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As Coisas das quais os Pesadelos Temem

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Texto de G. B. Marian. Traduzido por Caio Ferreira Peres.

A Hora do Pesadelo (1984) de Wes Craven é uma terrível alegoria para o eterno conflito entre Set e a Serpente do Caos. Com instruções para um feitiço de proteção durante o sono.

No filme A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven, alguns adolescentes começam a ter pesadelos em que são ameaçados por esse canalha desfigurado que tem facas como dedos. Sempre que esse idiota mata alguém em seus sonhos, a pessoa morre ao mesmo tempo na vida real. Uma das adolescentes, Nancy Thompson (interpretada por Heather Langenkamp), descobre que, quando eram crianças, sua comunidade era aterrorizada por um assassino em série que atacava crianças pequenas. O homem foi preso e levado a julgamento, mas saiu por um detalhe técnico e foi libertado. Então, temendo pela segurança de seus filhos, os pais da comunidade fizeram justiça com as próprias mãos e queimaram o assassino vivo. Mas isso só piorou as coisas, pois é o fantasma do assassino que agora assombra as crianças em seus sonhos, buscando vingança contra os pais e terminando o que ele começou. Agora cabe a Nancy encontrar uma maneira de execrar esse espírito maligno.

Por um lado, A Hora do Pesadelo tem mais do que seu quinhão de fãs dedicados; por outro, recebe muito mais escárnio dos críticos e do público em geral do que realmente merece. Culpo a maioria das continuações, que se tornaram cada vez mais bobas a cada nova edição. No final da década de 1980, Freddy Krueger era praticamente um personagem de desenho animado live action, e essa é a versão dele da qual a maioria das pessoas se lembra hoje. Sequências como Os Guerreiros dos Sonhos (1987) e O Maior Horror de Freddy (1989) são mais paródias do que filmes de terror propriamente ditos; eles nem se dão ao trabalho de se levar tão a sério. Mas se você assistir ao A Hora do Pesadelo original de 1984, eu prometo: mesmo que não o assuste, ele o deixará, no mínimo, bastante desconfortável. Não há absolutamente nada de “engraçado” nesse filme, e o personagem Freddy Krueger é apenas a ponta do iceberg.

Quando o filme começa, a realidade à luz do dia em que Nancy e seus amigos vivem parece segura o suficiente; mas à medida que Freddy Krueger se torna mais proeminente em seus sonhos, a verdade feia sobre seu mundo cotidiano começa a se revelar. Essas coisas nunca são declaradas abertamente ao público, mas os espectadores perceberão que os pais de Nancy são divorciados (e que os procedimentos desse acordo não foram nada amigáveis). A mãe de Nancy é alcoólatra, e seu pai—o xerife da cidade—só aparece quando há uma tragédia. Ao mesmo tempo, a mãe de Tina também parece ser divorciada e prefere passar o tempo com o namorado em Las Vegas a ficar com a filha (mesmo quando sabe que a pobre criança está tendo pesadelos terríveis). Os pais de Rod parecem estar completamente ausentes de sua vida, o que o leva a assumir uma vida de pequenos crimes. E ainda há Glenn (interpretado por Johnny Depp com cara de bebê), cujos pais demonizam Nancy sem nenhum motivo além do fato de que dois de seus amigos estão mortos.

É irônico que esses pais tenham recorrido à justiça popular para proteger sua comunidade, pois agora eles não parecem se importar muito com a comunidade. Nenhum deles está mais envolvido na vida de seus filhos e nenhum deles parece se importar muito quando os filhos dos outros morrem. Quando Tina é esquartejada, Rod é imediatamente acusado do crime, e nenhum dos adultos questiona isso. Nunca vemos a mãe de Tina depois disso, por isso ficamos nos perguntando se ela sequer lamenta a morte da filha. Quando Rod é estrangulado por Freddy em sua cela, fica claro para todos os adultos que foi suicídio e ninguém demonstra qualquer tipo de compaixão por ele. Claramente, as mortes de Tina e Rod não significam nada para os pais de Glenn, que parecem pensar que podem evitar que algo assim aconteça com Glenn mantendo-o longe de Nancy. Enquanto isso, Nancy sabe exatamente o que está acontecendo, mas ninguém acredita nela ou a ouve, mesmo quando as evidências estão à vista de todos. Pelo amor do Duat, ela não consegue nem mesmo a ajuda de seu pai, o xerife!

É essa completa ausência de apoio dos pais que torna o filme realmente aterrorizante, na minha opinião. Não importa a ideia de que Nancy e seus amigos estão sendo alvo de uma força sobrenatural; Freddy Krueger é simplesmente a versão americana dos anos 1980 do antigo demônio acadiano Alû (ou seja, um espírito que aterroriza as pessoas enquanto dormem), e os antigos acadianos sabiam muito bem como lidar com essas coisas. Se uma criança acadiana relatava ter certas experiências enquanto estava dormindo, seus pais não corriam riscos; eles simplesmente execravam o Alû com sua magia e o problema geralmente desaparecia. Portanto, a ideia de Freddy Krueger em si não é tão impressionante; entidades como ele são apenas pequenas coisas neste mundo, e não é preciso muito para se livrar delas. Ajudaria se as famílias da Elm Street estivessem dispostas a considerar a possibilidade de tais eventos em primeiro lugar; mas, ainda mais importante, o fato de as crianças não poderem confiar nem depender de seus pais é um problema sério. Em primeiro lugar, é isso que permite que forças demoníacas como Freddy se perpetuem, e é isso que mais me perturba nesse filme.

Lembre-se de que não estou afirmando que todo bicho-papão da infância seja realmente real, nem que o pensamento mágico seja sempre a melhor resposta para os problemas. Mas se eu tivesse uma filha e ela me dissesse que alguma aberração estava vindo atrás dela em seus sonhos, eu não riria dela nem a trataria como se fosse louca. Eu diria: “Bem, pode ser uma das duas coisas que estão acontecendo aqui, querida. Pode ser que realmente haja uma aberração vindo atrás de você em seus sonhos; ou pode ser que seja apenas um sonho e nada mais. De qualquer forma… eu digo para darmos uma surra nesse maldito, por via das dúvidas”. E então eu pediria que ela fizesse um desenho do cretino que a estava assustando, e nós o atacaríamos com todo tipo de linguagem abusiva em nome de Set. Enfiávamos alfinetes em sua bunda e o cortávamos em pedacinhos; depois o jogávamos na lareira e víamos o desgraçado queimar. Chame-me de supersticioso se quiser, mas, assim como os acadianos, não acredito em correr riscos com esse tipo de coisa. Nenhuma criança deveria ter que enfrentar um monstro sozinha, como Nancy faz em A Hora do Pesadelo.

(Se parecer loucura que eu esteja falando sobre as coisas que acontecem em A Hora do Pesadelo como se fossem reais, gostaria de salientar que o filme é parcialmente inspirado em fatos reais. Na década de 1970, o diretor Wes Craven leu um artigo no L.A. Times sobre um grupo de refugiados Khmer que vivia nos Estados Unidos e cujos filhos tinham pesadelos que os perturbavam tanto que se recusavam a dormir. Mais tarde, alguns deles morreram durante o sono, como se soubessem que morreriam se não ficassem acordados. Essa história perturbou Craven profundamente e, mais tarde, tornou-se sua principal inspiração para escrever A Hora do Pesadelo. Craven também disse que se inspirou em certas ideias budistas e taoístas para o filme, e qualquer pessoa que já tenha ouvido o homem falar, sabe que ele realmente acreditava em algum tipo de mundo espiritual).

A personagem Nancy Thompson é sem dúvida a melhor coisa desse filme; na verdade, ela é a melhor “Final Girl” desde Laurie Strode em Halloween e Ellen Ripley em Alien (1979). Ao contrário de Laurie, ela se dá conta de seu nêmesis no início do filme e o persegue ativamente; e, ao contrário de Ripley, ela não tem armas além de sua própria determinação e desenvoltura. Nancy acaba descobrindo que, se ela segurar algo em seus sonhos enquanto acorda, pode trazê-lo para o mundo real. Ela decide realizar esse experimento extremamente perigoso com Krueger e, quando isso é bem-sucedido, a situação se inverte imediatamente. Freddy se vê à mercê de Nancy, sofrendo todas as formas de abuso que a adolescente pode lhe infligir; em um determinado momento, ele até passa a ter medo dela. E, considerando o quanto Freddy é um personagem nojento, é muito bom vê-lo receber sua punição dessa forma.

Essa humilhação do antagonista é um tema recorrente em muitos dos filmes de Wes Craven (incluindo Aniversário Macabro de 1972, Quadrilha de Sádicos de 1977, A Maldição dos Mortos-Vivos de 1988, As Criaturas Atrás das Paredes de 1991, e Pânico de 1996). Quase sempre há um ponto de transição nesses filmes em que as vítimas sobreviventes obtêm algum tipo de vantagem sobre os vilões, e os vilões se tornam tolos patéticos e chorosos. Acredito que a intenção de Craven aqui era demonstrar que, embora o mal muitas vezes pareça muito poderoso e formidável, ele só tem tanto poder quanto nós permitimos que ele tenha. Quando tomamos esse poder de volta, o mal é revelado como a pequena coisa frágil e vazia que ele realmente é. E no roteiro original de A Hora do Pesadelo, isso é exatamente o que acontece; Nancy derrota Freddy Krueger recuperando toda a energia que ela colocou nele com seu medo, e seu espírito é dissolvido de volta ao Vazio para sempre.

Minha única crítica a A Hora do Pesadelo é o fato de seu final ter sido alterado de forma descuidada no último minuto, e por motivos puramente comerciais. Nancy derrota Krueger e tudo parece estar bem, mas depois ela percebe que está tendo outro pesadelo e o desgraçado a pega, afinal. Esse final sempre deixa um gosto muito ruim na minha boca. Durante todo o filme, eles desenvolvem uma personagem realmente agradável, nobre e forte, que consegue derrotar (e até humilhar) o vilão; depois, no último minuto, tiram o tapete de debaixo dela só para dar ao público um último susto. É verdade que isso me assustou muito quando assisti a esse filme pela primeira vez quando era criança, mas como um adulto que já conhece o restante do trabalho de Wes Craven, posso ver como esse final é realmente “não-craveniano”. Na verdade, Craven teve uma grande disputa com o produtor de A Hora do Pesadelo, Robert Shaye, que queria um final assustador para preparar o terreno para uma sequência. Craven acabou cedendo às exigências de Shaye apenas para que pudessem terminar o filme. Acho que essa foi uma escolha infeliz da parte de Craven, pois impede que A Hora do Pesadelo seja um filme realmente perfeito; mas o restante do filme se mantém notavelmente bem, mesmo depois de 30 anos, então, pelo menos, há isso.

Quando você para para pensar sobre isso, o sono é realmente algo assustador. Se seguirmos a definição cartesiana de existência (ou seja, “penso, logo existo”), tecnicamente deixamos de “existir” por um tempo quando não estamos acordados. Claro, nossos corpos ainda estão lá e nossos cérebros continuam a funcionar, mas não “pensamos” no sentido normal do termo, pois não estamos conscientes. Portanto, de certa forma, todos nós nos tornamos como o Gato de Schrödinger quando estamos dormindo; não estamos vivos nem mortos e só voltamos a um estado sólido de realidade quando recuperamos nossa capacidade de autorreflexão consciente. Somos extremamente vulneráveis enquanto estamos nesse estado (tanto fisicamente quanto de outra forma) e, em parte, era isso que os egípcios queriam dizer com suas histórias sobre Rá sendo ameaçado por Apep no Submundo todas as noites. Ao atacar Rá, Apep não está apenas representando uma ameaça cósmica contra o Criador; está também representando uma ameaça pessoal contra todas as criaturas que dormem e sonham.

A luta de Nancy Thompson contra Freddy Krueger é uma representação perfeita desse princípio, especialmente porque se baseia em medos que muitas culturas tradicionalmente associam ao sono. Apep e Krueger são monstros astrais que tentam matar os seres vivos enquanto eles se regeneram (seja um Criador adormecido ou um ser humano adormecido). Ambos tentam matar o futuro (seja impedindo o amanhecer ou assassinando crianças). Ambos prosperam quando os bons não fazem nada (seja devido a um olhar paralisante ou a uma conspiração de silêncio). E ambos são facilmente dominados quando você aprende a enxergar os truques deles (seja por um Deus do Trovão durão ou por um adolescente suburbano corajoso). Dessa forma, considero a personagem Nancy Thompson uma verdadeira filha e guerreira de Set.

A propósito, aqui está um procedimento que você pode usar para ajudá-lo a se sentir um pouco mais como Nancy Thompson quando mais precisar. Se você ficar com medo quando estiver na cama à noite, experimente esse procedimento. Nenhum Freddy Krueger pode se comparar ao incrível poder Daquele Diante de Quem o Céu Treme.

Pegue uma folha de papel em branco e um pouco de tinta vermelha. (Se não tiver tinta vermelha, você pode usar uma caneta com tinta vermelha.) Desenhe um burro virado para a esquerda e escreva a palavra “EOEOE” em forma de triângulo em seu pescoço. Em seguida, escreva “LERTHEMINO” em seu dorso e “SABAOTH” em seu peito. Finalmente, escreva o nome “ABRASAX” diretamente abaixo dos cascos do burro, de modo que pareça que o burro está “andando” sobre a palavra. Você não precisa ser um grande artista; até mesmo os rabiscos mais simples e infantis são suficientes. (Na verdade, quanto mais simples e infantil você conseguir, melhor.) Apenas certifique-se de desenhar o burro voltado para a esquerda e de escrever as voces magicae (“palavras de poder”) exatamente como eu disse. Quando terminar, sua pintura ou desenho deverá ter a seguinte aparência:

Em seguida, coloque essa pintura ou desenho em uma pasta ou em outra coisa em que possa ficar desdobrado e plano. (Em nenhuma circunstância você deve dobrá-lo ou amassá-lo.) Você nunca deve deixar a luz do sol tocar essa imagem que criou; ela deve ser mantida sempre no escuro. Depois de colocá-la em uma pasta, coloque-a embaixo do colchão de sua cama. De preferência, ela deve ser colocada entre o colchão e o trampolim. Se a energia negativa em sua casa parecer estar concentrada em outra pessoa da casa (por exemplo, uma criança), coloque a pasta embaixo do colchão dela. Se quiser, você pode fazer uma dessas imagens de burro para cada pessoa que mora e dorme em sua casa. Basta seguir exatamente o mesmo procedimento para cada uma delas. Certifique-se de colocar as imagens em locais onde não possam ser vistas, onde a luz do sol não possa tocá-las e onde elas fiquem perto de você e de seus entes queridos enquanto você dorme. Mantenha-as lá por pelo menos sete dias e noites; você pode ficar à vontade para removê-las após esse período de tempo.

 

Link para o original: https://desertofset.com/2020/06/17/nightmare/

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