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Conheci uma pessoa muito agradável e bastante interessante na última passagem do Lacrimosa por São Paulo (além de seus atributos físicos). Estudante e apreciadora do Satanismo assim como eu, nossa conversa teve um fim abrupto assim que mencionou sua descrença no Diabo. Essa é a minha postura para com descrentes de Satã que se dizem Satanistas. É como se cristãos negassem Jesus Cristo. Simples assim: eu viro as costas e saio andando. Não aceito nenhum argumento e o que possa vir dele. Dito isto, é natural que John Whiteside Parsons, nascido Marvel Whiteside Parsons seja motivo de meus estudos e de minha admiração como praticante do Satanismo Tradicionalista. Tenho infinitamente mais respeito e admiração por ele do que pelo próprio Crowley.
Parsons nasceu em Los Angeles na Califórnia em 2 de Outubro de 1914. Filho de família rica – assim como Aleister Crowley – e influente, Parsons tomou gosto pelas ciências ocultas ainda em tenra idade. O divórcio dos pais fez do jovem uma figura solitária, reclusa e extremamente voltada para seus estudos e interesses ocultos; e que reprimia qualquer tentativa de intromissão em seus trabalhos, como revelam os diários que Parsons manteve desde os nove anos de idade.
Com apenas 13 anos, Parsons invocou Satã com sucesso pela primeira vez, depois de meses de tentativas frustradas e infrutíferas. Ele fazia uso de trechos do Velho Testamento, do Zohar e do Talmude, como principais fontes de pesquisa para seus estudos. Na ocasião da primeira aparição de Satã, Parsons confessa ter se acovardado diante daquele que ele tanto buscava e quando o encontrara, tremera de medo; agindo como um testemunha de jeová ingênuo.
Jack Parsons nunca viu problemas em, sendo um cientista e conhecedor da descrença de seus pares para com o ocultismo, um obstáculo para suas atividades em ambos os campos de atuação. Ele, como Werner von Braun, famoso cientista alemão e colaborador de Parsons nos projetos da NASA; fazia questão de retificar; que foi Parsons o principal responsável pelo sucesso do programa espacial americano na propulsão e lançamento de foguetes espaciais.
SAI WILFRED T. SMITH, ENTRA JACK PARSONS
No início da década de 40, a Agape Lodge, braço “armado” da O.T.O na Califórnia parecia fadada à extinção. O lugar parecia muito mais um ponto de encontro para orgias de final de semana do que um templo iniciático. Aleister Crowley há muito já vinha insatisfeito com a atuação de Smith frente a instituição; e enxergava nele um pseudo-líder de poucas habilidades e parcos dons espirituais.
Mas foi o próprio Smith quem em Março de 1941, impressionado com o novato Parsons, informou Crowley sobre seu valioso e novo iniciado. Rapidamente ele galgava os postos mais importantes da Agape Lodge e após um telefonema que durou menos de quinze minutos, a Grande Besta certificou-se de que Parsons era a pessoa certa – apesar da juventude – para tirar o templo californiano da decadência e possivelmente de uma possível extinção que já se avizinhava.
Em princípio, Crowley não se incomodou com a crença absoluta e obsessiva que Parsons dedicava a Satã. Porém, no final de seus dias a frente da instituição, a devoção ao Diabo e principalmente a obsessão com Babalon, serviriam como a dinamite, que implodiria a relação entre ambos. Parsons chegou a repreender Crowley publicamente, pelo tratamento que este dedicava a Wilfred Smith, mesmo com as eventuais diferenças que alimentavam entre si, sobre o caminho a ser seguido pela Agape Lodge.
“A O.T.O serve como excelente escola de treinamento para jovens adeptos, mas não serve como local e culto apropriado para a Thelema: a manisfestação da verdadeira vontade; a minha vontade mais do que real e necessária; a verdadeira criação do Moonchild ( por favor, traduzir isso é blasfêmia – tudo bem traduzir Scarlet Woman, mas Moonchild nunca ), a libertação do anti-cristo; por meio de minha parceira mágica; a Scarlet Woman.”
A PROCURA POR BABALON JUNTO A L. RON HUBBARD
Um dos principais e mais celebrados feitos da história da magia sexual, é conhecido por Manifestação de Babalon. Obra de Jack Parsons e L. Ron Hubbard, seu parceiro ocaional e fundador da Cientologia. A manifestação de Babalon foi uma ousada tentativa de derrubar as barreiras do tempo e do espaço, com a intenção de trazer, nas palavras do prórpio Jack Parsons: “amor, compreensão e a liberdade Dionísica; um contrabalanço necessário e correspondente a manifestação de Hórus.” Babalon, a parte Thelêmica segundo Parsons de Kali ou Ísis, era descrita por ele como ” (…) negra, homicida e terrível, mas sua mão; abençoada e reconfortante; reconciliadora dos opostos, a apoteose do impossível.”
O impossível era precisamente o que Jack Parsons, o cientista-bruxo tinha em mente.
A relação entre ambos naufragou por causa de um negócio criado por Parsons, Hubbard e sua esposa Betty em 1946, a Allied Enterprises. Parsons era sócio majoritário e alguns desentendimentos fizeram com que o negócio fosse abortado. Ele descobriu fraudes cometidas por Hubbard e Betty nas finanças da empresa e após uma severa discussão em um hotel da Flórida, onde estavam hospedados, Hubbard e Betty partiram, saindo de um porto local num barco de luxo, deixando Parsons para trás falando sozinho.
Jack voltou a seu quarto e fez uma invocação a Bartzabel, convocando um terrível tufão em alto mar. Testemunhas confirmaram os resultados da invocação por meio do retorno do barco onde estava o casal; após a tempestade de ventos que provocou avarias diversas no casco do barco. No meio daquela noite, Betty, contra a vontade de Hubbard, foi implorar o perdão de Parsons em seu quarto. Dizem as boas e más línguas que Betty pagou com juros e correções monetárias os danos que provocou a ele. Leiam nas entrelinhas.
MAGIA SEXUAL LEVADA A SÉRIO
Uma das grandes batalhas de Parsons a frente da Agape Lodge, foi fazer com que a prática da magia sexual fosse enfim levada a sério; já que sob o comando de Wilfred T. Smith, houvesse na Califórnia quem apelidasse o lugar de Bestiário da Pornografia; numa nada sutil alusão clara apetite sexual de Aleister Crowley e seus pares.
Parsons não se cansava de afirmar que a maioria das pessoas que faziam parte da O.T.O, e mesmo outras instituições que trilhavam os caminhos da magia sexual, estavam muito mais interessados em promover orgias banais do que promover uma ascensão espiritual conjunta. Dizia que “…levaria a Thelema adiante, por meio do combate a passividade de seus praticantes; diante de suas fraquezas e da banalidade da excitação (…) de homens e mulheres presunçosos que faziam de qualquer expressão ordinária de desejo, uma pseudo-manifestação de poder místico por meio da sensualidade.”
MANIFESTO EM FAVOR DE SATÃ
Poucas coisas enfureciam tanto o Cientista-Bruxo quanto a negação de Satã por praticantes de magia do Left Hand Path. Em uma reunião em Dezembro de 1945, depois de uma longa discussão, Parsons desafiou a Grande Besta para um combate: Crowley invocaria sua horda de 316 demônios como naquela noite junto a Bennet num apartamento em Londres; e Parsons invocaria tão somente o Príncipe das Trevas; com a premissa de que aquele que saísse derrotado da peleja, deveria suicidar-se com a ingestão de Cianeto, como Hitler havia feito poucos meses atrás. Nunca se soube se trata-se de mais uma das inúmeras lendas que cercam Parsons ou se foi verdade.
Parsons num memorando sobre sua obra anti-cristã:
“Sofrem de idiotismo, cretinismo espiritual, incapazes de distinguir um grão de areia de uma pedra preciosa. (aqueles que negam a Satã) A Magia Negra sem a figura diabólica é incolor, inodora e insípida. Sua figura é a força motriz que move o submundo de energia espiritual e também física; aquilo que o homem deve reconhecer como a si mesmo.”
SEXTA-FEIRA 13 NA BABILÔNIA
A paixão de Parsons pelo satanismo e as expressões obscuras da divindade ( estudos do Velho Testamento e Talmude principalmente além do Zohar ) sempre o distanciaram dos Thelemitas mais tradicionais. A reputação satânica dele, que já fazia muitos de seus pares se manterem com os dois pés atrás em relação a seu líder e suas práticas, acabou por afastá-los de vez quando ele passou a realizar evocações de entidades por meio do vodú; que Parsons considerava o mais violento e eficaz dos meios para estabelecer contato com os espíritos infernais.
Os membros da Agape Lodge escreveram uma carta a Crowley reclamando da atmosfera aterradora criada por seu líder nos cultos da O.T.O, via evocações de Babalon, transformando as práticas de magia sexual tradicionais de Thelema; em experiências tão assustadoras e perigosas quanto aquelas praticadas nos cultos a Inanna, a grande prostituta da Babilônia.
Aliás, foi no culto a Inanna que Parsons plantou a semente mágica que há de florescer sua fúria cheia de sabedoria e seus ensinamentos em pleno século XXI. Em 13 de Abril de 1951, numa sombria sexta-feira naquela que hoje é conhecida como Bagdá (ou o que resta dela infelizmente). Parsons e sua parceira Marjorie Cameron, realizaram um estranho ritual que misturava o rito de invocação a Babalon, e a cerimônia tradicional do casamento pagão, o Handfasting.
De acordo com o Cientista-Bruxo, que para desespero de seus colegas, invocava o deus Pã antes de cada lançamento de foguete sob sua supervisão da NASA; ali, naquela sexta-feira 13, foi semeado no ventre da mulher escarlate, a vinda espiritual, não encarnada do anti-cristo:
“Um fim das pretensões do homem ocidental, escravocrata da suposta nova ordem mundial (…) O fim, o verdadeiro e derradeiro fim sa hipocrisia do cristianismo. O fim de toda servitude moral; o fim da culpabilidade e do medo; o fim de toda autoridade que não seja representada pela coragem e pela força inteligente; o fim da autoridade de religiosos podres; policiais corruptos e descumpridores da lei e ordem que deveriam preservar; o fim da mediocridade (…) das areias da Babilônia surgirá o espírito do Anti-Cristo no século XXI.”
É para se pensar, não vêm das areias da antiga Babilônia, hoje Iraque as ameaças que mais apavoram a sociedade judaico-cristã de nossos dias e tudo de ruim que ela nos representa?
Paulie Hollefeld
1914-1952
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