Categorias
Demônios e Anjos

Dybbuk – A Possessão Por Espíritos no Judaísmo

Este texto foi lambido por 39 almas esse mês

Por Rabbi Geofrey W. Dennis.

O que é um Dybbuk (às vezes escrito Dibuk, ou Dibbuk, plural: Dybbukim – também chamado de “ruach ra” ou “ibbur ra”)?. A palavra significa “agarrar” e é comumente traduzido como  “Espírito de Apego/Possessão”. O Dybbuk, na metafísica da reencarnação judaica (gilgul), é um fantasma ou alma desencarnada que é capaz de penetrar um corpo vivo e interferir na consciência normal da pessoa possuída. Em suma, um dybbuk mi-ruach ra, é “um espírito maligno apegado”, também chamado de “ibbur ra”, isto é, um fantasma ou alma transmigradora perturbada que possui o Corpo de uma pessoa viva.

A crença judaica na possessão demoníaca tem uma história que remonta à Bíblia, (I Samuel 16:1-13):

“Então o espírito de Deus deixou Saul, e um espírito maligno de Deus o aterrorizou….”

Tomando como ponto de partida este relato da assombração debilitante do rei Saul, a maioria das fontes judaicas que discutem a possessão demoníaca se concentra na suposição de que os demônios infligem principalmente doenças, de modo que os primeiros amuletos e exorcismos judeus geralmente se preocupavam com tratamentos medicinais.

A própria ideia de possessão pelas almas dos mortos parece ter tido um registro mais esporádico. O historiador Flávio Josefo alude claramente à experiência do ser vivo possuído pelos “espíritos dos homens maus” no século I (Guerras Judaicas 7:184-185).

Posteriormente, existem conexões vagas e não específicas entre demônios que são vingadores dos mortos, e outras que ligam demônios a doenças humanas a serem encontradas em escritos judeus da antiguidade e do início da Idade Média. No entanto, relatos explícitos de possessão pneumática do tipo que Josefo oferece estão ausentes na literatura judaica por mais de um milênio.

A ideia de que uma alma dos mortos poderia realmente possuir uma pessoa recebe sua primeira exibição na Cabala medieval, principalmente no Sefer Zohar (O Livro do Esplendor).

O Zohar, por exemplo, oferece relatos das figuras bíblicas Nadab e Abiú, filhos de Arão, que tendo morrido prematuramente por cometerem uma ofensa contra Deus, possuem temporariamente seu sobrinho Fineias a fim de efetuar um tikkun, isto é, uma retificação de suas almas.

Enquanto a possibilidade teórica de possessão espiritual é mencionada no século XIII, geralmente em associação com figuras judaicas do passado, conforme vimos no relato da possessão de Fineias pelas almas de Nadab e Abiú constante no Sefer Zohar, o retorno da possessão espiritual à história judaica registrada teve que esperar até o século 16, quando os relatos de posses e exorcismos subitamente proliferam.

Mesmo o termo dybbuk é um fenômeno tardio – relatos precoces simplesmente falam de “ruchim”, isto é, “espíritos”. Os relatos históricos do dybbuk coincidem com a crença difundida na reencarnação entre os judeus a partir do século XIII:

“Se existe até mesmo um órgão no qual o Santo não habita, então ele [a pessoa] será trazido de volta ao mundo da reencarnação por causa deste órgão, até que se aperfeiçoe em suas partes, para que todos elas sejam perfeitos à imagem de Deus.” (Tikkunei Zohar)

O Zohar limita os exemplos deste fenômeno ao passado antigo. E até onde posso dizer, os primeiros relatos contemporâneos de possessão espiritual não aparecem por mais 200 + anos (Yoram Bilu cita o 16º Século. como o período em que os casos de possessões pelos dybbuk começaram). Na maioria desses relatos, o dybbuk é uma alma cujas ofensas trouxeram algum castigo intolerável ou fizeram a alma vaguear, incapaz de completar seu próximo ciclo de transmigração. Ocupar uma pessoa viva ou traz algum alívio de seus tormentos ou serve ao dybbuk como um instrumento para corrigir as ofensas que cometeu enquanto estava vivo.

Eventualmente, incidentes documentados de posse de dybbuk são relatados em tratados, tais como Sefer ha-Hezyonot, Sha’ar Ruach ha-Kodeshm, Shalshelet ha-Kabbalah, Emek ha-Melekh, Maaseh Buch, e Sefer Nishmat Hayyim e em outras fontes:

“O espírito que tomou posse de um jovem era o espírito de alguém que, em sua vida, havia pecado gravemente e que depois disso não conseguia encontrar paz. Ele havia entrado no corpo do jovem depois de ter sido forçado a fugir de sua morada anterior, o corpo de uma vaca que estava prestes a ser abatida” (Maaseh Buch).

É esta crença de que as almas humanas podem mover-se de Corpo a Corpo, mas podem ser retardadas em seu progresso pelo pecado, que, paralelamente a uma ascensão, relata a posse fantasmagórica.

Segundo o misticismo judeu pré-luriânico (antes do advento do rabino Isaac Luria), o dybbuk é um pecador que procura refúgio das punições do além ou que por alguma razão não pôde continuar sua jornada para seu lugar de descanso no Tesouro das Almas.

Um número considerável de figuras judaicas notáveis desta época em diante preenchem o papel de exorcista, incluindo Yosef Karo, Isaac Luria, Chayyim Vital, Isaiah Horowitz e o Chafetz Chayyim.

Na Cabala Luriânica, o fenômeno do dybbuk está mais intimamente ligado ao destino bíblico do karet (“corte” ou “extirpação”, uma das espécies de punição divina contra as almas de pecadores, que consiste em um banimento da próxima reencarnação), sendo “cortado”, e por causa de seu pecado o dybbuk foi exilado de seu próximo estágio apropriado de reencarnação. Assim, ele encontra refúgio em uma vítima viva e deve ser exorcizado. Na maioria desses relatos, o dybbuk é uma alma cujas ofensas trouxeram algum castigo intolerável ou fizeram a alma vaguear, incapaz de completar seu próximo ciclo de transmigração. Ocupar uma pessoa viva ou traz algum alívio de seus tormentos ou serve ao dybbuk como um instrumento para corrigir as ofensas que cometeu enquanto estava vivo. Portanto, nos ensinamentos de Luria, o exorcismo é um evento duplamente terapêutico, tanto aliviando a pessoa possuída quanto liberando o dybbuk para continuar sua jornada para o além (Sefer ha-Brit).

Os dybbuks atacam principalmente aqueles que são espiritualmente vulneráveis. Ele entra, por exemplo, em um lar com um mezuzah (um receptáculo de rolo, afixado na ombreira das portas das casas, contendo o texto de Deuteronômio 6:4-9 e 11:13-21, geralmente usado como amuleto de proteção) negligenciado porque sabe que reside ali alguém que é relaxado na prática e no desenvolvimento espiritual.

Mesmo que o espírito dybuuk precise de tikkun, sua natureza maligna o leva a agir e torturar sua vítima de diversas maneiras, geralmente, fazendo com que a vítima atue com comportamentos socialmente inapropriados:

“[O dybbuk chamado] Samuel levantou suas pernas [da vítima] e as abaixou uma após a outra, com grande rapidez, vez após vez. E com aqueles movimentos, que ele fez com grande força, o cobertor que estava sobre ela caiu de seus pés e coxas, e ela se descobriu e se humilhou diante dos olhos de todos. Eles se aproximaram para cobrir suas coxas; mas ela não tinha autoconsciência no decorrer de nada disso. Aqueles que a conheciam sabiam de sua grande modéstia…” (The Great Event in Safed, Sec. 21, como traduzido na “City of the Dead” de J.H. Chajes). [1]

Dybbuks também são desproporcionalmente masculinos e possuem desproporcionalmente mulheres, embora também haja relatos na literatura jurídica judaica de homens sendo possuídos (Darkhei Teshuvah 4, no. 52). Em alguns relatos, há uma dimensão sexual na escolha da vítima pelo dybbuk. [2]

A resolução desta aflição é um exorcismo, geralmente realizado por um rabino, cabalista, ou outra autoridade espiritual reconhecida. Em um texto posterior, darei um esboço de tal exorcismo e talvez um relato em primeira mão de uma dessas obras.

Referências:

[1.] Y. Bilu, “Dybbuk e Maggid: Two Cultural Patterns of Altered Consciousness in Judaism”, AJS Review 21, no. 2 (1996), 348-66. Ver também Goldish, Spirit Possession in Judaism, 45-54, 64-68, 313.

[2.] J. Chajes, “Cidade dos Mortos”, em “Posse Espiritual no Judaísmo”: Cases and Contexts from the Middle Ages to the Present, M. Goldish (Detroit, MI: Wayne State University Press, 2003), 138.

***

Fonte:

DENNIS, Geoffrey W. The Dybbuk: Spirit Possession. Myth, Magic and Mysticism, 2007. Disponível em: https://ejmmm2007.blogspot.com/search?q=tikkun. Acesso em 5 de março de 2022.

***

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.


Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.

Deixe um comentário


Apoie. Faça parte do Problema.