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Por Asenath Mason e Rev Bill Duvendack, Lilith: Dark Feminine Archetype (Lilith: O Arquétipo do Feminino Obscuro).
“Lilith, a Matrona é a companheira de Samael. Ambos nasceram na mesma hora à imagem de Adão e Eva, entrelaçados um no outro. Asmodeus, o grande rei dos demônios, tem como companheira a Lilith, a Menor (a Jovem). Ela tem a forma de uma bela mulher da cabeça à cintura. Mas da cintura para baixo ela é um vórtice flamejante.”
– Isaac ha-Kohen: Tratado da Emanação Esquerda.
A citação acima mencionada do Tratado da Emanação Esquerda mostra algo que muitas vezes é esquecido ao discutir Lilith e sua mitologia, ou seja, que ela não é uma deusa de uma face só, mas uma figura complexa que existe em muitas formas simultaneamente. Este antigo texto cabalístico, datado do século XIII, fala de múltiplas Liliths, uma como consorte de Samael, a Serpente, e a outra como companheira de Asmodeus, o Rei do Fogo. Se pesquisarmos a Cabala, o folclore judaico e a literatura rabínica, encontraremos muitos outros seres chamados “Lilith” que parecem tão diferentes umas das outras que poderíamos pensar que estamos lidando com deusas separadas. Talvez estejamos, mas a única maneira de descobrir isso é chegar às raízes das lendas e do folclore. Já que estamos abordando-as sob a perspectiva da magia draconiana, que é antes de tudo colocar o saber em prática, a maneira mais natural de fazê-lo é usar as fontes disponíveis como inspiração para explorar as deusas de maneira prática. Foi o que também fizemos quando nos deparamos com a ideia de duas Liliths – a Lilith, a Matrona e Lilith, a Donzela – como consortes de dois poderosos reis demoníacos do Sitra Ahra: Samael e Asmodeus (ou Ashmedai). Neste ensaio, gostaríamos de apresentar os resultados deste trabalho, as informações que encontramos nas fontes disponíveis e o ritual que projetamos para aqueles que desejam explorar a gnose da Donzela e do Rei do Fogo em sua própria prática.
Lilith, a Matrona e Lilith, a Donzela:
Pouco se sabe sobre as duas Liliths mencionadas no Tratado da Emanação Esquerda, que parece ser a primeira fonte que aponta para a conexão entre essas duas formas da deusa. Do próprio texto aprendemos apenas sobre seus cônjuges demoníacos e que Lilith, a Jovem, procura incitar guerras, especialmente a guerra entre ela e sua mãe. O mesmo fragmento menciona dois nomes, Mehetabel e Matred, dizendo que Mehetabel é filha de Matred. Mais informações são encontradas em outros textos cabalísticos e, por exemplo, no Pardes Rimmonim e no Mada’ei ha-Yahadut encontramos uma história das duas Liliths lutando entre si – no Yom Kippur elas saem para o deserto e gritam. Quando elas se encontram, elas brigam e lutam até que suas vozes se elevem ao céu e a terra trema com seu clamor. Tudo isso acontece para que as duas Lilith não distraiam os homens com pensamentos lascivos quando estiverem em oração. Todo o mito lembra a lenda de um bode expiatório enviado ao deserto para Azazel no Yom Kippur, mas substitui o demônio masculino por Lilith e, em vez de o bode expiatório ser enviado para Azazel, as duas Liliths são enviadas para brigar com umas com as outras e assim deixar os homens sozinhos no dia sagrado.
Embora a literatura de origem não aprofunde a natureza e os poderes das duas Liliths, mais informações podem ser obtidas diretamente das deusas. E assim, Lilith, a Matrona (ou Lilith, a Antiga, aparece em ritos de magia como um ser metade mulher metade serpente, com serpentes em vez de cabelos e a máscara da morte no rosto. Em muitos aspectos ela se assemelha ao arquétipo da Medusa, e ela pode encantar e assustar alguém até a morte. Ela pode ser bonita ou hedionda, e há uma forte ênfase na morte, no medo e na escuridão em sua gnose. Nesse sentido, ela é a consorte de Samael, o Anjo da Morte, ao invés de Samael Sua contraparte mais jovem, Lilith, a Donzela (ou Lilith, a Filha), é o oposto de sua “mãe” – ela é apaixonada e brincalhona, sedutora de uma forma doce e diabólica ao mesmo tempo, e ela constantemente tenta seduzir os homens e afastá-los de Deus e de sua religião. Em sua forma primitiva, ela aparece como uma serpente enrolada em uma cruz: o pilar da ascensão. Enquanto a Lilith, a Matrona representa os mistérios do veneno e da morte, Lilith, a Donzela, é a paixão e o fogo que impulsiona o praticante no caminho, a força da evolução, a Serpente de Fogo em sua forma ascendente. A parte superior do corpo é a de uma bela mulher, mas abaixo da cintura ela é um vórtice de fogo. Isso também se refere à lenda cabalística: Lilith, a Matrona é um ser metade-serpente tanto que ela pode acasalar com Samael, a Serpente, e a Lilith, a Jovem tem a parte inferior de seu corpo em forma de fogo para que ela possa acasalar com o demônio de fogo Asmodeus, que aparece como uma criatura de fogo com a parte superior do corpo na forma de um homem.
As duas Liliths são descritas como estando em conflito eterno, mas ao trabalhar com elas encontramos outra interpretação de seu relacionamento – são duas faces da mesma força feminina: escura e brilhante, fria e quente, morta e viva. Juntas elas formam um todo, o arquétipo maior, que na Cabala é chamado de “Rainha de Zemargad” (seu domínio na terra da desolação) e é idêntico a Lilith como a deusa governante do Sitra Ahra, o Outro Lado. A própria Rainha de Zemargad é uma deusa complexa, abraçando tanto o aspecto da morte de Lilith, a Matrona quanto a paixão ardente de Lilith, a Donzela. Ela é a esposa de Samael e, juntos, acredita-se que eles governem toda a Árvore Qliphóthica como a mãe e o pai de todos os espíritos das trevas e de todo o “mal” no mundo. A princípio, podemos pensar que Asmodeus é deixado de fora desse paradigma, mas na literatura de origem o Rei do Fogo é frequentemente chamado de “Samael, o Negro”, o que sugere que estamos simplesmente lidando aqui com outra face do Deus Obscuro do Sitra Ahra e esses dois reis demônios podem ser vistos como um ser, assim como as duas Liliths. Há muito mais nessa interpretação, mas isso é assunto para outro ensaio, e aqui vamos nos concentrar no aspecto do fogo, que é representado pela união sexual de Asmodeus e de Lilith, a Jovem.
Asmodeus, O Senhor da Chama:
Como as chamas retorcidas de um incêndio, a história de Asmodeus é retorcida e cheia de reviravoltas. Na superfície, ele parece ser uma divindade muito direta, mas como acontece com muitas coisas, ele é muito mais complexo do que parece. Na superfície, ele parece ser uma divindade composta de raízes hebraicas e persas, mas após um exame mais detalhado, descobrimos que esse não é necessariamente o caso, pois há outras peças desse quebra-cabeça que devem ser consideradas.
De acordo com a tradição hebraica, Asmodeus é o rei dos demônios, ou um ser da ira. Portanto, podemos ver como, para os não iluminados, ele pode estar ligado ao arquétipo do adversário Lúcifer, ou Satã. Mas, ambas as perspectivas são baseadas em uma interpretação hebraica estrita, e há muito mais para ele do que isso. É na tradição hebraica que o encontramos presente na criação do templo de Salomão, porém, e que ele é um dos sete príncipes do inferno. Diz-se também que ele corresponde à Luxúria, da lista dos Sete Pecados Capitais. Curiosamente, também é dito que ele está agora aqui na terra depois de ter sido contido no inferno por vários milhões de anos. Além do apócrifo Livro de Tobias e do Testamento de Salomão, o nome Asmodeus não aparece na Bíblia judaico-cristã. Existe até uma lenda nesse paradigma que Asmodeus já foi um anjo chamado Asmodiel.
A Bíblia nos dá uma pista para outra peça do quebra-cabeça, que tem a ver com suas raízes não hebraicas. Existe a forte possibilidade de que a versão hebraica deste ser e uma versão persa do mesmo ser estejam relacionadas, mas não há prova ou evidência para apoiar isso. Cabalisticamente, sua mãe é Agrat, que é uma das quatro anjas da prostituição e uma súcuba, e seu pai é o lendário Rei Davi, o que reforça sua correspondência primordial de luxúria.
Embora existam muitas semelhanças quando se trata de linguística, há quase tantas discrepâncias quando se trata do mesmo assunto de estudo. Energeticamente, porém, os dois seres não estão apenas intimamente relacionados, pode-se argumentar que eles são um só e o mesmo ser, e esta é a perspectiva que estaremos tomando ao longo deste ensaio.
O Asmodeus Persa:
O lado hebraico da equação foi bem documentado e discutido ao longo dos anos, então vamos voltar nossa atenção para o lado persa da equação geralmente negligenciado. Embora nenhuma prova exista, é comumente aceito que Asmodeus não é apenas o demônio da luxúria e o rei dos demônios, como é a história hebraica, mas tem sua origem no Aeshma zoroastriano, conhecido como o demônio da ira. Devemos primeiro criar o contexto, porém, porque a história do Zoroastrismo é tão longa que precisamos esclarecer qual período de tempo estamos discutindo. Neste caso, isso é importante devido ao fato de que as raízes do Zoroastrismo não são tão antigas quanto se poderia pensar. Aeshma remonta a algum lugar entre os séculos 9 e 12, que é mais recente que a tradição hebraica. Considerando a colocação global, podemos inferir que Asmodeus foi trazido para o sistema zoroastriano após já estar estabelecido no sistema hebraico. A razão pela qual isso é importante é porque nos diz que a correspondência da ira de uma perspectiva zoroastrista não faz parte de seu caráter hebraico original de Ashmodai, que era o demônio da luxúria. A correspondência comum entre os dois é interessante, porém, porque é tanto a luxúria quanto a ira que colocam fogo na barriga (ou no corpo), por assim dizer. São ambos que excitam os sentidos e inflamam o sangue, embora se manifestem de maneira bastante diferente. Asmodeus como ele é hoje é tanto ira quanto luxúria, devido aos séculos de trabalho como o conhecemos.
Mestre dos Fogos da Luxúria:
Há uma história em particular, porém, que se encaixa muito bem com o nosso trabalho, e essa é a história de sua linhagem. Em um conto, ele é filho de Adão e a anja da prostituição Naamah, com esta união ocorrendo enquanto Adão era casado com Lilith. Esta é Lilith, a Antiga, porém, e desse mesmo folclore é produzido outro conto, que é o que abordaremos aqui para completar o quadro já iniciado anteriormente neste ensaio. Agora que você viu o lado Lilith da equação anteriormente e está familiarizado com Asmodeus, vamos começar a examinar mais de perto o relacionamento deles.
De muitas maneiras, eles são a personificação do amor e do ódio, que muitas vezes são percebidos como lados opostos da mesma moeda. São as expressões masculinas e femininas dos fogos da paixão e do desejo. Muito de qualquer um pode levar à ira, outra de suas características. O relacionamento deles é especialmente digno de nota, porém, porque atinge vários níveis, e há muita sabedoria profunda a ser adquirida explorando seu relacionamento em profundidade. Assim como a Kundalini é o fogo feminino e a energia sexual, assim é Lilith, a Jovem, neste caso, e Asmodeus seria a contraparte da expressão masculina. Este não é um relacionamento de pares, porém, o que revela outra camada de gnose.
Nos contos mencionados acima, Asmodeus está envolvido tanto com Lilith, a Jovem, quanto com Lilith, a Matrona, e cada uma delas deve ser devidamente dissecada para revelar mais sabedoria. Comecemos pelo relacionamento com Lilith, a Jovem. Nenhuma idade é dada a Asmodeus, que é o primeiro mistério que encontramos. Por ter uma diferença em suas idades, vemos que a mensagem que está sendo transmitida é de luxúria sem limites de idade. Como você pode ver, psicologicamente, isso abre as portas para a pedofilia e outros assuntos relacionados. Lembrando-nos de que estamos falando de entidades mais obscuras, tudo é possível, afinal. No entanto, uma sabedoria mais positiva que está sendo transmitida é a da compatibilidade sem limites. Ele a usa para permanecer jovem, e ela o usa por sua sabedoria. É claro que eles também usam um ao outro para muitas outras coisas, mas essas são duas lições óbvias que saltam à vista. Seu relacionamento com Lilith, a Matrona, revela uma visão muito diferente, como vimos na história acima. Nesse, sua relação é mais contraditória, pelo menos na criação, e isso pode ser visto como uma motivação para a ira. Muito mais lições podem ser extrapoladas desse relacionamento também, mas há algumas pérolas que devem ser experimentadas por si mesmo.
Lilith e Asmodeus no Mito e na Lenda:
Lilith tornou-se amante de Asmodeus no início da Idade Média, principalmente através da tradição folclórica judaica. O próprio Asmodeus já havia sido associado nesta tradição com promiscuidade e fornicação, e ele é mencionado no Livro de Tobias como um demônio que deseja uma mulher chamada Sara. Ela rejeita seus avanços, repelida pela ideia de se tornar amante de um demônio, e decide se casar, mas Asmodeus mata seu marido na noite de núpcias. Ela se casa com sete homens e cada um deles é morto pelo demônio antes que o casamento seja consumado até que ele seja finalmente derrotado por seu sucessor. Esta é provavelmente a lenda que deu origem à crença de que Asmodeus é o demônio do desejo carnal, associado à Luxúria dos Sete Pecados Capitais, tentando as pessoas a todos os tipos de promiscuidade e depravação. Por outro lado, Asmodeus é um espírito do fogo, um dos senhores demônios Qliphóthicos, e acredita-se que ele governe o reino de Golachab (a contraparte obscura de Geburah na Árvore da Noite). A fusão de Lilith, a rainha da fornicação, e o rei ardente da luxúria era, portanto, inevitável nos mitos e lendas contemporâneos.
Em fontes como o Tratado da Emanação de Esquerda e outras literaturas cabalísticas, encontramos referências à natureza sexual de sua união. Como Lilith, a Matrona e Samael, unidos para sempre em um ato sexual contínuo e recebendo emanações um do outro através do dragão cego Tanin’iver, acredita-se que Lilith, a Jovem e Asmodeus se acasalem através do fogo que é a essência de ambos, concebendo infinitamente descendentes demoníacos e espalhando o caos a cada passo. Na tradição popular, eles eram culpados por tornar os homens impotentes, as mulheres incapazes de dar à luz, assombrar homens e mulheres à noite e estrangular recém-nascidos.
Joseph Dan no livro The Early Kabbalah (A Cabala Primitiva) apresenta uma história na qual Asmodeus e sua companheira, Lilith, a Menor, concebem um “grande príncipe nascido no céu”. Seu nome é Alefpene’ash e seu rosto queima como um fogo furioso (‘esh, refletindo a essência ígnea de seus pais). Diz-se que ele é o governante de oitenta mil demônios destrutivos e é chamado de “a espada do rei Asmodeus”. De acordo com a lenda, ele também é chamado de Gurigur, porque ele antagoniza e luta com o príncipe de Judá, que é chamado de Gur Aryeh Yehudah (o filhote do leão de Judá). Este é um vislumbre interessante da descendência de Asmodeus e Lilith, mostrando que eles conceberam não apenas demônios menores e pragas da humanidade, mas também seres poderosos com uma alta posição na hierarquia demoníaca.
Além disso, no entanto, a literatura de origem inclui apenas breves menções de Lilith e Asmodeus como um casal demoníaco. Encontramos menções sobre Samael ter ciúmes de Asmodeus por causa de sua jovem e bela consorte, Lilith, a Menor, incitando esse conflito, e a luta entre ela e sua mãe. De vez em quando nos deparamos com seus nomes em fontes rabínicas, mas mais se sabe sobre o próprio Asmodeus, especialmente em seu papel do rei demônio Qliphóthico e o Deus Destruidor de Golachab, enquanto Lilith, a Donzela, raramente é pesquisada em sua forma original e na maioria dos relatos referem-se a ela como “Lilith” em geral. Como podemos ver, isso não é totalmente correto, pois ela representa apenas um aspecto específico do arquétipo de Lilith, ou seja, um arquétipo de luxúria e fogo, e é isso também que a conecta com Asmodeus. Essa conexão é apaixonada, erótica e ardente de muitas maneiras, então vamos agora discutir como esses dois seres trabalham juntos no paradigma iniciático Qliphóthico.
No Limiar do Prazer e da Agonia:
Na magia das Qliphoth, Asmodeus é chamado de Deus Destruidor ou “aquele adornado com fogo”. Ele governa Golachab, que é equivalente ao “Lago de Fogo”, o conceito derivado da antiga visão egípcia do submundo e comumente associado às representações cristãs do inferno. Nesse sentido, ele representa a luxúria e a fúria de Golachab, que é um reino violento, tipificando a dura provação de tormento e tentação no caminho da Árvore Obscura. Sua contraparte na Árvore da Vida, Geburah, também é uma força dura, com a reputação de ser a mais feroz e a mais temível de todas as Sephiroth. É chamada de “Força” e “Grande Fogo de Deus”, e é tão violenta e ardente quanto seu equivalente obscuro. Aqui, no reino de Golachab, no entanto, nos deparamos com forças ainda mais incontroláveis, e a Qlipha é governada por Asmodeus, o Rei do Fogo, e Nêmesis, a implacável deusa da retribuição, e sobre sua conexão você pode ler no livro Qliphothic Invocations & Evocations (Invocações e Evocações Qlifóticas). Lilith neste paradigma não é a força dominante do reino, mas o lado feminino do Rei do Fogo. Como notamos anteriormente neste ensaio, Lilith, a Donzela, e Asmodeus estão conectados um com o outro como Lilith, a Antiga, e Samael, ou seja, devemos abordá-los como dois aspectos de um ser ao invés de duas entidades separadas.
Quando chamados em ritos de magia, eles aparecem subindo do mesmo vórtice de fogo, mostrando que estão continuamente unidos em união sexual, ou vêm como um ser com duas faces. Você pode vê-los como uma figura encapuzada, envolta em uma túnica vermelha e cercada pelo fogo. Quando você olha para o rosto da figura, é o belo rosto da deusa da luxúria ou o rosto ardente do Deus Destruidor. Ambos representam a corrente ígnea de Golachab, que é a força da ira, violência e crueldade, e ao mesmo tempo tipificam o aspecto sexual do Ardente – o fogo como paixão, luxúria, desejo e tudo o que impulsiona o Iniciado no caminho. Seu fogo é uma força bruta e inextinguível que pode liberar os sentimentos de raiva e fúria, mas também desespero e tristeza – paixão e desejo em oposição à tortura e sofrimento. Isso pode ser entendido tanto no sentido simbólico quanto no literal, e a dor em seu aspecto físico também é característica dessa corrente. As forças de Golachab são aquelas que “queimam para causar destruição”, e isso inclui a destruição infligida pelo Iniciado a si mesmo. É por isso que os ritos de Golachab são obras de fogo e fúria, guerra e ira, luxúria e sofrimento. Os métodos para contatar as energias desta corrente Qliphóthica são baseados em magia sexual, mas enquanto nos outros reinos Qliphóthicos, como por exemplo, Gamaliel, a gnose sexual é obtida através do fascínio, da luxúria e da intoxicação, aqui o transe que permite a conexão com as forças da Qlipha é alcançado através da dor e exaustão. Entre as técnicas utilizadas para trabalhar com a gnose sexual do Ardente, encontramos práticas duras destinadas a infligir dor e sofrimento – várias técnicas de BDSM, automutilação, corte, queima, caminhada no fogo, sangria, flagelação, piercing, privação sensorial e muitos outros. A plena comunhão com as forças deste reino ocorre no auge da agonia, quando não somos mais capazes de suportar a dor e nossa consciência é empurrada para além dos limites da carne em êxtase de sofrimento que é comparado à experiência do orgasmo sexual. Isso também é o que encontramos nos ritos de Asmodeus e de Lilith, a Menor.
Enquanto Asmodeus é um demônio do fogo em seu aspecto violento e destrutivo, sua consorte representa o fogo em sua forma apaixonada e libertadora. Asmodeus é o Deus Destruidor, iniciando a provação de tormento e agonia no caminho das chamas, e Lilith é a Sedutora de Almas e portadora de êxtase. Ela se enrola como uma serpente ao redor do eixo do mundo, pingando seu veneno sobre o Iniciado para acabar com o sofrimento e liberar a alma em êxtase de liberdade, liberada dos confins da carne e do mundo mundano e pronta para ser purificada e renascer através o fogo do Ardente. Você tem que beber seu “veneno” para poder provar seu “néctar”. Juntos, eles são o senhor e a senhora do caminho do tormento e da tentação. Enquanto Asmodeus leva o Iniciado às alturas da agonia e do sofrimento, ela traz a libertação desta condição através da submissão incondicional e entrega aos seus mistérios de luxúria e realização. Ela oferece seu fruto àqueles que estão entre mundos e dimensões, no estado de “nem-nem”, suspenso entre a vida e a morte, o ser e o não-ser, em transe de gnose liminar induzida por práticas duras de dor e exaustão. Nos Textos do Caixão egípcios e outras fontes semelhantes, o Lago de Fogo é descrito como um lugar de maior sofrimento, e na tradição cristã acredita-se ser a segunda morte do homem, a alegoria da dor eterna e o fogo da condenação final. Este é um conceito poderoso, mostrando que estamos lidando aqui com uma experiência que é extrema e pode nos levar à destruição ou à transcendência e à consciência superior. Neste estado, induzida por Asmodeus em seu aspecto do Deus Destruidor, Lilith se aproxima do Iniciado para despertar um “desejo”, mas este desejo não deve ser entendido no sentido normal desta palavra porque no limiar da vida e da morte nossos desejos mundanos são destruídos e transformados em um impulso metafísico.
Essa compreensão do “desejo” em seu significado metafísico é o conceito-chave na gnose do Ardente. Através de provações de tentação e sofrimento, aprendemos que nossos desejos mudam e evoluem e nunca são os mesmos em diferentes estágios de nosso caminho iniciático. O que achamos inaceitável, aterrorizante ou repulsivo em um momento, em outro podemos desejar com todo o nosso ser. O que é doloroso e insuportável pode nos levar à ação, motivando-nos a usar as chamas do Ardente para destruir o que nos separa da realização. O desejo pode ser uma poderosa força de libertação e transcendência, levando-nos a sair de nossa zona de segurança e nos libertar de nossas limitações pessoais, e a maneira mais poderosa de conseguir isso é através da dor e do sofrimento, que pode ser tão motivador e transformador quanto à luxúria em si. Esta relação entre desejo e sofrimento, luxúria e tormento, prazer e agonia, é o que aprendemos através dos mistérios da Donzela e do Rei do Fogo.
A Comunhão do Fogo:
Este ritual é destinado a dois praticantes, um invocando Lilith, a Donzela, e o outro invocando Asmodeus. Seu propósito é experimentar a gnose do Rei do Fogo e sua consorte como uma força do desejo, tanto no sentido literal quanto no místico. Essa corrente é sexual em sua essência e pode deixá-lo excitado de várias maneiras. Você pode experimentá-lo como paixão, seja por seu parceiro ritual ou pela forma divina invocada no ritual, mas também pode ser sentida como amor e paixão pelo próprio caminho. Neste último caso, você se sentirá motivado e inspirado para novos projetos, iniciativas, direções em sua jornada espiritual, com o fogo e a luxúria de Lilith e Asmodeus potencializando seu trabalho e todas as suas ações.
O sigilo usado no trabalho apresenta Lilith e Asmodeus unidos em união sexual através do vórtice de fogo. Eles são tipificados por dois pássaros fênix com feições ofidianas/draconianas, mostrando que estamos lidando aqui com o Caminho do Dragão. O centro do sigilo é o Olho do Dragão, representando o centro da consciência e da consciência desperta. A imagem inteira mostra que a natureza desta corrente é ardente e sexual e pode ser abordada através de ritos de magia sexual. Isso é deixado à escolha dos praticantes, porém, e você também pode invocar o deus e a deusa do Lago de Fogo através de técnicas meditativas.
Prepare o sigilo (ilustração acima) – pinte-o de preto sobre fundo vermelho ou de vermelho sobre preto. Coloque-o no altar, no lugar central, para que ambos possam olhá-lo confortavelmente. Acenda velas vermelhas e pretas – quantas desejar – o templo deve estar cheio de fogo e luz. Se você usar incenso, sândalo ou sangue de dragão funcionará melhor para esta prática. Sinta-se à vontade para ter música de fundo, se quiser, e decore o altar da maneira que achar adequada para este trabalho. Você pode colocar estátuas de Lilith e Asmodeus ou imagens que os representem, flores (como rosas vermelhas), amuletos e outras ferramentas que você normalmente usa em seus rituais. Por fim, prepare o sacramento – cálice cheio de vinho tinto representando o sangue da deusa, ou se você não pode tomar álcool, sinta-se à vontade para substituí-lo por outra bebida de cor vermelha e sabor rico.
Quando isso for feito, prepare-se para o ritual – você pode realizá-lo nu ou vestido com roupões ou outro tipo de roupa ritual. Sente-se em uma postura meditativa e junte as mãos. Em seguida, comece a respirar lenta e profundamente, visualizando ao mesmo tempo a Serpente de Fogo subindo na base de sua coluna até o terceiro olho, despertando e ativando os chakras. Respirem juntos no mesmo ritmo para estabelecer um circuito de fogo entre vocês dois. Isto pode ser feito de várias maneiras. Você pode cantar juntos as palavras draconianas de poder VOVIN (palavra enoquiana para “dragão”) e se concentrar em cada chakra enquanto respira e vibra o mantra. Em vez de VOVIN, você pode usar os tradicionais mantras de sementes para os chakras (LAM, VAM, RAM, YAM, HAM, OM) e proceder da mesma maneira. Seja qual for o método escolhido, você precisa sentir a energia não apenas subindo dentro de cada um de vocês, mas também fluindo entre vocês como um circuito de energia. Técnicas de magia sexual também podem ser usadas para isso. Sinta-se à vontade para empregar um método que funcione melhor para você.
Quando você se sentir pronto para continuar, um de vocês deve invocar Lilith e o outro, Asmodeus. Você pode fazer isso juntos ou se concentrar em uma forma de deus de cada vez. As invocações de amostra são fornecidas abaixo, mas você pode personalizá-las e substituí-las por suas próprias palavras. Lembre-se, no entanto, que ambas as divindades têm múltiplas formas e para o propósito deste trabalho, para experimentar a gnose desta corrente em particular, você deve invocar especificamente Lilith em seu aspecto de Donzela e Asmodeus como o Rei do Fogo.
Para isso, concentre-se no sigilo no altar. Unte-o com algumas gotas de seu sangue e olhe para ele por um tempo, visualizando como sua força vital ativa o sigilo e ele se torna vivo – brilhando e pulsando com a corrente ardente de Lilith e Asmodeus. Quando você sentir que a conexão com a corrente foi estabelecida e você pode senti-la fluindo em seu templo através do sigilo, aguardando convite para entrar em sua consciência, invoque as formas divinas:
Invocação da Donzela:
Eu invoco Lilith, a Jovem,
A Donzela e a Filha,
Consorte de Asmodeus, o Deus Destruidor,
Aquela que acende a chama da paixão no coração do homem! Eu chamo a Noiva Flamejante,
Aquela que é uma mulher e uma coluna de fogo!
Eu invoco sua luxúria e sua fúria!
Ascenda dentro de mim como uma chama viva,
E me transforme através do seu êxtase ardente!
Deixe-me subir pelo eixo do mundo,
E para sempre me manter no meu caminho!
Eu te chamo através de sangue, fogo e luxúria!
Venha até mim!
Invocação do Rei do Fogo:
Asmodeus! Rei Demônio do fogo profano, eu o convoco a esta câmara!
Mestre vermelho carmesim da centelha da vida, eu te chamo para este templo.
Portador da destruição ardente, portador da prostituta suprema, habite este espaço com sua luz e calor.
Queime a escória deste espaço.
Queime a escória de mim mesmo.
Purifique-me e eleve-me ao trono de Thaumiel.
Portador do salvador do homem, eu te invoco para me encher com seu fogo! Portador da destruição em massa, eu te invoco para me purificar e preencher! Fortalece minha chama ascendente e a chama de nosso templo! Queime os obstáculos que enfrento e queime meus inimigos! Santifique através da chama este espaço sagrado, Asmodeus, enquanto eu ofereço a você as cinzas de minha escória.
Deixe minhas cinzas contribuírem para as cinzas daqueles que se sacrificaram a você antes, e deixe-os promover seu reino.
Asmodeus gelatinoso, eu invoco seu fogo sagrado e lascivo, dentro de mim.
Acenda minha paixão e fortaleça minha luxúria.
Inflame-me com desejos saciados e mostre-me o caminho para o verdadeiro êxtase.
Consuma minha mente com os fogos sagrados do erótico, e me deixe exausto em êxtase, sabendo que minha Vontade está feita,
E toda glória e honra e louvor a ti, Asmodeus
E toda glória e honra e louvor a ti.
Uma vez que as formas divinas são invocadas, cada um dos participantes deve se concentrar em fundir-se com suas consciências e deixá-las tomar conta de seus sentidos. Veja o mundo através de seus olhos, toque, paladar e olfato com seus sentidos. Abra-se a essa consciência e deixe-a guiá-lo através da experiência.
Uma vez que o propósito do ritual é experimentar as energias de Lilith e Asmodeus unidas através de sua corrente sexual, você pode querer fazê-lo através de um transe de magia sexual. Se você optar por fazer isso, beba o sacramento e se envolva em uma relação apaixonada, o tempo todo concentrando-se em ser um com as formas divinas. Estamos lidando aqui com a gnose do limiar, então você pode querer incluir técnicas de dor e êxtase nesta prática. Ao mesmo tempo, você pode cantar o seguinte (ou o seu próprio) mantra:
Através do sangue entramos no limiar da vida e da morte,
Através do fogo e da luxúria nos tornamos tudo e nada,
Das chamas nos erguemos como um só.
Você pode imaginar as formas divinas se manifestando através de você em suas formas tradicionais, ou seja, Lilith, a Jovem, como uma bela mulher com cabelos ruivos flamejantes e um pilar de fogo abaixo da cintura, e Asmodeus como um rei demoníaco com três cabeças: a primeira de um touro, a segunda de um homem e a terceira de um carneiro, com cauda de serpente e chamas saindo de suas bocas. Na magia draconiana, ele também aparece como um ser de fogo alado, emergindo de um vórtice de chamas. No entanto, você pode simplesmente se abrir para o que a Donzela e o Rei do Fogo possam escolher para lhe mostrar e fluir com a visão à medida que ela se desenrola de maneira natural. Seja qual for a forma de comunhão que você escolher, seja ato sexual ou meditação, você também deve manter a conexão entre vocês dois, tendo em mente que está lidando com um ser com rosto masculino e feminino. Deixe-os falar com você através de sua mente interior e se comunicar através de você com seu parceiro. Torne-o apaixonado e leve-se ao auge do êxtase ao atingir o clímax do ritual.
Finalmente, agradeça às divindades por sua presença e retorne lentamente à sua consciência mundana. Apague as velas e encerre o ritual com as palavras:
E assim está feito!
Texto enviado por Ícaro Aron Soares.
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