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Texto de G. B. Marian. Traduzido por Caio Ferreira Peres.
A opinião de um setiano sobre como certas representações de Set na mídia se comparam ao deus da vida real.
Às vezes, quando as pessoas descobrem que acredito em Set, elas me perguntam como é possível que eu acredite em um “personagem fictício” do Doctor Who ou da Marvel Comics. De vez em quando, até me perguntam se acho que sou algum tipo de vampiro. Isso realmente me irrita, mas acho que não posso culpar as pessoas que fazem essas perguntas. A cultura popular se apropriou de Set e tomou tanta liberdade com Ele ao longo dos anos que a maioria das pessoas só sabem sobre Ele lendo histórias em quadrinhos ou assistindo a programas de TV de ficção científica. Inevitavelmente, Set é sempre apresentado como vilão nessas e em outras mídias populares, e isso agrava o problema, levando as pessoas a pensar que sou algum tipo de “adorador do diabo”. (Não ajuda o fato de Set ser tão frequentemente apropriado em estratégias de legitimação satanista, em que o satanismo é reconceituado como algo “pré-cristão”—mas trataremos dessa lata de vermes em outro dia).
Há várias formas de mídia popular que considero muito setianas, de fato. No entanto, a evocação de Set nessas mídias, na maioria das vezes, não é intencional; Ele deve ser adivinhado no subtexto e não no texto. Na maioria dos trabalhos criativos que realmente mencionam Set pelo nome, há pouco ou nada de Sua presença real. Permita-me mostrar a você o que quero dizer.
Set no Ciclo de Conan de Robert E. Howard (década de 1930)
Set é mais frequentemente conceituado na cultura pop como uma espécie de “deus serpente maligno”. Isso é irônico, já que ele é, na verdade, um deus mamífero associado principalmente aos artiodáctilos herbívoros (ou seja, animais de casco fendido). Mas não é difícil ver de onde veio a ideia do “deus serpente”. Na época em que os gregos controlavam o Egito antigo, Set era completamente demonizado pelos egípcios. Eles O culpavam pelo declínio de sua civilização e O confundiam deliberadamente com Seu inimigo, o monstro Apep. Quando o escritor grego Plutarco começou a escrever seu próprio relato sobre a mitologia egípcia, ele identificou essa fusão de Set e Apep com Tífon, um monstro da mitologia grega. A versão de Plutarco dos eventos foi levada ao pé da letra por muitos dos primeiros egiptólogos; foi somente com a publicação de Seth: God of Confusion de Herman te Velde na década de 1970, que informações mais precisas sobre Set começaram a ficar disponíveis. Assim, quando Robert E. Howard se baseou na mitologia pré-cristã para suas histórias sobre Conan, o Bárbaro, na década de 1920, a ideia do “deus serpente maligno” ainda estava em voga.
Nos contos de Howard, Set é retratado como uma serpente gigantesca do espaço sideral que foi originalmente adorada por uma raça de Homens Serpente alienígenas. Ele planeja causar a extinção da humanidade para que esses Homens Serpentes possam governar a Terra mais uma vez. Gosto muito das histórias de Conan de Howard, mas não posso deixar de rir dessa versão fictícia de Set. Se você é cristão, imagine como seria se Jesus aparecesse em uma história como um bode alienígena gigante que só quer comer todo mundo. Isso seria muito bobo, certo? (Quero dizer, Set poderia aparecer como uma cobra gigante e comer todo mundo se Ele realmente quisesse, mas…)
Set de Robert E. Howard, comoretratado pela Marvel Comics
Então, há algo do verdadeiro Set na ficção de Howard? Na verdade, eu diria que sim… mas não na forma de Set, o deus serpente estigiano. Eu diria que a verdadeira natureza de Set é melhor revelada por meio do personagem do próprio Conan, um anti-herói nômade que rejeita a autoridade de reis e sacerdotes. Ele está interessado principalmente em seu próprio ganho, mas também resgata inocentes e derrota monstros assustadores… assim como Set. Em uma história em particular, “A Torre do Elefante”, Howard descreve alguns dos sentimentos de Conan sobre as religiões organizadas que são praticadas em seu mundo, e acredito que suas opiniões sobre esse assunto estão de acordo com as de Set:
Ele havia entrado na parte da cidade reservada aos templos. Por todos os lados, eles brilhavam brancos à luz das estrelas—pilares de mármore nevado, cúpulas douradas e arcos prateados, santuários da miríade de deuses estranhos de Zamora. Ele não se preocupou com eles, pois sabia que a religião de Zamora, como todas as coisas de um povo civilizado e estabelecido há muito tempo, era intrincada e complexa, e havia perdido a maior parte da essência prístina em um labirinto de fórmulas e rituais. Ele havia se agachado por horas no pátio dos filósofos, ouvindo os argumentos de teólogos e professores, e saiu de lá em uma névoa de perplexidade, certo de apenas uma coisa: que todos eles estavam com a cabeça doendo. Era inútil invocar Crom, pois ele era um deus sombrio e selvagem e odiava os fracos. Mas ele dava coragem a um homem ao nascer e a vontade e a força para matar seus inimigos, o que, na mente do cimério, era tudo o que se esperava que um deus fizesse. —Robert E. Howard, “A Torre do Elefante”
Não acho que seja “inútil” pedir ajuda aos deuses (e há momentos nas histórias em que até Conan precisa fazer isso), mas concordo que a espiritualidade deve ser mantida o mais simples e prática possível. O fato de Conan pensar dessa forma faz sentido, já que ele é um nômade. Ele não tem tempo para ficar sentado discutindo teologia; ele só se preocupa com o que funciona em um determinado momento. Quem se importa se os deuses são espíritos, alienígenas ou arquétipos junguianos, desde que nossas orações e rituais para eles continuem funcionando? E como os adoradores mais antigos de Set eram nômades que viviam no deserto do Saara, acredito que eles pensavam da mesma forma. Tento manter essa atitude também, evitando argumentos teológicos em favor de qualquer coisa que funcione para me ajudar a superar as lutas que preciso enfrentar. Nesse sentido, acredito que realmente há um pouco de Set na ficção de Robert E. Howard, mas não da maneira que se espera.
Set no Universo Marvel (década de 1970)
Na década de 1970, a Marvel Comics Group recebeu licença para publicar suas próprias histórias baseadas no personagem Conan, de Robert E. Howard, e incorporou o mundo de Conan em seu próprio universo exclusivo. Como resultado, a versão de Howard de Set foi expandida e tornou-se parte integrante da tradição da Marvel. De acordo com essa versão dos eventos, Set se originou como um dos Deuses Anciões no início dos tempos e Ele se tornou maligno ao canibalizar Sua própria espécie. Então, para escapar da vingança de um deus mais jovem chamado Atum (que recebeu o nome de Atum-Ra), Ele fugiu para uma dimensão alternativa. (Sim, esse Set ainda é uma cobra gigante.) Infelizmente para Set, Ele não pode escapar dessa dimensão sozinho, mas precisa conseguir servos neste mundo para ajudar a facilitar Seu retorno. Essa função foi originalmente preenchida pelos Homens Serpente das histórias de Conan, mas Set também recrutaria seguidores no século XX. Isso, por sua vez, levaria a vários confrontos entre os seguidores de Set e equipes de super-heróis conhecidas, como os Vingadores.
De forma confusa, a Marvel Comics também criou outra versão fictícia de Set, que é identificado como sendo o verdadeiro deus egípcio (em oposição ao deus estigiano). Ele é um vilão recorrente nos quadrinhos de Thor, e a maior parte de Seu papel no ciclo do mito de Osíris foi mantida intacta. Na verdade, Ele engana Osíris e O coloca em um caixão, depois O afoga no Nilo e O desmembra. Naturalmente, a Marvel desenvolveu essa história de certas maneiras para integrá-la ao seu universo (e convenientemente removeu todas as partes sobre Set defendendo Atum-Ra de Apep). Mas a reviravolta mais estranha é quando Seth supostamente engana os mortais para que eles o adorem, transformando-se em uma cobra gigante e fingindo ser Set (ou seja, o deus serpente dos Homens Serpentes de Howard). Em outras palavras, uma versão demonizada de Set finge ser outra versão demonizada de Set para ganhar Seus seguidores.
Seth—em oposição a Set—na Marvel Comics.
Se isso não lhe parecer completamente sem sentido, vamos trocar os nomes novamente. Além de Jesus ser realmente um bode espacial gigante que quer comer todo mundo, agora há outro Jesus menos poderoso que se faz passar pelo bode espacial para que as pessoas o adorem. (Hã?)
Set em Doctor Who (1975)
O Grande Vermelho aparece no episódio Pyramids of Mars como Sutekh, um tirano alienígena do planeta Osiris. (Sim.) Ele destruiu Seu próprio povo e planeta há eras, mas depois foi aprisionado por Seu irmão Hórus em uma tumba no planeta Marte. Quando Pyramids of Mars começa, Sutekh usa Seus poderes telecinéticos para possuir um homem aqui na Terra no início do século XX. Em seguida, Ele faz com que o homem construa um monte de múmias-robôs, bem como um foguete. O plano é que o escravo hipnotizado de Sutekh dispare o foguete diretamente na prisão de Sutekh em Marte. Isso efetivamente libertará Sutekh de Sua prisão, permitindo que Ele retome Seu plano covarde de atomizar o universo inteiro (sem motivo aparente). Felizmente, nosso Senhor do Tempo Gallifreyan favorito, o Doutor (interpretado aqui por Tom Baker), está no caso. (E como esse episódio foi ao ar em 1975 e Doctor Who ainda está sendo produzido quatro décadas depois, tenho certeza de que você pode adivinhar como as coisas se desenrolam nessa versão do Grande Vermelho).
Embora os roteiristas de Pyramids of Mars claramente não conhecessem (ou não se importassem) muito com Set ou com a mitologia egípcia, há algumas coisas a favor dessa versão de Sutekh definida pela BBC. Por um lado, pelo menos eles tiveram o bom senso de retratá-Lo com a cabeça de Sua besta sagrada sha; posso apreciar isso em vez de retratá-Lo como uma cobra gigante. Por outro lado, Sutekh é interpretado por Gabriel Woolf, que tem a voz de supervilão mais legal de todos os tempos. (Mais tarde, Woolf retornaria para dar voz ao personagem “a Besta” em The Impossible Planet/The Satan Pit, de 2006). Se você vai fazer de Set um vilão, pelo menos O torne impressionante e carismático, como faz Doctor Who. Eu, por exemplo, acho que seria muito legal se eles revisitassem esse personagem em um episódio futuro.
Sutekh o Destruidor do planeta Osíris (sem máscara)
Set em Conan o Bárbaro (1982)
Nessa magnífica adaptação cinematográfica das histórias de Conan de Howard, o vilão é um mago chamado Thulsa Doom (interpretado por James Earl Jones), que na verdade é dois personagens em um. Thulsa Doom era originalmente o nome de um vilão muito diferente nas histórias de Kull de Howard, um necromante morto-vivo com um rosto esquelético. (Na verdade, Skeletor, do desenho animado He-Man and the Masters of the Universe, da década de 1980, é basicamente uma versão para crianças de Thulsa Doom). O Doom desse filme é, na verdade, Thoth-Amon, um feiticeiro estigiano e sacerdote de Set que foi o arqui-inimigo de Conan nas histórias originais. Não tenho a menor ideia de por que os cineastas decidiram misturar os nomes dos personagens dessa forma, já que isso não serve a nenhum propósito racional que eu possa ver. Mas isso não importa muito, porque o filme ainda é incrível de se ver (e a atuação de Jones como “Doom” é simplesmente fantástica).
Neste filme, não fica claro se o Set de Howard (ou qualquer outro deus) existe de fato ou não. O filme dá a entender que o culto a Set existe há muito mais tempo do que Thulsa Doom, mas o culto não parece ter nenhum interesse substancial em facilitar o retorno de Set à sua dimensão. Na verdade, Doom parece ter se apropriado do culto e o transformado em um veículo para seu próprio ganho pessoal; pode-se até dizer que os cultistas estão muito menos interessados em adorar Set do que em adorar o próprio Doom. E, pelo que sei, eles não fazem nada além de praticar canibalismo, realizar orgias sexuais selvagens e alimentar cobras gigantes com mulheres nuas. Honestamente, isso é mais um comentário sobre líderes de cultos perigosos como Jim Jones do que uma adaptação direta da ficção de Howard. Dito isso, na verdade, gosto muito mais dessa versão do culto de Howard em Set. Ele não era necessariamente maligno desde o início, nem segue necessariamente um deus maligno; apenas foi distorcido para se adequar à agenda de um mago maligno. (Embora eu admita que é muito legal ouvir James Earl Jones pregar sobre como “O OLHO DE SET ESTÁ SOBRE VOCÊ!”)
Acredito que há mensagens de Set nesse filme, mas, assim como nas histórias originais de Conan, elas se encontram mais no personagem de Conan do que em Thulsa Doom. Na verdade, acho que a história está nos dizendo que Set não gosta quando loucos sedentos de poder, como Doom, se apropriam de Sua adoração para fins tão horríveis e que, na verdade, Ele favorece pessoas como Conan. De fato, é possível interpretar Conan como um guerreiro escolhido por Set para purificar Sua religião do fanatismo distorcido de Doom.
Set em Conan the Adventurer (animação, 1993)
Na década de 1990, houve uma série animada de Conan. Nessa adaptação, Set é claramente real e pode de fato agir no mundo de Conan. (Ele é até interpretado por um dublador!) Set aparece como uma gigantesca cobra falante que vem de um universo alternativo e que quer dominar o mundo. Há muito tempo, Ele foi banido para o “Abismo” por quase todos os magos vivos da Terra, mas Set tem Seu próprio mago, Wrath-Amon, cuja missão é coletar o que ele chama de “Metal Estelar”. Trata-se de um ferro mágico brilhante que vem de meteoros e que, aparentemente, pode abrir portas para mundos interdimensionais. Essa é uma ideia bastante interessante, considerando que o ferro (especialmente o ferro meteórico) é bastante sagrado para Set na vida real e é usado em Sua adoração para “abrir as bocas” de objetos físicos (o que os transforma em “interfaces” mágicas com o mundo espiritual).
Chega dessa história de “cobra gigante”!
Wrath-Amon é claramente baseado em Thoth-Amon das histórias originais de Robert E. Howard, mas eles decidiram mudar seu nome e transformá-lo em um Homem-Serpente (em vez de deixá-lo ser um humano comum, como Thoth-Amon). Isso levanta a questão: o que diabos é tão difícil na adaptação das histórias de Conan para filmes, desenhos animados ou até mesmo programas de TV? Por que toda adaptação cinematográfica tem que misturar os personagens ou inverter seus nomes ou dar a eles nomes que são mais ou menos iguais, mas ligeiramente diferentes? Existe alguma lei em algum lugar que diga que eles têm que fazer isso?
Set em G.I. Joe (Animação, 1985)
Acredite ou não, Set—assim como Osíris, Hórus, Thoth, Buto, Ammut, Ma’at, Amun-Ra, Sekhmet e Anúbis—aparece em um episódio de 1985 de G.I. Joe chamado “The Gods Below”. O enredo desse episódio diz respeito a um egiptólogo que descobriu a “Tumba de Osíris” e que é sequestrado pelo grupo terrorista Cobra. O Comandante Cobra e a Baronesa esperam saquear os tesouros dessa tumba para financiar seu próximo plano maligno e, de alguma forma, a equipe G.I. Joe fica sabendo disso. Antes que você possa dizer “Caçadores da Arca Perdida”, os Cobras e os Joes estão correndo dentro da tumba de Osíris, disparando bazucas uns contra os outros (e, de alguma forma, sem fazer com que toda a estrutura desmorone sobre eles). No entanto, eles conseguem atrair a atenção dos Netjeru, e os Joes são testados na corte de Osíris para determinar seu valor moral. Enquanto isso, os Cobras encontram Set e tentam enganá-Lo para que lhes dê o tesouro que procuram. Eles fazem isso fingindo adorá-Lo, mas o Grande Vermelho percebe a besteira e dá uma surra neles com uma poderosa tempestade.
É claro que Set é descrito como “o deus do mal” por vários personagens ao longo do episódio, mas Ele realmente ajuda a deter Cobra no final, e Ele faz isso sem ferir ninguém. Melhor ainda, Ele é retratado em Sua forma correta como um cara grande e musculoso com a cabeça de Sua besta sagrada, o sha. Em um determinado momento, Ele assume a forma de uma serpente gigantesca, mas é claramente indicado que essa não é Sua verdadeira forma, e o contexto em que isso ocorre é bastante notável. Quando os Cobras O encontram pela primeira vez, Set pergunta se eles são “adoradores da Serpente”. Eles dizem que sim, e Ele Se transforma em uma grande cobra e ordena que todos se ajoelhem. Eles o fazem, e Set volta à Sua forma de sha e lhes dá o tesouro. Em seguida, os Cobras partem e Set os ataca no céu enquanto eles estão voando para longe. Do meu ponto de vista, toda essa troca é um truque para ver se as Cobras realmente sabem o que significa adorar Set. Ao se ajoelharem diante Dele enquanto Ele está em forma de cobra, elas provam que não sabem nada sobre Ele e que não veem diferença entre adorá-Lo e adorar Seu inimigo, Apep. Isso, por sua vez, incita o Grande Vermelho a atacar os bastardos podres justamente quando eles acham que venceram.
O Grande Vermelho está até fofinho aqui!
Como setiano, acho que isso é muito legal! Eu adoro G.I. Joe e realmente adoro esse episódio. Quem poderia imaginar que um desenho animado simples da era Reagan conteria uma das melhores representações que já vi do Senhor Vermelho na cultura pop ocidental?
Set nos filmes de Puppet Master (1989-Presente)
Oh, deuses.
Então, a franquia Puppet Master [N. T.: No Brasil conhecida como Mestre dos Brinquedos] é uma série de filmes de terror baratos, direto para vídeo, produzidos pela Full Moon Entertainment, que provavelmente foi o rei do besteirol direto para vídeo na década de 1990. Você já viu os filmes Trancers, Dollman, Demonic Toys ou Subspecies? Todos eles são filmes da Full Moon, e Puppet Master, como os demais, mal se qualifica como “terror”. Esses filmes são mais parecidos com comédias sem graça que, por acaso, incluem porções saudáveis de sangue e sujeira. É impossível levá-los a sério, mas, desde que você não tente, alguns deles podem até ser bastante agradáveis. Dito isso, os filmes Puppet Master tratam do legado de Andre Toulon, um alquimista francês da Segunda Guerra Mundial que descobre um elixir mágico capaz de dar vida a objetos inanimados. Quando os nazistas matam sua esposa, Toulon se vinga dando vida às suas marionetes e enviando-as para sangrar os bastardos fascistas. Em seguida, Toulon e seus fantoches se mudam para os Estados Unidos, onde os fantoches causam mais problemas muito depois da morte de Toulon.
Acontece que um dos vilões dessa série é Set, que aqui é conhecido como Sutekh (como em Doctor Who). E, para ser sincero, esse deve ser o design mais original do Grande Vermelho que já vi em um filme (embora eu não queira dizer isso como um elogio). O Sutekh da Full Moon se assemelha a um Buda BDSM rechonchudo com um rosto que parece um crânio esculpido em um repolho estragado. Ele também tem dois olhos que brilham como laranjas da Flórida e tem até mamilos. (Mamilos, eu digo!) Aparentemente, essa versão de Set é responsável por criar o elixir mágico que dá vida aos fantoches de Toulon e Ele o quer de volta para que Ele possa usá-lo para desencadear o apocalipse de alguma forma (naturalmente). É claro que Sutekh está preso em algum tipo de dimensão alternativa (eu me pergunto de onde eles tiraram essa ideia), e Ele só é poderoso o suficiente para enviar versões muito pequenas de Si mesmo para o nosso mundo. Esses clones em miniatura são chamados de “Totens” e têm quase o mesmo tamanho das marionetes de Andre Toulon (o que significa que veremos muita ação entre marionetes contra marionetes).
De onde diabos veio ISSO?
Tenho que reconhecer o mérito da Full Moon Entertainment; pelo menos eles não escolheram o caminho mais preguiçoso de optar pela ideia de que “Set é uma cobra gigante”. Mas essa versão específica do Grande Vermelho é tão bizarra que não consigo nem imaginar de onde ela veio. Pelo menos o Sutekh em Doctor Who realmente se parece com Set (completo com aquelas orelhas retangulares bonitinhas Dele). Mas como diabos eles tiveram a ideia de um Sutekh careca, pelado e com olhos brilhantes? (E alguém que só consegue fazer com que bonecas de 3 polegadas de aparência estranha cumpram Suas ordens?)
Set em Vampiro: A Máscara (1991)
No jogo de RPG Vampiro: A Máscara, há um clã de vampiros conhecido como setitas ou Seguidores de Set. Infelizmente, Set não é definido como um deus na tradição de A Máscara, mas como um vampiro antediluviano (ou seja, um vampiro de antes do dilúvio bíblico) que simplesmente Se propôs a ser adorado como um deus (e como um maligno “deus serpente”). Veja bem, A Máscara postula que todos os vampiros descendem de Caim (ou seja, o filho bíblico de Adão e Eva que matou seu irmão, Abel). De acordo com essa tese, Set é apenas um dos treze vampiros que foram criados posteriormente pelos descendentes imediatos de Caim, Enoque, Irad e Zillah. Em outras palavras, A Máscara está dizendo que um antigo deus egípcio foi criado por um patriarca bíblico rejeitado—e, embora eu não vá tão longe a ponto de dizer que considero essa ideia “ofensiva”, acho-a bastante ridícula. (Não me importa se isso é ficção; os deuses superam os vampiros e Set supera Caim).
No jogo, os vampiros setitas têm interesses, habilidades e fraquezas especiais que não são necessariamente compartilhados por outros vampiros, e isso se deve à sua descendência de Set. Seu principal interesse é espalhar o máximo possível de corrupção em diferentes áreas da vida (por exemplo, promover políticos corruptos, financiar organizações terroristas, apoiar o mercado de filmes snuff, vender drogas pesadas para crianças pequenas etc.). Eles também têm uma disciplina chamada “Serpentis”, que é a capacidade de controlar ou assumir aspectos de cobras. Sua maior fraqueza é o fato de serem muito mais sensíveis à luz do que quase qualquer outro tipo de vampiro; eles podem até ser prejudicados por luzes estroboscópicas. Aparentemente, sua obsessão em arruinar o mundo faz parte de sua devoção religiosa a Set, que eles acreditam ainda estar vivo e dormindo em algum lugar nas profundezas da Terra, esperando para retornar em algum momento futuro, quando Ele destruirá o Sol (libertando assim todos os setitas para sempre). Dessa forma, os setitas são algo como o Estado Islâmico do mundo de A Máscara; são apenas um grupo de fanáticos religiosos perigosos cujas atividades ultraviolentas não fazem sentido.
Acho que é assim que o Set “realmente” se parece neste jogo.
Sei que há pessoas que gostam muito de Vampiro: A Máscara e que estão especialmente interessadas em jogar com personagens setitas. Isso é muito bom, suponho, e sei que o Grande Vermelho não se importa com o que um jogo de RPG tem a dizer sobre Ele. Mas, embora eu possa perdoar o fato de alguém dizer que Ele foi criado por um personagem da Bíblia, acho que toda essa história de “corrupção” é bastante ofensiva. Caso algum jogador de A Máscara esteja lendo isso, gostaria que soubesse que o verdadeiro Set não tem nada a ver com essas coisas. Ele pode ter matado Osíris, mas esse foi um evento necessário para a criação do universo. (De que outra forma Osíris poderia ressuscitar dos mortos se Ele não tivesse morrido primeiro?) Além disso, deuses matando deuses é muito diferente de mortais matando mortais; todos nós sabemos que não é uma boa ideia reencenar o que lutadores profissionais fazem em nossas próprias salas de estar, e o mesmo princípio se aplica aqui. Também devo mencionar que Set só matou Osíris uma vez; como Defensor de Rá, ele resgata todos nós de Apep todas as noites. Portanto, independentemente dos julgamentos de valor que as pessoas possam atribuir ao papel de Set na morte de Osíris, esse papel é secundário em relação ao Seu trabalho principal como deus Salvador.
Além disso, os setitas da vida real não são pessoas malignas que querem arruinar o mundo e destruir o Sol. Somos como todo mundo; temos famílias, empregos e tentamos viver da melhor forma possível. Muitos de nós somos ambientalistas (especialmente aqueles que se identificam como pagãos) e mesmo aqueles que seguem o caminho da mão esquerda geralmente são humanitários, pelo menos em algum grau. Você sabe de onde vem toda essa ideia de querer arruinar a si mesmo e matar o mundo? Ela vem de Apep, que é o arqui-inimigo de Set (e, de fato, de todos os deuses e criaturas). As coisas que os setitas devem fazer em Vampiro: A Máscara não são setianas de forma alguma, mas sim totalmente qliphóthicas. Não estou tentando lançar uma cruzada pessoal contra a White Wolf Entertainment ou algo do gênero, mas acho que associar os adoradores de Set a coisas como terrorismo e à indústria de filmes snuff é ir um pouco longe demais. E como eu nunca vi ninguém criticar Vampiro: A Máscara por fazer isso, decidi ir em frente e riscar isso da minha lista de desejos.
(Também devo mencionar que a palavra setita não é propriedade intelectual da White Wolf Entertainment. Até onde sei, ela aparece pela primeira vez no livro From Fetish To God in Ancient Egypt, de E. A. Wallis Budge, publicado originalmente em 1934. Nesse livro, Budge usa a palavra em referência às pessoas do antigo Egito que adoravam Set. Nunca conheci um verdadeiro seguidor de Set que realmente quisesse se chamar de setita, e isso provavelmente se deve ao fato de que todos nós sabemos que isso levaria as pessoas a nos confundir com o clã fictício de vampiros. Mas, caso alguém goste muito dessa palavra, quero que todos saibam que ela é anterior a Vampiro: A Máscara e que, na verdade, foi cunhada por um egiptólogo da vida real).
Set em Stargate SG-1 (1997-2007)
Stargate SG-1 é baseado no popular filme Stargate, de 1994, dirigido por Roland Emmerich e escrito por Dean Devlin (ou seja, a mesma equipe que nos trouxe o Independence Day, de 1996, e a horrível versão de Godzilla, de 1998). Esse é o filme em que Kurt Russell e James Spader atravessam uma antiga máquina de buraco de minhoca intergaláctica que os lança em outro planeta que se parece com o Egito antigo e que é governado por alienígenas hostis que afirmam ser os deuses egípcios. Em SG-1, Richard Dean Anderson interpreta o papel de Russell, Michael Shanks interpreta o personagem de Spader, e os malignos alienígenas egitóides recebem uma história de fundo. Aqui, os alienígenas são identificados como Goa’uld, uma raça de cobras parasitas do planeta P3X-888. Eles se apossam dos corpos das pessoas e usam sua tecnologia avançada para se fazer passar por deuses, exigindo adoração.
Nunca ficou explicitamente claro se os Goa’uld estão apenas personificando as divindades egípcias ou se eles realmente deveriam ser “a realidade” por trás dos deuses. Considerando o respeito que os roteiristas da série parecem ter pela mitologia antiga (ou seja, nenhum), eu não ficaria surpreso se fosse a segunda opção. De qualquer forma, há um Goa’uld que é “baseado” em Set nessa série. Chamado Setesh, Ele parece ter Se escondido na Terra por milhares de anos, convencendo diferentes grupos de pessoas a adorá-Lo ao longo da história. A equipe do SG-1 consegue localizá-Lo e matá-Lo com bastante facilidade (em apenas um episódio, na verdade!). Considerando a forma como Set é normalmente tratado na ficção, é surpreendente que Ele seja apenas um “Vilão da Semana” aqui (em vez de um vilão recorrente que é parte integrante de um arco de história inteiro). Não tenho certeza se devo ser grato por isso ou se devo me sentir insultado!
Pelo menos Ele é bonitão!
(Suponho que o SG-1 mereça crédito por não ter adotado a ideia de “Set é um deus serpente maligno”—mas espere! Os Goa’uld são cobras alienígenas malignas! Droga!)
Quando as pessoas descobrem que eu adoro um deus egípcio, sempre me perguntam se sou fã desse programa por algum motivo ou se me sinto pessoalmente ofendido por ele. Não, não sou fã de Stargate, e também não diria que me sinto “ofendido” por ele. Acho um pouco irritante o fato de as divindades pagãs serem tão frequentemente retratadas na ficção como alienígenas malignos. (Stargate SG-1 tem até um personagem Goa’uld baseado em uma divindade hindu, o que parece especialmente insensível, já que os Devas ainda são adorados por milhares de pessoas atualmente). Quase nunca se vê esse tipo de coisa com Jesus; a única exceção que me lembro é em Príncipe das Sombras (1987) de John Carpenter, em que se revela que o J-Man era um extraterrestre. Mas, além desse pequeno incômodo, não acho que essas ideias sejam realmente prejudiciais; apenas não me importo muito com elas.
Link para o original: https://desertofset.com/2020/06/16/set-on-screen/
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