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por Yair Alon[1]
Como ser um bom aluno (na Cabalá ou em qualquer outra coisa que você estude)?
Aprender é uma das tarefas mais nobres a que o ser humano pode se dedicar, mas aprender está longe de ser fácil e é bastante evidente que muita gente sequer sabe como aprender.
Não é o foco desse artigo servir como discussão sobre modelos educacionais e pedagógicos, mas tão somente tentar analisar um dos pontos que muito influencia o rendimento que se pode ter ao tentar estudar alguma coisa: o papel do aluno.
Há bons e maus alunos, e quando me refiro a maus alunos, não estou falando dos que sentam no “fundão” e tacam papelzinho na cabeça dos colegas. Bons e maus alunos, aqui, se refere à postura do aluno diante do professor e da matéria a ser ensinada.
Uma das primeiras coisas que diferencia o bom do mau aluno é o motivo que o levou a fazer certo curso. Por incrível que pareça, mesmo em cursos direcionados para adultos, muitos alunos estão assistindo às aulas por obrigação (como os cursos em que éramos colocados porque nossa mãe nos obrigava). Assim, há gente que se inscreve num curso de Cabalá (ou qualquer outro assunto) por alguma obrigação do tipo: “minha esposa foi fazer e me obrigou a vir junto” ou “me inscrevi no curso porque meu chefe exigiu e corro o risco de perder o emprego”.
Alunos que se matricularam com essa finalidade já começaram com o pé esquerdo.
O bom aluno é aquele que quer aprender voluntariamente, e isso já faz toda diferença. O aluno que se matricula num curso por sua própria vontade está ali porque quer. Por sinal, caso esse aluno se esqueça disso, ele deveria se lembrar: assim como ele se matriculou voluntariamente, ele pode ir embora voluntariamente – nada o obriga a ficar ali.
Um segundo ponto importante e que diferencia alunos (e, portanto, aprendizado) é a relação com o professor. Muitas pessoas se tornam alunos apenas para contrariar o professor.
“Como assim?”, você pode estar pensando. Obviamente, falando assim, a frase parece absurda, mas o que ocorre é que esse tipo de atitude, na grande maioria das vezes, é feita de maneira inconsciente. No entanto, basta observar com um pouco de atenção alguns alunos em sala de aula para ver essa realidade se manifestar com muita clareza.
Quando falo de alunos que querem contrariar o professor, nem estou me referindo ao aluno que está num curso por obrigação, pois esses podem querer contrariar o professor conscientemente. Estou me referindo a alunos que mesmo querendo estar no curso assumem uma atitude de “aluno crítico”. São pessoas que pagam um curso e passam o curso a discordar do professor. Quando vejo esse tipo de aluno, o que geralmente penso é: “acho que essa pessoa gosta tanto de discordar que ela optou por pagar a mensalidade só para isso. Ela faz questão de pagar para discordar”.
Desnecessário dizer que essa atitude é extremamente prejudicial ao aprender. Uma das maiores virtudes que um aluno pode ter é a humildade. O que é essa humildade no caso de um aluno? Não se trata da humildade como valor espiritual, moral ou ético, mas de uma humildade aplicada ao conhecimento.
A humildade recomendada a um aluno é do seguinte tipo: “eu claramente sei menos do que o professor que está me dando aula, caso contrário eu não estaria nesse curso. Ainda que eu saiba bastante do tema e possa me equiparar ao professor, ele certamente vai poder me mostrar coisas que eu não enxergo, nem que seja por ele ter a experiência de falar sobre o tema para o público, o que é diferente de apenas saber o tema”.
Mas então quer dizer que um aluno jamais pode discordar do professor?
A resposta é: claro que pode! Mas, quando há discordância com o ensinamento sendo passado, o aluno humilde pensa algo nas seguintes linhas: “meu professor fala coisas com as quais eu concordo, e coisas das quais eu discordo. Isso é normal e sempre vai ocorrer em qualquer aprendizado. Quando eu concordar com o que meu professor diz, eu não preciso falar nada, ou posso mostrar que concordo; e quando eu discordar do que ele está falando, eu vou me calar e tentar aprender algo com ele”.
Ah, mas então agora quer dizer que ao discordar eu devo ficar quieto e “baixar a cabeça”? O aluno jamais pode debater com o professor?
Pelo contrário! A Cabalá é um ramo de estudo que particularmente incentiva muito o debate, o questionamento e a discussão de ideias; mas a questão é que há modos e modos de se debater.
Quando o professor chama o aluno para o debate, o aluno pode e deve debater. É comum que um professor faça isso (e, em geral, os bons professores fazem isso constantemente), pois o debate é uma excelente ferramenta de ensino e de aprendizado. O debate usado de maneira pedagógica faz as pessoas crescerem muito.
No entanto, se o professor não abriu a questão para debate ou se a circunstância não dá abertura para isso (por exemplo, há uma sala cheia de alunos querendo ouvir o professor e um aluno querendo debater o tema), o bom aluno entende que não é hora de entrar em debate. Nesse caso, o aluno sempre pode se aproximar do professor fora do horário de aula e debater com ele sobre algo que foi dito. Eventualmente, e a depender do caso, o debate feito fora de aula pode ser trazido para a sala no encontro seguinte do grupo, caso o professor ache pertinente.
Mas Yair, e se o professor falar algo extremamente absurdo, a ponto de eu sequer achar que vale a pena debater?
Infelizmente, é algo que pode ocorrer, em especial nos dias de hoje, em que as tecnologias e modernidades fizeram com que praticamente qualquer um hoje se intitule “professor” e saia soltando por aí as ideias mais absurdas…
Nesse caso, a minha sugestão é: lembre-se que o professor – como qualquer pessoa – tem o direito de dar sua opinião e falar o que pensa, por mais absurdo ou ilógico que seja; e você – como qualquer pessoa – tem o direito de ficar descontente com o que for dito, se retirar e, se for o caso, ir procurar outro local ou pessoa com quem aprender.
Não há dúvidas que seguindo essas pequenas dicas práticas você aproveitará muito mais qualquer curso que faça e qualquer coisa a que se dedique aprender. O seu aproveitamento e rendimento como aluno será muito maior. Experimente seguir esses conselhos por, por exemplo, um ou dois meses, e você verá como às vezes até mesmo assuntos que você julgava impossível de aprender e entender serão compreendidos com muito mais facilidade, “apenas” por uma mudança de atitude e postura da sua parte.
Yair Alon é rabino e cabalista (escritor, professor, consultor e palestrante). Conheça seu site oficial e acesse o canal no Youtube
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