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Yoga dos Sonhos: como meditar enquanto dorme

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Tamosauskas

Parabéns você consegui ter um sonho lúcido. Talvez já domine essa técnica. Este é  realmente um marco fascinante na exploração da própria mente que nos dá uma liberdade sem precedentes de navegar pelo vasto e maleável reino da nossa própria mente. Talvez você crie ilusões em que você é uma versão espirita do super-homem e voe por ai combatendo adversários e resgatando almas em dificuldade… talvez você realmente faça isso. Ou talvez você use esta habilidade para ter fantasias de noites de orgias com absolutamente qualquer companhia que quiser..  e talvez você tenha mesmo algum tipo de companhia.

Em qualquer um dos casos é muito provável que você esteja apenas perdendo tempo. Se um sonho lúcido é usado para satisfazer o ego, seja com ilusão de prazeres ou santidade ele não passará do que Andrew Holecek chama de “super-sanssara”, o ápice do entretenimento doméstico ou o que os alquimistas chamam de Cauda Pavonis, nas palavras de Aladdin: “Poderes cósmicos fenomenais! Dentro de uma lampadazinha”

Ao invés disso sonhos lúcidos podem ser oportunidades para a expansão da consciência e uma poderosa ferramenta para o entendimento da mente e para a realização do ser. Ao reconhecer os sonhos como espelhos do interior, essa prática antiga ensina a navegar pela paisagem onírica com intenção e consciência, transformando o sonhar em um ato de libertação. Como fazer isso?  Meditando enquanto sonha.

A meditação, tradicionalmente uma prática de aprofundamento interior e conexão com o momento presente, encontra um terreno fértil e ao mesmo tempo estranho nos sonhos lúcidos. A experiência promete uma jornada dentro de uma jornada, explorando camadas mais altas de consciência dentro do já misterioso estado de lucidez onírica.

Como começar

  1. O primeiro passo é desenvolver a capacidade de ter Sonhos Lúcidos. Este não é o foco deste artigo mas já há bastante material escrito sobre isso.
  2. Durante o sonho lúcido não mergulhe no enredo que surgir, mas passe por experiencias que reforcem a ilusão dos sonhos. Se houver água, respire-a. Se houver um leão dê-lhe seu braço. Se houver penhasco pule. O objetivo é perder qualquer medo ou apego as ilusões que surgirem em vez de deixar-se levar por elas.
  3. Além disso, tenha o hábito de meditar diariamente, tenha disciplina quanto a isso para que possa se habituar com o estado metal meditativo.
  4. Cultive uma forte motivação de meditar durante o sonho lúcido. Lembre a si mesmo deste intento durante o dia e ao ir dormir.
  5. Coloque um despertador para acordar cerca de 2 horas antes do seu horário normal e dedique-se a algum tipo simples de meditação como repetir um mantra mentalmente.
  6. Assim que algum gatilho trouxer lucidez durante o sonho, comece a meditar da forma como está habituado.

O que esperar

Iniciar uma prática meditativa em meio a um sonho lúcido revela imediatamente sua singularidade. A impossibilidade de fechar os olhos para se isolar do mundo exterior, um gesto simples mas significativo na meditação desperta, destaca a primeira grande diferença. No sonho lúcido, o conceito de mundo externo se dissolve, pois tudo o que existe é uma projeção da mente do sonhador. Essa realização joga na cara de qualquer um a verdade profunda que qualquer meditador experiente já conhece: o ambiente sonoro e visual, anteriormente atribuído ao mundo externo, é de fato de nossa própria criação. A responsabilidade por esse cenário, agora inegavelmente escancarada, torna-se um convite para uma exploração mais profunda do que é real.

Em outras palavras, sem a possibilidade de fechar os olhos, o meditador é desafiado a encontrar a quietude em meio à vivacidade de um mundo que ele mesmo cria. Cada som, cada visão, cada exército de pinguins não é mais uma distração externa, mas um reflexo interno, uma parte do ser que precisa ser compreendida e aceita. Isso coloca o praticante em uma posição única para observar diretamente como seus pensamentos e emoções se manifestam no ambiente onírico. A meditação se transforma em um ato de aceitação radical e responsabilidade pessoal, onde cada elemento do sonho é reconhecido como uma extensão do próprio eu.

Com isso o praticante pode começar a entender a natureza fluida da realidade percebida e a capacidade da mente de moldar essa realidade. Meditar em um sonho lúcido não é apenas uma prática de foco e calma; é uma exploração profunda do poder criativo e da natureza ilusória da mente e de suas projeções. Esse processo de auto-investigação e aceitação pode ter implicações profundas não apenas para a prática da meditação, mas para a compreensão da própria existência.

Superando este primeiro momento de estranheza a meditação segue. E é curioso notar a clareza com que aquelas partes da sua mente que não querem a iluminação se manifestam. O mundo dos sonhos que até então era seu melhor amigo e atendia cada desejo seu, se torna um insistente opositor.  Musas que seduzem com promessas de prazer, monstros que encarnam os medos mais profundos, e um caleidoscópio de distrações surgem, cada um tentando desviar o foco do objetivo mais elevado. Aos poucos você aprende a reconhecê-los e deixar passar como aprendeu a fazer com seus pensamentos em uma meditação diurna.

Lembre-se de anotar tudo quando acordar pois isso lhe dará a malandragem necessária para enxergar as armadilhas como certa vez em que vi um guru de meditação que muito respeito me dando os parabéns porque tinha mantido a mente meditativa mesmo diante de eventos dramáticos criados pela mente e começamos a conversar. Cai como um patinho, mas não na noite seguinte.

Esta prática, obviamente não foi criada agora. Ela é conhecida no budismo tibetano como Milam e atualmente também é chamada de Yoga dos Sonhos. Nesta tradição o ‘corpo dos sonhos’ e o ‘corpo do bardo’ são identificados como ‘corpo da visão’ e o praticante aprende a permanecer não apenas vulgarmente lúcido mas realmente consciente. No ombro destes gigantes deixo aqui meu convite para repensarmos a natureza e o propósito dos sonhos lúcidos.

Longe de serem meros passatempos ou lazer noturno, eles se revelam como oportunidades para meditar de uma forma completamente diferente do que fazemos no mundo concreto dos que acham que estão despertos.  Nesse processo, a jornada dos sonhos se alinha com o caminho da expansão da consciência, onde cada sonho se torna uma etapa na busca pela iluminação, e cada confronto com deuses e demônios, um passo em direção ao que nos aguarda quando encontrarmos a saída.


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