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A Paz Interior e a Prática Espiritual

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por Ozymandias

O Sofrimento e sua Causa Raiz

Shakyamuni Buda dizia: “A paz vem de dentro de você, não procure à sua volta”. Acabar com o sofrimento não apenas aliviando seus sintomas, mas também erradicando sua causa raiz, este é precisamente o objetivo do ensinamento do Buda. Primeiro, devemos perceber que a verdadeira causa do sofrimento não está fora, mas dentro, na percepção que a sua vivência traz para a sua realidade, suas vontades e desejos, por isso que a verdadeira prática espiritual consiste em trabalhar a própria mente para dominar os caminhos mais difíceis.

A Mente Poderosa

A mente é a peça fundamental para esse processo, assim em paralelo com o hermetismo que acredita que o “universo é mental” não no sentido de tudo ser criado na mente como um pensamento, mas tudo ser processado na mente como um grande computador biológico, no budismo entende-se que essa ferramenta tem o poder de direcionar e nos conectar com nosso verdadeiro eu sento uma ferramenta muito poderosa. Pode criar felicidade ou sofrimento, céu ou inferno e Buda disse que, “uma mente disciplinada traz felicidade” Trabalhando a mente na verdade, podendo modificar todo o Dharma do Buda. Se, com a ajuda do Dharma você conseguir eliminar seus venenos internos, nada de fora jamais afetará sua felicidade, mas enquanto esses venenos permanecerem em sua mente, você não encontrará a felicidade que procura em nenhum lugar do mundo.

A Liberdade na Consciência Vazia

Nyoshul Khenpo Rinpoche afirma em seu discurso que O Principal Ensinamento do Buda é: “O pensamento solto sem direcionamento é escravidão, fazendo uma analogia ao que hoje chamamos de procrastinação; a abertura incomensurável da Consciência Vazia (rigpa) é a liberdade. Se você reunisse toda a glória, prazer e felicidade do mundo e colocasse tudo junto, não se aproximaria de uma pequena fração da bem-aventurança que você experimenta ao perceber a natureza da mente. Reconheça sua própria natureza búdica.”

O Despertar e a Consciência Primordial

Se aspiramos experimentar o despertar, não há nada mais a fazer exceto reconhecer a verdadeira natureza de nossa consciência primordial, nosso próprio ser essencial, nosso próprio direito inato que está latente dentro de nosso ser. Essa é a natureza intrínseca de nosso próprio coração-mente. Este é o objetivo do Dharma, do despertar espiritual ou estado de Buda. Isso não acontece como um messias ou alguém que está prometido para salvar a humanidade, não é um buda em nenhum outro lugar, Buda afirma no Sutra de lótus da lei maravilhosa que somos todos budas e temos dentro de nosso próprio ser a natureza búdica para alcançar os estados elevados de consciência e poder transmitir assim como ele as palavras e ferramentas necessárias para todos os seres alcançarem essa iluminação.

A Mente Primordial como Fundamento

“A raiz de tudo o que existe, Samsara e Nirvana, é a própria mente. Primordialmente, a mente é vacuidade. Funda-se na vastidão absoluta semelhante ao céu, vazio, luminoso, além do apego”. – Shabkar.

A Vacuidade é o conceito que define a intersecção de todas as coisas e a eliminação de um ser único. Algo não é apenas algo, uma cadeira de madeira, ela não é apenas um ser cadeira, nascida do nada, ela  é constituída de várias partes que vieram de peças de madeira que antes foram arvore, que como um ser vivo teve seus ciclos de vida como alimentar-se, fazer fotossíntese, deu seus frutos e sementes, serviu de morada para outros animais e antes foi semente que veio de outra árvore e assim por diante.
Para entender a Vacuidade precisa-se ver além da cadeira, entender todos os fenômenos que circundam esse objeto.

O Apego e as Paixões Irracionais

Em essência, a principal razão pela qual a mente gera suas paixões irracionais e emoções intensas é o forte apego a um “eu”, que resulta em um “mim” e em um “meu”, definições de um grande buraco interno que é projetado em algo ou em alguém que nunca é preenchido por causa desse apego, sofremos quando não obtemos tudo o que queremos e sofremos ao vivenciar o que não queremos. De acordo com Buda é meditando continuamente sobre a natureza ilusória e insubstancial da mente, que conhecemos mais sobre nossa própria natureza e assim nos reconciliamos do ego e lentamente podemos dissolver e transformar esse apego, sob as formas de avidez e aversão.

Então, permaneçam aqui, seus sortudos, desapeguem-se e sejam felizes no estado natural. Abandone a sua vida complicada e a confusão diária, e em quietude, observe a natureza da mente”. – Longchenpa.

A Efemeridade dos Pensamentos e Emoções

Ao meditar observe sua própria mente, todos os pensamentos, sentimentos, emoções, percepções, sensações, estados da mente, conceitos e tudo mais são como nuvens no céu, momentaneamente se reunindo e depois dispersando, se dissolvendo de volta exatamente nesse mesmo espaço. Que bem pode haver em se apegar a isso? Que bem pode haver em tentar se afastar disso? Tudo é uma exibição ilusória, como um sonho, da própria mente de alguém é diferente do que se entende como apego, isso não é apenas gostar daquela roupa, ou do seus amigos, mas sim quando esse sentimento se torna algo restritivo, as coisas são feitas de ciclos, tudo se constrói e se destrói e não há nada especial a se fazer sobre isso, exceto reconhecer sua verdadeira natureza, sua vacuidade, e ser livre dentro do que quer que pareça surgir.

“No interior, o que quer que se mova em sua mente, o que quer que você pense, não tem essência, mas sim é vazio”. – Padmasambhava.

Não é necessário julgar as experiências e os pensamentos como bons ou maus, como desejáveis ou indesejáveis, proveitosos ou inúteis. Deixe apenas ir e vir, do modo como é, sem se envolver demais, sem se identificar com nada, nem cedendo, nem seguindo, nem suprimindo, nem inibindo. O que vem, também vai. Simplesmente deixe todas as coisas internas e externas aparecerem e desaparecerem à sua própria maneira, apenas como nuvens no céu, e permaneça acima e além disso tudo, mesmo no meio das atividades e responsabilidades diárias.

A Essência do Ser e a Transcendência

Há tantas coisas para se fazer neste mundo, mas há apenas uma coisa que uma pessoa precisa conhecer, e isso é a sua própria natureza. Esse é o medicamento universal, a panaceia que cura todos os males e doenças. A própria natureza, o ser fundamental de alguém, está além e não se afeta pelas manchas que surgem ou por fenômenos temporários. Não vem nem vai: permanece imutável. Ao reconhecer isso, a transcendência inata é vivenciada. Então, Samsara e Nirvana não significam nem esperança nem medo para o praticante; a dualidade não mais prevalece. Não há nada a esperar, nenhuma queda a temer.

“Os iluminados sabem que todas as coisas são da mente; Portanto, deve-se observar a mente, dia e noite. Se a observar, ainda sim nada verá. Então, fixe sua mente nesse estado que transcende toda visão”. – Milarepa.

A Desapego e a Liberdade Interior

Como Padmasambhava, Tilopa, Naropa, e o Mahasidda Saraha disseram: “Com objetos externos, não se preocupe. Com objetos internos (o próprio sujeito), não se preocupe. Sem olhar para fora ou dentro, deixe como é: vazio, livre e aberto. Não são os objetos externos que nos prendem, mas sim o apego interno que nos amarra”. Essa é a instrução essencial dos mahasiddas da Índia e dos yogues realizados do Tibet. Ela é baseada nas palavras do próprio Buda Shakyamuni, que disse que a raiz de todo sofrimento é se agarrar, se apegar. Não há outro ensinamento além deste. Isso é a raiz de tudo. Esse é o princípio por trás de todas as diferentes explicações.

 “Permaneça em silêncio. Não pense em nada, olhe para a experiência além do pensamento; de espírito aberto como o espaço”. – Tilopa.

A Ilusão dos Objetos

Olhe para os objetos que aparecem, É como a água em uma miragem, Irreal como sonhos e ilusões, Eles se assemelham a lua refletida e o arco-íris. Olhe para dentro de sua própria mente parece bastante emocionante quando não examinado, mas quando examinado não há nada nisso aparecendo sem ser nada mais é do que vazio. Não pode ser identificado dizendo: “é isso!” Mas é evanescente e evasivo como a névoa. Olhe para o que quer que apareça em qualquer uma das dez direções. Não importa como possa parecer a coisa em si, sua própria natureza é a natureza celeste da mente, além da projeção e dissolução do pensamento e do conceito. “Todos os fenômenos são vazios de natureza intrínseca. E a mente que se fixa ao vazio se dissolve em seu próprio solo. Libertação da atividade conceitual É o caminho de todos os Budas”. – Maitripada.

A Grande Perfeição e a Mente Altruísta

Livre de distrações, livre de apego, livre de meditação. Além do intelecto: Permaneça no estado além do intelecto. A Grande Perfeição é Altruísta, não nascida, livre de extremos, inexprimível. Olhem, amigos do imutável! Deixe a mente impassível contemplar a si mesma. Esteja presente, tal é a essência do Dharma. Esteja presente, tal é a prática principal. Esteja presente, tal é a fortaleza da mente. Esteja presente, isto propicia a sabedoria desperta natural. Meus amigos, por favor, estejam presentes! Através das aspirações dos professores sublimes, que todos atinjam uma presença estável! Repouse na paz grandiosa e natural. Essa mente exausta, castigada impiedosamente pelo carma e por pensamentos neuróticos, é como a fúria implacável das ondas arrebentando no oceano infinito do Samsara. Repouse na paz grandiosa e natural. Descanse. Apenas descanse.

 


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