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Por Simon Jacobson.
Os místicos escrevem que quando o sol se põe antes de Rosh Hashaná, o universo entra em estado de coma. Um sono desce sobre toda a existência; tudo fica parado em silêncio cósmico, na apreensão de seu contrato ser renovado.
À medida que o sol se põe antes de Rosh Hashaná e a existência está na balança – é um bom momento para rever a própria natureza desta existência da qual fazemos parte e cujos parâmetros definem nossas vidas. A existência é uma forma de revelação ou uma forma de ocultação?
Esta não é uma mera questão abstrata ou esotérica; toca na natureza fundamental de nossos seres. A verdadeira essência de um ser humano – e de toda a existência – é definida pelo que é visível aos olhos e tangível aos cinco sentidos, ou a essência é completamente invisível, algo que não pode ser experimentado em estado revelado?
Em outras palavras: o que vemos é realmente um estado de revelação, ou é o contrário, o que vemos é a luva, enquanto a verdadeira mão permanece escondida dentro?
O primeiro verso do Gênesis: “No princípio, quando D’us criou o céu e a terra”, responde ao enigma. O nome para D’us usado neste verso é “Elokim”. O comentarista clássico Rashi explica por que o nome “Havaya” não é usado (como em um verso posterior, Gênesis 2:4): “Inicialmente a intenção divina era criar a existência com o elemento da justiça, mas Ele percebeu que o mundo não perseverar; então Ele a precedeu com o elemento da compaixão, misturando-a com o elemento da justiça”.
Qual é o significado desta explicação? Já que o mundo não poderia durar apenas com justiça, por que D’us inicialmente considerou criá-lo dessa maneira; e só depois decidiu integrar o elemento da compaixão? E qual é exatamente o significado de “justiça” e “compaixão”?
Justiça (Elokim) refere-se à ocultação da onipresença divina que era um pré-requisito para a existência vir a existir. Enquanto a realidade Divina estiver consumindo, não há espaço para qualquer outra consciência emergir. Explica o grande místico, Rabi Isaac Luria (o Arizal de Tsfat), em sua revolucionária doutrina tzimtzum, que a presença divina (ou seja, a luz) estava escondida em uma espécie de “buraco negro” cósmico, que permitia o surgimento do consciente, personalidade independente da existência como a conhecemos. Como um professor com uma mente infinitamente maior do que seu aluno esconde seu brilhantismo para permitir “espaço” para o aluno conter as ideias em seus termos limitados.
Este tzimtzum/ocultação é uma chamada justiça (din e gevurah), que retém, mede e limita a transmissão. Em contraste, a compaixão (Havaya) ativa o fluxo de energia e luz.
Agora podemos entender o significado das palavras de Rashi: A base de toda existência está enraizada no elemento da “justiça”, que concentra e oculta a luz divina. Sem essa ocultação, uma existência independente nunca pode vir a existir. Assim, começa a gênese que o universo foi criado com o nome Elokim. No entanto, D’us reconheceu as consequências de longo alcance de um universo cujo motor é estrita justiça e ocultação. Ele, portanto, infundiu no tzimtzum um elemento de compaixão – enraizado na ocultação está o propósito que deve trazer luz.
Quando um grande professor oculta toda a intensidade de sua mente, não o faz como um fim em si mesmo, mas como um meio de transmitir a ideia ao aluno. Em outras palavras, a própria ocultação (justiça) é, em última análise, uma expressão de compaixão, permitindo que o aluno absorva a sabedoria. Assim também, a ocultação da energia divina (o tzimtzum), tão necessária para que a existência surja, não é um fim em si, mas um ato de compaixão que nos permitirá – uma entidade autônoma – nos unirmos com o Divino, passo a passo, em nossos termos.
Aqui temos a resposta à nossa pergunta inicial sobre a natureza da existência: A existência como a percebemos é na verdade um estado de ocultação. Quanto mais fundo você viaja nos recessos íntimos do espírito humano, menos tangível é a sensação, menos palavras são, menos definida é a experiência.
Em outras palavras, toda a natureza da existência é virada de cabeça para baixo e de dentro para fora: nossa sensação do revelado é na verdade um estado de ocultação, e que o que está oculto é o verdadeiro estado de revelação. O visível é uma cobertura artificial, e o invisível é a verdadeira realidade. Esta existência tal como a conhecemos, tal como a percebemos e vivenciamos apenas como uma casca, a camada superficial que envolve o que está por trás da cortina.
E a jornada – e o propósito – de nossas vidas é não se distrair com a mecânica externa, não se iludir pensando que não há nada mais do que a casca externa. O objetivo da vida é enfraquecer o domínio da ocultação (justiça) e revelar a compaixão e a revelação interior.
Nenhuma pessoa está imune às forças da “justiça” neste mundo sombrio. Nosso desafio é não ser vencido pelos momentos mais severos da vida, e reconhecer a compaixão mesmo nos momentos mais sombrios. Saber que a compaixão está impregnada no próprio tecido da existência (ou então o mundo não teria resistido) torna-se uma eterna fonte de esperança, dando-nos a força para superar qualquer desafio.
Este é um dos principais temas de Rosh Hashaná, quando celebramos o aniversário do universo e sua joia da coroa, o ser humano.
[Adaptado de www.meaningfullife.com]
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Fonte:Revelation and Concealment – Compassion is imbued into the very fabric of existence.
Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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