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Nascido William Frederick Allan em 7 de agosto de 1860, em Westminster, Inglaterra, o homem que viria a ser conhecido como Alan Leo se tornaria uma figura seminal na história da astrologia moderna. Mais do que um astrólogo, Leo foi escritor, editor, colecionador meticuloso de dados astrológicos e um teosofista convicto. Seu nome ainda hoje é lembrado com reverência como “o pai da astrologia moderna” — e não sem razão.
Seu trabalho deu fôlego novo a uma tradição que estava em ruínas desde o fim do século XVII. Ao fundir os princípios esotéricos da Teosofia com os antigos fundamentos astrológicos, Alan Leo operou uma reconfiguração radical no modo como os astros eram interpretados. Em vez de se apegar à prática fatalista de prever eventos com precisão milimétrica, propôs uma astrologia mais psicológica, focada na análise de tendências e do caráter individual. Essa abordagem, até então inédita, seria decisiva para o ressurgimento do interesse pela astrologia no Ocidente.
Leo soube explorar com genialidade as conexões internacionais da Sociedade Teosófica para disseminar suas ideias por toda a Europa e América. Seus livros foram traduzidos, publicados e lidos amplamente, atingindo públicos diversos e cultivando uma nova geração de astrólogos que beberiam diretamente de sua fonte.
Uma nova astrologia nasce
Curiosamente, o pseudônimo “Alan Leo” foi inspirado por seu signo solar, Leão — uma escolha que revela seu comprometimento simbólico com o cosmos. Ele é frequentemente citado como o primeiro a propor uma leitura astrológica voltada para o autoconhecimento e não mais para previsões deterministas. James Holden, historiador da astrologia, descreve sua contribuição como um verdadeiro ponto de virada: dali em diante, a astrologia orientada a eventos foi sendo gradualmente substituída por uma abordagem centrada na análise de personalidade e nas possíveis áreas de harmonia ou tensão psicológica. [Nota do Editor: Essa transição coincide com o surgimento das escolas psicológicas de pensamento na virada do século XX, como a psicanálise freudiana, que também enfatizava a individualidade e os traços internos.]
No ano de 1890, Leo convidou o ocultista George R.S. Mead para fundar uma loja esotérica em Brixton, no sul de Londres — um passo que demonstrava seu desejo de integrar astrologia, espiritualidade e ocultismo em um mesmo ecossistema de saber. Já em 1909 e novamente em 1911, Leo viajou com sua esposa, Bessie Leo, para a Índia. Lá, mergulhou nos sistemas astrológicos orientais, especialmente o Jyotisha (astrologia védica), e tentou incorporar elementos dessa tradição ao modelo astrológico ocidental, criando uma síntese rica e complexa. [Nota do Editor: A astrologia indiana é baseada em um zodíaco sideral e apresenta distinções significativas em relação ao zodíaco tropical usado no Ocidente.]
Um exemplo notável de sua abordagem integradora está em The Art of Synthesis (1912), obra em que Leo descreve os planetas com características arquetípicas, como “Marte, o Energizador”. Esse tipo de linguagem simbólica influenciaria diretamente o compositor Gustav Holst na criação da célebre suíte orquestral The Planets, onde cada planeta é retratado musicalmente com base em sua personalidade astrológica.
Homem de hábitos rigorosos, Alan Leo era vegetariano, abstêmio e não fumava. Em 1915, fundou a Astrological Lodge of London, instituição que ainda hoje é ativa e considerada um dos principais centros de estudos astrológicos do Reino Unido.
Perseguições legais e o fim precoce
Mas nem tudo foram estrelas no caminho de Leo. Em 1914, aos 54 anos, ele foi processado sob a acusação de “falsamente predizer o futuro” — um crime associado à prática de quiromancia e astrologia no contexto legal da época. O caso foi arquivado por falta de provas, mas a experiência deixou marcas profundas. Convencido de que a astrologia precisava se afastar da imagem de “arte adivinhatória”, Leo começou a redefinir publicamente a prática como uma “ciência das tendências”. Ele aconselhava outros astrólogos a romperem com o fatalismo e buscarem uma abordagem mais filosófica e científica:
“Vamos nos afastar do astrólogo fatalista que se orgulha de suas previsões e busca convencer o mundo de que o valor da astrologia está apenas em sua capacidade preditiva. Em vez disso, proponho que mudemos o vocabulário e chamemos a astrologia de ciência das tendências.”
Apesar dessa tentativa de reposicionamento, Leo foi levado novamente aos tribunais em 1917, sob acusação semelhante. Embora tenha insistido que falava apenas de tendências e não de destinos, foi considerado culpado e multado em £5 mais as custas judiciais.
As consequências foram devastadoras. No dia 30 de agosto de 1917, pouco mais de um mês após a sentença, Alan Leo faleceu subitamente, vítima de uma hemorragia cerebral, enquanto passava férias em Bude, na Cornualha — um descanso que havia sido planejado justamente para restaurar sua saúde após o estresse do julgamento. Ironicamente, essas férias foram tudo menos tranquilas. Durante esse período, ele se lançou em um esforço hercúleo para revisar centenas de páginas de seu material, reestruturando completamente seu sistema astrológico para enfatizar ainda mais a leitura de caráter em detrimento da previsão de eventos.
Sua esposa, Bessie, advertiu-o de que precisava de repouso, mas Leo insistiu. O colapso veio rápido, e sua morte pegou todos de surpresa. A finalização de sua obra coube então a seu amigo e colaborador H.S. Greene, que também testemunhou como o processo de 1917 havia afetado profundamente o astrólogo. Greene reconheceu que, embora Leo tivesse perdido judicialmente, suas ideias haviam vencido em outro nível — e o tempo mostraria isso.
Hoje, mais de um século depois de sua morte, Alan Leo permanece como uma figura incontornável. Não apenas por ter revivido uma tradição milenar, mas por ter sido o arquiteto de uma astrologia voltada para a consciência humana — menos focada no destino e mais conectada à jornada interior de cada um.
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