Louco.
O segundo método nos permite examinar um tema escolhido. Suponha que você se sinta desafiado por questões de amor e relacionamento. Você pode colocar a carta dos Amantes, misturar as restantes vinte e uma cartas dos Arcanos Maiores e colocá-las em fileiras de sete abaixo dos Amantes. O padrão ilustraria a questão do amor em sua vida.
Aqui está um exemplo do primeiro método, embaralhando todos os vinte e dois. O baralho utilizado foi o Shining Woman Tarot (Tarô da Mulher Brilhante), projetado e ilustrado por mim.
A carta temática é a Carruagem, então as questões tratam de como lidamos com a força no mundo. A primeira linha mostra as questões básicas envolvidas. Começa com o Imperador e a Justiça. Para montar sua Carruagem na vida, você precisa ser forte e estabelecer limites. Você também precisa agir com justiça e honestidade para não se tornar um tirano. As três cartas de trabalho são a Espiral (Roda, nos baralhos tradicionais) da Fortuna, a Suma Sacerdotisa e a Força. Um condutor vigoroso precisa saber como se ajustar às viradas da fortuna. Ele ou ela precisa de Força interior para dar profundidade real a essa vontade dirigida externamente. O teste crucial, entretanto, é a Suma Sacerdotisa, símbolo dos mistérios internos, pois a Carruagem tende a direcionar toda a sua atenção para fora. Tendo feito este trabalho, agora experimentamos o Mago – isto é, a criatividade mágica de uma vontade dirigida – e recebemos o Mundo (neste baralho chamado Mulher Brilhante), símbolo de sucesso espiritual para equilibrar o poder externo da Carruagem.
A segunda linha funciona em um nível mais interno. A Temperança e a Morte são desafios para a Carruagem. A primeira exige calma e equilíbrio, enquanto a segunda nos confronta com a perda. Ambos envolvem a rendição do controle. Na sequência de trabalho, tanto os Amantes quanto o Louco pedem ao Condutor que abra mão do controle, enquanto o Eremita, como teste central, exige que o condutor da Carruagem entre naquele estado descrito pela primeira vez na carta acima dela, a Suma Sacerdotisa. Tendo seguido este tema de entrega, o Condutor encontra um retorno à consciência na Estrela, apoiado nas verdades da Tradição (Hierofante nos baralhos tradicionais).
A linha final vai ainda mais longe na exploração desses temas. A Torre e o Sol são opostos. O primeiro simboliza momentos em que tudo parece desmoronar, o segundo momentos de simplicidade e prazer. Ambos são muito intensos, cheios de poder. As cartas de trabalho continuam a intensidade. Nesse nível mais profundo, o Condutor deve enfrentar seu Demônio sombrio e encontrar os valores maiores da Árvore do Mundo na Mulher (ou Homem) Enforcada. No meio, ele ou ela deve dirigir a Carruagem pela meia-luz da Lua, a carta do instinto profundo. Os estudantes do simbolismo do tarô perceberão a conexão entre as três cartas do meio, a Suma Sacerdotisa, o Eremita e a Lua.
As duas últimas cartas permitem que o Condutor, originalmente focado no sucesso, desfrute das maravilhas da pura paixão da Imperatriz, seguida por um Despertar espiritual, tirando-o das preocupações materiais.
Essa estrutura segue um padrão específico. Você pode definir Arcanos Maiores alternativos em qualquer sistema. Se desejar, você pode colocar as cartas na Árvore da Vida e descobrir o que pode significar, por exemplo, que a Carruagem agora aparece no caminho entre Kether e Chokmah, o Imperador entre Kether e Binah, e assim por diante. O que importa é a liberdade que as alternativas nos dão para olhar as cartas de novas maneiras.
Este exemplo particular de um Arcano Maior alternativo surgiu inteiramente por meio de um embaralhamento aleatório. Demonstra a sabedoria do tarô e sua capacidade de nos desafiar com novas ideias. Tudo o que temos a fazer é embaralhar e distribuir as cartas.
Fonte: https://www.llewellyn.com/jour
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