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Malkuth – Cabala Mística (25 de 26)

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Título: Malkuth, o Reino. (Em hebraico, n1:)5n : Mem, Lamed, Kaph, Vau, Tau.)
Imagem Mágica: Uma jovem coroada, sentada no trono.
Localizafâo na Árvore: Na base do Pilar do Equilíbrio.
Texto Yetzirático: 0 Décimo Caminho chama-se Inteligência Resplandecente, porque é exaltado sobre todas as cabeças a tem por assento o trono de Binah. Ele ilumina os esplendores de todas as luzes, fazendo emanar a influência do Príncipe dos Rostos, o Anjo de Kether.
Títulos Conferidos a Aklkuth: A Porta. A Porta da Morte. A Porta das Trevas da Morte. A Porta das Lágrimas. A Porta da Justiça. A Porta da Oração. A Porta da Filha dos Poderosos. A Porta do Jardim do Éden. A Mãe Inferior. Malkah, a Rainha. Kallah, a Noiva. A Virgem.
Nome Divino: Adonai Malekh, ou Adonai ha Aretz.
Arcanjo: Sandaephon.
Coro Angélico : Ashin, Almas de Fogo.
Chakra Cósmico: Cholem ha Yesodoth; Esfera dos Elementos.
Experiência Espiritual: Visão do Anjo da Guarda Sagrado.
Virtude: Discriminação.
Yício: Avareza. Inércia.
Correspondências no Microcosmo: Os pés. 0 ânus.
Stmbolos: 0 altar do cubo duplo. A cruz de braços iguais. 0 círculo mágico. 0 triângulo de arte.
Cartas do Taró: Os quatro dez: Dez dePaus: opressão; Dez de Copas: sucesso completo; Dez de Espadas: ruína; Dez de Ouros: riqueza.
Cor em Atziluth: Amarelo.
Cor em Briah: Citrino, oliva, castanho-avermelhado a preto.
Cor em Yetzirah: Citrino, oliva, castanho-avermelhado a preto, salpicado de ouro.
Cor em Assiah : Preto, com listras amarelas.

1. Já se terá observado que a conformação da Árvore abrange três triãngulos funcionais, mas que Malkuth não participa de nenhum deles, estando isolado; dizem os cabalistas que ela recebe as influências ou emanações de todas as outras Sephiroth. Mas, embora Malkuth seja a única Sephirah que não participa de um triãngulo, ela é também a única Sephirah representada por diversas cores em vez de uma única, pois ela se divide em quatro quadrantes, que são atribuídos aos quatro elementos: Terra, Ar, Fogo e Água. E, embora não seja funcional em nenhum triângulo, ela representa o resultado final de todas as atividades da Árvore. Malkuth é o nadir da evolução, o ponto mais afastado do arco em expansão, pelo qual passa toda a vida antes de retomar à sua origem.
2. Malkuth recebe o nome de Esfera da Terra; mas não devemos cometer o erro de pensar que os cabalistas designam por Malkuth apenas a Esfera terrestre. Eles designam também a alma da Terra – isto é, o aspecto sutil a psíquico da matéria, o número subjacente do plano físico que dá origem a todos os fenômenos físicos. Ocorre o mesmo com os quatro elementos. Eles não são a terra, o ar, o fogo, e a água dos físicos, mas os quatro estados em que a energia pode existir. 0 esoterista os distingue de suas contrapartes mundanas referindo-se a eles como o Ar do Sábio, ou a Terra do Sábio, conforme o caso. Ou seja, o elemento Ar ou Terra. como os conhece o iniciado.
3. 0 físico reconhece a existência da matéria em três estados. Em primeiro lugar, o sólido, em que as partículas componentes aderem firmemente umas às outras; em segundo lugar, o líquido, em que as partículas se movem livremente umas sobre as outras; em terceiro lugar, o gasoso, em que as partículas tentam separar-se o mais possível umas das outras, ou, em outras palavras, difundir-se. Esses três estados da matéria correspondem aos três elementos Terra, Água, a Ar, a os fenômenos elétricos correspondem ao elemento do Fogo. A ciência esotérica classifica todos os fenômenos que se manifestam no plano físico sob essas quatro rubricas, pois acredita que estas ofereçam a chave para a compreensão verdadeira de sua natureza; a ela reconhece que qualquer força dada pode passar de um estágio ao outro sob certas condiçôes, assim como a água pode existir tanto mum estado de gelo e vapor como em sua fluidez normal.
4. 0 esoterista vê em Malkuth o resultado final de todas as operações; só depois de os pares opostos terem alcançado o equilíbrio que estabelece o
estado de Terra, ou coerência, é que se pode dizer que eles completaram um ciclo de experiência. Quando este é alcançado, eles constroem um veículo permanente de manifestação a estereotipam suas reações; o mecanismo de expressão assim desenvolvido torna-se auto-regulador, a continuará a funcionar sem alarde, assim como o coração humano abre a fecha suas válvulas com perfeita regularidade, em resposta a um ciclo estereotipado de impulsos e à pressão sangüínea.
5. 0 ponto capital concemente a Malkuth é que nela se completa a estabilidade. É na inércia de Malkuth que repousam suas virtudes. Todas as outras Sephiroth são dinâmicas em vários graus; mesmo o Pilar central só atinge o equiliôrio quando em funcionamento, como um equilibrista que caminha sobre um arame.
6. Como as demais Sephiroth, Malkuth só pode ser entendida se a considerarmos em sua relação com as vizinhas. Mas, nesse caso, só há um vizinho – Yesod. Não se pode compreender Malkuth a não ser por meio do entendimento de Yesod.
7. Embora Malkuth seja essencialmente a Esfera da forma, a coerência das partes, salvo as correntes mecânicas a as atrações a repulsões eletromagnéticas, depende das funçôes de Yesod. E Yesod, embora seja essencialmente uma Sephirah que produz formas, depende, para a manifestação de suas atividades, da substáncia fomecida por Malkuth. As formas de Yesod são “a tela com que se tecem os sonhos”, que absorvem as partículas materiais de Malkuth para incorporar-lhes as formas. São sistemas de correntes em cuja estrutura se erguem as partículas físicas.
8. É semelhante a situação de Malkuth. Ela é matéria inanimada até que os poderes de Yesod a animem.
9. Deveríamos conceber o plano material como o signo exterior e visível da atividade etérea invisível. Malkuth, em sua essência primeira, só é conhecida com a ajuda dos instrumentos do físico. Não é necessário dizer que onde há vida, lá está Yesod, porque Yesod é veículo da vida; mas devemos compreender também que, onde há qualquer espécie de atividade elétrica ou condutividade, seja de cristais, metais ou químicos, há força yesódica em funcionamento. É esse fato que toma certas substâncias adequadas para a utilização como talismãs, porque elas se carregam de força astral.
10. Não é possível compreender nestas páginas um estado detalhado da física esotérica; cumpre, no entanto, dar ao estudante uma compreensão dos princípios que explicam esse conceito do mundo material, que parece serum manto visível lançado sobre uma estrutura invisível.
11. A natureza exata da relação entre Yesod a Malkuth precisa ser claramente entendida, pois é muito importante para o trabalho oculto prático. Yesod é, naturalmente, o princípio que confere as formas, a toda forma que é edificada nessa Sephirah tomará corpo na Esfera de Malkuth, a menos que contenha incompatibilidades, pois tenderá a atrair as condições da expressão material. As partículas materiais, contudo, são extremamente resistentes e inertes em sua natureza, e é apenas operando o aspecto mais tênue da matéria – que o iníciado chama de elemento Fogo – que as forças yesódicas podem produzir qualquer efeito. Assim que se obtém uma resposta desse Fogo elemental, os outros elementós podem por sua vez serem influenciados.
12.0 Fogo elemental, contudo, é uma espécie de sobreestado da matéria com que apenas os físicos mais avançados têm qualquer familiaridade. Poderíamos chamá-to antes de estado de relações do que de uma coisa em si. 0 Ar elemental poderia ser descrito como a capacidade para obter essas relações e, como tal, ele é o princípio da vida física, pois é apenas na medi. da em que a matéria tem uma capacidade para a organização que a substância orgánica é possível. A Água elemental, a Água do Sábio, é na verdade protoplasma; e a Terra elemental é matéria inorgãnica.
13. Ora, cada um desses tipos.de força organizada a de capacidade de reação tem a sua própria natureza defmida, da qual não se afasta por qualquer força no cosmo manifesto. Mas, como há inter-relações definidas de influência a expressão entre esses quatro estados elementais, é possível, utilizando suas influências recíprocas, obter resultados que por falta de compreensão são chamados de “mágicos”. Esse é, na verdade, o método mágico de manipular as tênues formas elementais, mas é também o método ao qual a vida recorre para fazer a mesma coisa; a sea Magia é algo mais do que auto-sugestão, ela deve utilizar os métodos da vida – isto é, ela precisa operar por meio da intermediação do protoplasma, pois o protoplasma, em sua curiosa estrutura reticular, serve de veículo para a força magnética sutil do Fogo do Sábio, transmitido pelo Ar elemental. Em outras palavras, o operador precisa utilizar o seu próprio corpo como um arranque automático, pois é o magnetismo de seu próprio protoplasma que fornece a base de manifestação de qualquer força que é introduzida na Esfera de Malkuth. Levado à sua conclusão lógica, esse é o princípio de geração tanto dos protozoários como dos espermatozóides.
14. 0 conceito moderno da matéria aproxima-se bastante daquele que tem sido sustentado pela ciência esotérica desde tempos imemoriais. 0 que os nossos sentidos percebem são os fenómenos que se podem atribuir à atividade de diferentes tipos de forças, comumente organizados a combinados. Apenas por meio de uma compreensão da natureza dessas forças é que pode-
mos entender a natureza da matéria. A ciência exotérica está procurando resolver o problema refinando sua concepção da matéria, no sentido de extrair-lhe toda a substãncia. 0 que o físico agora conhece como matéria está muito longe do cònceito comum que se tem desse aspecto da natureza.
15. 0 esoterista, observando o problema do ponto de vista oposto, assinala que matéria a mente são dois lados da mesma moeda, mas que há um ponto de investigação em que é proveitoso mudar a terminologia, a falar de forças a formas em termos de psicologia, como se elas fossem conscientes e finalistas. Segundo sua óptica, isso nos permite lidar muito melhor com os fenómenos que encontramos do que se nos limitássemos aos termos que se aplicam apenas à matéria inanimada e à força cega a não-direcionada. Devemos sempre, pela natureza do nosso intelecto, utilizar a analogia como uma ajuda para a compreensão; se as analogias que utilizamos nesse nível de investigação são as analogias da matéria inanimada, descobriremos que elas são táo limitadas que conduzirão ao erro e à limitação e, em vez de esclarecer, darão lugar à confusão.
16. Se, contudo, utilizarmos as terminologias da vida, da inteligência e da vontade consciente, tendo o cuidado de adaptá-las às necessidades do estado muito rudimentar de desenvolvimento com que temos de lidar, descobriremos que temos uma analogia que é iluminadora em vez de limitadora, e que nos permitirá avançar em nossa compreensão.
17. É por essa razão que o esoterista personifica as forças mais sutis e as chama de Inteligências. Ele as aborda como se de fato fossem inteligentes, e descobre que há um lado sutil em sua própria natureza a consciência que responde a elas, a ao qual, como acredita convictamente, elas respondem. Pelos menos, haja uma resposta mútua ou não, seus poderes para tratar com elas ficam, por else meio, muito mais desenvolvidos do que quando ele as encara como um “concurso fortuito de acidentes sem relação”.
18. Malkuth é o nadir da evolução, mas devemos encará-la não como o abismo último da não-espiritualidade, a sim como a bóia de sinal de uma corrida de barcos. Todo barco que retoma ao ponto de partida sem ter dado a volta pela bóia é desclassificado. Ocorre o mesmo com a alma. Se tentarmos escapar da disciplina da matéria antes de termos dominado suas lições, não avançaremos na direção do céu, mas sofreremos um atraso em nosso desenvolvimento. São esses desertores espirituais que saltam de um rebanho a outro nas inúmeras organizações que nos chegam do Extremo Oriente a do Extremo Ocidente. Eles descobrem no idealismo vulgar uma escapatória para as rigorosas leis da vida. Mas else não é um meio de progresso, a sim um meio de retirada. Mais cedo ou mais tarde, eles terão de enfrentar o obstáculo a explicá-lo. A vida os agrupa a os coloca novamente à frente dal dificuldades, a utiliza o chicote e a espora da enfermidade psicológica, pois aqueles que não querem enfrentar a vida se dissociam, e a dissociação é a causa primária de muitas enfermidades de que a mente é a herdeira.
19. Se estudarmos as lições da história, veremos que muitos problemas morais a espirituais se esclarecem de um ãngulo imprevisto. Constataremos que a civilização e a inspiração surgiram no Oriente – fato que os orientais ou os seguidores de uma tradição oriental assinalam orgulhosamente, afirmando que o Ocidente deverá curvar-se aos pés do Oriente se desejar aprender os segredos da vida.
20. Ora, é inegável que há muitas coisas – especialmente os aspectos mais ocultos da psicologia – a respeito das quail o Oriente tem muito mais a dizer do que o Ocidente, a que seríamos sábios se as aprendêssemos; mas é inegável também que, tendo nascido no Oriente, o ponto focal da evolução agora se encontra no Ocidente, a que, no que toca ao avanço na arte de viver neste nosso planeta, é o Oriente que deve olhar para o Ocidente, a menos que se contente em retroceder ao padrão de vida da roda de fiar. Mas não esqueçamos que o padráo de vida primitivo corre paralelamente ao padrão de morte primitivo. Uma cultura primitiva só pode suportar uma população escassa. Muitas pessoas devem morrer, especialmente os velhos a os jovens. Quando retomamos à natureza, ela nos trata à sua própria maneira, com seus dentes a garras vermelhas. 0 impacto rude da Natureza não é uma coisa agradável. Quando os seres humanos se multiplicam na Terra, esta os ceifa com doenças a fome. A civilização do homem branco implica o saneamento do homem branco. Abstendo-se de todas as ações, o indivíduo pode libertarse do corpo mais iápida a efetivamente do que aquele que nelas se engaja, mormente se entre as ações refreadas estão aquelas relacionadas com a higiene comunitária numa terra densamente povoada.
21. Os gregos compreenderam melhor do que ninguém o princípio de Malkuth, a foram eles os fundadores da cultura européia. Eles nos ensinaram a ver a beleza na proporção a no funcionamento perfeito, a em nenhuma outra parte. As frisas dal figural na uma grega lançaram a mente de Keats na contemplaçáo da verdade a da beleza ideais. Esse é o ideal mais elevado da contemplação a que pode aspirar a mente finita, pois nesse ideal a lei a os
profetas se erguem muito mais acima das severas proibições do código mosaico, levando-o à inspiração de um ideal a ser seguido.
22. Foi na Esfera de Malkuth que a civilização se desenvolveu durante o último milênio. Não é preciso que um astrólogo nos diga que a Primeira Guerra Mundial assinalou o fim de uma época, a que estamos agora na aurora de uma nova fase. De acordo com a doutrina cabalística, o Relâmpago Brilhante, alcançando seu ponto terminal em Malkuth, é substituído pelo simbolismo da Serpente da Sabedoria, cujas espirais sobem pelos Caminhos até que sua cabeça repouse atrás de Kether. 0 Relâmpago Brilhante representa a descida inconsciente da força, que edifica os planos de manifestação e passa do ativo ao passivo, retomando ao ponto de partida para que o equilíbrio possa ser mantido. A Serpente que se enrosca nos Caminhos representa a aurora da consciência objetiva, e é o símbolo da iniciação; no Caminho trilhado pelos iniciados, que estão sempre à frente de sua época, a evolução se põe em marcha, conduzindo consigo a raça como um todo. É agora normal para o homem comum fazer o que apenas os iniciados costumavam fazer.
23. Vemos, por conseguinte, que o ponto focal da evolução começa a elevar-se de Malkuth a se dirige para Yesod. Isso significa que a ciência, tanto a pura como a aplicada, ultrapassa o estado da matéria inanimada a começa a ter em conta o lado etéreo a psíquico das coisas. Essa fase de transformação é visível em nosso redor para aqueles que podem ler os sinais dos tempos. Vemo-la na medicina, nas relações internacionais, na organização industrial. Por fim, a com muita relutância, vemo-la fazer-se sentir nas ciências da fisiologia a da psicologia, que se aferram tenazmente às explicações materialistas de todas as coisas, a especialmente dos processos vitais, mesmo depois de os físicos, que tratam reconhecidamente da matéria inanimada, terem abandonado a posição materialista a preferido falar em termos de matemática.
24. A divisão oculta de Malkuth nos quatro elementos dá-nos uma chave preciosa. Deveríamos encarar a matéria como a Terra de Malkuth. Os tipos diferentes de atividade física, nas massas ou nas moléculas, classificamse sob as rubricas do anabolismo a do catabolismo, ou seja, os processos de edificação a destruição, que se podem classificar, na terminologia esotérica, como a Água e o Ar de Malkuth. Tudo o que a filosofia esotérica ou a mitologia pagã pode dizer a respeito desses elementos será aplicável a esses dois processos a funções metabólicas. 0 Fogo de Malkuth é aquele aspecto eletromagnético da matéria que estabelece o vínculo com os processos de consciência a vida, aos quais se aplicam os mitos da vida.
25. Quando se compreende esse princípio de classificação, a terminologja alquimista toma-se menos abstrusa a absurda, pois então se vê que a classificação em quatro elementos se refere realmente aos quatro modos de manifestação no plano físico. Esse método de classificação é muito valioso, pois permite-nos compreender o relacionamento e a correspondência entre o plano físico e o processo vital subjacente. Ele é especialmente importante no estudo da fisiologia a da patologia, a representa, em sua aplicação prática, uma chave importantíssima para a terapêutica. Os médicos mais avançados estão começando a voltar-se para esse método, a as classificações de Paracelso estão sendo citadas por mais de uma autoridade médica. 0 conceito da diátese, ou predisposição constitucional, está merecendo uma atenção especial. A psicoterapia está novamente começando a compreender que a velha classificação em quatro temperamentos nos concede um guia proveitoso para o tratamento, a que não se deve tratar todos da mesma maneira, a que tampouco os resultados similares nascem sempre de causas similares nos reinos da mente, porque o temperamento intervém a falsifica os resultados. Por exemplo, a apatia no tipo fleumático pode significar um mero aborrecimento, ao passo que o mesmo grau de apatia no tipo sangüíneo pode significar um colapso completo de toda a personalidade. As analogias entre as coisas materiais a mentais podem conduzir a grandes enganos, ao passo que as analogias entre as coisas mentais a materiais podem ser muito esclarecedoras.
26. Os quatro elementos correspondem aos quatro temperamentos descritos por Hipócrates, aos quatro naipes do Tarõ, aos doze signos do Zodíaco a aos sete planetas. Se estudarmos as implicações dessa afirmativa, veremos que nela se ocultam algumas chaves muito importantes.
27.0 Elemento Terra corresponde ao Temperamento Fleumático; ao naipe de Ouros; aos signos de Touro, Virgem a Capricómio; a aos planetas Vênus a Lua.
28.0 Elemento Água corresponde ao Temperamento Linfático; ao naipe de Copas; aos signos de Câncer, Escorpião a Peixes; a ao planeta Marte.
29.0 Elemento Ar corresponde ao Temperamento Colérico; ao naipe de Espadas; aos signos de Libra, Gêmeos a Aquário; a aos planetas Saturno e Mercúrio.
30.0 Elemento Fogo corresponde ao Temperamento Sangüíneo; ao naipe de Paus; aos signos de Áries, Sagitário a Leão; a aos planetas Sol a Júpiter.
31. Portanto, se classificarmos os assuntos do mundo a os fenômenos
em termos dos quatro elementos, veremos imediatamente sua vinculação com a Astrologia e o Tarô. Ora, a classificação é o estágio que segue imediatamente a observação no método científico. Boa parte do trabalho científico consiste simplesmente nesses dois processos; de fato, para os soldados rasos da ciência, eles representam toda a sua atividade. Se a ciência se limitasse a essas duas atividades, como de fato o faria se prestássemos ouvidos aos nossos cientistas mais prosaicos, ela seria apenas uma compilação dos fenómenos naturais, como se os agentes estivessem no universo. Mas o cientista imaginativo, o único que merece o nome de pesquisador, utiliza a classificação não tanto como meio para ordenar as coisas, mas para conhecer-lhes as relações.
32. A distância que vai do cientista imaginativo (que percebe) ao cientista filosófico (que interpreta) é muita pequena; e a distância que vai do cientista filosófico (que interpreta em termos de causa) ao cientista esotérico (que interpreta em termos de propósito e, assim, une a ciência à,ética) é menor ainda. A tragédia da ciência esotérica consiste no fato que seus expoentes nunca estiveram convenientemente apetrechados no plano de Malkuth, sendo, conseqüentemente, incapazes de coordenar seus resultados com aqueles obtidos pelos trabalhadores de outros campos. Enquanto tolerarmos esse estado de coisas, continuaremos a ter pensamentos confusos e suposiçôes crédulas como nosso quinhão inalienável. A ciência esotérica precisa observar a regra da corrida de barcos, a fazer com que cada operação mágica contorne a bóia de marcação de Malkuth antes de poder vangloriarse de um êxito completo.
33. Tratemos agora de interpretar essa metáfora do ponto de vista do ocultismo técnico. Toda operação mágica tem por objetivo fazer com que o poder desça aos planos a pô-to a serviço do operador, que, então, o aplica à finalidade desejada. Muitos operadores se contentam em obter resultados puramente subjetivos – ou seja, uma sensação de exaltação; outros visam à produção de fenômenos psíquicos. No entanto, todos deveriam reconhecer que nenhuma operação é completada antes de o processo ser expresso em termos de Malkuth, ou, em outras palavras, antes de pôr-se em ação no mundo físico. Se isso não é feito, a força então gerada não se torna convenientemente “terrestre”, e é essa força perdida, dispersada, que causa os problemas dos experimentos mágicos. Tal força pode não causar problemas num único experimento, pois poucos operadores geram bastante poder para fazer qualquer coisa, muito menos problemas; mas, numa série de experiências, o efeito pode ser cumulativo, a resultar em transtorno psíquico, em má sorte a em acontecimentos estranhos, relatados com freqüência pelos experimentadores. São essas coisas que dão má fama à Magia Experimental, fazendo-a ser vista como perigosa a comparada ao use de drogas. A verdadeira analogia, contudo, seria com os perigos da pesquisa dos raios X em seus primórdios. É a técnica errada que causa a perturbação, como ocorre sempre que se operam poderes ativos. Aperfeiçoemos nossa técnica para evitarmos os problemas e, assim, teremos uma poderosa força à nossa disposição.
34. O único meio de transição entre Yesod a Malkuth é a mediunidade das substâncias vivas. Ora, há vários graus de vida. O esoterista reconhece a vida em qualquer parte em que haja forma organizada, pois ele diz que só a vida pode organizar a forma, embora naquilo que chamamos vulgarmente de “substâncias inorgânicas” a proporção de vida seja muito pequena, a em alguns casos infinitesimal. Em algumas formas de matéria orgânica, contudo, a proporção de vida não é, em absoluto, negligenciável, assim como nas plantas a proporção de inteligência não é em absoluto descartável. Só os mais recentes progressos do trabalho experimental, notadamente os de Sir Jagindranath Bhose, puderam demonstrar esse fato, mas ele é conhecido empiricamente há muito pelo ocultista prático. Este sempre fez use de substâncias cristalinas a metálicas como acumuladores de forças sutis, considerando a seda como um isolador a aproveitando-se das propriedades das mesmas substâncias que o eletricista emprega hoje. Os melhores talismãs são os discos de metal puro gravados com frases adequadas a recobertos em seda de cor apropriada com que o talismã está carregado. Uma pedra preciosa, que é naturalmente um cristal colorido, desempenha um papel muito importante em certas operaçôes, porque age como um foco para a força, a também em certos tipos de receptores sem fio. A influência das cores nos estados mentais é bem conhecida. Nenhum trabalhador permaneçe muito tempo nas salas vermelhas dos laboratórios fotográficos, pois sabe-se que esses trabalhadores estarão sujeitos a distúrbios emocionais a mesmo a um desequiliôrio mental temporário. Redescobrimos todas essas coisas por meio do moderno método científico a seus instrumentos, mas eles eram bem conhecidos dos antigos, a suas aplicaçôes práticas foram aproveitadas numa extensão com que hoje não sonhamos, exceto entre aqueles que são popularmente conhecidos como “excêntricos”.
35. Também entre as plantas encontramos um grau variável de “ati-
vidade psíquica”, atribuído especialmente às plantas aromáticas. Os antigos tinham um elaborado sistema de atribuição das plantas às diferentes formas de força sutil. Algumas dessas atribuiçôes são, evidentemente, fantasiosas, mas há certos princípios gerais que podem nos servir de guia. Onde quer que encontremos uma planta tradicionalmente associada a qualquer divindade, podemos estar certos de que essa planta tem afinidades com o tipo de força que aquela divindade representa. Essa associação pode parecer superficial a irracional, como aquelas que Freud afirmou existirem na mente do sonhador, mas os adoradores da divindade, se a associação é consagrada pela tradição, terão estabelecido a conecção psíquica entre a planta e a força, e, como em todas as associações tradicionais, o vínculo, uma vez estabelecido, pode ser facilmente recuperado por aqueles que sabem como fazer use da imaginação criadora. Se existe qualquer relação intrínseca entre a natureza da planta e a natureza da força à qual é atribuída (como no caso da rosa a Vênus a do lírio à Virgem Maria), ela é estabelecida rapidamente pelos adoradores de um culto a também rapidamente recuperada por aqueles que lhe seguem as pegadas, mesmo após um lapso de séculos. Por conseguinte, para todos os propósitos práticos, há sempre uma relação; existente não apenas entre plantas a determinada divindade, mas, igualmente, também entre animais a divindades.
36. Uma atribuição que tem uma especial importância prática é a dos perfumes a das cores. As atribuições coloridas já foram indicadas nas tabelas no cabeçalho de cada capítulo. A respeito dos perfumes, é menos fácil formular regras precisas, pois os perfumes existentes são inumeráveis, a as forças no trabalho prático tendem a confundir-se com outras. Por exemplo, é difícil, a na verdade indesejável, manter as forças de Netzach separadas das de Tiphareth, ou as de Hod das de Yesod, ou de Yesod das de Malkuth; e todo aquele que tentar operar Geburah sem Gedulah “queimará os dedos”.
37. Os perfumes não são empregados apenas para permitir a manifestação, mas para sintonizar a imaginação do operador. Para esse fim, eles são muito eficazes, como o poderá descobrir aquele que tentar executar uma cerimônia sem o perfume apropriado. Nos operadores inexperientes, é aconselhável dispensar a utilização dos perfumes, caso o efeito psíquico seja muito drástico para a sua tranqüilidade ou conveniência.
38. Falando de modo geral, podemos dividir os perfumes em dois grupos: aqueles que exaltam a consciência a aqueles que despertam a atividade da subconsciência. Entre os primeiros, as gomas aromáticas ocupam um lugar à parte, a são empregados exclusivamente na manufatura de incenso eclesiástico. Podemos acrescentar, a essa gomas, certos óleos essenciais que possuem propriedades similares, especialmente aqueles que estâo mais para aromáticos a adstringentes do que para ácidos. Essas substâncias sáo muito úteis em todas as operaçôes em que o objetivo é o aumento da clareza intelectual ou a exaltação do tipo místico.
39. Os perfumes que despertam a mente subconsciente são de dois tipos: os dionisíacos a os venusianos. Os odores dionisíacos são do tipo aromático a ácido, como a essência de cedro ou sándalo ou de pinho. Os odores venusianos são de natureza aromática a penetrante, como a baunilha. Na prática atual, esses dois tipos de odores se confundem, a os odores florais característicos encontram-se em ambas as divisôes. No trabalho prático de compor os perfumes quase sempre se faz uma mistura de ingredientes, pois eles se realçam mutuamente. Muitos perfumes que em si são acres a crus, ou adocicados a pesados, tomam-se admiráveis quando misturados.
40. Já se afirmou alhures que os perfumes sintéticos são inúteis para o trabalho mágico. Em minha opinião experiente, esse não é o caso, desde que a essência seja de boa qualidade. As boas essências sintéticas em nada diferem dos produtos naturais, a não ser nos testes químicos. Como o valor dos perfumes é psicológico, a sua ação se exerce sobre o operador a não sobre o poder invocado, a natureza química da substãncia é irrelevante, desde que produza os efeitos apropriados.
41. A mesma observação se aplica às pedras preciosas, embora isso pareça uma heresia. Tudo de que precisamos é um cristal de cor apropriada e, se ele é um rubi desta ou daquela classe, isso pouca diferença faz, a não ser na conta bancária. Que esse fato era bem conhecido pelos antigos, provamno as listas de pedras preciosas consagradas às divindades, nas quaffs figuram diversas classes de pedras. Por exemplo, Crowley, em 777, consagra as pérolas, as selenitas, o cristal e o quatzo às forças lunares, e o rubi ou qualquer pedra vermelha a Marte.
42. Acreditam os ocultistas que a concentração mental de uma corrente de vontade, apoiada pela imaginação, exerce um efeito sobre certos cristais, metais a óleos. Eles utilizam essa propriedade para conservar nesses objetos as forças de um tipo particular, de modo que essas forças possam ser facilmente despertadas à vontade, ou mesmo exercer ininterruptamente a sua influência por meio de uma emanação constante. Muitas cerimônias dependem, em algum grau pelo menos, do princípio das armas mágicas consagradas. É digno de menção que todo equipamento mais importante de uma igreja, antes de ser utilizado, é sempre consagrado. Não se pode duvidar de que essa consagração é efetiva. Todo bom sensitivo será capaz de distinguir um objeto consagrado de outro não-consagrado, desde que, é claro, essa con-
sagração tenha sido efetiva. Todo ocultista prático sente por experiência a mudança marcante que o assalta quando manipula seus instrumentos mágicos ou veste as roupas consagradas. Ele pode realizar coin tais objetos o que de outro modo seria incapaz de executar. Ele também sabe que leva tempo para “domar” um novo instrumento mágico. É interessante notar a esse respeito que não consigo escrever nada sobre a Cabala Mística sem minha velha a gasta “Árvore da Vida” atrás de mim. É igualmente interessante notar que, quando essa Árvore da Vida – que foi originalmente preparada para mim por uma certa pessoa – se tomou tão encardida a ponto de ser indecifrável, eu a repintei, a descobri que ela aumentou consideravelmente o seu magnetismo, comprovando assim a velha tradição de que, na medida do possível, devemos preparar nossas armas mágicas coin nossas próprias mãos.
43. 0 grande problema no trabalho prático consiste em trazer as coisas à Esfera de Malkuth. Os antigos descreveram muitos métodos – cuja veracidade não temos meios de comprovar. Até que ponto eram reais as materializações obtidas pelo método do sacrifício de sangue descrito por Virgílio, a até onde a imaginação exaltada dos participantes desses impressionantes ritos fornecia a base da manifestação?
44. Mas, quaisquer que sejam os fatos, os holocaustos dos antigos não constituem um método prático que os experimentadores possam seguir. A base da idéia, contudo, repousa no fato de quvsangue fresco derramado fornece ectoplasma. Na verdade, existem médiuns materializadores que também produzem ectoplasma sem o derramamento de sangue. Mas aqueles que são capazes de fornecer uma grande quantidade dessa substãncia sâo muito raros. Quando um número de pessoas psiquicamente desenvolvidas se reúnem num círculo para os fins da evocação, elas podem produzir uma quantidade suficiente de ectoplasma para formar a base necessária dos fenômenos físicos. Esse método não está isento de dificuldades, para não dizer de riscos, e o esoterista, que é antes um filósofo do que um experimentador, raramente lança mão dele. Basta-lhe obter manifestações na Esfera de Yesod e percebê-las coin sua visão interior.
45. 0 único canal de evocação satisfatório é o próprio operador. No método egípcio de evocação, conhecido como “ascensão das formas divinas”, o operador identifica-se coin o deus a se oferece como canal de manifestação. É seu próprio magnetismo que vence o abismo entre Malkuth e Yesod. Não existe outro método tão satisfatório, pois a quantidade de magnetismo num ser vivo é maior do que em qualquer metal ou cristal, mesmo precioso.
46. Esse antigo método é também conhecido modernamente como “mediunidade”. Quando o espírito fala através do médium em transe, ocorre o mesmo que ocorria no Egito antigo quando o sacerdote, coin a máscara de Hórus, falava coin a voz de Hórus.
47. Quando analisamos a Árvore microcósmica, o corpo físico é malkuth, o duplo etéreo é Yesod; o corpo astromental é Hod a Netzach; e a mente superior é Tiphareth. Tudo que a mente superior é capaz de conceber pode facilmente ser trazido à manifestação na esfera subjetiva de Malkuth. Deveríamos, sem dúvida, confiar antes nesse método de evocação do que nos meios estranhos de extrair ectoplasma ou de derramar os fluidos vitais, mesmo que esses métodos pudessem ser praticados em nossa moderna civilização.
48. A melhor arma mágica é o próprio mago, a todos os demais expedientes não passam de meios para um fim, a este é a exaltação a concentraçâo da consciência que transforma o homem comum num mago. “Não sabeis que sois o templo do Deus vivo?”, disse um Grande Ser. Se sabemos como utilizar os objetos simbólicos desse templo vivo, temos as chaves do céu em nossas mãos.
49. A chave para essa utilização encontra-se nas atribuições microcósmicas da Árvore. Interpretando-as em termos de função, e a função em termos de princípios espirituais, podemos entreabrir a porta do “armazém de força”. A melhor a mais completa manifestação do poder de Deus se produz por meio do entusiasmo energizado do homem treinado a devoto. Seríamos mais sábios se esperássemos o resultado final da operação mágica produzida por canais naturais do que se esperássemos uma interferência no curso da natureza – espera que, na própria natureza das coisas, está fadada ao desapontamento.
50. Procuremos esclarecer esse ponto por um exemplo. Supondo-se que a meta seja uma cura, deveríamos empregar, de acordo coin o método da Árvore, um rito ou uma meditação sobre Tiphareth. Mas devemos, por essa razão, limitar nossas operações à Esfera de Tiphareth a fazer da cura um assunto exclusivamente espiritual, como o fazem os cientistas cristãos? Ou devemos modificar o nosso método, de modo a utilizar a imposição das mãos e a unção do óleo, que são operações da Esfera de Yesod, planejadas para conduzir a força magnética? Ou deveríamos, de acordo coin o que me parece ser o método mais sábio, utilizar também uma operação de Malkuth, trazendo assim o poder para os planos da manifestação sem interrupção ou lapso na transmutação a condução?
51. E o que é uma operação da Esfera de Malkuth? Simplesmente uma ação no plano físico. Numa invocação de cura, por conseguinte, penso
que deveríamos antes invocar o Grande Médico para que nos manifeste Seu poder por meio do médico humano, visto que esse é o canal natural, do que contar com uma força espiritual para a qual o único canal de evocação é a natureza espiritual do paciente, que pode ou não ser capaz de responder ao chamado.
52. É fora de questão que grandes forças espirituais podem atuar eficazmente na cura de nossas doenças, mas elas precisam ter um canal de manifestação; a por que deveríamos fazer um esforço sobre-humano para construir um canal psíquico quando temos outro ao alcance das mãos? Deus manifesta Seus milagres de uma maneira misteriosa apenas enquanto a lei natural é um livro selado para nós; mas, quando compreendemos os meios do trabalho da natureza, vemos que Deus age de uma maneira perfeitamente natural, por meio de canais regularmente estabelecidos; a diferença entre o natural e o sobrenatural não reside nos canais de manifestação empregados, mas na quantidade de força que se manifesta através deles. 0 que varia não é a qualidade, mas a quantidade do fluxo de força quando as forças espirituais são evocadas com sucesso.
53. Todo problema de MaIkuth consiste numa questão de canais e elos de conexão. 0 resto do trabalho é realizado pela mente nos planos mais sutis; a dificuldade real repousa na transição do sutil ao denso, pois o sutil está mal-equipado para operar no denso. Essa transição se efetua por meio do magnetismo das coisas vivas, orgánicas ou inorgânicas. Ce n ést que le demier pas qui c~e nas operações mágicas.
54. Três idéias surgem da meditação sobre o Texto Yetzirático relativo a Malkuth – o conceito da Inteligência Resplandecente, que ilumina o esplendor de todas as luzes; a relação entre Malkuth a Binah; e a função de Malkuth em fazer uma influência emanar do Anjo de Kether.
55. Talvez pareça curiosa a idéia de que Malkuth, o mundo material, é o iluminador das luzes, mas poderemos entender o sentido dessa sentença se nos referirmos à analogia física, segundo a qual o céu só parece ser azul e luminoso devido à refração luminosa de inúmeras partículas de pó que flutuam na atmosfera; o ar absolutamente limpo carece de luz, a nosso céu teria a escuridão do espaço interestelar se não fosse a ação dessas partículas. Aprendemos também, pelo estudo da física, que vemos os objetos graças apenas aos raios de luz que suas superfícies refletem. Quando há pouco ou nenhuma refração, como ocorre com um objeto negro, este é quase invisível sob luz diminuta, propriedade de que se servem os prestidigitadores e ilusionistas.
56. É a função formadora a concretizante de Malkuth que toma finalmente tangível a definido o que era, nos planos superiores, intangível e indefinido, e é esse seu grande serviço à manifestação a seu poder característico. Todas as luzes, ou seja, as emanações de todas as outras Sephiroth, tornam. se luminosas a visíveis quando refletidas nos aspectos concretos de Malkuth.
57. Toda operação mágica deve chegar a Malkuth antes de poder completar-se, pois somente em Malkuth a força se aloja na forma. Portanto todo trabalho mágico se cumpre melhor na forma de um ritual executado no plano físico – ainda que o operador trabalhe só – do que por qualquer forma de meditação que opere apenas no plano astral. Deve haver algo no plano físico, mesmo que sejam apenas as linhas traçadas num talismã, ou os sinais traçados no ar, que traz a ação ao plano de Malkuth. A experiência prova que uma operação assim executada é muito diferente de uma operação que começa a termina no astral.
58. A relação entre Malkuth a Binah é claramente indicada nos títulos atribuídos a ambas essas Sephiroth. Binah é a Mãe Superior a Malkuth, a Mãe Inferior. Como já vimos, Binah é o Dador de Forma primordial. Sendo Malkuth a Esfera da Forma, a relação é óbvia. 0 que se iniciou em Binah encontra sua cuIminação em Malkuth. Este ponto nos dá uma importante chave por meio da qual podemos guiar nossas pesquisas entre as ramificaçôes dos panteões politeístas. 0 sistema cabalístico é explícito a respeito da doutrina das Emanaçôes, por meio das quaffs o Um se transforma no Múltiplo, e o Múltiplo é reabsorvido no Um. Nenhum outro sistema é específico sobre esse ponto, embora se encontre em todos eles uma alusão ao método à guisa de genealogia. As uniões a as descendências de deuses a deusas – de modo algum realizadas sempre no âmbito do sagrado matrimbnio – apresentam uma indicação definida das doutrinas implícitas da emanação a da polaridade, a não são apenas fantasias grosseiras do homem primitivo, que criou os deuses à sua imagem a semelhança.
59. Uma cuidadosa comparação das informações que temos sobre os ritos pelos quaffs os amigos reverenciavam suas inúmeras divindades revela que os mitos bem delineados que tanto deleitam as crianças tinham pouca ascendéncia sobre a religião real dos povos que os utilizavam como meio de expressão para os ensinamentos espirituais. Os deuses a deusas fundem-se de modo enigmático, de sorte que temos Vénus Barbada, a Hércules, o herói viril entre todos, com trajes femininos.
60. Fica claro, no estudo da arte antiga, que as pessoas a as características dos vários deuses a deusas eram utilizadas como uma forma pictográfica para indicar idéias abstratas defmidas, cuja convenção era bem conhecida pelos sacerdotes. Tendo de lidar com uma população na maior parte analfabeta, pois o ensino era limitado a pouquíssimas pessoas naqueles dias, os sacerdotes diziam sabiamente: “Observem este símbolo a reflitam sobre ele; vocês podem não saber o que ele significa, mas estão olhando na direção certa, a direção de onde provém a luz; e, na medida em que puderem recebé-la, a luz fluirá para suas almas, se contemplarem essas idéias.” É certamente provável que a iluminação conferida nos Mistérios incluía a elucidação metafísica desses mitos.
61. Perséfone, Diana, Afrodite, Hera mudam seus símbolos, funçôes, características, a mesmo títulos acessórios, de maneira desconcertante nos mitos a na arte grega. Também Priapo, Pã, Apolo a Zeus. 0 melhor que podemos dizer deles é que todas as deusas são Grandes Mães a que todos os deuses são Dadores de Vida; a diferença entre eles reside não na função, mas no nível em que funcionam. Existe uma distinção entre Vênus Celestial e a deusa do amor terreno de mesmo nome; aquele qué sabe ler saberá notar uma igual distinção a uma mesma identidade secreta entre Zeus, o Pai de Todos, a Priapo, igualmente inclinado à paternidade, mas de outra maneira, sendo um terrestre e o outro celeste. Não obstante, eles não são dois deuses, mas um só: assim como Binah a Malkuth não são dois tipos distintos de força, mas a mesma força funcionando em níveis diferentes. Essa é a chave da compreensão do significado do culto fálico, que exerce um papel tão importante em todas as fés antigas a printitivas – papel, aliás, tão pouco compreendido por seus intérpretes escolásticos. Seu sentido real é a descida da divindade até a humanidade, na esperança de elevar a humanidade à divindade. Esse processo é a base igualmente da terapia freudiana.
62. A afirmação de que Malkuth faz uma influência emanar do Anjo de Kether confirma plenamente essa idéia. Vemos que a Grande Mãe, que é Malkuth, se polariza com o Pai Universal, que é Kether.
63. Essa classificação, contudo, é demasiadamente simples para servir-nos adequadamente, seja porque queiramos reduzir um panteão pagão aos seus termos mais simples, seja porque tratamos das vicissitudes a das faces da vida pessoal. Mas encontramos, nos quatro quadrantes em que Malkuth se divide, a chave de que precisamos.
64. Esses quatro elementos são a Terra, o Ar, o Fogo e a Água do Sábio – ou seja, os quatro tipos de atividade. A notação da ciência esotérica os representa por quatro diferentes tipos de triângulo. 0 Fogo é representado por um triángulo, do qual uma das pontas está voltada para cima; o Ar, por um triãngulo semelhante atravessado por uma barra, indicando assim que o Ar tem uma natureza semelhante à do Fogo, porém mais densa. Aliás, não estaríamos errados se chamássemos o Ar de “Fogo Negativo”, ou o Fogo de “Ar Positivo”. A Água é representada por um triângulo voltado para baixo, e a Terra, pelo mesmo triãngulo atravessado por uma barra; e a esses dois símbolos se aplicam os mesmos princípios anteriores.
65. Supondo-se que consideremos o triângulo do Fogo como representante da força incondicionada e o triângulo do Ar como representante da forma totalmente inerte, e o triângulo da Água como representante de um tipo ativo de forma, teremos outra forma de classificação disponível. Nos mitos mais antigos, o ar, ou o deus do espaço, é o pai do Sol, o fogo celestial, e a água é a matriz da Terra. Isso fica bem clam no Pilar Central da Ãrvore da Vida, onde Kether, o espaço, ofusca Tiphareth, o centro solar, e a Esfera aquática de Yesod, o centro lunar, ofusca a Esfera terrestre de Malkuth.
66. Supondo que ordenemos os símbolos compondo o hieróglifo de outra maneira (uma das glórias da Arvore é permitir-nos fazé-lo), a coloquemos como os quatro elementos o citrino, a oliva, o castanho-avermelhado e o preto na Esfera de Malkuth, a consideremos que a forma vital que desce de Kether opera como uma corrente elétrica altemante, como a doutrina da polaridade altemante nos ensina a fazer, descobriremos que a força flui às vezes de Malkuth a Kether a às vezes de Kether a Malkuth.
67. Esse é um ponto capital quando aplicado ao microcosmo, pois nos ensina que precisamos estar em circuito com a alma da Terra, assim como com o Deus do céu; há uma inspiração que surge da inconsciência, assim como há uma inspiração que flui da supraconsciência.
68. Isso fica muito claro nos mitos gregos, em que encontramos forças terrestres positivas como Pã, que, graças ao seu simbolismo caprino, só pode ser atribuído à Esfera da Terra, pois Capricómio é o signo mais terrestre da triplicidade terrestre. Pã representa o magnetismo positivo da Terra que volta, em seu retomo, ao Pai Universal. Ceres, por outro lado, ou Diana de Muitos Seios, ambas Vénus muito terrestres a de modo algum virginais, representam a encamação final da força celeste na matéria densa. Hera, que foi chamada de Vênus Celestial ou Afrodite Celeste, representa o retomo da força terrestre ao céu, e é terra positiva num nível celestial.
69. Essas são coisas difíceis de elucidar para aqueles que não viram o Sol da meia-noite. Elas se revelam claramente na meditação, a muito pouco pela discussão.
70. As adivinhações se operam na Esfera de Malkuth. Ora, o objeto de todo método de adivinhação é descobrir um grupo de coisas no plano físico que corresponda precisa a compreensivamente às forças invisíveis, da mesma maneira pela qual os movimentos dos ponteiros de um relógio correspondem à passagem do tempo.
71. Para revelar tendências a condições gerais, a experiência universal daqueles que estudaram essas matérias concorda em que a Astrologia é o meIhor sistema de correspondências. Mas, para obter respostas a uma questão isolada, ela não é suficientemente específica, pois muitos fatores podem entrar em jogo, modificando o resultado. 0 adivinho iniciado faz uso, por conseguinte, de sistemas mais específicos, como a adivinhação pelo Tarô ou pela geomancia, quando deseja obter uma respota a uma questão específica.
72. Mas não vale a pena entrar numa loja a comprar um baralho de Tarô, a menos que se tenha o conhecimento necessário para construir as correspondências astrais de cada carta. Isso leva tempo, pois é preciso utilizar setenta a duas cartas. Uma vez isso feito, contudo, o operador poderá manipular as cartas com a plena certeza de que sua mente subconsciente, de qualquer maneira, escolherá as cartas que se referem ao assunto em questão. Não sabemos exatamente como isso se produz, mas uma coisa é certa, quando entramos em contato com o Grande Anjo do Tarô, as cartas são extremamente reveladoras.
73. Havendo considerado os princípios gerais da Esfera de Malkuth, estamos agora em posição de estudar-lhe, com proveito, o simbolismo.
74. Malkuth recebe o nome de Reino – em outras palavras, a Esfera governada por um rei – e Rei é o título de Microprosopos, que consiste nas seis Sephiroth centrais, com exclusão das Trés Supremas. Podemos considerar Malkuth, ou a Esfera material, como a Esfera da manifestação dessas seis Sephiroth centrais, as quais, por sua vez, emanam das Três Supremas. Portanto, tudo termina em Malkuth, assim como tudo começa em Kether.
75. A imagem mágica de Malkuth é uma jovem mulher, coroada a velada; trata-se de Ísis da Natureza, cuja face velada indica que as forças espirituais estão ocultas pela forma exterior. Essa idéia está presente também no simbolismo de Binah, que se resume no conceito do “manto exterior de ocultamento”. Malkuth, como o indica o Texto Yetzirático, é Binah num arco inferior.
76. Binah recebe o nome de Mãe Celestial Obscura, a Malkuth, o de Noiva do Microprosopos, ou Mãe Fértil Brilhante, a ambos os títulos correspondem aos aspectos duais da deusa lunar egípcia, Isis a Hathor, sendo aquela o aspecto positivo da deusa a esta o aspecto negativo. No simbolismo grego, corresponderiam a Afrodite a Ceres. Ora, Afrodite é o aspecto positivo da potência feminina, pois lembremos que, sob a lei da polaridade alterrrante, o que é negativo no plano exterior é positivo no plano interior, e viceversa. Afrodite, a Vênus Celestial, é quem confere o estímulo magnético ao masculino espiritualmente negativo; pelo fato de sua função não ser compreendida na vida moderna é que tanta coisa nela está errada. Binah, o aspecto superior de Isis, é, contudo, estéril, porque o pólo positivo é sempre o dador do estímulo, a nunca o produtor do resultado. 0 aspecto Malkuth de Isis é a Mãe Fértil Brilhante, a deusa da fecundidade, indicando assim o resultado final da operação de Isis no plano físico.
77. A posição de Malkuth na base do Pilar do Equilíbrio a coloca na linha direta da descida do poder que provém de Kether, transmuda-se em Daath, a Sephirah Invisível, a passa aos planos da forma via Tiphareth. Esse é o Caminho da Consciéncia, ao passo que os dois Pilares Laterais são Caminhos de Furrção; mas os dois Pilares Laterais também corfvergem para Malkuth via o Trigésimo Primeiro e o Vigésimo Nono Caminhos. Conseqüentemente, tudo termina em Malkuth.
78. Nós, que estamos encarnados em corpos físicos, achamo-nos em Malkuth e, quando abraçamos o Caminho da Iniciação, nossa rota segue pelo Trigésimo Segundo Caminho até Yesod. Esse Caminho, que sobe a linha reta para o Pilar Central, chama-se Caminho da Flecha, lançada por Qesheth, o Arco da Promessa; é por essa rota que o místico se eleva aos planos; o iniciado, contudo, acrescenta à sua experiência os poderes dos Pilares Laterais, juntamente com as realizações do Pilar Medial.
79. Esse aspecto do Pilar Central é expresso no Texto Yetzirático, que afirma que Malkuth faz uma influéncia emanar do Príncipe dos Rostos, o Anjo de Kether.
80. Os títulos adicionais atribuídos a Malkuth explicam claramente seus atributos. Ela é a Porta e a Esposa. Essas duas idéias representam na verdade uma única idéia, pois o útero da Mãe é a Porta da Vida. Ela é também a Porta da Morte, pois o nascimento no plano da forma é a morte para as coisas superiores.
81. Malkuth é também Kallah, a Noiva de Microprosopos, a Malkah, a Rainha de Malekh, o Rei. Isso indica claramente a função na polaridade que prevalece entre os planos da forma a os planos da força, sendo os planos da forma o aspecto feminino, polarizado a fertilizado pelas influências dos planos da força.
82. O Nome divino de Malkuth é Adonai Malekh, ou Adonai ha Aretz, que significa “0 Senhor que é Rei”, a “0 Senhor da Terra”. Vemos aqui claramente a afirmação da supremacia do Deus único nos Reinos da Terra, a toda operação mágica, em que o operador toma o poder em suas próprias mãos, deveria começar corn a evocação a Adonai para habitar seu templo da Terra a govemá-lo, para que nenhuma força possa desviar de sua obediência ao Um.
83. Aqueles que invocam o Nome de Adonai invocam o Deus manifesto na Natureza, que é o aspecto de Deus adorado pelos iniciados dos Mistérios da Natureza, seja os de Dionísio ou os de fsis – que concemem aos diferentes meios de abrir a supraconsciência por meio da subconsciência.
84. 0 arcanjo é o grande anjo Sandalphon, que os cabalistas chamam às vezes de Anjo Negro, ao passo que Metraton, o Anjo do Rosto, é o Anjo Brilhante. Esses dois anjos, como se diz, permanecem atrás dos ombros direito a esquerdo da alma em suas horas de crise. Eles poderiam representar o born Carma e o mau Carma. É relativamente à função de Sandalphon como o Anjo Negro, que preside sobre a dívida cármica, que Malkuth recebe o título de Porta da Justiça a Porta das Lágrimas. Disse um humorista, corn mais verdade do que poderia ele supor, que este planeta é atualmente o inferno de outro planeta. Ele é, na verdade, a esfera em qpe se cumpre normalmente o carma. Onde há suficiente conhecimento, contudo, o carma pode ser operado nos planos mais sutis, a esse método é uma das formas da cura espiritual.
85. 0 coro angélico atribuído a Malkuth é o dos Ashim, as Almas do Fogo, ou Partículas Ígneas, sobre as quais Mme. Blavatsky diz algumas coisas muito interessantes. Uma Alma do Fogo é, na verdade, a consciência de um átomo; os ~ por conseguinte, representam a consciência natural da matéria densa; sáo eles que lhe dáo suas características. São as Vidas Ígneas, essas cargas elétricas infinitesimais, que ondulam sem cessar para frente a para trás corn tremenda atividade na estrutura da matéria a lhe formam a base. Tudo que conhecemos como matéria baseia-se nessa estrutura. É corn a ajuda dessas Vidas fgneas que certos tipos de magia são operados. São pouquíssimas as pessoas que podem operar essa magia, pois quanto mais denso o plano a ser manipulado, maior deve ser o poder do mago.
86. 0 chakra cósmico de Malkuth é a Esfera dos Elementos, a qual já foi considerada em detalhes nestas páginas.
87. A experiência espiritual de Malkuth é a visão do Anjo da Guarda Sagrado. Esse anjo, que, de acordo corn os cabalistas, é atribuído a cada alma que nasce a que a acompanha até a morte, quando então a toma e a apresenta diante da face de Deus para julgamento, é na realidade o Eu Superior de cada um de nós, que formula a Centelha Divina – o núcleo da alma – e persiste por uma evolução, estabelecendo um processo na matéria a cada encamação para formar a base da nova personahdade.
88. Quando o Eu Superior e o Eu Inferior se unem, pela completa absorção do inferior pelo superior, alcança-se o verdadeiro Adeptado; é a Grande Iniciação, a União Divina Menor. É a suprema experiência da alma encarnada; e, quando isso ocorre, ela está hvre de qualquer compulsão para reencarnar na prisão da carne. Ela está hvre para subir aos planos a entrar em seu repouso, ou, se assim escolher, para permanecer na Esfera Terrestre a funcionar como um Mestre.
89. É essa, pois, a experiência espiritual atribuída a Malkuth – a descida da Divindade na humanidade, assim como a experiência espiritual de Tiphareth é elevar a humanidade à Divindade.
90. A virtude especial de Malkuth é a discriminação. Essa idéia é bem exemplificada no curioso simbolismo dos antigos, que declararam que a correspondência no microcosmo se estabelece corn o ânus. Tudo o que na vida está corrompido deve ser excretado, e a excreção macrocósmica se dá nas esferas qliphóticas, que dependem de Malkuth, de onde os excrementos cósmicos não podem retomar aos planos da forma organizada sem antes encontrar o equilibrio. Há, portanto, no mundo qhphótico, uma Esfera que não é o inferno, mas o purgatório; é um reservatório de forças desorganizadas emanadas de formas destruídas a expulsas pela evolução; é o caos num arco inferior. É desse receptáculo de fomias voltadas à destruição que as Conchas, ou entidades imperfeitas, extraem seus veículos. Essa Esfera serve também para os tipos inferiores de magia de má espécie. A tendência dessas forças que se encontram na Esfera qliphótica é sempre a de assumir uma vez mais as formas a que estavam acostumadas antes de sua desintegração a redução ao seu estado primordial; como essas formas eram pelo menos antiquadas, se não ativamente más, segue-se naturalmente que essa matéria de caos não é uma substância desejável corn a qual se possa trabalhar. Seria melhor deixá la até que sua purificação seja completa a que ela tenha sido filtrada pela Esfera da Terra pelos canais naturais a lançada umá vez mais no fluxo da evolução. É por essa razão que todos os cultos subterrâneos e a evocação dos mortos são indesejáveis, pois as formas que as entidades manifestas assumem devem ser construídas em parte corn essa substância do caos.
91. Portanto, a virtude especial de Malkuth é agir como uma espécie de filtro cósmico, expulsando a excreção a preservando o que ainda tenha alguma utilidade.
92. Os vícios característicos de Malkuth são a avareza e a inércia. É
fácil ver como a estabilidade de Malkuth pode ser levada ao excesso, a dar origem à lerdeza e à inércia. 0 conceito de avareza, embora não seja tão óbvio na superfície, revela rapidamente seu significado à investigação, pois o apego excessivo da avareza é uma espécie de constipação espiritual, o oposto exato da discriminação que rejeita as excreçôes da vida por meio do ánus cósmico deitando-as no esgoto cósmico das Qliphoth. É interessante notar que Freud declara que o avarento está invariavelmente constipado, associando, ademais, o sonho da moeda às fezes.
93. Uma das coisas mais importantes que temos de fazer antes de podermos nos elevar das limitações da vida em Malkuth a respirar uma atmosfera mais leve é aprender a nos desapegarmos das coisas; a sacrificar o inferior em função do superior, construindo, assim, a preciosa pérola. É a discriminação que nos permite saber qual é o valor menor que deve ser abandonado, a fim de se obter o maior, pois não há ganho sem sacrifício. 0 que não compreendemos é que todo sacrifício deve ter uma utilidade substancial para o céu, onde nem a traça nem a ferrugem corrompem, pois, do contrário, ele representará uma perda inútil.
94. 1á observamos uma das correspondências atribuídas a Malkuth no microcosmo. Contudo, diz-se também que Malkuth corresponde ao pés do Homem Divino. Temos aqui novamente um importante conceito, pois, a menos que os pés estejam firmemente plantados na Mãe Terra, nenhuma estabilidade é possível. Há, não obstante, muitíssimos místicos desequilibrados que gostam de pensar que o Homem Divino termina no pescoço como um querubim, a não dão lugar aos órgãos geradores de Yesod, ou ao ânus de Malkuth. Eles precisam aprender a lição que o sonho celestial ministrou a São Pedro – ou seja, de que nada que Deus fez é impuro, a não ser que nós o tomemos impuro. Deveríamos reconhecer a Vida Divina em todas as suas funções, a assim elevar a humanidade até a Divindade a santiflcá-la. A pureza está próxima à Divindade, especialmente a pureza interna. Se fugimos de uma coisa e a evitamos, como podemos mantê-la pura a saudável? Os tabus dos povos primitivos foram completamente esquecidos em nossa vida civilizada, com desastrosas conseqüéncias para a saúde e o bem-estar da humanidade.
95. Os símbolos de Malkuth são o altar do cubo duplo e a cruz de braços iguais, ou cruz dos elementos.
96. 0 altar do cubo duplo simboliza a máxima hermética “Como em cima, tal é embaixo”, a ensina que o que é visível é o reflexo do que é invisível, a lhe corresponde exatamente. Esse altar cúbico é o altar dos Mistérios, em oposição ao altar horizontal, que é o altar da Igreja. Pois o altar horizontal permanece no léste, ao passo que o altar cúbico permanece no centro. Afirma-se que ele está bem proporcionado quando a altura do centro é de seis pés, e a largura e a profundidade são a metade da altura.
97. A cruz de braços iguais, ou cruz dos elementos, representa os quatro elementos em perfeito equilíbrio, que é a perfeição de Malkuth. Ela é representada na Árvore da Vida pela divisão de Malkuth em quatro quadrantes, nas cores citrino, oliva, castanho-avermelhado a preto, estando o citrino voltado para Yesod e o negro para as Qliphoth, o oliva para Netzach e o castanho-avermelhado para Hod. São os reflexos dos Três Pilares a da Esfera Qhphótica, atenuados a filtrados pelo véu da Terra.
98. Todas as coisas se resumem, desse modo, em Malkuth, embora vistas num cristal turvo, por reflexo, a não face a face.
99. As quatro cartas do Tart produzem curiosos resultados quando sujeitos à meditação à luz do que sabemos sobre Malkuth. 0 Dez de Paus chama-se Senhor da Opressâo; o Dez de Copas, o Senhor do Sucesso Completo; o Dez de Espadas, o Senhor da Ruína; e o Dez de Ouros, o Senhor da Riqueza.
100. Como já vimos, é em Malkuth que as forças espirituais atingem sua perfeição no plano da forma e, tomando essas formas completas a “sacrificando-as”, podemos reconduzi-las ao estado de poderes espirituais.
101. Essas quatro cartas do Tarô, note-se, são alternadamente boas e más em seu significado; de fato, o Dez de Espadas é a pior carta que se pode tirar numa adivinhação. A esse propósito, poderíamos lembrar uma curiosa doutrina alquímica, a qual ensina que os signos dos planetas são compostos de três símbolos: o disco solar, o crescente lunar e a cruz da corrosão ou do sacrifício. Esses símbolos, quando corretamente interpretados, dão a chave da natureza alquímica do planeta a da sua utilidade prática na Grande Obra da transmutação. Por exemplo, Marte, em cujo símbolo a cruz encima o círculo, é, como se afirma, externamente corrosivo a internamente solar; Vênus, em que o círculo encima a cruz, é externamente solar a internamente corrosiva, ou, nas palavras da Escritura, “doce nos lábios, mas amarga nas entranhas”.
102. Nos quatro dez do Tarô prevalece o mesmo princípio. Cada carta representa a operação de um certo tipo de força espiritual, no plano da matéria densa. A carta mais espiritual, o dez do naipe cujo ás é a Raiz dos Poderes do Fogo, chama-se Senhor da Opressão. Isso nos ensina que as forças espirituais superiores podem ser externamente corrosivas quando operam sobre o plano da matéria. Os Poderes do Fogo, em sua potência mais elevada, no dez de paus, são os do fogo refinador. “Assim como o ouro se prova
pela chama, assim o coração se prova pela dor.”
103. Por outro lado, todo o simbolismo do naipe de Copas, ou Cálices, manifests claramente a influência venusiana; é nesse naipe que encontramos os Senhores do Prazer, da Felicidade Material a da Abundância. Mas encontramos também os Senhores do Sucesso Ilusório, do Sucesso Abandonado, da Perda no Prazer, o que mostra claramente que esse naipe, embora externamente solar, é internamente corrosivo.
104. As Espadas estão sob a influência marciana, e o Senhor da Ruína indica o sacrifício total de todas as coisas materiais.
105. Mas, em Ouros, Terra da Terra, a combinação é inversa, a descobrimos que o dez de Ouros é o Senhor da Riqueza.
106. Observamos, dessa maneira, que as cartas de naipes de natureza primordialmente espiritual são externamente corrosivas no plano físico; a as cartas de naipes de natureza primordialmente material são externamente solares, ou benéficas, no plano material. Isso ensina uma lição muito útil, a dá uma importante chave quando utilizada nos sistemas de adivinhação em que se procura discemir a ação dos poderes espirituais que agem num determinado caso.
107. Todos os assuntos do mundo sobem a descem como as ondas do mar, uma crista seguindo a outra em progregão rítnrica; por conseguinte, quando uma situação cósmica está no zênite ou no nadir sabemos que uma mudança de maré deve ser esperada no futuro próximo. Essa noção se acha expressa em muitos ditados populares: “Não há mal que sempre dure”; “A hora mais negra é a que precede a aurora”. Harriman, o grande milionário norte-americano, dizia que fez sua fortuna comprando sempre nos mercados em baixa a vendendo em alta – procedimento oposto à prática normal. Não obstante, é um procedimento engenhoso, pois a alta transforms-se em depressão, e a depressão resulta em alta. Isso ocorre tão freqüentemente que deveríamos esperar que os especuladores conhecessem essa lição histórica, mss eles não conhecem. Foi o conhecimento desse fato que permitiu à Sociedade da Luz Interior seguir firmemente sua marcha em meio às dificuldades do pós-guerra, a atravessá-las sem ter de restringir nenhuma de suas atividades. Há ocasiões em que é necessário ser modesto para continuar solvente, mss há ocasiôes em que se pode ser arrojado, a despeito de todas as indicações em contrário, porque se sabe que a maré está subindo.
108. Essas quatro cartas, portanto, dão uma indicação muito,exata da natureza da operação das forças em Malkuth e, quando elas se apresentam numa adivinhação, podemos esperar que o ouro material irá corromper-se, e a corrosão exterior se voltará ao ouro, mais cedo ou mais tarde, sendo conveniente conduzir os negócios de acordo com essa situação.
109. É a verdadeira utilidade da adivinhação permitir-nos discernir as forças espirituais implicadas em qualquer acontecimento, para agirmos adequadamente. Qual seria a utilidade, então, da adivinhação executada por alguém que não tem discernimento espiritual? E podemos esperar encontrar discernimento espiritual no ocultismo mercenário que fornece um tanto por uma certa quantia a muito mais por uma quantia maior? As coisas espirituais não se fazem dessa maneira. Entre os antigos, a adivinhação era um rito religioso, a deveria sê-to para nós, a não ser que desejemos semear a má sorte.

A Cabala Mística – Dion Fortune


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