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O romance de Mann é uma re-modelação da lenda, no contexto da primeira metade do século XX e os princípios e destinos intelectuais, morais e espirituais da Alemanha e da Europa nesse período para lá de turbulento. Isto é consagrado e representado na vida do herói, um fictício compositor alemão chamado Adrian Leverkühn, conforme informado pelo seu amigo de infância Serenus Zeitblom.
Leverkühn em seu início, tanto criativo como musical ou em suas explorações metafísicas, onde o compositor mostra todo brilhantismo, conduz sua carreira, sua vida e seu drama pessoal num caminho em que ele está cada vez mais preocupado com o apocalipse e com o julgamento de sua alma. O narrador, Zeitblom (um professor católico e humanista, que demitiu seu professorado em Kaisersaschern por não concordar com a política nazista para a população judaica), escreve na atual época de 1943-1946, na Alemanha, testemunhando o terrível destino do seu país.
Leverkühn, nascido em 1885, deixa escritos ao amigo, que mostram que ele tinha formalizado um contrato diabólico, um pacto, com uma manifestação espiritual de Mephistopheles ( o Diabo em pessoa ), em troca de vinte e quatro anos de grande êxito como compositor. Isso surge de um episódio quando ainda em sua juventude, ele contrai uma terrível doença venérea após visitar um bordel (coincidindo, em 1906, com o início da produção da ópera de Richard Strauss, Salomé).
Sua brilhante carreira se desenvolve ao longo dos anos que antecederam a 1930, quando ele está apresentando a sua obra prima para um grupo de amigos, uma vasta cantata intitulada “A Lamentação do Doutor Faustus”, então ele desata a fazer uma confissão aparentemente insana, de sua história demoníaca e seu pacto com o Diabo. Desde então, uma doença cerebral acaba por deixá-lo sem um único traço de suas faculdades mentais. O colapso dura até sua morte dez anos depois, em 1940, completamente inutilizado, sob os cuidados de sua mãe já idosa.
O período de sua completa decadência mental, portanto, corresponde ao período histórico da ascensão do nazismo, embora os comentários de Zeitblom sobre as circunstâncias políticas, abordem apenas o contexto do período de escrita, 1943-1947. (Além disso, o autor menciona explicitamente certos acontecimentos da II Guerra Mundial, por exemplo, a invasão aliada, de Junho de 1944, mas nunca Auschwitz.)
Não obstante, o romance fecha com uma oração do amigo Zeitblom, “Deus seja misericordioso para com vossa pobre alma, oh meu amigo, minha Pátria! ‘ (Gott sei euerer armen Seele gnädig, mein Freund, mein Vaterland.) Daí Leverkühn e sua música não são apenas paralelos, mas destinam efetivamente como uma encarnação de, a alma da Alemanha, devido à Zeitblom (ou Mann ?) O seu amor por Seu amigo e sua pátria são a mesma coisa.
Filosofia à parte, é hora de chutar o balde e esclarecer os fatos. O mito fáustico não teve outra razão que não tenha sido o falso moralismo, imperativo da igreja que via na Idade Média ( como vê hoje ) sua perda de forças, e as ofertas satânicas frente a um povo miserável e necessitado, que parecia encontrar nas promessas de Lúcifer, uma esperança menos vã do que aquela encontrada no cristianismo.
O que precisamos nos ater em todas as versões em que o mito é explorado, é a noção de que em nenhuma delas, as paixões da carne sobrepujam as do espírito. Tudo é fruto do trabalho, do esforço em que a única intervenção diabólica, é aquela em que Mephistopheles oferece ao proponente do pacto, saúde, sabedoria e força para produzir suas obras. Atente a esta passagem:
“Na ocasião em que o longo dialogo entre Leverkhun e o Diabo se desenrola, ele faz questão de afirmar e esclarecer ao compositor que orações, cânticos, pentagramas e rituais são absolutamente dispensáveis; o interesse do Diabo no compositor, tem recurso justamente nas habilidades dele, no valor a música, a sua arte, considerada profana aos olhos de Deus.”
Ao compositor também lhe é negado o direito de amar, naquilo que o Diabo considera com toda razão, a maior das servidões morais. Amar a si próprio já é o bastante para que os outros o amem ainda mais.
Uma filosofia dos pactos também pode ser encontrada na obra de Jean Jacques Rousseau em O Contrato Social:
Nesta obra, Rousseau expõe a sua noção de Contrato Social, que difere muito das de Hobbes e Locke: para Rousseau, o homem é naturalmente bom, sendo a sociabilização a culpada pela “degeneração” do mesmo. O Contrato Social para Rousseau é um acordo entre indivíduos para se criar uma Sociedade, e só então um Estado, isto é, o Contrato é um Pacto de associação, não de submissão.
No Capítulo VI: Do Pacto social, Rousseau explicita como a cessão da liberdade natural na verdade é a adesão de uma liberdade mais forte, a convencional. Obtida através do contrato social. Este, não se configura como um ato real e formal, tendo valor simbólico: suas clausulas são determinadas pela natureza do ato, dispensando enunciado explicito mas sendo mantidas e reconhecidas de maneira tácita.
Sendo a liberdade de cada indivíduo o instrumento primordial de sua conservação, como poderia ele empenhá-los sem prejudicar nem negligenciar os cuidados que a si mesmo deve? Encontrando uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual, cada um unindo-se a todos só obedece a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes.
Através da alienação total de cada associado de seus direitos à comunidade toda, cada um dando-se completamente, a condição é igual para todos e, portanto, ninguém é capaz de torna-la onerosa a ninguém. Enfim, cada um dando-se a todos, não se dá a ninguém, em lugar da pessoa particular de cada contratante, passa a existir um corpo moral e coletivo, composto de tantas vozes cônscias da condição de membro existirem no corpo.
Uma análise atenta sobre as obras supra mencionadas servem exclusivamente para desfazer da mente do crédulo a errônea versão que ele têm dos pactos diabólicos, mas iremos agora a parte prática da coisa, mas antes revelamos um segredo:
Thomas Mann pesquisou incansavelmente a vida e obra de inúmeras personagens, das quais corriam boatos e verdades em toda a Alemanha sobre como haviam conseguido prosperar na vida da noite para o dia, como homens abjetos desfilavam com mulheres estonteantes e abusavam do luxo e licenciosidade sem preocupar com o amanhã.
O Adrian em que Thomas Mann se inspirou foi um “subitamente” rico comerciante de artigos de luxo na região de Hamburgo, norte do país:
Ele efetuou seu pacto com a ajuda do Heptameron de Pietro D’Abano seguindo as datas da Lemuria Romana. Lemuria ou Lemuralia era o nome de um festival da Roma Antiga celebrado nos dias 9, 11 e 13 de Maio.
O seu objetivo era apaziguar os espíritos dos mortos que se acreditava rondarem pelas ruas e casas, mas também invocá-los para obter pactos sinistros durante a Idade Média. Quanto isso também aconselhamos uma olhada atenta no livro Codex Magia de Texe Marrs.
Alimente sua alma com mais:
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