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Os Budistas Acreditam em Fantasmas?

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Por Alonzo L. Gaskill, P.H.D.

Como nas nações ocidentais a palavra “fantasma” é frequentemente associada a uma imagem mental de uma figura branca, enrolada em um lençol, com olhos negros ovais, dizendo “Buuuuuuuu”, o termo pode ser enganoso. É propenso a evocar imagens que podem deturpar o que os budistas realmente acreditam.

OS ESPÍRITOS ESTÃO EM TODA PARTE:

Dito isto, uma porcentagem significativa de budistas afirma que existem espíritos em todos os lugares. Alguns desses espíritos são bons e outros maus. (O budismo tibetano geralmente sustenta que existem seis “reinos” pós-mortais de espíritos — três reinos superiores, habitados por espíritos bons ou melhores, e três reinos inferiores, habitados por espíritos maus, malignos e atormentados.) Dependendo da denominação à qual alguém se afilia e em que nação reside, um determinado budista pode acreditar que está cercado pelos espíritos de bodhisattvas, anjos ou mesmo deuses. Alguns acreditam que existem espíritos da natureza em todos os lugares – espíritos ligados à vida vegetal, a corpos d’água e a outros aspectos da natureza. Muitos budistas acreditam em demônios, fantasmas, espíritos malignos e seres infernais.

A ideia de que esses vários espíritos podem nos possuir é bastante comum entre os budistas de certas denominações. Como consequência, alguns praticantes buscarão bênçãos de proteção para afastar qualquer influência adversa de espíritos demoníacos ou malignos. Na Tailândia e no Tibete, por exemplo, existe uma crença comum de que existem bons espíritos que habitam dentro de você. Esses espíritos são chamados de “khwan” (na Tailândia) ou “lha” (no Tibete). Esses bons espíritos interiores podem realmente proteger alguém da influência e ataques de espíritos malignos, que podem querer prejudicar a saúde ou a segurança de alguém.

NO TIBETE:

No budismo Vajrayana (ou tibetano), a crença em fantasmas é particularmente pronunciada. Eles tradicionalmente sustentam que os fantasmas existem em nosso reino terreno, mas também existem em um reino dos fantasmas no qual alguém pode renascer depois de ter vivido a vida como humano ou animal. Os budistas tibetanos acreditam que os fantasmas podem ser capturados em uma armadilha ou até mortos, utilizando uma adaga chamada “phurba”. E, no 29º dia do 12º mês do calendário tibetano, há uma cerimônia budista anual que busca dissipar todos os maus espíritos e a negatividade associados a esses fantasmas – na esperança de começar o novo ano civil livre de tais maldições e infortúnios.

NA CHINA E NO VIETNÃ:

No budismo chinês, japonês, tibetano e vietnamita, eles falam de “fantasmas ou espíritos famintos”. Nem todos usam o termo da mesma forma, mas, entre alguns budistas, um fantasma faminto é um ser movido por intensas necessidades ou desejos que não podem ser saciados. Se um familiar falecido não é mais venerado, tendo sido esquecido ou negligenciado por seus parentes vivos, alguns acreditam que ele pode se tornar um fantasma faminto. Esses fantasmas famintos podem visitar o mundo dos vivos em certas épocas do ano para tentar satisfazer suas necessidades e desejos não atendidos. Durante o “Festival do Fantasma Faminto” (na China e no Vietnã), os membros da família colocam comida e bebida na esperança de satisfazer esses fantasmas e com a intenção de evitar má sorte ou outras punições que os fantasmas famintos possam infligir a eles. (Alguns também queimarão “notas de dinheiro do inferno” para que o falecido tenha dinheiro para usar, ou queimarão efígies de papel de outros prazeres mundanos, como carros, televisão ou até mesmo casas – acreditando que o falecido terá acesso a alguma forma das coisas queimadas e, assim, ficar contente e apaziguado pela oferenda do familiar a eles.)

Outros sustentam que uma pessoa que cometeu males, como assassinato ou pecados sexuais grosseiros, também pode se tornar um fantasma faminto depois de deixar a mortalidade. De acordo com alguns praticantes, uma vida de ganância ou luxúria também pode resultar em se tornar um fantasma faminto pós-mortal. (Muitos budistas acreditam que existe um reino pós-mortal de espíritos no qual os seres habitam antes da reencarnação. É nesse reino, ou no “mundo dos fantasmas famintos”, que alguém assumiria essa encarnação ou estado espiritual específico de ser.)

NO JAPÃO:

No Japão, fantasmas famintos são percebidos por alguns como os espíritos daqueles que viveram vidas pecaminosas, que são amaldiçoados a viver como espíritos que subsistem de cadáveres humanos – passando suas noites vasculhando e comendo a carne de cadáveres, ou procurando as oferendas que foram feitas ou deixadas para o falecido e devorando-as.

VÍCIOS:

O termo “fantasma faminto” também é usado como um nome pejorativo para alguém que tem desejos descontrolados e insaciáveis – de qualquer forma. Uma pessoa que não aprendeu a controlar seus apetites ou paixões, ou que sucumbiu a vícios significativos, pode ser chamada de “fantasma faminto” – embora a utilização desse termo seja tradicionalmente vista como ofensiva. Uma fonte observou:

“O psicólogo Gabor Maté escreveu um livro chamado In the Realm of Hungry Ghosts (No Reino dos Fantasmas Famintos), onde ele descreve… um notório bairro de Vancouver que tem uma das maiores concentrações de usuários de drogas não apenas no Canadá, mas em toda a América do Norte.

A metáfora no título do livro me impressionou: o “reino dos fantasmas famintos” vem do budismo. Especificamente, é um dos seis reinos descritos no bhavacakra do budismo tibetano, ou a ‘Roda da Vida’, que ilustra a jornada cíclica da reencarnação na cosmologia budista.

Na roda, o ‘reino dos fantasmas famintos’ (preta) é o reino logo antes do ‘inferno’ (naraka). Esses fantasmas são representados com barrigas enormes e membros encolhidos. Eles correm em direção aos riachos apenas para encontrá-los secos quando chegam. Eles têm fome de comida, mas quando a conseguem, ela se transforma em cinzas ou fogo derretido em suas bocas. Nas raras vezes em que conseguem o que querem, isso lhes causa grande agonia. Metaforicamente, esse reino retrata o vício em todas as suas formas”.

Conforme observado, representações comuns de “fantasmas famintos” incluem barrigas enormes, simbolizando seus apetites ou desejos que eles procuram continuamente saciar; bocas minúsculas com uma barriga grande, sugerindo que sua capacidade de obter o suficiente de tudo o que os vicia – a fim de satisfazer seus desejos – é quase impossível; gargantas longas e finas, representativas do doloroso processo de enfrentar seus vícios; e, às vezes, com uma barriga grande e inchada que também tem uma boca, como símbolo de que seus desejos têm vida própria. Cada uma dessas representações representa bem como os vícios podem dominar a vida do viciado. Eles também simbolizam bem as características dos espíritos fantasmas famintos que, embora falecidos, também têm necessidades insaciáveis que procuram constantemente satisfazer.

Sim, muitas denominações do budismo ensinam que existem “fantasmas”. Embora eles não se pareçam em nada com os “fantasmas” do pensamento ocidental tradicional, eles são ocasionalmente retratados de maneiras que podem lembrar o fantasma (no filme original dos Caça-Fantasmas) que “eslaminou” o Dr. Peter Venkman – devorando vorazmente tudo o que conseguia, e ainda nunca realmente satisfeito.

Um estudioso do budismo observou: “Fantasmas famintos são uma espécie de embaraço para os budistas modernos, que gostam de seu budismo racional e empírico.” Talvez, mas nem todos os praticantes se sentem assim. Esses espíritos – sejam mortos e assombrados, ou vivos e viciados – são um forte instrumento de ensino no budismo, mesmo que prefira vê-los mais como uma metáfora do que como uma realidade. Para os budistas que tradicionalmente buscam superar o apego e seu consequente dukkha (ou sofrimento), os “fantasmas famintos” são uma representação perfeita de nossa necessidade de acreditar na segunda e na terceira “Nobres Verdades” – que nosso desejo e apego nos causam sofrimento e ainda assim, podemos quebrar esses apegos, levando à cessação de nosso sofrimento e à liberação final do ciclo de renascimentos.

SOBRE ALONZO L. GASKILL, PH.D.

Alonzo L. Gaskill é autor, editor, teólogo, conferencista e professor de Religiões Mundiais. Ele é formado em filosofia, teologia/religião comparada e estudos bíblicos. Ele é autor de mais de duas dúzias de livros e numerosos artigos sobre vários aspectos da religião; com tópicos que vão desde religiões mundiais e diálogo inter-religioso, até comentários bíblicos, textos sobre simbolismo, espaço sagrado e ritual, e até mesmo literatura devocional.

Fonte: https://www.patheos.com/answers/do-buddhists-believe-in-ghosts

Texto traduzido por Ícaro Aron Soares.


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