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Ásia Oculta

As Quatro Nobre Verdades do Budismo

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ST. GEORGE LANE-FOX.
(Excerto da Revista Lúcifer N1 V1)

Quando um homem imerso na escuridão da civilização moderna percebe, ainda que levemente, o vazio de sua vida cotidiana, torna-se sensível a um sentimento de desespero, pois se vê mentalmente confrontado com aquilo que lhe parece um destino sem sentido e, ainda por cima, cruel. Para alguém nessa condição, não há fonte mais verdadeira de consolo e encorajamento do que aquela que se encontra numa consideração adequada das “Quatro Nobres Verdades” do Budismo. No entanto, dar essa devida atenção às Verdades — ou mesmo apenas promover uma investigação preliminar sobre sua natureza — está longe de ser uma tarefa fácil, pois as ideias fundamentais que elas encerram quase não têm vitalidade na geração atual; mais ainda, elas implicam, em grande parte, uma completa inversão de máximas geralmente aceitas como axiomas no pensamento contemporâneo.

É, entretanto, na esperança de contribuir de algum modo para o esclarecimento dessa questão que se empreende esta exposição.

A primeira Nobre Verdade diz respeito ao sofrimento humano. Ela proclama que a vida consciente, separada, da existência individual implica necessariamente dor, tristeza e miséria; que, enquanto o homem sentir que possui um eu isolado, ou enquanto considerar a si mesmo e aos seus semelhantes como personalidades separadas, com interesses antagônicos ou mesmo independentes, estará fadado a sofrer e a ser vítima de dificuldades, aflições e decepções.

Essa primeira Nobre Verdade expressa um aspecto de uma lei inexorável de aplicação universal, uma lei cujas operações nenhum homem pode, pôde ou poderá jamais escapar, até que tenha aprendido — e realizado em sentido pleno — as quatro Nobres Verdades.

A primeira Verdade também pode ser assim formulada: a existência individual exige e envolve mudanças de estado, sejam manifestadas como nascimento, crescimento, decadência ou morte, e todas as mudanças de estado são acompanhadas por dor, de uma forma ou de outra, em algum plano do ser; enquanto aqueles que parecem, aos seus próprios olhos, ter escapado da dor — ou aqueles que imaginam que outros escaparam dela — estão igualmente iludidos, pois todos os homens são alcançados por ela, mais cedo ou mais tarde.

A segunda Nobre Verdade trata da causa da dor e explica parcialmente seu significado. De acordo com essa Verdade, é o desejo ou sede pela continuidade da vida individual, com suas diversas sensações e experiências, que constitui a verdadeira base de todo sofrimento, qualquer que seja a forma exterior que assuma, e a qualquer plano de consciência a que pertença. Essa sede de vida, chamada na língua sânscrita de Tanha, dá origem, na mente do homem, a uma crença ilusória na permanência e realidade dessa personalidade separada, a qual, segundo o Budismo, não passa de um modo efêmero de existência individual; além disso, leva o homem a supor que os numerosos estados mentais que, em conjunto, compõem a personalidade, são em si mesmos reais; e daí cresce essa crença arraigada na realidade absoluta dos múltiplos objetos dos sentidos, e esse anseio por sua posse, esse desejo insaciável de aumentar e multiplicar as experiências associadas a tais objetos.

A segunda Verdade, como a primeira, apresenta um aspecto da lei universal já mencionada.

Essa lei, cujo nome sânscrito é Karma, é o poder que governa e controla toda existência individual, e graças ao qual Tanha opera.

A terceira Nobre Verdade anuncia o fato de que, à medida que o homem cresce em conhecimento espiritual e caridade, Tanha vai sendo gradualmente dissolvida, e há para ele uma consequente cessação da tristeza e da dor. A individualidade torna-se proporcionalmente libertada do jugo do Karma. Tanha é, de fato, um elemento necessário no crescimento inicial do homem, pois representa o poder criador que impulsiona a individualidade através dos estágios iniciais de seu desenvolvimento. Contudo, ao cumprir essa função tão útil — sendo, na verdade, indispensável à natureza inferior do homem — Tanha, ao mesmo tempo, forja aquelas correntes kármicas das quais o eu espiritual luta desesperadamente para se libertar.

A quarta Nobre Verdade nos assegura que há um caminho pelo qual todos os homens podem, se assim o quiserem, realizar rapidamente essa substituição de Tanha pelo verdadeiro Amor; esse caminho é chamado o Nobre Caminho Óctuplo, que conduz ao esclarecimento.

Assim:

  1. Correta Crença Fundamental, isto é, a base mental e espiritual correta sobre a qual se estabelece o verdadeiro conhecimento.
  2. Correta Intenção, ou seja, boa vontade para com tudo o que vive, propósito único, correção e pureza de motivação.
  3. Correta Fala, ou seja, o uso de uma linguagem adequada, gentil, moderada, justa e útil; paciente, mas vigorosa; reflexiva, corajosa, honesta e criteriosa.
  4. Correto Comportamento, ou seja, filantropia ativa.
  5. Meio de Vida Correto, ou seja, ocupação honesta e útil de seu tempo, atendendo adequadamente às próprias necessidades materiais e ajudando outros a fazerem o mesmo, mas sem preocupação com o futuro.
  6. Esforço Correto, ou seja, colocar o coração em seu trabalho.
  7. Correta Solidão, ou seja, ser autossuficiente e estar em harmonia interior.
  8. Correta Meditação. Esta é a Yoga em sânscrito, e significa união com o divino, por meio da prática da contemplação da realidade do ser. É o resultado de um esforço contínuo para concentrar a mente na lei universal, eterna e imutável da vida; o primeiro estágio dessa concentração assume a forma de uma revisão ou análise imparcial de todos os próprios pensamentos, ações, desejos, sensações e experiências, a partir de uma perspectiva totalmente impessoal.

Esse Caminho Óctuplo possui quatro estágios que representam diferentes graus de avanço rumo ao estado de Buda ou ao estado de perfeita iluminação. O verdadeiro Buda, ou Tathagata, é aquele que alcançou a emancipação final da existência individual, cujo espírito purificado está livre do último vestígio de Tanha, aquele sobre quem o Karma já não tem domínio, pois atingiu o Para Nirvana, o Eterno, o Ser Absoluto.

 


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