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Kenneth Grant

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Por Michael Staley.

Kenneth Grant, cuja morte em 15 de janeiro de 2011 aos 86 anos foi anunciada recentemente, foi um dos mais influentes ocultistas do século 20. Nascido em Ilford, Essex, em 1924, desenvolveu um intenso interesse pelo ocultismo desde tenra idade. Ele comentou em algum lugar de seus escritos que o misticismo oriental foi seu primeiro amor, uma indicação não somente de como ele foi bem estudado, mas mais importante talvez fôsse seu exaltado sentido do iminente. Após se imergir na obra de Aleister Crowley, em 1944 Grant o procurou e começou a corresponder-se com ele, visitando Crowley várias vezes antes de, posteriormente, viver como seu secretário voluntário por algumas semanas em 1945, em troca de instrução em Magia(k). Muitos anos depois, Grant escreveu um livro de memórias deste período de sua vida, Remembering Aleister Crowley. Embora seja evidente a partir deste livro que os dois homens entraram em conflito na ocasião, também é evidente a partir de observações em seus diários e noutros locais que Crowley tinha uma alta estima por Grant, vendo nele o potencial para se tornar um futuro líder da OTO.

Após a morte de Crowley em dezembro de 1947, Kenneth e Steffi Grant foram membros do pequeno círculo que se esforçou para manter a memória de Crowley e seu trabalho vivo. Crowley tinha nomeado Karl Germer   ― então vivendo nos EUA ― como seu sucessor, e sua Vontade estipulada que seus papéis fossem enviados para Germer. Preocupados que deveria haver cópias dos documentos mais importantes  no caso de acontecer alguma coisa com eles durante o transporte, Grant e Yorke concordaram sobre fazer cópias datilografadas daqueles considerados de particular importância. E fizeram bem de assim terem feito, uma vez que a coleção de documentos de Germer foi roubada de sua viúva Sascha em 1967 pela Loja Solar e, posteriormente, destruída em um incêndio. As cópias datilografadas feitas por Grant, Yorke e outros formaram a base do arquivo que Yorke passou ao Instituto Warburg, da Universidade de Londres, e o qual continua a ser acessível a pesquisadores.

Logo após a morte de Crowley, Grant encontrou um membro IXº da OTO, David Curwen, que havia entrado na Ordem no último ano ou algo assim da vida de Crowley, e que tinha ligações com um grupo Tantrico na Índia. Ele tinha obtido de seu professor no subcontinente um Comentário escrito sobre o Anandalahari a partir da perspectiva de um praticante da corrente Vama Marga do Kaula Tantra. Este comentário incluía na passagem algumas observações críticas sobre aspectos da obra de Crowley, observações que Crowley refutou quando lhe foi mostrado o documento por Curwen. A relação de Crowley com Curwen tem sido documentado em uma compilação do que sobrevive da correspondência mútua entre eles, isto foi publicado recentemente como o Brother Curwen, Brother Crowley, editado por Henrik Bogdan. Grant estava muito interessado no comentário que ele considerou de grande relevância, e fez referência a ele em diversos pontos em seu subsequente trabalho publicado. Curwen desempenhou um papel nos primeiros estágios de desenvolvimento do que viria a ser New Isis Lodge, com alguns encontros no porão da sua peleteria em Melcombe Street, Londres. No entanto, ele já havia partido muito antes da criação oficial da Loja em 1955.

Em 1951, Grant recebeu uma carta patente de Germer para estabelecer um ” acampamento ” da O.T.O. em Londres. Depois de diversas encarnações, este amadureceu como New Isis Lodge, lançada formalmente em 1955 com um documento intitulado “The Manifesto of New Isis Lodge”, que anunciava a detecção de mudanças na corrente mágica. Embora Germer tenha em uma época considerado Grant como um futuro líder da O.T.O. (veja, neste contexto, os extratos de suas cartas a Grant publicadas no artigo “It’s an Ill Wind That Bloweth ” na Starfire volume I n º 5, Londres, 1994), ele estava descontente com qualquer um que se desviasse de sua diretriz que Crowley tinha descoberto tudo o que havia para conhecer, e que a única coisa a fazer era preservar e promover o trabalho de Crowley. Ele também não estava satisfeito que Grant se recusasse a cobrar dinheiro entre os membros de sua Loja. E também se enfureceu ao saber que Grant tinha ligações com Eugen Grosche, um antigo adversário de Germer na Alemanha dos anos 20. Ele exigiu que Grant recolhesse seu Manifesto, e, quando Grant recusou, ele emitiu uma Nota de Expulsão. Grant simplesmente ignorou a expulsão e continuou com a New Isis Lodge como uma loja dependente da O.T.O., confiante de que seu trabalho mágico o capacitava a fazer conexão direta com a corrente mágica por trás da O.T.O., tornando assim a expulsão Germer irrelevante. Esta confiança se manteve e foi mesmo reforçada ao longo dos sucessivos anos conforme sua obra, mágica e mística, se desenvolveu.

A New Isis Lodge tinha um programa de trabalho que começou em 1955 e foi concluído em 1962, embora tenha continuado a funcionar até meados da década de 1960. O desenvolvimento de algumas interessantes e inovadoras técnicas mágicas, um certo número de alguns de seus trabalhos é dada em Hecate’s Fountain, escrito no início de 1980, mas só publicado dez anos depois. As experiências de Grant na New Isis Lodge foram o alicerse para seus trabalhos posteriores, mais aparente talvez nos últimos volumes das Trilogias com a publicação de duas das transmissões recebidas durante o curso dos Trabalhos da Loja. Uma delas foi a requintada e delicada Wisdom of S’lba que foi incorporada ao sétimo volume das Trilogias, Outer Gateways, publicado em 1994. O outro foi The Book of the Spider, em torno do qual Grant teceu seu volume final das Trilogias, The Ninth Arch (2002).

Uma das influências mais importantes sobre o trabalho de Kenneth Grant foi de Spare. Em 1948 ele e sua esposa Steffi conheceram o artista e escritor ocultista. Eles continuaram amigos até a morte de Spare em 1956, dando suporte com algumas coisas essenciais da vida, bem como materiais para sua arte, e esse contato provocou um renascimento na obra de Spare. Grant tinha durante algum tempo tomado um vivo interesse na magia e do misticismo de Spare, bem como na sua arte e, em particular os sistemas de sigilos que Spare tinha apresentado em The Book of Pleasure, publicado em 1913. Notáveis exceções, tal como o desenho “Theurgy” de 1929 não obstante, os sigilos estiveram amplamente ausentes do trabalho de Spare após a Primeira Guerra Mundial, e ele confessou a Grant que, ao longo dos anos, ele tinha esquecido os princípios subjacentes ao sistema. Estimulados pelo interesse e entusiasmo de Grant, Spare aplicou-se a recuperação desses princípios, e sigilos ressurgiram em muitos de seus desenhos e pinturas do final dos anos de 1940 e 1950. A produção dos últimos anos de sua vida foi uma espécie de renascimento para Spare, um desabrochar tardio.

Este renascimento incluiu o trabalho escrito, que Grant datilografou para ele, no processo de fornecimento de críticas e comentários, e pressionando para esclarecimento onde parecia ser benéfico. Muito deste trabalho final foi posteriormente publicado pelos Grants em Zos Speaks!, junto com cartas e extratos de diários que documentam o seu tempo com Spare, bem como reproduções de suas obras de arte. Em sua morte, Spare legou a Kenneth seus manuscritos, material datilografado, e livros. Incansáveis na promoção do trabalho de Spare ao longo dos anos subsequentes, em 1975, os Grants publicaram o belo livro Images & Oracles of Austin Osman Spare, introduzindo sua obra ― escrita e artística ― para um novo público. O renascimento do interesse em Spare nos últimos anos deve muito aos seus esforços.

Como Spare, por toda a sua obra Grant enfatizou a supremacia da imaginação; longe de ser mero capricho ou fantasia, ela é de fato o principal meio para encontrar e explorar o universo e nossa relação com ele. O trabalho de Grant é essencialmente dirigido à imaginação, e procura soar ecos na consciência do leitor de sua obra. Como já vimos, Grant descreveu misticismo oriental como seu primeiro amor, e durante a década de 1950 dedicou-se a Advaita Vedanta ― a percepção de que a consciência é indivisível ― escrevendo uma série de artigos para jornais Asiáticos, que foram posteriormente coletados e publicados como At the Feet of the Guru. Embora muitas vezes considerada como um culto que glorifica a individualidade, Thelema é enraizada neste solo, tendo muito em comum com o Taoísmo.

Com John Symonds, executor literário de Crowley, Grant editou a desordenada e ruidosa autobiografia de Crowley, The Confessions. Este livro foi publicado em 1969 e desempenhou um importante papel na aproximação da obra de Crowley a atenção popular. Symonds e Grant construiram sobre isto, continuando a editar e publicar mais obras de Crowley na década de 1970, notadamente o The Magical Record of the Beast 666, uma seleção dos diários de Crowley, Magical and Philosophical Commentaries on the Book of the Law.

Além disso, ao longo dos anos Kenneth Grant estava criando seu próprio corpo de trabalho, e em um artigo sobre o trabalho de Crowley, Love Under Will”, no International Times, durante 1969, ele se refere a um estudo seu que estava à espera de publicação, intitulada Aleister Crowley and the Hidden God. Sua editora, Muller, posteriormente, divide o trabalho em dois volumes, o primeiro dos quais, The Magical Revival, foi publicado em 1972. O segundo, publicado sob o título original Aleister Crowley and the Hidden God, o seguiu em 1973. Este foi o início das Trilogias Tifonianas, e o nono e final volume das quais, The Ninth Arch, foi publicado em 2002. Assim, foi concluído um corpo substancial de trabalho que, embora eclético e abrangendo vastas áreas de magia e misticismo, está firmemente enraizada em Thelema. No curso deste trabalho, Grant levou Thelema para áreas além do que muitas vezes são considerados os limites do trabalho Crowley, no processo de destacar a universalidade de Thelema e suas afinidades com uma ampla gama de tradições e disciplinas.

Bem como as suas Trilogias, Grant também publicou vários volumes de poesia e uma série de histórias curtas e novelas. Em 1963 viu a publicação de seu primeiro volume de poesia, Black to Black and other poems. Uma coleção intensa e comovente de poemas, este foi seguido em 1970 pelo The Gull’s Beak and other poems. Um terceiro volume foi publicado em 2005, Convolvulus and other poems;, este incluiu os dois volumes anteriores e acrescentou um terceiro, uma coleção não publicada anteriormente, Convolvulus: Poems of Love and the Other Darkness. Este volume compilado incluiu desenhos de Austin Osman Spare, alguns dos quais haviam sido especialmente desenhado para Grant por Spare.

Grant começou a escrever contos quando jovem, e escreveu sua primeira novela no começo de 1950, Grist to Whose Mill? (Em breve será publicado pela primeira vez). Outros se seguiram, e foram publicados a partir de 1996. A maioria desses livros foram escritos durante o período da New Isis Lodge, e revisados antes da publicação. Eles apresentam personagens muitos dos quais foram baseadas, em um grau maior ou menor, sobre os membros da Loja. Grant deu um insight sobre isso em suas notas na sobrecapa do segundo volume da série, Snakewand & the Darker Strain. Muitos anos antes de sua morte Kenneth começou a trabalhar em outra novela, Monolith: A Further Nightside Narrative que, infelizmente, nunca foi concluído.

Embora mantendo uma devoção a Crowley, a Spare, e muitos outros místicos e ocultistas, cujo trabalho influenciou toda a sua vida, Grant nunca foi um seguidor, mas, pelo contrário, criou seu próprio caminho a partir de uma série de influências, transformado através do cadinho de sua própria experiência mística e mágica. Ele estava ciente do princípio do parampara ou linhagem espiritual, segundo o qual é da responsabilidade de um iniciado desenvolver o trabalho de seu antecessor, o antecessor neste caso sendo Crowley. No curso desse desenvolvimento, novas vias são abertas, enquanto outras são encontradas para ser, talvez, redundantes agora. Desta forma, um corpo de trabalho é uma coisa viva, desenvolvida por gerações de iniciados.

O trabalho de Kenneth Grant se tornará de importância crescente para Thelema. Na esteira de sua morte, a tarefa imediata é garantir que todo o seu trabalho seja mais uma vez impresso e prontamente disponível, e continuar a explicação dos princípios que subjazem a esse trabalho. Além disso, no entanto, o corpo de trabalho que ele desenvolveu irá, por sua vez, continuar, trabalhado e retomado por aqueles que vêm depois dele; esta é o maior testemunho pelo qual quaisquer um de nós pode esperar.

©Michael Staley – 2011 

©Tradução por Cláudio César de Carvalho – 2011 

©Revisão por Lília Palmeira – 2011 

Postado por SOCIEDADE LAMATRONIKA® @ maio 15, 2011

KENNETH GRANT, O HOMEM, O MITO & O MAGISTA

Fonte: http://kennethgrant.blogspot.com/2011/05/obituario-de-kenneth-grant.html

Revisado final Ícaro Aron Soares.


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