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Franz Anton Mesmer foi místico, édico e inventor de um tratamento denominado “mesmerismo”, o predecessor do hipnotismo, Ele nasceu em 23 de maio de 1734 em Iznang, uma vila perto do lago Constança, que naquela época pertencia à Áustria, atualmente território alemão. De família católica e sendo seu pai intendente e guarda de campo do bispo de Constança Mesmer passou sua infância passeando pelos campos que ficavam à margem do tranqüilo lago.
Quando chegou a idade escolar foi matriculado numa escola pública e posteriormente transferido a um convento franciscano onde aprendeu música e latim. Em seguida freqüentou um colégio de jesuítas e as universidade de Dilling e Inlogstadt, na Áustria. doutorando-se em teologia. Estudou ainda filosofia e direito. Seu terceiro doutorado, foi em Medicina, pela Universidade de Viena onde defendeu em 1766 sua tese em latim: “Dissertatio physicomedica de planetarum influxu in corpus humanum”. (“Da influência dos planetas sobre o corpo humano”). Nela sustentava a teoria de que o homem, sendo feito da mesma substância que o universo está sujeito a influências oriundas do infinito. Para ele um fluído magnético misterioso emanaria das estrelas enchendo todo o universo, influenciando todos o equilíbrio do vis vitae, ou força vital dos organismos vivos. A má distribuição desse fluído causaria as doenças.
Os relatos e retratos da época descrevem Mesmer como uma figura fascinante de estatura elevada, porte imponente, fronte larga, rosto bem delineado, lábios fortes e olhos claros cinza aço. Seu olhar era ao mesmo tempo dominador e extremamente magnético. Tinha cuidado notório com a indumentária vestindo-se com luxo e bom gosto para sua época. A par de uma excelente e sólida cultura aristocrática possuía atitudes serenas e um caráter forte e voluntarioso.
Em 10 de janeiro de 1768 casou-se com Marie Ane von Posch, uma rica viúva uma década mais velha do que ele. O casal foi morar numa propriedade nos arredores de Viena, onde o médico instalou seu consultório. Boa parte do seu tempo era dedicado à sua apreciação por música e organização de sarais em sua própria residência. Mesmer incentivava a apreciação cultural e foi nesta mansão que Mozart estreou aos 12 anos a ópera Bastien et Bastienne encomendada por Mesmer
Origem do Magnetismo Animal
Em 1774 vivia em Viena o padre Maximiliano Hell ( 1720 -1792) que sabia confeccionar imãs para diversas finalidades. Certa vez o jesuíta foi procurado por um casal inglês, cuja esposa sofria de fortes cólicas estomacais. Nenhum médico havia conseguido curá-la. O imã aplicado por Hell, entretanto teve um efeito positivo sobre a moça. Quando Mesmer, que era amigo do padre, soube disso, começou a aplicá-lo em seus próprios pacientes. Quando clinicava empregava os imãs passando sobre o corpo do enfermo para produzir um estado semelhante ao sono durante o qual acreditava que o magneto exercia seu poder curativo, especialmente sobre úlceras, fistulas, fluxos nasais, menstruais e dores de cabeça.
Em 1776 já concluíra que o imã era desnecessário e o magnetismo mineral foi substituído pelo magnetismo animal que poderia ser dado pelo próprio magnetizador. Começou então a tratar seus pacientes através de imposição das mãos, fricções e toques nas regiões afetadas sempre prezando em mater um ambiente agradável com música suave. Sua técnica consistia em retirar do fluído cósmico universal a transferir para o corpo doente acelerando o ciclo da doença, antecipando sua crise (crisis hipocrática) e restabelecendo o estado de equilíbrio do corpo. Os doentes reagiam de várias maneiras: alguns choravam, outros riam, tinham convulsões ou se debatiam. Por fim se acalmavam e voltavam ao normal.
Perseguição em Viena e glória em Paris
Com este método Mesmer curou muita gente e aos poucos sua fama começou a se espalhar e a clientela aumentou consideravelmente. Uma das pessoas que o procurou foi Maria Teresa Paradis, famosa cantora e pianista da época cega desde os dois anos. Sua cegueira foi considerável incurável por dois conhecidos oftalmologistas de Vieva, o professor Barth e dr. Shoerk. Usando seus métodos Mesmer conseguiu restituir-lhe a vista e de brinde ganhou dois poderosos inimigos. Comentou-se muito o fato e , por fim, a mando da imperatriz da Àustria nomeou-se uma comissão para examinar o caso. O parecer foi desfavorável ao médico e foi alegado que na verdade o problema de Maria Teresa era de origem histérica e que impressionada pelos exames realizados pela comissão ela tornara a ficar cega. Não apenas isso, mas recebeu posteriormente uma intimação para não retornar ao tratamento oferecido por Mesmer.
Aborrecido com a falta de apoio de seus colegas Mesmer determinou-se a nada mais realizar publicamente em Viena. Viajou por diversos países da Europa anunciando a sua descoberta. Visitou a Suábia, a Baviera, a Suíça e a Hungria e por fim se estabeleceu em Paris em 1778. Procurou então as associações oficiais e academias francesas para que seus métodos fossem observados e estudados. Nada conseguiu no setor médico mas ganhou a graça da corte e algumas pessoas influentes lhe deram proteção e aos poucos ele recuperou a fama.
Obras de Franz Mesmer
Na França escreveu uma longa carta endereçada ao médico Johann Christoph Unzer que mais tarde foi transformada em um livro chamado ‘Mémoire sur la découverte du magnétisme animal’ (“Memória sobre a descoberta do Magnetismo Animal”) sua primeira obra descrevendo suas técnicas e descobertas. Mais tarde escreveu ainda em 1781 um livro mais completo chamado “Précis historique des faits relatifs au magnétisme animal jusqu’en avril” (“Sumário Histórico dos Fatos Relativos ao Magnetismo Animal”).
Em 1785, durante seus anos dourados em Paris, alguns alunos alunos de Mesmer entre eles (entre eles, Louis Caullet de Veaumorel) organizaram e publicaram os Aforismos de M.Mesmer. Os 344 aforismos não são escritos propriamente por Mesmer, mas são anotações destes seus alunos que refletem não só sua técnica do Magnetismo Animal, mas também sua filosofia de vida e visão de mundo. Por fim em 1799 lançou sua principal obra “Mémoires de F. A. Mesmer, docteur en médicine, sur ses découvertes” . (“Memória de F. A. Mesmer, Doutor em Medicina, Sobre suas Descobertas”) sendo esta sua obra definitiva contendo a principal descrição de suas terapias.
Princípios do Magnetismo Animal
Todo o modelo teórico do Magnetismo Animal contido em “Mémoires” pode ser entendido pelo excelente resumo dos 27 pontos disponibilizados por André Guéret e Pierre Oudinot em seu livro “Os Imponderáveis”. Vemos essa descrição essencial agora:
1º Existe uma influência mútua entre os corpos celestes, a terra e os corpos animados.
2º Um fluido universalmente propagado e contínuo, de modo a não sofrer qualquer vazio, cuja sutileza não permite comparações, e que, por sua natureza é suscetível de receber, propagar e comunicar todas as impressões do movimento, é o meio desta influencia.
3º Essa ação recíproca está submetida a leis mecânicas desconhecidas até o presente.
4º Resultam dessa ação efeitos alternativos que podem ser considerados como um fluxo e refluxo.
5º Este fluxo e refluxo é mais ou menos geral, mais ou menos particular, mais ou menos composto, segundo a natureza das causas que o determinam.
6º É por essa operação, a mais universal que a natureza nos oferece, que as relações de atividade se exercem entre os corpos celestes, a Terra e suas partes constitutivas.
7º As propriedades da matéria e dos corpos organizados dependem desta operação.
8º O corpo animal prova os efeitos alternativos deste agente, que ao se insinuar na estrutura dos nervos, afeta-os imediatamente.
9º Ele manifesta, especialmente no corpo humano, propriedades análogas ao ímã. Distinguem-se pólos igualmente diferentes e opostos, que podem ser comunicados, trocados, destruídos e reforçados; o próprio fenômeno da inclinação é também ai observado.
10º A propriedade do corpo animal que o torna suscetível à influencia dos corpos celestes e a ação recíproca daqueles que o cercam, manifesta pela sua analogia com o ímã, me determinou a chama-lo: “Magnetismo Animal.
11º A ação e a virtude do Magnetismo Animal, assim caracterizados, podem ser comunicados a outros corpos animados e inanimados. Uns e outros, entretanto, são mais ou menos suscetíveis.
12º Essa ação e essa virtude do Magnetismo Animal podem ser reforçadas e prolongadas por esses mesmos corpos.
13º Observa-se, em experiências, o escoamento de uma matéria, cuja sutileza penetra todos os corpos, sem perder praticamente sua atividade.
14º Sua ação realiza-se a distância afastada, sem a intervenção de qualquer corpo, intermediário.
15º Ela é aumentada e refletida pelos espelhos, tal como a luz.
16º Ela é comunicada propagada e aumentada pelo som.
17º Essa virtude magnética pode ser acumulada, concentrada, transformada.
18º Disse que os corpos animados não são igualmente suscetíveis; acontece mesmo, ainda que muito raramente, que têm uma propriedade tão oposta que sua simples presença destrói todos os efeitos desse magnetismo em outros corpos.
19º Essa virtude oposta também penetra todos os corpos; ela pode ser comunicada, propagada, acumulada e transformada, refletida por espelhos e propagada pelo som; o que constitui não apenas uma privação, mas uma virtude oposta: positiva.
20º O ímã, natural ou artificial, é suscetível ao magnetismo animal e à virtude oposta, sem que sua ação sobre a agulha seja alternada; o princípio do magnetismo animal difere, portanto, do mineral.
21º Este sistema fornecerá esclarecimentos sobre a natureza do fogo e da luz, bem como pela teoria da atração, sobre o fluxo e o refluxo do ímã e da eletricidade.
22º Ele permitirá saber que o ímã e a eletricidade artificial tem, em relação as doenças, apenas propriedades comuns a um grande número de outros agentes e que, se resultam alguns afeitos úteis da administração daqueles, isso se deve ao magnetismo animal.”
23º Reconhecer-se-á, por esses fatos, segundo as regras práticas que estabelecerei, que o princípio pode curar diretamente as doenças dos nervos e indiretamente as demais.
24º Com sua ajuda, o médico é esclarecido sobre a utilização dos medicamentos; aperfeiçoa sua ação, provoca e dirige as crises salutares, de modo a se tornar o senhor da situação.
25º Ao comunicar meu método, demonstrarei por uma nova teoria das doenças, a unidade universal do princípio que lhe aponho.
26º Com este conhecimento, o médico julgará seguramente a natureza e o progresso das doenças, mesmo das mais complicadas; ele impedirá seu desenvolvimento e alcançará sua cura, sem jamais expor o doente a efeitos perigosos ou a resultados inoportunos, seja qual for a idade, o temperamento ou o sexo. As mulheres grávidas e por ocasião dos partos gozarão das mesmas vantagens.
27º Esta doutrina, enfim colocará o médico em condições de julgar corretamente o grau de saúde de cada indivíduo e de preserva-lo das doenças às quais ele possa estar exposto. A arte de curar chegará à sua maior perfeição.
Estudantes de ocultismo terão muita familiaridade com vários dos pontos levantados por Mesmer. De fato, em seu livro ‘História da Magia’ Eliphas Levi, renomado ocultista do século XIX exalta esta técnica com as seguintes palavras: “Mesmer teve a gloria de encontrar, sem iniciador e sem conhecimentos ocultos, o agente universal da vida e de seus prodígios; seus Aforismos que os sábios de seu tempo deviam considerar como tantos paradoxos, virão um dia a ser as bases da síntese física.”
A Tina Mesmérica
Como o número de seus clientes cresceu bastante durante sua morada em Paris, Mesmer idealizou uma forma de tratamento em grupo. Para tanto criou a chamada ‘tina mesmérica’. Uma espécie de reservatório de água que cotinha no fundo, limalha de ferro e cacos de vidro, além de garrafas concentricamente dispostas. Sua utilização é descrita da seguinte forma por um de seus discípulos:
“O fundo da tina do senhor Mesmer é composto de garrafas arranjadas entre si de maneira particular. Acima dessas garrafas, coloca-se água até uma certa altura; varas de ferro, cujas extremidades tocam a água, saem dessa tina; e a outra extremidade, terminada em ponta, se aplica sobre os doentes. Uma corda, em comunicação com o reservatório magnético e o reservatório comum, liga todos os doentes uns aos outros; de modo que existe uma circulação de fluido ou de movimento que serve para estabelecer o equilíbrio entre eles. (…) Se desejar, utiliza-se uma vara de ferro, terminada em ponta, apoiada no meio da tina, que se pode tocar de tempo em tempo, ou de uma recarga que se pode operar à vontade, mantendo este movimento na direção dada; e por intermédio da corda que serve para ligar todos os doentes entre si, chega, como já disse acima, um combate, em cada indivíduo, pelo restabelecimento do equilíbrio, do fluido ou movimento elétrico animal. (…) Toca-se cada uma das garrafas que entram no reservatório magnético, e se lhe comunica então uma impulsão elétrica animal; carrega-se também a água que recobre as garrafas, e, por esta operação, determinam-se as correntes de movimentos que serão levadas para os pontos necessários dos doentes. ”
A tina, sem a ajuda do magnetizador, não era vista como suficiente para o tratamento magnético, pois tinha um papel de manter um movimento já impresso e não de imprimi-lo um por si mesma. Por isso, Mesmer passeava pela sala no meio dos doentes enquanto estes entravam em convulsões, vomitavam e gritavam, etc.. Depois se acalmavam e muitos ficavam curados.
É verdade que Mesmer ficou riquíssimo com esses tratamentos, mas é verdade também que sempre foi um destacado filantropo. Para atender a população carente, ele magnetizava árvores e pendurava cordas em seus galhos. Os que seguravam as cordas recebiam o fluido vital que precisavam. Segundo relatos da época os brotos das plantas transplantados para outros lugares também passaram a curar os doentes. Contudo, tanto as tinas quanto as árvores mesmerisadas eram tidas por Mesmer como acessórios muitas vezes dispensáveis utilizados apenas para que ele pudesse atender mais pessoas em menos tempo.
As últimas perseguições
Todos estes fatos entretanto antagonizaram os médicos e sua vida em Paris começou a tornar-se complicada, esta citação retirada de suas memórias dá um parecer de sua postura geral frente esta rivalidade: “Não teria nada a dizer àqueles que se comprazem em me combater com disposições puramente hostis ou sem nada melhor para substituir aquilo que pretendem destruir, e eu verei com prazer melhores gênios remontar a princípios mais sólidos, mais luminosos; talentos mais amplos que os meus descobrir novos fatos e tomar, por suas concepções, e seus trabalhos, minhas descobertas ainda mais interessantes: em uma palavra, eu devo desejar que se faça melhor do que eu.”. De qualquer forma, conforme a idade chegava tinha menos forças para comater seus inimigos e acabou se mudando oara um pais vizinho, a Suiça, onde morreu em março de 1815. Nos seus últimos anos levou uma vida bastante simples, pois perdeu sua fortuna durante a Revolução Francesa, subsistindo apenas com a pensão de três mil francos que o governo francês lhe dava como credor do Estado.
A Origem do Hipnotismo
Mesmer é lembrado ainda como o percursor do hipnotismo. Segundo o parapsicólogo Karl W. Goldstein, mesmo depois de abandonar Paris, ele continuou exercendo grande influência sobre seus discípulos, pacientes e admiradores. O marquês Armand Marie Jacques Chastenet de Puysegur (1751-1825), a quem se atribui a descoberta do hipnotismo foi um fiel seguidor das técnicas de sonambulismo induzido que seu mestre desenvolveu nos final de sua obra.
Conta-se que certa vez foi procurado por um pastor de 18 anos, Victor Race, que sofria de dores nas costas e respirava com dificuldade. Puysegu aplicou-lhe os costumeiros passes magnéticos, mas, em vez de ter convulsões, o jovem adormeceu. Ele tentou acordá-lo não obtendo sucesso. Mandou então que se levantasse. Surpreendentemente, Victor colocou-se de pé e , de olhos fechados , começou a andar pela sala. Quando voltou a si, estava curado. De uma outra vez, este mesmo paciente, em estado hipnótico, começou a descrever cenas que aconteciam a distância e com os olhos fechados. Além disso, quando falava, usava expressões muito além do que sua cultura permitia. Impressionado com essa estranha reação, ele começou a observar o comportamento de outras pessoas submetidas ao mesmo tratamento. Foi mais além: deu-lhes ordens pós-hipnóticas, sugerindo tarefas para serem cumpridas após voltarem a si. As ordens dadas em estado hipnótico não só eram atuantes, mas os pacientes também ser orientados a não se lembrar das seções. Sem saber, Puységur descobria o hipnotismo.
1734 – 1815
Tamosauskas
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