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Os antigos magos diziam que ele costumava surgir sob a forma de um velho sátiro muito feio e com uma enorme língua obscena para fora de uma boca fétida que nunca se fechava. No entanto, para mim surgiu completamente transformado, pois veio na forma de um opressivo conjunto de monitores, teclados e equipamentos de computador. Em outras palavras, o velho demônio rústico agora evoluiu para além do Homem, mais parecido do que eu gostaria com “HAL”, o computador assassino de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”. Surpreendente, mas pelo menos é limpo…
O que esse espécime apresenta de mais interessante á a incrível transformação que operou em si mesmo ao longo dos séculos a partir de uma pequena característica que possuía. Desde sempre, Belphegor foi considerado um demônio extremamente inventivo, sendo o criador de todas as idéias de armas e aparelhos de destruição, tortura e controle do comportamento humano. Assim como a enorme trama de fios dos computadores do Pentágono gerou o surgimento de uma nova forma de barata, que come plástico e tem as costas quadriculadas, nossa civilização tecnológica propiciou o surgimento desse moderno Frankestein que é a Alta Tecnologia erigida em ídolo, verdadeiro rascunho do Anticristo. De sua mente engenhosa vieram os machados de pedra, o aço de Damasco, a pólvora, a dinamite e a nitroglicerina, como a gilhotina, o silenciador e a cadeira elétrica, apenas como exemplo. Hoje em dia é dos demônios mais ativos, ainda mais do que no tempo em que era o preferido dos alquimistas fracassados. Alguns de seus auxiliares mais próximos asseguram que “o Professor mudou muito depois DELA…”, sendo que “o Professor” é como gosta de ser chamado e “ELA” é a Bomba, seu maior orgulho e seu maior problema, pois precisa ser mantida em uma região à parte do Inferno, pois é quase incontrolável e hostil até com ele mesmo. Digamos apenas que não me comoveu. Disseram também que depois de Hiroshima ele começou a adquirir feições de máquina até atingir o aspecto informatizado de hoje e que, todavia, segue mudando. Segundo eles, desde então seu orgulho cresceu a tal ponto que evita e é evitado pelos outros demônios, sendo consultado apenas em último caso e em problemas específicos. Confesso que não lamento a falta de uma entrevista pessoal com ele, mas já que não fala nem com seus irmãos, fiquei bastante aliviado e repeti para mim mesmo: “Uns confiam em carros e cavalos, mas eu farei menção do Nome do Senhor Nosso Deus”.
(*) Não foi encontrada referência etimológica segura. (Nota do Autor)
– O Livro dos Demônios – Antonio Augusto Fagundes Filho
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