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Kao Kazlauckas[1]
Aproveitando o final do ano, o fim de um ciclo, vamos iniciar uma nova jornada interior a partir dos Arcanos Maiores.
Esqueça a adivinhação com as cartas. Hajo Banzaff no livro “Tarô e a jornada do herói” diz que a adivinhação é o último recurso para aqueles que não compreendem qual Arcano Maior do Tarô estão vivenciando nesse momento da vida. Aliás, o Tarô é um reflexo de tudo aquilo que espelhamos. Está em todas as coisas e dentro de nós.
Vamos iniciar a caminhada com uma frase de Jodorowsky em seu obra-prima cinematográfica, A Montanha Sagrada: – O Tarô lhe ensinará a criar uma alma.
O Louco é a explosão primordial. Se fôssemos traçar uma analogia com a origem do universo ele seria o Big Bang, mas ao mesmo tempo carrega uma marca de atemporalidade e também seria como o universo em sua expansibilidade imparável transitando por toda jornada dos Arcanos. Como a carta sem número ou a carta zero, na visão de alguns autores a vinte um, antecedendo um salto no ciclo eterno do Mundo, o Louco é o herói que se sacrifica em cada fase do video game, mata o inimigo e absorve seus poderes como o clássico da Nintendo, Mega Man.
E quem são essas fases e seus respectivos inimigos? São os demais Arcanos Maiores que impõe desafios e acúmulos de experiência ao Louco. E quem é o Louco? Somos nós vivenciando cada momento e acumulando experiências frustrantes e vitoriosas ao longo nossa vida.
Jodorowsky deixa claro, “A frase-chave d’O Louco poderia ser:
“Todos os caminhos são o meu caminho”…o eterno viajante que caminha pelo mundo, sem vínculos, sem nacionalidade. (Jodorowsky, O caminho do Tarô, Pág 139, 2016)
Sallie Nichols com sua visão psicológica Junguiana no livro Jung e o Tarô, pergunta o que esse Louco desperta em você? Quando você vê uma pessoa livre e despojada você sente empatia? Raiva? Desejaria ser livre?
“Outros, que nunca bancaram o louco na mocidade, estenderiam a mão instintivamente ao caminhante porque este representa um aspecto não vivido de si mesmos, a que eles se sentem inconscientemente atraídos.” ( Nichols, Jung e o Tarô, Pág 27, 1988)
E ela vai mais longe:
“O fato de que muita gente mais idosa também está adotando as roupas e os hábitos dos mais jovens talvez indique uma tentativa inconsciente de estabelecer contato, em si mesmos, com um potencial heróico não realizado.” (Nichols, Jung e o Tarô, Pág 48, 1988)
Se não vivemos a jornada do Louco e a oportunidade de aprendizado que cada experiência pode nos proporcionar viveremos com um doloroso potencial de herói não realizado, a autora deixa claro.
O Louco é o que resta. É irônico o fato de que ele foi o único Arcano Maior sobrevivente no baralho comum de jogatina (como uma barata no pós nuclear), que muitos não sabem, mas derivou do Tarô. E adotou um outro nome, coringa ou curinga, palavra que hoje em dia se transformou em sinônimo de bivalente, adaptativo, flexível e multifacetado. O que demonstra a capacidade de absorver e se autotransformar que o Louco possui como nosso herói de infância, Mega Man, para os nascidos na década de 80.
O Arcano do Louco nunca ganhou vida própria, pois ele sempre existiu e foi feito à nossa imagem e semelhança.
“Deixe-se possuir por um espírito mais poderoso, uma energia impessoal. Não se trata de perder a consciência, mas de deixar falar a loucura original, sagrada, que você já tem dentro de si.
Pare de ser testemunha de si mesmo, pare de se observar, seja ator em estado puro, uma entidade em ação. A sua memória deixará de registrar os fatos, os atos, as palavras, já acontecidos.
Você perderá a noção do tempo. Até aqui você viveu na ilha da razão, negligenciando as outras forças vivas, as outras energias. A paisagem se amplia. Una-se ao oceano do Inconsciente.” (Jodorowsky, O Caminho do Tarô, 2016, pág 142)
Bem-vindo à loucura.
Kao Kazlauckas é Tarólogo, astrólogo, professor de yoga e estudante das artes ocultas. É formado em Jornalismo e Edição de Textos Literários, gosta de escrever e acredita no Tarô como um estilo de vida e um meio de expressão artística. Também mantem no youtube o canal O Caminho do Tarô
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